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O Plano Langevin-Wallon foi elaborado no período de 1945 a 1947, após o término da Segunda Guerra Mundial, por uma Comissão nomeada pelo Ministério da Educação Nacional da França, com o objetivo de reformar o sistema de ensino francês. Inicialmente, Paul Langevin presidiu essa comissão. Com sua morte em 1946, Wallon foi designado a exercer essa função.

Para justificar a reforma, o plano aponta a necessidade da escola estar mais próxima à vida real, considerando o progresso científico, adaptando-se às mudanças sociais, ou seja, mostrando-se mais permeável às experiências do mundo e, com isso, oferecendo a todos uma educação cívica, social e humana. A reforma defendia o direito de todos a um desenvolvimento completo. A concepção de ensino proposta pela reforma teve forte influência do movimento da Escola Nova.

A diretriz norteadora do Plano é construir uma educação mais justa para uma sociedade mais justa. As ações propostas se baseiam em quatro princípios:

• Justiça – Todas as crianças, independente das suas origens familiares, sociais

e étnicas, têm igual direito ao desenvolvimento máximo. A única limitação deve ser as suas próprias aptidões;

• Dignidade igual para todas as ocupações – Todas as ocupações são dignas de

igual valor, ou seja, o trabalho manual, a inteligência prática não pode ser subestimada;

• Orientação – O desenvolvimento das aptidões requer primeiro a orientação

escolar e depois a orientação profissional. A orientação deve ser baseada simultaneamente nas aptidões individuais e nas necessidades sociais.

• Cultura Geral – Todos deverão ter a oportunidade de um conhecimento

amplo do que existe no mundo, “compreender o interesse e apreciar o resultado de outras atividades que não sejam as suas (...)” (PLANO LANGEVIN-WALLON [1947] 1977, p. 180). A especialização não deve ser um obstáculo para a compreensão mais ampla, a cultura liberta o homem. Nesse sentido, o Plano concede um importante papel à escola, como centro de difusão da cultura, atuando ao mesmo tempo como agente ativo do progresso e elemento de coesão entre o passado e o futuro. A escola deve considerar o aluno e a sociedade como

53 uma unidade, permanecendo aberta a esta, pois o objetivo da educação é a vida social. Sobre essa relação, o Plano é explícito:

A escola é uma verdadeira empresa de cultura, da qual o individuo só se aproveita plenamente se for conduzido e apoiado pelo meio escolar. A escola faz realizar à criança aprendizagem da vida social, e particularmente, da vida democrática (PLANO LANGEVIN-WALLON [1947] 1977, p.214).

Além disso, a reforma prevê uma organização do ensino que permite o aperfeiçoamento contínuo do cidadão e do trabalhador.

Para atender a esses princípios, a proposta organiza o sistema em dois níveis, sendo o primeiro dividido em três ciclos, tornando-o obrigatório e gratuito para as crianças dos três aos 18 anos, sendo 6 anos a idade obrigatória. Dos três aos seis anos, as crianças podem frequentar a escola maternal, que deve ter professores-educadores. Os ciclos são os seguintes:

• No primeiro ciclo, que corresponde à idade dos sete aos 11 anos, pretende-

se oferecer condições para a criança compreender e fazer-se compreendida. Sugere o Plano: “As aptidões das crianças serão aí desenvolvidas livremente e sem programa, por meio de métodos activos” (PLANO LANGEVIN- WALLON [1947] 1977, p. 186);

• No segundo ciclo, dos 11 aos 15 anos, deve ser um período de orientação,

que possibilita a aquisição de uma base comum e a realização de diversas atividades para que a criança possa descobrir as suas diferentes aptidões. Devem ser oferecidas às crianças diferentes opções;

• O terceiro ciclo, que ocorre dos 15 aos 18 anos, é o período de determinação,

consagrado à formação do cidadão e do trabalhador. O jovem tem uma base comum e outra opcional, escolhida conforme seus interesses e aptidões em uma das seguintes seções: seção de estudos teóricos (humanidades clássicas, humanidades modernas, ciências puras), seção de estudos profissionais (comerciais, industriais, agrícolas, artísticas) e seção de estudos práticos (trabalhos manuais).

O ensino do 2º grau compreende dois níveis: ensino propedêutico ou pré-universitário e ensino superior.

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O projeto é, ainda, o indicador do profundo respeito que Wallon e Langevin tiveram pela instituição escolar e consequentemente pelo professor que atua nessa instituição: a escola é um meio indispensável à formação do ser humano, e o professor deve ter uma formação adequada para atuar nesse meio e o reconhecimento de sua atuação (ALMEIDA, 2009, p. 76-77).

O Plano também apresenta orientações referentes aos programas, horários, métodos, avaliações, entre outros pontos. Em relação a isso, apresentaremos apenas as considerações do Plano que dizem respeito à faixa etária da pesquisa em questão.

Segundo o Plano, os programas devem indicar o que será ensinado de uma forma ampla e flexível para que possa impulsionar a curiosidade do aluno, pois considera este um objetivo essencial da educação. Em relação aos conteúdos do primeiro ciclo (seis aos 11 anos), orienta o Plano:

O conteúdo do ensino comum será, no decurso do primeiro ciclo (6-11 anos), o que corresponde aos instrumentos indispensáveis do conhecimento (leitura, escrita, cálculo), o que enriquece os meios de expressão (desenho, linguagem) e todas as atividades que possam desenvolver as aptidões de observação. Por ser esta idade particularmente propicia ao estudo das linguagens, convirá, na medida do possível, ensinar as crianças, uma língua estrangeira, de uso corrente pelo método direto (PLANO LANGEVIN- WALLON [1947] 1977, p. 204).

Em relação aos horários, o projeto recomenda para a faixa de nove a 11 anos, o período de estudo dirigido de três horas por dia, levando em consideração as possibilidades fisiológicas e as necessidades psicológicas dessas crianças. Fora do horário de aula, a criança pode escolher as atividades: jogos, leituras, etc.

Os métodos recomendados são os ativos: ”aqueles que se esforçam por acorrer para cada conhecimento ou disciplina às iniciativas das próprias crianças, alternando o trabalho individual do trabalho em grupo” (PLANO LANGEVIN-WALLON, [1947] 1977, p 206).

O Plano propõe também que não sejam realizados exames até o final dos anos da escolaridade obrigatória. O agrupamento no segundo ciclo dependerá das atividades realizadas pelas crianças nos anos anteriores e da decisão do conselho de professores (orientação). Além disso, o projeto prevê atendimento individualizado para as crianças que apresentem dificuldades no aprendizado.

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