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O que dizem as pesquisas sobre escola pública de tempo integral

Neste tópico temos o objetivo de apresentar uma síntese das principais questões que debatidas pelos pesquisadores da temática em questão.

No levantamento bibliográfico sobre escola pública de tempo integral, identificamos vários artigos, nos quais constatamos a presença frequente de pesquisadores, como

3Disponível em: http://portal.mec.gov.br/index.php?option=com_content&view=article&id=16689&Itemid=1115. Acesso em dez. 2011.

22 Cavalière (2002 a; 2002 b; 2002 c, 2007; 2009; 2011), Coelho (2002, 2003, 2004 a; 2004 b; 2004 c; 2007; 2009; 2011), Maurício (2001; 2003; 2004, 2009), Monteiro (2009) pertencentes ao NEEPHI – UNIRIO, que nos forneceram importantes elementos para compreensão dessa temática, desde o entendimento dos conceitos de educação integral e de escola de tempo integral, passando pelo percurso histórico à análise das experiências contemporâneas, que são elementos importantes para o entendimento do Projeto Escola de Tempo Integral. Ressaltamos que grande parte desses artigos foram apresentados nas reuniões da ANPEd e da ANPAE.

Utilizamos também o Banco de Teses e Dissertações da CAPES, no período de 2006 a 2010 e o levantamento bibliográfico realizado por Maurício e Ribeiro (2009) sobre duas décadas (1989 a 2009) de educação de tempo integral.

Nossa pesquisa nas fontes mencionadas anteriormente confirmam os resultados de Maurício e Ribeiro (2009), que afirmam que a literatura reflete a descontinuidade que caracteriza o histórico da implantação da educação em tempo integral, mas evidencia também que essa concepção de escola persiste tanto em artigos de revistas de prestígio acadêmico como na produção de dissertações e teses em várias universidades brasileiras.

Maurício e Ribeiro (2009) apontam também a revitalização do tema, tanto pela continuidade de produção a respeito como pelo crescimento do número de monografias, dissertações, artigos e comunicações.

O interesse pelo tema também se faz presente em livros publicados por Coelho (Org.) em 2009 e por Moll (Org.) em 2012, que apresentam artigos sobre essa temática e relatam as experiências que estão sendo realizadas em todo o Brasil.

Nessa revisão bibliográfica, apresentaremos os artigos mais recentes publicados após a revisão de bibliografia realizada por Maurício e Ribeiro (2009)

O artigo de Cavalière (2009) contribuiu para a compreensão do panorama atual desse tema na educação brasileira. A autora apresenta os formatos organizacionais pelos quais vem se dando, no Brasil, a ampliação do tempo escolar, entendendo-o como período em que as crianças e os adolescentes ficam sob responsabilidade da escola, dentro ou fora de suas dependências.

23 Segundo a autora, as experiências existentes no país podem ser sintetizadas em duas vertentes. A primeira vertente a autora nomeou de escola de tempo integral, e a segundo aluno em tempo integral.

Cavalière (2009) menciona que a escolha por um ou outro modelo depende das possibilidades políticas e de infraestrutura, mas também pode representar correntes de pensamento divergentes em relação ao papel do Estado e das instituições da sociedade. Cavalière (2009) defende o fortalecimento da instituição escolar. Considera importante a troca com outras instituições sociais e a incorporação de outros agentes educacionais na escola, mas acredita que as alternativas de ampliação do tempo escolar que não têm a escola como centro podem gerar fragmentação e perda de direção, principalmente, tratando-se de um programa a ser desenvolvido em alta escala. Em função disso, acrescenta a autora, há riscos de que essas ações, ao invés de contribuírem para melhoria da qualidade, aprofundem ainda mais a precariedade da educação.

