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Por que escolhemos a teoria de Henri Wallon como referencial teórico?

Henri Wallon nasceu no século XIX em Paris, onde residiu por toda a vida. Vivenciou um período conturbado da história, com duas guerras mundiais entre outros acontecimentos. Professor, pesquisador, criticou a psicologia da época, tendo um posicionamento diferenciado dos profissionais deste período. Os aspectos sociais e políticos permearam sua produção teórica. Dantas (1983) apresenta tais aspectos na biografia que escreveu sobre Wallon, com respeito e admiração.

Um dos motivos para a escolha desse referencial se refere ao fato de Wallon propor uma teoria do desenvolvimento como um processo integrado das dimensões afetiva, cognitiva e motora, rompendo com a separação presente na psicologia tradicional entre razão e emoção e contribuindo para a compreensão de um ser completo e concreto, com suas diferentes manifestações, presentes em todo o seu processo evolutivo: a pessoa. Outra contribuição importante da sua teoria está na valorização que Wallon concede a integração organismo-meio. Para Wallon ([1946] 1986, p.165), o indivíduo é “geneticamente social”. Coerente com essa definição, realiza seus estudos sobre a criança, considerando as circunstâncias em que está inserida e dando-lhe possibilidades de transformações e escolhas.

Levando em conta que a afetividade é o tema da pesquisa, a escolha pelo referencial walloniano ocorreu também pelo fato de a afetividade ocupar lugar central nessa teoria, seja do ponto de vista da construção da pessoa como na construção do conhecimento. Para Wallon, a afetividade evolui em três momentos: emoção, sentimento e paixão. Na teoria walloniana, a emoção é o recurso que mobiliza o outro atender às suas necessidades, funcionando como um amálgama entre o orgânico e o social, permitindo inicialmente a sobrevivência humana. Wallon ([1941] 2007) afirma que as emoções tendem a se realizar, por meio de manifestações consoantes e contagiosas, uma fusão de sensibilidade entre o indivíduo e os que o cercam.

Outro motivo para utilização desse referencial é decorrente da importância das contribuições do autor na área da educação, o que possibilita ao pesquisador um referencial teórico explicativo para os fenômenos que se dão no ambiente escolar.

40 Wallon não propõe nenhuma teoria pedagógica, mas escreve vários artigos direcionados aos professores. Acredita que a pedagogia e a psicologia se complementam. Em uma das suas palestras aos professores, o autor comenta:

Quase todos vós deveis ser principalmente pedagogos e eu sou principalmente um psicólogo. Mas penso que a ligação das duas disciplinas é indispensável. Julgo que é sobretudo indispensável para o psicólogo, porque a psicologia só se alimentaria de abstracções e de simples verbalismo se não encontrasse campos de aplicação dos seus princípios, campos de controlo, campos de observação ([1952] 1975, p. 201).

Além disso, Almeida (2009) afirma que o estudo das obras de Wallon permite apreender dois tipos de leitura pedagógica: uma pedagogia explícita, nos textos que tratam da análise da Educação Nova e da educação em geral e uma pedagogia implícita, obtida por inferências de sua teoria psicogenética e da sua atuação como professor.

Não é possível deixar de mencionar nesta justificativa a concepção desse autor sobre Homem e sociedade presente no Plano Langevin-Wallon, uma proposta de reforma para o ensino francês, elaborada por uma comissão presidida, primeiro, por Langevin, e depois, por Wallon. A diretriz norteadora do Plano era construir uma educação mais justa para uma sociedade mais justa, tendo como princípios: justiça, dignidade, orientação e cultura geral.

A nossa escolha por Wallon também aconteceu por acreditarmos que o método utilizado pelo autor favorece a compreensão do fenômeno investigado nesta pesquisa, rompendo com uma visão mecanicista da realidade. Segundo Almeida (2010 b, p.22), Wallon acreditava que esse método era “o único capaz de abarcar a diversidade e as contradições da realidade, bem como considerar numa mesma unidade a pessoa e seu meio, particularmente o social, em suas integrações recíprocas”. Conforme menciona Almeida (2010 b), a opção de Wallon por esse método foi coerente com a postura que adotou em toda a sua vida, participando ativamente de movimentos sociais e educacionais da sua época.

O método walloniano se caracterizou como: a análise genético-comparativa multidimensional, que consistia em fazer comparações em relação à patologia, as outras civilizações e aos animais para esclarecer o processo de desenvolvimento. Nessas comparações, Wallon analisava o fenômeno em suas várias determinações orgânicas e sociais e as relações entre esses fatores. Sua psicologia genética buscava compreender o fenômeno na sua origem e nas suas transformações, conservando sempre sua unidade.

41 Em relação ao estudo da criança, Wallon afirma: “Para a criança, só é possível viver sua infância. Conhecê-la compete ao adulto” ([1941] 2007, p. 9). Como instrumento para conhecê-la, valoriza a observação, mas alerta: “Rigorosamente falando, não existe observação que seja um decalque exato e completo da realidade” (1941/2007, p.17). Por isso, ressalta a importância de um referencial teórico que apoie a observação.

Uma observação só pode ser assim denominada se puder ser incluída num conjunto do qual receba seu sentido e até sua formulação. Trata-se de uma necessidade tão fundamental que obriga a repensar a chamada observação pura e examinar por meio de que mecanismo e em que condições ela pode se tornar um método de conhecimento (WALLON, [1941] 2007, p. 17).

Sobre a observação, Wallon ([1941] 2007, p.18) acrescenta: “Portanto, é de primeira importância definir claramente, para todo objeto de observação, qual é o quadro de referência que corresponde à finalidade do estudo”.

Considerando a amplitude teórica de H. Wallon, priorizaremos apresentar alguns conceitos, mais relacionados à temática desta pesquisa, e que possibilitam uma melhor análise do fenômeno a ser estudado. São eles: integração organismo-meio, integração dos conjuntos funcionais (afetivo, cognitivo, motor e pessoa), priorizando a dimensão afetiva e os estágios do desenvolvimento, com ênfase no estágio categorial. Complementando o referencial teórico, apresentaremos o Plano Langevin-Wallon.