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4 AS IMPLICAÇÕES DAS CONDIÇÕES DE TRABALHO NO PROCESSO DE

4.2 IMPLICAÇÕES OBJETIVAS DAS DEMANDAS PROFISSIONAIS

A Saúde Pública e o processo de adoecimento dos trabalhadores no Estado do Rio Grande do Norte - RN não difere da situação dos trabalhadores brasileiros e principais tipos de doenças que acometem a estes. Segundo a Coordenadoria de Recursos Humanos (CRH) da SESAP, no ano de 2012 havia no Estado do RN cerca de 30% dos servidores afastados dos seus postos de trabalho nos diversos setores/divisões devido a agravos (Físico e mental) à saúde destes.

Para analisar as implicações objetivas das condições de trabalho no processo de adoecimento das (os) assistentes sociais a partir da relação das condições materiais e as atribuições profissionais cotidianas, fora necessária uma análise comparativa com a pesquisa de Meneses (2010), podendo inferir que as observações realizadas naquele momento continuam presentes no cotidiano profissional, onde as atividades estão direcionadas pela dimensão assistencial/emergencial burocratizada.

O excesso de responsabilidades e atribuições postas aos assistentes sociais nos processos de trabalho que não são exclusivamente organizados, demandados por profissionais da mesma categoria. Portanto, os empregadores dos serviços estão imersos a questões políticas, sociais e econômicas geradoras de novas exigências profissionais na atualidade.

Tais exigências profissionais, segundo Silva (2011), tem gerado patologias como a hipertensão arterial; doença coronariana inclusive infarto do miocárdio, alterações do ritmo cardíaco; distúrbios funcionais do aparelho digestivo, gastrite

70 Destaca-se a Portaria n. 31/2013-GS/SESAP, em 28 de janeiro de 2013, que instituído legalmente no âmbito do SUS do RN a Política Estadual de Valorização do Trabalho e da Saúde do Trabalhador do SUS/RN.

nervosa; asma, dentre outros distúrbios, os quais são estudados sob o enfoque psicossomático. No entanto, é insuficiente para explicar a psicopatogênese de diferentes categorias relacionadas aos transtornos mentais ocasionados no/pelo trabalho.

A mesma autora mostra que existem dificuldades de diálogo entre os pesquisadores das diferentes correntes teóricas para as investigações da relação do cotidiano profissional com os fatores ambientais e psicossociais. Fazem-se necessárias distintas abordagens revelando novos aspectos para a discussão do adoecimento ocasionado no/pelo trabalho como resultado de condições de trabalho precarizadas através do modelo metodológico que considera a forma pela qual a situação de trabalho dominado/explorado atua poderosamente sobre o trabalhador por inteiro. Portanto, modelos teóricos que articulem e integrem contribuições dos estudos sobre o estresse e da Psicodinâmica do Trabalho (PDT).

Dejours (1992) defende que os modelos os quais consideram o conceito de estresse são dirigidos a objetivação de fatores reducionistas da perspectiva positivista não considerando as vivências subjetivas.

Estudar esses fatores no processo de adoecimento das (os) assistentes sociais compreende um desafio da apreensão dos efeitos do trabalho na vida destes profissionais. Uma vez que as dificuldades inter-relacionais com outros profissionais no ambiente de trabalho nos hospitais da RMN são resultantes da relação de verticalidade do gestor com os profissionais (ausência de reuniões); do excesso de demandas para poucos profissionais e ausência de comunicações internas.

Segundo Martinelli (2009) não devemos nos esquecer dos desafios postos ao exercício profissional nos espaços sócio-ocupacionais, onde existem muitos profissionais primando pela “permanência”, pelo apego a ritos, normas fixas e burocracias, em meio a ações pontuais e ineficazes para a garantia de direitos como o da Saúde do Trabalhador, fruto de lutas coletivas, as quais podem direcionar à ruptura da tradição de práticas conservadoras.

A partir das condições éticas e técnicas em conformidade com a Resolução CFESS nº. 493/2006 vê-se possibilidades para novas reflexões sobre a prática do profissional alienada, subalterna diante das outras categorias profissionais qualificadas a intervir nas necessidades dos cidadãos brasileiros.

Concorda-se com Oliveira (2009) ao afirmar que, após décadas da regulamentação da atribuição constitucional para a atenção integral à saúde do

trabalhador na Lei Orgânica da Saúde, nº. 8.080/90, o SUS, ainda não incorporou efetivamente o lugar que o trabalho desempenha na vida dos trabalhadores considerando as contradições presentes nas relações sociais e espaços sócioambientais do cotidiano profissional.

