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Como base para esse levantamento bibliográfico, utilizamos o Banco de Teses e Dissertações da CAPES, no período de 2006 a 2010, definindo os seguintes descritores para seleção dos estudos: afetividade na escola, afetividade e aprendizagem, afetividade na escola de tempo integral. Além disso, utilizamos algumas pesquisas realizadas no PED (Programa de Estudos Pós-Graduados em Educação: Psicologia da Educação – PUC/SP), nos últimos cinco anos, que privilegiaram a investigação da dimensão afetiva no contexto escolar.

Pesquisamos, também, as comunicações realizadas nas reuniões da ANPEd, de 2007 a 2011, nos grupos de trabalhos referentes à Educação Fundamental e Psicologia da Educação.

A escolha pelo período mencionado anteriormente ocorreu por se tratar de uma produção atual sobre a temática, possibilitando uma análise mais contemporânea das pesquisas sobre a afetividade no ambiente escolar.

Constatou-se um número significativo de produções sobre a temática da afetividade. No entanto, não se encontrou nenhum estudo realizado em uma escola de tempo integral, o que pode evidenciar a contribuição desse tipo de pesquisa.

A maior parte dos estudos pesquisados aborda a afetividade relacionada à apropriação da escrita ou a afetividade relacionada a uma disciplina específica, como arte, matemática, educação física, filosofia e ensino religioso.

Em relação aos níveis de ensino, encontramos estudos nos diferentes níveis. No entanto, poucos trabalhos foram realizados com professores e alunos da 4ª série (5º ano), período que será abordado nesta pesquisa. Em função disso, selecionamos para a revisão bibliográfica alguns estudos mais próximos à temática da afetividade no Ensino Fundamental I, que efetivamente contribuíram para organização e discussão deste trabalho.

Vale ressaltar que a maior parte dos estudos pesquisados sobre afetividade, utilizando como referencial teórico a psicogenética walloniana, foi realizado no PED-PUC/SP, sob a orientação das professoras Abigail Mahoney e Laurinda Ramalho de Almeida. Além desses estudos, encontramos trabalhos sobre a temática na UNICAMP, sob a orientação

56 do professor Sérgio Leite, e no Centro Universitário Moura Lacerda, orientados pela professora Marlene Fagundes Gonçalves.

Iniciamos o nosso levantamento no PED-PUC/SP, utilizando como fonte para pesquisa o estudo realizado pelo grupo de pesquisa coordenado pela professora Laurinda Ramalho de Almeida, do qual participamos. O grupo procedeu ao mapeamento de teses e dissertações sobre afetividade no contexto escolar no PED/PUC-SP, realizadas no período de 1969 a 2009.

Tratou-se de um estado do conhecimento, conforme definição de Romanowski e Ens (2006), no qual foram identificadas 71 pesquisas sobre a temática, categorizadas em estudos teóricos e empíricos, sendo estes subcategorizados pelos sujeitos participantes das pesquisas. Constatou-se que 42% das pesquisas priorizavam os alunos como participantes; 21%, os professores, e 14 %, os alunos e os professores. A pesquisa foi publicada na revista Psicologia da Educação, número 31, ago./2010, edição comemorativa dos quarenta anos do Programa.

Os principais resultados desse estudo ressaltam a importância de se estudar a afetividade na escola:

• A maneira de expressar a afetividade pelo professor repercute diretamente no

aluno, influenciando a forma de esse aluno se relacionar com os conteúdos e com a própria escola;

• A existência de um clima favorável à expressão dos sentimentos e

aprimoramento das relações interpessoais proporciona avanços no desenvolvimento dos profissionais e alunos, enriquecendo a aprendizagem. • O conhecimento da evolução da afetividade pelo professor possibilita o

melhor atendimento das necessidades dos alunos e com isso favorece o aprendizado e o desenvolvimento.

Consultamos também os trabalhos de Almeida e Mahoney (2007), que apresentam várias pesquisas sobre afetividade realizadas na PUC/SP, e apontam que conhecer os sentimentos e suas situações indutoras possibilita o desvelamento das necessidades de professores e alunos para que sejam atendidas, melhorando as relações e a própria aprendizagem. Além disso, essas pesquisas fornecem importantes elementos para o professor refletir sobre sua prática, considerando a dimensão afetiva.

57 No Banco de Teses e Dissertações da CAPES, selecionamos o trabalho de Tassoni e Leite (2010), que teve por objetivo identificar a afetividade na dinâmica interativa na sala de aula. Nesse trabalho, Tassoni apresenta sua pesquisa de doutorado, sob orientação do professor. Sergio Leite, que foi realizada com 51 alunos de seis, 10, 14 e 17 anos, utilizando como referencial teórico Vigotski e Wallon. Os resultados confirmam os estudos de Almeida et al.(2010 a), demonstrando a interdependência e influência entre a dimensão afetiva e cognitiva, assim como a importância dos professores conhecerem a evolução da afetividade nos diferentes estágios de desenvolvimento, podendo compreender melhor as necessidades do aluno e melhorar o processo ensino-aprendizagem. Tassoni e Leite (2010) verificou também o poder do contágio nas salas de aulas contribuindo ou não para aprendizagem.

