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“U ”, DE ELEIÇÃO INCONDICIONAL

No documento Contra o Calvinismo Roger Olson.pdf (páginas 61-66)

Calvinismo puro e simples: o sistema TUUP

“U ”, DE ELEIÇÃO INCONDICIONAL

O Segundo ponto da TULIP é a eleição incondicional. “ Eleição” é outra palavra bíblica para predestinação para salvação (ou serviço); elas são sinônimas. Todos os cristãos acreditam na eleição; os calvinistas acredi- tam nela de uma forma específica. Boettner a expressa claramente: “A fé reformada tem defendido a existência de um decreto divino eterno que, anterior a qualquer diferença ou deserção nos próprios homens, separa a raça humana em duas porções e ordena uma para a vida eterna

20. CALVINO, Joâo. As Institutas: edição clássica, vol.2, pp. 42-45.

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e outra para a morte eterna [inferno]”22. Isto é, claro, 0 que é comumente conhecido como “dupla predestinação”.

Alguns calvinistas negarão este ensinamento em favor de uma “única predestinação” frequentemente chamada de “calvinismo moderado” ou ameno. (Estes termos também são, às vezes, utilizados para outras per- mutações do calvinismo). A predestinação única é a crença de que Deus escolhe algumas pessoas caídas para as salvar ao passo que simplesmente “ignora” outras, “abandonando-as” a sua merecida condenação. Em outras palavras, de acordo com esta ideia, não há decreto de Deus pela qual ele ordene qualquer pessoa para 0 inferno. Ou seja, não há “decreto para reprovação”, mas apenas um decreto de eleição para salvação.

Boetnner e outros calvinistas zombam da ideia de uma única predes- tinação. Ele enfatizou, corretamente julgo eu, que a predestinação de alguns para a salvação, da parte de Deus, é a predestinação de alguns

para a condenação. Ele escreveu acerca da reprovação que “ela, tam- bém, é de Deus” 23. Ele explicou 0 caso desta maneira: “ Nós [calvinistas] acreditamos que desde toda a eternidade Deus planejou deixar alguns da posteridade de Adão em seus pecados; e que o fator decisivo na vida de cada um encontra-se apenas na vontade de Deus” 24. Isso pode ser colocar as coisas de maneira um pouco mais forte do que a maioria dos calvinistas deseja colocar, mas a descrição corajosamente adere de m aneira consistente à crença da soberania absoluta de Deus em todas as coisas. Observe 0 que Boettner está dizendo aqui: 0 “ fator decisivo” na ida de algumas pessoas para 0 inferno é a vontade de Deus. Boettner era impaciente, para dizer o mínimo, com calvinistas que defendem a predestinação única: “ Calvinismo brando é sinônimo de calvinismo enfermo, e a enfermidade, se não curada, é o início do fim ” 25.

22. Boettner, The Reformed Doctrine of Predestination, 83. 23. Ibid., 102.

24. Ibid., 104. 25. Ibid., 105.

Calvinismo puro e simples: o sistema TULIP

O que Calvino disse? Ele acreditava nesta dupla predestinação, incluin- do a reprovação soberana divina de certas pessoas para o inferno? Ele escreveu: “que [Deus] designou de uma vez para sempre, em seu eterno e imutável desígnio, àqueles que ele quer que se salvem, e também àqueles que quer que se percam ” 26. A fim de que ninguém 0 interprete de maneira equivocada, Calvino enfatizou esta posição ao ridicularizar os que aceitam a eleição, mas que rejeitam a reprovação, chamando tal coisa de “ notável desvario” : “ Portanto, aqueles a quem Deus pretere os reprova; não por outra causa, mas porque os quer excluir da herança para a qual predestina a seus filhos” 27. Calvino notoriamente reconhe- ceu e afirmou 0 caráter altamente objetável desta dupla predestinação e, em especial, o lado reprobatório da predestinação, chamando-o de “decreto espantoso”. 28

O que dizer de outros calvinistas? Sproul afirma inequivocamente a eleição incondicional de alguns para a salvação e a predestinação de outros para a condenação:

Ensina [a visão calvinista da predestinação] que desde a eternidade Deus escolheu intervir nas vidas de algum as pessoas e trazê-las à fé salvadora, e escolheu não fazer isso para outras pessoas. Desde toda a eternidade, sem n enhum a visão prévia de nosso com portam en to hum ano, Deus escolheu alguns para a eleição e outros para a repro- v a ç ã o ... A base para a escolha h um ana não está som ente no hom em , m as no beneplácito da vontade divin a 29.

Aos que dizem que Deus elege alguns para a salvação, mas que não predestina ninguém para a condenação, Sproul responde: Se é que real- mente existe uma coisa tal como predestinação, e se essa predestinação

26. CALVINO, João. As Institutas: edição clássica, vol.3, p. 393. 27. CALVINO, João. As Institutas: edição clássica, vol.3, p. 409,

28. Ibid., vol. 3, p. 416. As palavras exatas que Calvino utilizou no original foram “decretum horribile.” Ela foi traduzida, nesta versão, como “decreto espantoso”. 29. SPROUL, R.C. Eleitos de Deus, Editora Cultura Cristã, 2002, p. 101.

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não inclui todas as pessoas, então não podemos escapar da necessária influência de que há dois lados para a predestinação. Não é suficiente falar sobre Jacó; precisam os também considerar Esaú [em referência à Romanos 9]” 30.

