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Condições subjetivas: desgaste físico e emocional/mental

3.5 CONDIÇÕES DE TRABALHO NO ESPAÇO SÓCIO-OCUPACIONAL DAS (OS)

3.5.2 Condições subjetivas: desgaste físico e emocional/mental

Apesar de ter atribuições e competências regulamentadas no Código de Ética Profissional (CFESS, 1993), sabe-se que as (os) assistentes sociais da saúde, assim como de outras áreas, desenvolvem ações/atividades que não são propriamente de sua competência/atribuição/responsabilidade. Meneses (2010) mostra essa realidade na pesquisa Processo de Trabalho em Saúde: uma análise

das condições de trabalho dos assistentes sociais no âmbito hospitalar, onde são

absolvidas atividades no dia-a-dia pertinente a outras categorias profissionais.

Os usuários, ao receberem atendimento, buscam respaldo no Serviço social como resposta/mediação para conflitos e soluções aos problemas que envolvem uma série de decisões e poderio. São demandados ainda, aspectos sobre mobília/objetos quebrados e /ou mal conservados (macas, ventiladores, lâmpadas, telefones, computadores, impressoras entre outros); sobre o desaparecimento de objetos pessoais, condução e saída e pacientes acompanhantes e visitantes ao hospital. Sabe-se que tais demandas são atribuições e competências das direções, especialmente da direção administrativa, chefias de setores/divisões como os da enfermagem, farmácia, nutrição, entre outros responsáveis na unidade hospitalar.

Interferir nesses casos pode gerar constrangimentos, mal-estar, principalmente, por causa do desconhecimento das atribuições/competências da (o) assistente social que ao longo de sua gênese agiu de forma coercitiva, policiando, fiscalizando usuários e profissionais, assim como auxiliando “subalternamente” os serviços médicos.

através da dominação no trabalho “desqualificado” (SILVA, 2011) como um trabalho não qualificado determinado a partir das correlações de poder não é reconhecido como qualificado devido à intensificação da dominação exercida sobre os trabalhadores que sofrem desgastes mentais na dinâmica saúde-doença das (os) assistentes sociais, uma vez que o processo de reconhecimento é essencial a consolidação da identidade incluindo a instância subjetiva no trabalho, onde o trabalhador procura dar o máximo de si como esforço para a realização das tarefas/funções exigidas, portanto, a exploração da vida mental dos trabalhadores.

Essa contradição favorece o desmonte dos direitos sociais e trabalhistas conquistados historicamente. Observa-se que do ponto de vista psicossocial, sem a pretensão de esgotar o debate sobre os significados das profissões, embora se destaca que faz-se mister uma maior reflexão quanto à histórica discriminação para com o trabalho das (os) assistentes sociais o que perpetua a desvalorização profissional colocando numa condição de subalternidade em relação às categorias profissionais de nível superior.

Nessa pesquisa identificam-se indicadores relativos à discriminação, e relações interpessoais no trabalho das (os) assistentes sociais. 98,4% dos profissionais participantes informaram não haver discriminação por questões de inserção de classe social, gênero, etnia, religião, nacionalidade, opção sexual, idade e condição física e apenas 1,6% se posicionaram afirmativamente existir esse tipo de discriminação no cotidiano profissional.

No entanto, 59,6% dos profissionais afirmaram haver relações interpessoais em conformidade e respeito às atribuições e competências dos trabalhadores nas diversas categorias profissionais, 40,4% informaram não haver respeito às competências e atribuições privativas das profissões de saúde, dentre elas o Serviço Social.

Quanto à existência de demandas que não são competência do Serviço Social, atribuídas à categoria profissional, como por exemplo, a questão da regulação de transporte/ambulância dentre outros aspectos, 92,3% afirmaram serem presentes no trabalho dos assistentes sociais, enquanto que apenas 7,7% não identificam atribuições que não lhes competem. Esses dados mostram aspectos ligados à subjetividade dos sujeitos podendo ocasionar desgastes emocionais no trabalho atacando a autoimagem e identidade social do trabalhador.

ressalta-se a necessidade da análise sobre as implicações das condições de trabalho das (os) assistentes sociais que atuam nos hospitais da RMN e o adoecimento no/pelo trabalho olhando para as particularidades do fazer profissional da (o) assistente social, a fim de desvendar alternativa estratégica diante das ações dos governos nas políticas públicas e gestões das políticas sociais.

No XIII CBAS foram apresentados pesquisas e dados que revelam ser os assistentes sociais a categoria profissional mais exposta ao stress e riscos para a saúde depois dos policiais e professores. Essa realidade nos incita a desvendar implicações das condições de trabalho no processo saúde-doença e suas expressões decorrentes da produção e reprodução social existentes nos serviços de saúde, onde os processos de adoecimento são ocultados frente à precarização das condições e relações de trabalho levando ao não reconhecimento dos agravos relacionados ao trabalho e a consequente ausência de proteção social.

O que para Mendes e Wünsh (2011, p. 475) evidencia

A construção social da invisibilidade do processo de saúde-doença e compreendê-la significa tornar possível o desvendamento dos mecanismos sociais que ocultam esse processo e encontrar possibilidades de ação. Isso resulta na perspectiva de superação do que vem limitando a área da saúde do trabalhador a incorporar os seus avanços e, ao mesmo tempo, possibilitar a construção crítica do conhecimento frente ao já instituído. Entendem-se os diferentes espaços sócio-ocupacionais em que a saúde do trabalhador se apresenta como objeto profissional para o assistente social, com imensos desafios. Porém a contribuição e as respostas da profissão não podem prescindir da busca da elucidação da realidade social, bem como do reconhecimento, do lugar e do papel o trabalhador nesse contraditório campo de intervenção.

No intuito de apresentar esse desafio na interface entre o Serviço Social e a saúde do trabalhador é que buscamos elencar elementos sobre as condições objetivas e subjetivas pensando a saúde do trabalhador como um direito social inerente ao homem, condição indispensável à vida e a sociabilidade humana.

4 AS IMPLICAÇÕES DAS CONDIÇÕES DE TRABALHO NO PROCESSO DE