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ATRIBUIÇÕES PROFISSIONAIS DE ASSISTENTES SOCIAIS NA RMN

As atribuições profissionais das (os) assistentes sociais da RMN ganham materialidade nas demandas presentes nesse espaço sócioocupacional, onde as ações profissionais deveriam ser desenvolvidas em conformidade com as dimensões assistenciais; em equipes coletivas e ações sócio educativas. Tais ações nos serviços de saúde são regulamentadas nos Parâmetros de Atuação de assistentes Sociais na Política de Saúde (CFESS, 2009).

No entanto, no cotidiano dos serviços dos assistentes sociais, predominam requisições que não competem ao assistente social segundo os Parâmetros de Atuação de Assistentes Sociais nos serviços de saúde. Desta maneira, são demandados aos assistentes sociais:

a) Marcação de consultas e exames;

b) Solicitação e regulação de ambulância para remoção e alta;

c) Identificação de vagas em outras unidades nas situações de necessidade de transferência hospitalar;

d) Pesagem e medição de crianças e gestantes;

e) Convocação do responsável para informar sobre alta e óbito; f) Comunicação de óbitos;

g) Emissão de declaração de comparecimento na unidade quando o atendimento for realizado por quaisquer outros profissionais que não o assistente social.

h) Montagem de processo e preenchimento de formulários para viabilização de Tratamento Fora de Domicílio (TFD), medicação de alto custo e fornecimento de equipamentos (órteses, próteses e meios auxiliares de locomoção) bem como a dispensação destes. (CFESS, 2009, p.24).

Considera-se que essas demandas, historicamente postas tem causado implicações na vida profissional, identidade e autonomia, pois apesar de não serem competências, se fazem presentes no exercício profissional. Não se conseguindo romper com essas ações burocratizadas, rotineiramente exigidas ao profissional de Serviço Social que deve intervir junto aos usuários do SUS.

Compreende-se, assim, que ao ter na questão social o objeto de intervenção, enquanto especialização do trabalho, o profissional de Serviço Social deve buscar objetivos na intervenção profissional segundo os parâmetros de atuação, listados a seguir:

a) Esclarecer as suas atribuições e competências, elaborando junto com a equipe propostas de trabalho que delimitem as ações dos diversos profissionais através da realização de seminários, debates, grupos de estudos e encontros;

b) Elaborar, junto à equipe de saúde, a organização e realização de treinamentos e capacitação do pessoal técnico-administrativo com vistas a qualificar as ações administrativas que tem interface com o atendimento ao usuário tais como a marcação de exames e consultas, a convocação da família e/ou responsável nas situações de alta e óbito; c) Incentivar e participar junto aos demais profissionais de saúde da

discussão do modelo assistencial e da elaboração de normas, rotinas e da oferta de atendimento, tendo por base os interesses e demandas da população usuária, rompendo com o modelo assistencial baseado na procura espontânea e no tratamento isolado das doenças;

d) Criar junto à equipe, uma rotina que assegure a plena informação para o usuário/família na unidade de sua situação de saúde e a discussão sobre as suas reais necessidades e possibilidades de recuperação. Identificando os aspectos sociais da situação apresentada;

e) Realizar em conjunto com o médico, o atendimento à família e/ou responsáveis em caso de óbito, cabendo ao assistente social o apoio necessário para o enfrentamento da questão e, principalmente, esclarecer a respeito dos benefícios e direitos referentes à situação, previstos no aparato normativo e legal vigente tais como, os relacionados à previdência social, ao mundo do trabalho (licença) e aos seguros sociais (DPVAT) bem como informações sobre sepultamento gratuito, translado (com relação a usuários de outras localidades), entre outras garantias de direitos;

f) Participar, em conjunto com a equipe de saúde, de ações socioeducativas nos diversos programas e clínicas, como por exemplo: no planejamento familiar, na saúde da família, na saúde da mulher, da criança e do idoso, na saúde do trabalhador, nas doenças infectocontagiosas (DST/AIDS, tuberculose, hanseníase, entre outras), e nas situações de violência sexual e doméstica;