Em 2011, Cavalière e Maurício em uma comunicação realizada na ANPEd, procuraram articular os resultados da pesquisa realizada em âmbito nacional (BRASIL/MEC, 2009 d) com as características das experiências de ampliação de jornada. Segundo as autoras, os resultados dessa pesquisa mostram as limitações das experiências em ampliação de jornada frente às condições reais de cada região, cada rede escolar e cada organização urbana. Uma das constatações da pesquisa é que, apesar da perspectiva atual incentivar a busca de espaços alternativos para realização das atividades extracurriculares, os resultados demonstram que a escola continua sendo o espaço utilizado para a maioria das atividades realizadas.

Cavalière e Maurício (2011) afirmam que tanto o confinamento por longas horas em uma escola pequena e mal equipada quanto a pulverização inconsequente das atividades em espaços desconectados podem servir à desvalorização das atividades educativas, transformando a escola em um depósito de crianças, aspecto bastante criticado pelos professores.

Nessa reunião da ANPEd, Coelho (2011), utilizando os dados da pesquisa citada anteriormente e considerando os depoimentos dos alunos do ensino fundamental dos anos iniciais, discute as vertentes apontadas por Cavalière (2009), pois as falas encontradas aparecem permeadas por essas duas posições. A autora defende, como Cavalière (2009), a centralidade da escola na proposição de uma educação integral.

24 Aponta que é preciso refletir criticamente para que a escola não passe a exercer outras funções transitórias e de curto alcance em detrimento ao ensino (ALGEBAILE, 2009, apud COELHO, 2011).

Outro artigo recente relevante na discussão dessa temática, que também utiliza os dados da pesquisa mencionada anteriormente é o trabalho de Coelho e Hora apresentado na ANPAE em 2011. Nesse artigo, as autoras refletem sobre a qualificação profissional dos sujeitos (diretores, professores e monitores voluntários ou não) envolvidos nas experiências de ampliação de jornada e as possíveis interfaces com a política e a gestão dessas práticas. As autoras constataram uma relação de desconfiança e ao mesmo tempo de expectativas nas instituições pesquisadas.

Em relação às dissertações e teses identificadas no Banco de Teses e Dissertações da CAPES, optamos por apresentar as que mais contribuíram para a construção desta pesquisa, seja na metodologia, seja na compreensão do Projeto Escola de Tempo Integral em São Paulo e em outros estados.

Um dos trabalhos que contribuiu foi o de Germani (2006), que faz um levantamento histórico das propostas de ampliação do tempo escolar em Curitiba de 1986 a 1994, através da análise de documentos oficiais e de depoimentos de professores que participaram desses projetos. A autora constatou que todas as propostas sofreram modificações ao se tornarem realidade na comunidade em que foram implantadas. Essas modificações foram necessárias em função do distanciamento do projeto proposto em relação à realidade concreta.

A autora identificou que as propostas implantadas em Curitiba foram inspiradas em Anísio Teixeira, mas adotam como base teórica outras teorias educacionais conforme se faziam presentes no panorama educacional.

Germani (2006), em relação à formação dos professores, constatou que as escolas de Curitiba que ampliaram o tempo escolar foram acompanhadas de programas de preparação de professores, mas que esses programas não foram totalmente eficazes, pois as dificuldades encontradas no dia a dia afastavam os professores dessas escolas. O rodízio constante de professores impossibilitava o aprofundamento das problemáticas ligadas à educação em tempo integral.

Mota (2008) realizou uma pesquisa em uma escola de tempo integral do Governo Estadual de São Paulo, situada em Santos. A pesquisa focou a prática dos professores

25 junto às oficinas curriculares. A pesquisadora identificou a influência do movimento liberal reformador da Escola Nova, proposta no Brasil por Anísio Teixeira, baseada nos conceitos de John Dewey.

