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Afeto e Afetividade

No documento O CAMINHO INTERGERACIONAL DOS SENTIMENTOS: (páginas 102-107)

FAMÍLIA

3.4 Afeto e Afetividade

Segundo o dicionário Michaelis.

Afetividade pode ser pensada como algo dinâmico, maleável, flexível que passa pelo sentir, expressar, demonstrar e compartilhar sensações. O apoio afetivo pode ser a proteção mútua, a diversão, a curiosidade, a criação e a exploração do bom humor. Não dá para pensar em afeto isoladamente, mas, sim, em um contexto que pode incluir gênero, cultura e socialização, entre outros.

Dentro do sistema familiar, qual valor é atribuido à afetividade?

(...) Contudo, é preciso destacar que são exceções à forma pela qual os sentimentos e afetividade são abordados – ou seja, em geral não são abordados – pelos filósofos contemporâneos. Os sentimentos e afetividade desfrutam da mesma desimportância e falta de atenção na psicologia cognitiva uma área da psicologia estreitamente ligada a várias correntes filosóficas contemporâneas.

(Stocker e Hegeman, 2002. p.46)

Afeto: Sentimento de afeição ou inclinação para alguém. Amizade, paixão, simpatia.

Afetividade: (...) qualidade de quem é afetivo. Capacidade de exprimir-se na linguagem a emoção que nos despertam as idéias enunciadas, bem como a de despertar nos outros idêntica emoção. Suscetibilidade a quaisquer estímulos ou disposição para receber experiências afetivas; O estudo dessas experiências.

Afetivo: (...) Que mostra afeição ou inclinação para alguém. Qualificativo genérico usado para denotar qualquer variedade de sentimento, experiência emotiva ou concomitantementeemotivo.( Michaelis,1998.p.71)

Parece-nos que afetividade passa por um jogo de quem merece receber ou quem pode dar, às vezes, até podemos refletir a respeito de um jogo de poder diante do merecimento.

Todos precisam receber afeto e dar afeto, enfim, trocar e aprender maneiras diferentes que podem ser trocadas na família, a percepção destas trocas diversificadas é relevante.

Em todas as relações, os termos troca, negociação de afetos geram recusa, mal-estar ou espanto; parece que não nos damos conta que a todo o momento estamos negociando e o afeto também faz parte desse contexto. Devemos pensar como um membro do sistema familiar recebe e recursivamente transmite o afeto; ao mesmo tempo, que se organiza interna e externamente dentro de outros sistemas, algo bem complexo.

Stocker e Helgeman (2002), em “O valor das emoções”, desenvolvem um capítulo para falar da “irredutibilidade da afetividade” mas a forma com que deram importância ao tema chamou nossa atenção e atraiu novas reflexões, pois citam três aspectos centrais:

Embora seus estudos advenham da antropologia, chamam a atenção pelo mesmo objetivo da investigação desta pesquisa, interessaram-se pelo tema e advertem a respeito da falta de estudos no campo da afetividade. Dentro de um trabalho recente, abordam a integração, citando que esta pode ter várias compreensões sob diferentes óticas, mas é um tema que se interconecta à maneira de sentir e nisto os seres humanos são parecidos e podem estar sentindo esta falta, ou seja, alguém que olhe com mais carinho e afeto para o modo que se sente (diferenciações) e suas conseqüências em qualquer âmbito, o individual, (gênero) familiar ou social.

(...) Primeiro, a ausência e a deficiência de afetos e emoções são quadros característicos da dissociação, da despersonalização e de várias neuroses, condições limítrofes e psicoses. Segundo, sem afetividade é impossível viver uma vida humana, sequer ser uma pessoa. Terceiro, relatos que negam ou omitem o fato de que as pessoas são seres afetivos, não falam de pessoas saudáveis, que podem viver e vivem vidas humanas satisfatórias .(Stocker e Hegeman, 2000. p.45)

A respeito da Teoria do Apego, Moneta et al (2003), dão relevância aos estudos da afetividade; parte de um estudo dentro da área clínica mais especificamente Psicobiologia na formação de vínculos, além da visão de integração e parcerias entre a biologia e outras ciências que se interessam pelas relações humanas, o que amplia nosso interesse pelo seu trabalho.