g) Planejar, executar e avaliar com a equipe de saúde ações que assegurem a saúde, enquanto direito;

h) Sensibilizar o usuário e/ou sua família para participar do tratamento de saúde proposto pela equipe;

i) Participar do projeto de humanização da unidade na sua concepção ampliada, sendo transversal a todo o atendimento da unidade e não restrito à porta de entrada, tendo como referência o projeto de Reforma Sanitária;

j) Realizar a notificação, frente a uma situação constatada e/ou suspeita de violência aos usuários atendidos, às autoridades competentes bem como a verificação das providências cabíveis.

k) Orientar socializar informações tendo como referencial a educação em saúde. (CFESS, 2009, p.27-28).

As orientações expostas remetem a prática nos seguintes aspectos: informação e debate sobre rotinas e funcionamento dos serviços de saúde nas unidades hospitalares, devendo ter por objetivo a democratização dessas informações e as necessárias mediações; análise dos determinantes sociais da situação apresentada pelos usuários; democratização dos estudos realizados pela equipe (com relação à rede de serviços, perfis epidemiológicos, socioeconômicos e culturais dos usuários); análise da política de saúde e dos mecanismos de

participação popular.

Contudo, cabe questionar: como realizar esses objetivos na intervenção profissional diante da precarização do trabalho em saúde e ao desmonte dos direitos, de modo geral e especificamente os serviços de saúde na alta complexidade?

A pesquisa realizada revela que: as principais atribuições profissionais das (os) assistentes sociais nas unidades hospitalares da RMN nem sempre são coerentes com o recomendado nos parâmetros de atuação profissional na saúde e na maioria das vezes dificultam o acesso da população aos serviços qualificados de custo elevado e tecnologia avançada a contento, viabilizando a promoção da saúde integralmente.

A pesquisa revela algumas especificidades de atuação profissional das (os) assistentes sociais que relataram suas atribuições e demandas presentes na unidade hospitalar em que atuam. Destacam-se tais atribuições, segundo eixos de atuação categorizados nos quadros, a seguir, a fim de permitir a reflexão à luz dos princípios do Código de Ética e da lei de regulamentação da profissão.

Quadro 4 – Eixo de Atuação com descrição das atribuições profissionais das (os) assistentes sociais

Eixos de atuação Descrição das atribuições

I. Atuação junto à equipe multiprofissiona

l

1. Acolhimento ao paciente; 2. Visita aos leitos dos pacientes;

3. Mediação de condutas e orientações quanto às demandas para ouvidoria;

4. Atendimento aos funcionários da instituição;

5. Elaboração de planos, programas, projetos e atividades e ações de trabalho no âmbito individual familiar e em grupo;

6. Execução de projetos dos programas de atenção à saúde;

7. Agilizar altas para vagas em leitos; Solicitação de prontuários e boletins para questões de INSS e DPVAT dentre outros direitos e benefícios;

8. Articulação com outros profissionais (enfermeiros, médicos, direção) para uma maior agilidade na desospitalização dos pacientes;

9. Emissão de parecer social;

10. Evolução no prontuário médico (multidisciplinar) para pacientes com as informações sobre os atendimentos do Serviço Social e ou/demandas;

11. Assessorar a direção nos projetos institucionais;

12. Intermediar solicitações da equipe multiprofissional (médica, enfermagem, nutrição, dentre outras);

13. Exercício interdisciplinar com a psicologia/segurança no trabalho/medicina do trabalho/enfermagem do

trabalho e participação em eventos: congressos, palestras, cursos entre outros;

14. Articulação intersetorial, no intuito de viabilizar as transferências e registros destas no censo diário; 15. Realizar mapeamento diário dos pacientes graves

principalmente internados em leitos de UTI;

16. Discutir com a equipe da assistência a situação de moradores de rua, apenados e de longa permanência. Fonte: Câmara (2012).