Outro trabalho encontrado no Banco de Teses e Dissertações da CAPES foi realizado em uma escola do interior de São Paulo, com uma professora e 35 alunos da 2ª série do ensino Fundamental I por Nunes (2007). Esse estudo utilizou como referencial teórico Vigostki. Os resultados indicam que a relação e interação entre professor-aluno facilita o processo ensino-aprendizagem e pode diminuir a incidência do fracasso escolar. Esses resultados corroboram também com os resultados de pesquisas mencionadas anteriormente (ALMEIDA et al. 2010; TASSONI; LEITE, 2010).

Nas comunicações realizadas na ANPEd, no período de 2008 a 2011, encontramos alguns trabalhos sobre a afetividade no contexto escolar. No entanto, selecionamos os seguintes trabalhos, que se aproximavam mais da questão da presente pesquisa: Tassoni e Leite (2010), referente à pesquisa de doutorado já apresentada anteriormente, e Tassoni (2011).

A comunicação de Tassoni (2011), refere-se a um estudo em andamento em uma escola pública do Ensino Fundamental I, com alunos do 1º ano à 4ª série. Esse artigo tem por objetivo investigar que sentimentos perpassam a relação dos alunos, dos anos iniciais do Ensino Fundamental, com as práticas de leitura e escrita. A metodologia utilizada foi a observação em sala de aula e as entrevistas com os alunos. Segundo a autora:

A utilização da observação em sala de aula mostrou-se adequada para focalizar professores e alunos enquanto constituintes de uma mesma dinâmica interativa, uma vez que o objeto de estudo se concretiza nas interações concretas entre ambos (TASSONI, 2011, p.6).

58 As entrevistas foram realizadas individualmente com os alunos interessados em participar após autorização por escrito dos pais. Posteriormente, os dados foram organizados em três categorias, tendo como eixo orientador os elementos que influenciam a relação dos alunos com a escrita. Foram eles: as estratégias de ensino, a professora e a relação com a leitura e escrita.

Identificaram-se também os sentimentos dos alunos em relação às práticas de leitura e escrita e as respectivas situações indutoras desses sentimentos. Essa análise foi baseada em Almeida e Mahoney (2007). Os sentimentos encontrados nos alunos de 3ª e 4ª séries foram: alegria, tranquilidade, orgulho, entusiasmo, empenho, vergonha, tristeza/constrangimento, medo, receio, nervosismo/ansiedade, dor física e cansaço. Os resultados coletados nas entrevistas com os alunos apontam que o gostar de ler e/ou escrever estão relacionados às situações de aprendizagem com sucesso. Elogios da professora ou da família a respeito dos textos produzidos pelos alunos os motivam a escrever, assim como tirar uma boa nota. A correção da professora é apontada pelos alunos como uma ação que os ajuda a aprender.

Os dados dessa pesquisa confirmam a importância da afetividade no ambiente escolar, demonstrando quais sentimentos se fazem presentes no processo de ensino- aprendizagem, sendo assim importante para o professor reconhecê-los.

Finalizando esse levantamento, ressaltamos que os estudos presentes nessa revisão contribuíram para a investigação, seja em relação à ampliação da compreensão da temática afetividade, seja como orientador na escolha dos procedimentos metodológicos adotados.

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3 PERCURSO METODOLÓGICO

Com objetivo de compreender como se manifesta a dimensão afetiva, mais especificamente, os sentimentos, em escolas nas quais as crianças permanecem em tempo integral, realizamos este estudo em duas escolas públicas participantes do Projeto Escola de Tempo Integral da rede estadual de São Paulo.

A questão norteadora da pesquisa foi investigar os sentimentos manifestados por professores e alunos na Escola de Tempo Integral e que situações são indutoras desses sentimentos, desvelando as necessidades subjacentes a esses. O conhecimento dessas necessidades possibilitará a realização de ações para que essas sejam atendidas e a aprendizagem de alunos e de professores aprimorada.

Partimos dos seguintes pressupostos: os alunos e professores são pessoas completas, integradas, inseridas em um meio social e histórico; as interações que ocorrem na escola são marcadas pela afetividade e é da integração afetividade-cognição que se desenvolve o processo ensino-aprendizagem.

Nesse sentido, acreditamos que o estudo dos sentimentos de professores e de alunos de escolas do Projeto Escola de Tempo Integral poderá revelar as necessidades de seus participantes.

Segundo Bogdan e Biklen (1982, apud LÜDKE; ANDRÉ, 1986), uma abordagem qualitativa deve atender aos seguintes critérios: realização da pesquisa em um ambiente natural como fonte direta de dados, pesquisador como seu principal instrumento, dados predominantemente descritivos, preocupação maior com o processo do que com o produto, foco especial no significado que as pessoas dão às coisas e a análise voltada a um processo mais indutivo, tendo um referencial teórico como base.

Considerando os objetivos da nossa pesquisa e os critérios apontados pelos autores mencionados, optamos pela abordagem qualitativa, pois nos pareceu mais adequada para a investigação em questão.

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