As autoras citadas acentuam que:

Daniel Stern citado por Moneta et al. (2003), chama o estado descrito de “sincronia de afeto” (affect attnemement), conhecido hoje como fator essencial para desenvolvimento do cérebro do bebê em seus primeiros anos de vida.

Na perspectiva neuropsicobiológica e na formação do vínculo, dentro dos estudos do Apego, Moneta et al. (2003, p.23), dão relevância aos marcos do tempo, tema que interconecta com os estudos quando se operam as experiências passadas. “O filho forma seus esquemas emocionais pela repetição de eventos em relação às pessoas significativas em diferentes contextos que são armazenados em certo tipo de memória, que posteriormente constituirá a memória

“procedural”.

A autora observa que “as qualidades de relações formadas são individuais” e isto implicaria os cuidados obtidos em tempos passados ou na construção relacional com os cuidadores em distintas predisposições, como enfermidades “psíquicas e psicossomáticas” quando o indivíduo chega à fase adulta.

Apego se define como um sistema motivacional que compartilhamos com outros animais e no qual tem seu “asiento” neuropsicológico no cérebro. Os bebês estão geralmente predispostos a querer acesso a uma figura vincular, buscando conforto particularmente quando estão assustados. Ademais o proporcionar proteção e conforto, ao sistema de apego, permite uma sincronia psicobiológica entre bebê e seus cuidadores: esta sincronia provém desde o nascimento em diante, um entrelaçamento de estados internos entre ambos. (Moneta et al. 2003, p.21)

Apego se define como un sistema motivacional que compartimos con otros animales y el cual tiene su asiento neuropsicológico en el cerebro. Los bebés están genéticamente predispuestos a querer acceso a una figura vincular, buscando confort particularmente cuando están asustados. Además de proporcionar protección y confort, el sistema de apego permite una sincronía psicobiológica entre el bebé y su cuidador. Esta sincronía provee, desde el nacimiento en adelante, un entrelazamiento de estados internos entre ambos.

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el niño forma sus esquemas emocionales por la repetición de eventos en relación a personas significativas en diferentes contextos que quedan almacenados en cierto tipo de memoria, que posteriormente constituirá la memoria procedural.

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Moneta et al. (2003), falam sobre uma etapa na construção do desenvolvimento na qual se formam os reguladores fisiológicos e depois uma outra etapa de desenvolvimento.

Nesta fase de ações reguladoras, existe uma parte que busca nutrição, calor e manter proximidade que são:

É neste estado de desenvolvimento que Moneta (p.33), diz: “(...) os filhos aprendem a reconhecer os estados de prazer e desprazer que constituem a base dos afetos”.

Isto não se refere a um estado propriamente psíquico, mas também biológico; o bebê “vai constituindo uma unidade psicofisiológica em que as sensações corporais são significativas para ele”. Assim se constituirá um núcleo básico de comportamento de Apego.

Portanto, dentro desta visão, na “etapa simbiótica” do desenvolvimento que os filhos

“aprendem a reconhecer os estados de prazer e desprazer que constituem a base do afeto”.

Para Moneta et al. (2003. p.23-24), “na última década, o estudo do desenvolvimento do cérebro tem dado evidencias inquestionáveis acerca da importância dos afetos e a formação dos vínculos do recém nascido com a figura vincular”. Acrescenta que “no modo que as pessoas cuidadoras se relacionam com os pequenos e a maneira como se mediam estas interações, influenciam a formação das vias neuronais em desenvolvimento”.

Em recentes estudos nesta área, Moneta et al. falam do desenvolvimento neurobiológico passado que não está moldado, não só por condições físicas, mas, pelo ambiente social do indivíduo.