Esses eixos retratam o preconizado para a intervenção profissional qualificada com certa autonomia profissional no exercício no espaço socio- ocupacional permeado pelas contradições dos interesses diversos presentes nas demandas postas.

Quadro 5 – Eixo de Atuação: atribuições profissionais das (os) assistentes sociais junto aos usuários do SUS

I. Atuação junto aos usuários

1. Entrevista social no ato do internamento do paciente; 2. Preenchimento/orientação e acolhimento da assinatura

para o Termo de Responsabilidade;

3. Entrevista social no Pronto Socorro com paciente em observação;

4. Orientações sobre direitos e deveres e quanto às normas e rotinas do hospital;

5. Acolhimento às vítimas de violência sexual e doméstica; 6. Orientação sobre licença maternidade e paternidade; 7. Contatos telefônicos para usuários e familiares a fim de

comunicar altas e necessidade de comparecimento imediato ao hospital;

8. Intermediar relações de usuários/instituição;

9. Fazer levantamento (censo) dos pacientes internados; 10. Participar de grupos de trabalho de humanização;

11. Participar de reuniões sobre assuntos pertinentes à central de exames;

12. Caracterização de perfil dos usuários;

13. Visitas domiciliares a pacientes inseridos no PID (Programa de Internação domiciliar) através de entrevistas domiciliares, encaminhamento a entidades sociais da rede municipal;

14. Busca ativa de óbitos e potenciais doadores de órgãos; 15. Acolhimento; atendimento individual com escuta

especializada;

16. Encaminhamentos interinstitucionais (internos e externos públicos, filantrópicos ou privados); Emissão de parecer social/ relatos e registros em prontuários;

17. Assistência aos pacientes com supervisão às enfermarias, realização de grupos, atividades extra-hospitalar (passeio ao parque das Dunas), encaminhamento a outros órgãos caso seja necessário (INSS, Promotorias, OAB);

18. Prestar esclarecimentos aos pacientes e seus familiares, visando reduzir tensões decorrentes de situações críticas

por eles experimentadas, durante o período de permanência no hospital; Solicitação de documentos e orientação das normas e rotinas do hospital, direitos e deveres e sobre regulação de exames de média e alta complexidade;

19. Prestar informações sobre solicitação de cópias de prontuários e boletins de atendimento;

20. Orientações e entregas de documentos em caso de óbitos; 21. Articulação intersocial;

22. Solicitar xérox da documentação. Fonte: Câmara (2012).

Nesses eixos, encontram-se os deveres éticos e políticos que a (o) assistente social se compromete ao se graduar na profissão do Serviço Social observando os princípios do Código de ética e competências profissionais legitimadas na Lei 8.662/1993. Entende-se que

[...] a inserção dos Assistentes Sociais no conjunto dos processos de trabalho, encontra-se profunda e particularmente enraizada na forma como a sociedade brasileira e os estabelecimentos empregadores do Serviço Social recortam e fragmentam as próprias necessidades do ser social e a partir desse processo como organizam seus objetivos institucionais que se voltam para a intervenção sobre essas necessidades. (COSTA, 2000, p. 37).

As atribuições do segundo eixo, a seguir, descrevem funções privativas de assistentes sociais para orientação de estágio supervisionado do Serviço Social. No entanto, o primeiro eixo se destaca por ser, na grande maioria, atividades burocráticas, mas que dependendo da estratégia e linguagem utilizada, ou seja dos instrumental utilizado pode direcionar ao rompimento com a política da ajuda, do favor.

Embora se saiba que tais ações dependem das decisões e deliberações diversas, que retratam questões político econômicas do sistema capitalista, permeado pela lógica acumulativa, excludente e cotista presentes nas ações e discurso dos governantes e gestores.