Mota (2008) apontou que a falta de tempo para um trabalho coletivo entre os professores do regular (currículo básico) e os professores das oficinas, assim como a falta de formação e capacitação adequada são fatores que prejudicam a qualidade do trabalho docente. Identificou também que as capacitações, quando ocorrem, são pontuais e pouco articuladas com as vivências de sala de aula. Em relação às oficinas, a autora verificou que, por falta de preparo, as oficinas acabam reforçando os conteúdos já trabalhados no currículo básico, utilizando as mesmas estratégicas pedagógicas. Mota (2008) também identificou nos professores entrevistados queixas em relação aos alunos. Para esses professores muitos alunos se recusam a participar das atividades, ficando ociosos durante todo o período. Mota acrescenta que, além disso, tanto professores, quanto alunos demonstram dificuldades para compreender e desenvolver a proposta das oficinas, ocasionando problemas de relacionamento entre eles. A autora sugere cursos de formação, tanto inicial como de formação continuada que favoreçam a articulação entre teoria e prática.

Santos (2009) investigou a organização do tempo em uma escola municipal de Tempo Integral em Goiânia e constatou que a organização e as práticas pedagógicas realizadas nessa escola eram marcadas pela improvisação. Segundo a autora, a pesquisa em questão indica a necessidade de aprofundamento em algumas questões, que poderão ser realizadas em outras pesquisas, como: a necessidade de realizar uma discussão conceitual sobre a questão do tempo escolar e as finalidades da escola pública na contemporaneidade. A autora acredita ser essencial discutir também as relações entre as políticas e propostas que fundamentam a ideia de escola integral.

Na sua dissertação, Santos (2009) apresenta uma análise de como a ampliação do tempo escolar tem sido concebida em diferentes propostas em andamento. Segundo a autora, os resultados indicam: certa desresponsabilização do Estado pela educação pública, ainda que a ampliação do tempo de permanência na escola produza a aparente percepção de que o Estado está aumentando sua atuação. Além disso, a autora identificou nas propostas ênfase na questão de risco social, passando para a escola a função da assistência social, com a ideia de educação integral, que extrapola o ambiente

26 escolar e a busca por um novo modelo de escola para atender às novas exigências sociais.

Gomes (2009) pesquisou a concepção de educação apresentada nas Diretrizes para a Escola de Tempo Integral no Estado de São Paulo e o que pensam os professores que atuam no projeto, na perspectiva da formação continuada concebida durante o espaço destinado a esse fim, ou seja, a HTPC (Hora de Trabalho Pedagógico Coletivo) .

Segundo a autora, em relação à concepção do Projeto percebem-se interesses sociais e políticos fundamentados no ideal liberal proposto por Anísio Teixeira. De acordo com ela, nas Diretrizes para Escola de Tempo Integral (SP/SEE/CENP, 2006), apreende-se o cunho assistencialista, no qual se privilegia uma determinada classe social para esse atendimento, com o discurso versando sobre a busca da qualidade para o ensino. Em relação aos professores, há consenso relativo em torno da necessidade de construção coletiva da concepção de educação que possibilite novas práticas pedagógicas.

Nesse sentido, afirma a autora, as HTPCs, espaços destinados à formação continuada dos professores, mostram-se insuficientes diante das necessidades pedagógicas e dos problemas inerentes e consequentes da demanda social transferida para o campo educacional.

Gomes (2009) também constatou que concepções, sentimentos e contradições vivenciadas pelos professores se materializam nas práticas pedagógicas. Segundo a autora, aparece no discurso dos professores o problema da falta do esforço e apatia do aluno. Para lidar com essa dificuldade, comenta que os professores se relacionam de forma afetiva, na tentativa de compensar o desconhecimento pedagógico de como lidar com essas situações.

Em relação às oficinas curriculares, a mesma constatou que ainda não existe uma identidade, o que faz com que as oficinas fiquem à mercê das necessidades dos professores do currículo básico, ora como complementar ao que é oferecido ora como espaço de reforço. Nas duas escolas pesquisadas por ela, foi constatado que os professores buscam ocupar o tempo e o espaço de forma qualitativa, mas a falta de formação adequada faz com que ofereçam em dobro o que sabem e dominam.