Ressalta-se a compreensão das interações dos fatores presentes no cotidiano profissional que levam a afastamentos devido a adoecimento físico e mental.

Com o padrão técnico-científico que temos, se os interesses dominantes não fossem o do capital, se os imperativos não fossem os do capital, poderíamos ter uma jornada de trabalho muito menor, com menos tempo e dias de trabalho, tendo a população trabalhadora vivendo com mais dignidade e aumentando seu tempo de vida fora do trabalho. (NAVARRO; PRAZERES, 2010, p. 194-195).

A Junta Médica71 do Instituto de Previdência dos Servidores do Rio Grande

do Norte (IPERN)72 possui informações sobre o adoecimento médico, privilegiando

essa categoria em detrimento das outras na SESAP. No entanto, identifica o gênero feminino dos servidores que mais adoecem. Mulheres com predominância das doenças psiquiátricas, onde 34% são acometidas por depressão e 15% de doenças do tecido ósteo-muscular e conjuntivo dentre outras, já entre os homens as doenças que mais os acometem são as doenças cardiovasculares.

Diante desse dado e devido a não existência de dado estatístico sobre o adoecimento de assistentes sociais é que, nesta pesquisa, buscam-se conhecer os tipos de doenças que mais os acometem. Utilizamos dados referentes às notificações por agravos à saúde do trabalhador no RN descrito no quadro 8, a fim de propiciar uma reflexão com as informações coletadas no trabalho de campo desta pesquisa.

71 O Decreto Governamental n.º 18.936, por meio do Artigo 2º, Inciso IV de 22 de Fevereiro de 2006

regulamentou as comissões de Avaliação Médico Periciais do Estado em que “[...] as Juntas Médicas Oficiais do Estado como Órgãos Colegiados de 2º Grau, autônomas, vinculadas diretamente ao Gabinete do Diretor Presidente do Instituto de Previdência dos Servidores do Estado, sediadas nas cidades de: Currais Novos, Caicó, Mossoró, Pau dos Ferros e Natal.” (RN, 2006a).

72 Informações obtidas na apresentação da Dra. Isis Cristina S. Soutoda Junta médica do IPERN, na

I Oficina Estadual de Valorização do Trabalho e Saúde do Trabalhador do SUS/RN e no II Fórum da Política Estadual de Humanização do SUS/RN realizada nos dias 11 e 12 de agosto de 2011 no Hotel

Quadro 9 – Doenças notificadas no SINAN/MS Notificações no Estado do Rio Grande do Norte

Tipo de agravo Ano

2006 2007 2008 2009 Intoxicações ocupacionais 0 1 7 22 Acidentes graves 2 66 114 492 Acidentes biológicos 0 260 375 353 Dermatoses 0 1 0 2 LER/DORT 0 8 12 30 Pneumoconioses 2 8 3 1 PAIR 0 0 0 0 Transtornos mentais 0 0 10 8 Cânceres 0 0 00 Total de notificações 4 344 521 908 Fonte: Brasil (2009b).

Contudo sabe-se que há uma subnotificação por diversos motivos, seja a não notificação porque pode interferir no rendimento (salário) do próprio servidor dentre outros aspectos que vão desde a não estrutura dos diversos municípios até o não preparo dos setores responsáveis pela notificação ao sistema nacional. Exemplo disso são profissionais que não colocam atestado médico porque haveria perda salarial seja na produtividade ou nos plantões eventuais que complementam o salário/rendimento final deste trabalhador assalariado.

Ainda analisando os índices apresentados das notificações, pode-se observar a evolução das doenças não transmissíveis como a LER/DORT, repercutindo no processo saúde de qualquer profissional, assim como as intoxicações ocupacionais um fator de insegurança nos indicadores de saúde. Além destas, o stress encontra-se entre outros tipos de agravos (listados no quadro 10) à saúde das (os) assistentes sociais na RMN que mais tem acometido esta categoria profissional devido a sua especificidade.

Praia Mar em Natal/ RN.

Quadro 10 – Principais agravos à saúde das (os) assistentes sociais da RMN Doenças ligadas ao

aparelho respiratório LER/DORT

Doenças relacionadas a aspectos diversos

Rinite alérgica Dores na lombar Stress

Gripe Tendinite na mão direita Cardiopatia Bronquietasia Agressões físicas Hipertensão arterial

Sinusite Dor na coluna Cefaleia

Crises de garganta Artrite reumatoide Infecção urinária Otite de repetição

Fonte: Câmara (2012).