Concordamos e compartilhamos de suas idéias, quando se refere aos aspectos da relação e do afeto dentro do ambiente, pois a autora contribui para compreensão dos estudos relacionais

(...) ordenadas hierarquicamente e dirigidas mais a um objeto específico. Por outro lado, estão os reguladores fisiológicos ocultos que participam na formação do apego, mantendo coletivamente um estado fisiológico que é homeostático, para o bebê que o experimenta como um nível ótimo de conforto, constituindo a base que o mesmo reconhece como um estado “seguro” o “contenido”. (Moneta et al. 2003. p.33)

ordenadas jerárquicamente y dirigidas hacia un objeto específico. Por otro lado, están los reguladores fisiológicos ocultos que participan en la formación del apego, manteniendo colectivamente un estado fisiológico que es homeostático para el infante y que se experimenta como un nivel óptimo de comfort, constituyendo la base de lo que el infante reconoce como un estado “seguro”.

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dentro do pensamento sistêmico. No sistema relacional, mãe e filho são fundamentais para esta integração todo o tempo na construção psíquica do ser humano. Em seus estudos, Moneta et al.

(2003), em seus estudos enfatizam a construção afetiva dos primeiros anos ou nos primeiros tempos conforme enfatiza eles são retomados na vida adulta, consolidando assim uma memória afetiva (grifo nosso).

As autoras falam que a base para postular as representações mentais dos afetos estariam sendo construídas sobre as primeiras regulações homeostáticas que ocorrem nas etapas pré-cognitivas e pré-verbais.

Citam, também (p.38), que o estudo destas primeiras relações pode ajudar a entender

“(...) as evidências apresentadas neste trabalho constituem a base para postular que as representações mentais dos afetos estariam construídas sobre as primeiras regulações homeostáticas que ocorrem nas etapas pré-cognitivas e pré-verbais”.

Corroborando achados da autora, entendemos que dentro da área clínica é importante ter um olhar intergeracional, compreender a formação dos primeiros vínculos e depois abordar os vínculos da fase adulta.

Antes de mencionar os vínculos afetivos, retomemos o conceito de vinculação em adultos proposto por Canavarro (1999, p.121-122), que aparece sob o olhar da relativização de três formas no comportamento de apego.

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vinculação como um estado que emerge na impossibilidade da disponibilidade da figura de vinculação;

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vinculação como um traço ou tendência para formar tipos de relações de vinculação similiares e;

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vinculação como um processo interactivo no contexto de um relacionamento específico.

las evidencias presentadas en este trabajo constituyen la base para postular que las representaciones mentales de los afectos estarían construidas sobre las primeras regulaciones homeostáticas que ocurren en las etapas pre-cognitivas y pre-verbales.

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Nas investigações mais recentes, a vinculação de adultos é habitualmente citada, contrastando as diferenças individuais estáveis expressas em “padrões”, “estilos”, “tipos” ou “perfis” de vinculação,

o que nos remete à abordagem da vinculação como um traço.

Em nosso trabalho, referimo-nos aos apegos de vinculação de adultos, diferenciando–os de padrões, pois estes são usados para demonstrar as repetições na maneira de se relacionar adquirida em modelos familiares anteriores.

O estilo de vinculação pautado na necessidade de aproximação, como já foi discutido na Teoria do Apego, é desenvolvido em conjunto com a afetividade (compreensão desta necessidade) ao longo da vida.

Os primeiros vínculos de afetividade são formados, pelas relações e pelo sistema familiar, portanto, a base para a formação das relações afetivas.

Os adultos também buscam na memória esta sensação ou experiência que os remete aos primeiros vínculos de aproximação e afetos, advindos das relações afetivas que podem ser formadas de distintas formas.

Segundo Canavarro (1999, p.123), existem modelos de vinculação, estudados em adultos pelos seguidores de Bowlby, Ainsworth, de acordo com os padrões (estilos) de apego:

1. Vinculação Segura – quando a criança mostra-se relativamente confortável ao se aproximar dos outros e depender deles.

2. Vinculação Insegura Evitante – quando o adulto demonstra sentimento de desconforto

No documento O CAMINHO INTERGERACIONAL DOS SENTIMENTOS: (páginas 102-107)