Sproul explica cuidadosamente que estes dois decretos de Deus - eleição e reprovação - não são iguais. Ele rejeita o que ele cham a de “hipercalvinism o” , que acredita na “ultimação igual” dos decretos da eleição e reprovação. (Aqui há uma área de diversidade entre os calvi- nistas, embora Sproul declare o que ele chama de “ hipercalvinismo” como sendo “anticalvinismo” ! 3') Conforme ele explica, o decreto de eleição é positivo ao passo que o decreto de reprovação é negativo. Em outras palavras, Deus, de m aneira positiva, coloca a fé nos corações dos eleitos enquanto que, de maneira proposital, negligência fazer o mesmo com os réprobos. A única diferença é que Deus não cria a descrença nos corações dos réprobos; ele simplesmente os abandona em suas condenações ao passo que Ele cria a crença nos corações dos eleitos 32.

Alguém só pode se perguntar quão grande é esta diferença. Como é que Deus não torna estes dois decretos igualmente finais? Ambos são incondi- cionais no sentido de que a escolha de Deus não está embasada em nada que Deus veja nas pessoas escolhidas ou ignoradas. Conforme explicarei no capítulo 5, chamar um decreto de “positivo” e 0 outro de “ negativo” não parece diminuir a atrocidade da reprovação. Sproul acusa 0 hipercalvinismo de fazer “uma drástica violência à integridade de Deus”33. Um crítico do calvinismo rígido de Sproul diria 0 mesmo acerca de sua visão.

Alguns leitores que vieram a abraçar o calvinismo (ou estão consi- derando isso) ao ouvirem ou lerem John Piper podem se perguntar se

30. Ibid., 103. 31. Ibid., 104. 32. Ibid., 104 - 05.

Calvinismo puro e simples: o sistema TULIP

ele abraça este “decreto horrível” de reprovação. Ou seja, o Piper acre-

dita que a predestinação é incondicional e dupla? Sem dúvida que ele acredita. Em The Pleasures o f God (Os Prazeres de Deus) ele discute “O Prazer de Deus na Eleição” e não deixa dúvida de que ele concorda com Caivino, Boettnner e Sproul. A eleição, ele diz, é incondicional porque “ela não é em basada naquilo que alguém faz após nascer. Ela é livre e incondicional” 34. Ele não trata muito dos não eleitos, mas afirma que Deus escolhe alguns para não salvar, embora ele tenha compaixão deles” 35. Tratarei desta alegação no capítulo seguinte; tal alegação parece con- traditória para mim e para a maioria dos não calvinistas, se não todos 36.

O ponto principal do “U” da TULIP, para os calvinistas, é a natureza

incondicional da eleição para a salvação (que também seria verdadeiro

da reprovação). A predestinação de Deus dos destinos eternos de seres humanos individuais não tem qualquer relação com a presciência do caráter

ou escolhas.Todo autor calvinista enfatiza e destaca este ponto. Boettner

declara que a escolha de Deus náo é em basada em nada que Deus veja em uma pessoa, incluindo sua presciência de sua fé ou arrependimento. Até m esmo a fé e o arrependimento são dons de Deus para o eleito e não podem ser a base de sua eleição 37. Para os calvinistas isto é uma doutrina de misericórdia e graça - que Deus soberanam ente escolhe salvar alguns pecadores imerecedores e ele m esmo realiza toda a sal- vação sem qualquer cooperação dos pecadores. Os críticos acreditam que eles escolhem não dar a importância e ignoram o lado negro desta

34. John Piper, The Pleasures of Cod (Portland, OR: Multnomah, 1991), 132. 35. Ibid., 144.

36. Aqui eu gostaria de observar que alguns luteranos acreditam na eleição incondicional, mas a maioria não acredita em um decreto de reprovação. Isto é o que os calvinistas consistentes, de qualquer forma, acham que é logicamente impossível. Então, os calvinistas não são os únicos que acreditam na eleição incondicional, mas aparentemente apenas os calvinistas acreditam em um decreto de reprovação. 37. Boettner, The Reformed Doctrine o f Predestination, 98 - 101.

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doutrina, que é a de que Deus poderia salvar a todos - uma vez que a eleição para a salvação é incondicional - mas ele não o faz. Boettner tenta explicar a razão disto:

A condenação dos não eleitos é projetada p rim ariam en te para fornecer um a exibição eterna, diante dos hom ens e anjos, do ódio de Deus ao pecado, em outras palavras, é para ser um a manifesta- ção eterna da justiça de Deus... Este decreto exibe um dos atributos divinos que, sem condenação [dos não eleitos], jam ais poderia ser apreciado de m aneira adequada 38

Muitos calvinistas, neste ponto, preferem apelar ao mistério e não oferecem qualquer sugestão de a razão pela qual Deus não salva a todos. Talvez este seja um elemento isolado na teologia de alguns calvinistas que poderia corretamente ser cham ada de extrem a ou radical. A crença de Boetnner (e respostas semelhantes de outros calvinistas) levanta esta questão: A cruz de Cristo não foi uma manifestação suficiente da justiça de Deus e de seu ódio para com o pecado? (Não que Jesus tenha sido um pecador, mas que 0 pecado do mundo foi posto sobre ele, parcial- mente, para exibir 0 quão sério Deus considera 0 pecado). O motivo especulativo de Boettner e de outros calvinistas para a reprovação parece diminuir a glória da cruz.

No documento Contra o Calvinismo Roger Olson.pdf (páginas 61-66)