Algumas dificuldades no trabalho das (os) assistentes sociais das unidades hospitalares, listadas nos itens a seguir, são entraves à intervenção profissional com competência técnica resolutivamente efetivadora do direito à saúde integralmente que poderia dar respostas como preconizado na Política Social de Saúde.

a) Estrutura física inadequada com sala que não viabiliza a garantia do sigilo profissional no atendimento individual devido a falta de privacidade ao acolhimento do usuário do SUS;

b) Processo de trabalho realizado sem observar o Projeto ético-político do Serviço Social (PEP/SS);

c) Desvalorização da profissão e a falta de conhecimento das atribuições e competências do assistente social por outras categorias profissionais; d) Entraves de alguns profissionais para implantar a humanização; e) Falta de continuidade no atendimento às demandas dos usuários; f) Jornada de trabalho diurno de 12h sem descanso e repouso em péssimas condições para o descanso nos plantões noturnos;

g) Insegurança pessoal no trabalho;

h) Presença de Preconceitos no ambiente de trabalho e na sociedade como um todo: não aceitação do portador de transtorno mental pela família e sociedade;

i) Falta efetiva intervenção dos NASTs e ou ausência do mesmo em alguns hospitais;

j) Péssimas condições objetivas de trabalho no tocante a recursos materiais (material de escritório, informática e material permanente) e Equipamentos obsoletos;

k) Sobrecarga de trabalho: Alta demanda e reduzido quadro de profissional (quantidade diária), portanto, recursos humanos insuficientes a demanda posta;

l) Falta de apoio técnico da SESAP/CRESS/universidades no tocante a cursos e atividades de educação continuada/permanente;

m) Desarticulação interprofissional;

n) Falta de protocolo/regimento interno da instituição normatizando condutas dos diversos setores, profissionais e funcionários;

o) Falta de macas e medicamentos, pois as demandas são maiores do que a capacidade física, material e humana;

p) Ausência no hospital de setor de informações o que gera no setor demanda desnecessária e que não compete aos assistentes sociais;

q) Falta de clareza no diálogo do médico com o paciente gerando angústia e perguntas ao profissional de Serviço Social;

r) Crescente demanda e precárias condições socioeconômicas dos pacientes;

s) Ambiente profissional com péssima estrutura física e iluminação precária;

t) Ambiente de trabalho insalubre e estressante com cadeiras desconfortáveis e inadequadas gerando problemas de saúde, necessidade de deslocamento através de escadas devido aos constantes problemas funcionais dos elevadores;

u) Falta de estrutura adequada à prestação de serviços de saúde com qualidade, o que desmotiva/desacredita os profissionais de saúde diante da impotência em meio a falta de leitos de UTI e em enfermarias, cobertores, cadeiras de rodas, equipe de enfermagem suficiente e que preste serviços com humanização respeitando o direito dos usuários e de seus familiares. (CÂMARA, 2012).

Todas essas dificuldades, postas na estrutura dos serviços de saúde pública na RMN, vivenciadas pelas (os) assistentes sociais trazem desgastes físicos e mentais ocasionando adoecimento no/pelo trabalho. Somados a estas, citamos a seguir alguns exemplos de demandas que não são competência da (o) assistente social.

a) Guardar objetos pessoais de paciente e receber pertences de pacientes achados e perdidos;

b) Solicitação/Regulação de ambulância; c) Expedir xérox do prontuário;

d) Marcação de exames;

e) Localizar prontuário e boletins; f) Solicitar prontuários de pacientes;

g) Solicitação de alimentação para paciente; h) Triagem de pacientes;

i) Recebimento de reclamação sobre atendimento médico; j) Solicitação de médicos para parecer;

k) Informações sobre portaria/recepção; l) Solicitação para intervir na conduta médica;

m) Procurar médico para resolver sobre Declaração de Óbito (DO); v) Autorização de refeição. (CÂMARA, 2012).

Tal fato se dá devido à reiteração do não reconhecimento da especificidade e utilidade social do trabalho do profissional de Serviço Social por parte dos gestores que ainda centram na figura do médico a relevância do trabalho nos serviços de saúde.

Fica como possibilidade de enfrentamento aos desafios no trabalho dos assistentes sociais a luta pela intervenção profissional, com condições de trabalho que viabilizem a dignidade do atendimento na efetivação do direito à saúde no RN, segundo os Parâmetros de atuação de assistentes sociais na Política de Saúde reconhecendo as influências políticas e conservadoras dos interesses políticos e econômicos presentes nas demandas postas historicamente ao Serviço Social.