Quadro 6 – Eixos de Atuação: atribuições profissionais cotidianas das (os) assistentes sociais I. Contatos institucionais 1. Contatos institucionais diversos para providências

quanto a exames, alta, benefícios e outros;

2. Comunicação a central de transplante quando da ocorrência de óbito;

3. Contatos com municípios para solicitar ambulância para transporte de paciente em alta hospitalar;

4. Contatos com a vara da infância, conselho tutelar, secretarias de saúde dos municípios, em ocorrências de demandas de crianças e adolescentes;

5. Agendar exames (CAT) entre outros que não são efetivados na unidade hospitalar;

6. Marcação de consultas e exames;

7. Articular contato com prestador que realiza exames de alta complexidade para marcação/agendamento de exames já autorizados.

II. Atuação junto a estagiários

1. Supervisionar estagiários de Serviço Social;

2. Realizar atividades educativas (individual e grupal). Fonte: Câmara (2012).

Segundo Costa (2000), como resultado do novo modelo de operacionalização do SUS, observa-se à persistência de condições que historicamente compõem as dificuldades do sistema e o surgimento de problemas que derivam da atual situação. Emerge daí, um conjunto de demandas expressivas no conflito existente entre as ações conservadoras da saúde e as novas proposições do SUS e que também determinam a dimensão da atuação profissional para o Serviço Social.

Essa operacionalização revela o desafio posto à profissão e aos assistentes sociais dentre as outras categorias profissionais da classe trabalhadora que necessitam enfrentar, compreender e interpretar as determinações da ofensiva do capital principalmente na área de saúde no Brasil.

Desafios presentes no dia-a-dia do exercício profissional frente às demandas que são postas na imediaticidade da intervenção diante do processo saúde-doença tanto dos usuários como dos trabalhadores que executam serviços de saúde.

Quadro 7 – Eixos de Atuação: atribuições profissionais privativas das (os) assistentes sociais. I. Atuação na

chefia/coordenação de divisão na unidade hospitalar

1. Planejar, coordenar e avaliar a atuação das (os) profissionais de Serviço Social;

2. Elaborar normas e rotinas hospitalares;

3. Discutir com a direção técnica proposta anual de trabalho;

4. Supervisionar frequências, trocas, férias, escalas dentre outras demandas da divisão de Serviço Social;

5. Planejar programas e capacitações;

6. Representar setor e outras demandas no NAST: acolhimento; ações educativas em palestras e outros programas, prevenção, SQVT, preparação aposentadoria;

7. Realização de cursos de curta duração para servidores (Educação Permanente) da unidade hospitalar;

8. Coordenar o planejamento, execução e monitoramento das ações desenvolvidas no setor;

9. Delegar funções e estabelecer diretrizes que norteiem o exercício profissional da (o) assistente social;

10. Realizar reuniões para acompanhamento das atividades desenvolvidas na divisão de Serviço Social; 11. Visitas institucionais;

12. Elaboração de ficha de acompanhamento social sobre mediação paciente/família/instituição com relação aos direitos, deveres e assistência em casos de óbito e encaminhamento a outras instituições;

13. Elaboração de relatórios sobre encaminhamentos e visita a pacientes internados nas UTI’s.

Fonte: Câmara (2012).

Neste eixo destacam-se as atribuições profissionais relacionadas aos direitos de usuários e atribuições privativas dos assistentes sociais que poderão evidenciar

a promoção e a proteção da saúde do trabalhador, por meio do desenvolvimento de ações de vigilância dos riscos presentes nos ambientes e condições de trabalho, dos agravos à saúde do trabalhador e a organização e prestação da assistência aos trabalhadores, compreendendo procedimentos de diagnóstico, tratamento reabilitação de forma integrada, no SUS. (BRASIL, 2001a, grifo nosso).

Atuação profissional que revela a finalidade social da profissão na luta por direitos sociais e trabalhistas na perspectiva da resistência contra a barbarização da vida social, articulada às lutas imediatas e históricas da classe trabalhadora a partir da realidade concreta de vida dos sujeitos.

3.5 CONDIÇÕES DE TRABALHO NO ESPAÇO SÓCIO-OCUPACIONAL DAS (OS)