Sobre a formação, acrescenta que os professores apontam a ineficiência das poucas orientações recebidas. Nesse sentido, Gomes (2009) afirma a necessidade de cursos de formação que viabilizem momentos de estudo e discussão do cotidiano dessas escolas.

27 Gomes (2009) também aponta a necessidade de investimentos na estrutura física das escolas e organização nas escolas de um espaço para informar aos professores os acontecimentos, preservando a HTPC para formação.

Dib (2010) em sua tese de doutorado investigou o Programa Escola de Tempo Integral na Região de Assis, interior do Estado de São Paulo. O objetivo do seu trabalho era analisar o projeto e identificar os efeitos e impactos em nove escolas da região de Assis, a partir de 2006, utilizando os resultados no SARESP.

Segundo Dib (2010), as análises comparativas das médias resultantes do rendimento escolar dos alunos dos dois grupos selecionados apontam uma diferença no desempenho dos alunos das escolas que aderiram ao programa. Na disciplina de Matemática, o grupo ETI (Escolas de Tempo Integral) avançou 38, 5% em relação ao ETP (Escolas de Tempo Parcial) e em Português o grupo ETI avançou 17,4% em relação ao outro grupo. No entanto, a autora ressalta que não é possível afirmar que a ampliação do horário seja o único fator responsável pela diferença de desempenho.

Para a maioria dos entrevistados pela pesquisadora (DIB, 2010), os fatores que mais evidenciam esses resultados diferenciados entre as escolas são os seguintes: articulação na HTPC dos professores do currículo básico com os das oficinas, estudo individual e coletivo realizado pelos professores, capacitações em serviço, apoio dos supervisores e dedicação e envolvimento de toda a equipe.

Ao finalizar o trabalho, Dib (2010) comenta dos descaminhos que ocorreram em 2010, em relação ao Projeto em questão em Assis, período posterior ao pesquisado. Somente quatro escolas se mantiveram oferecendo tempo escolar ampliado aos alunos, apesar do resultado alcançado.

Para o supervisor responsável por essas escolas, isto ocorreu em função de não ter sido mantido o apoio pedagógico dos órgãos centrais, como ocorreu nos primeiros anos do Projeto. Mantiveram-se apenas as escolas localizadas na periferia. Nesse sentido, Dib (2010) questiona a qualidade desse atendimento e tem esperança de que um dia as políticas sejam de Estado, não ficando sujeitas a mudanças constantes de governos. Essa é também a grande expectativa de todos nós que trabalhamos com educação e que acreditamos em uma escola pública forte, justa e de qualidade para todos os cidadãos brasileiros.

28 Em síntese, as pesquisas mencionadas anteriormente apresentam projetos de escolas em tempo integral com concepção teórica baseada nos princípios liberais propagados por Anísio Teixeira, tendo a escola como centro da ampliação do tempo escolar, apesar de ocorrerem em diferentes estados ou municípios: Germani (2006), em Curitiba; Mota (2008), em Santos (Projeto do Estado de São Paulo); Santos (2009), em Goiânia; Gomes (2009), interior de São Paulo (Projeto do Estado de São Paulo) e Dib (2010), Assis (Projeto do Estado de São Paulo).

As pesquisas trazem diferentes contribuições para a temática em questão, mas são unânimes ao apontar como principais fragilidades do Projeto: a falta de estrutura física adequada à ampliação, necessidade de integração entre os professores e entre as atividades do currículo básico e as oficinas e uma formação para os professores adequada às questões de uma escola de tempo integral, possibilitando a reflexão da prática e com isso melhorando a qualidade do ensino. (GERMANI, 2006; MOTA, 2008; SANTOS, 2009; GOMES, 2009; DIB, 2010). Apesar dessas fragilidades, as pesquisas apontam resultados positivos, como foi o caso da experiência de Assis nos primeiros anos de ampliação (DIB, 2010)

1.6 Projeto Escola de Tempo Integral: uma experiência vivenciada no Estado de