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Desenvolvimento familiar sob o ponto de vista clínico

No documento O CAMINHO INTERGERACIONAL DOS SENTIMENTOS: (páginas 50-57)

FAMÍLIA E

1.5 Desenvolvimento familiar sob o ponto de vista clínico

Histórias familiares intergeracionais modificadas e transmitidas por gerações, histórias focadas nas manifestações afetivas dentro de suas relações e transmitidas por meio de gerações pelos modelos de padrões de interações constituíram, conforme já dissemos, a proposta deste estudo.

Neste contexto, propusemos uma parada no tempo reflexivo para repensar sobre esta sensibilidade que está no emocional, que a família vai transmitindo independente do conhecer.

Transpondo o objeto deste estudo dentro da prática clínica, na área familiar, este torna-se um material farto para a análise, focando sob uma perspectiva intergeracional a compreensão da transmissão das manifestações afetivas que estão intimamente conectadas às formas de comunicação e os valores familiares e culturais; além disso, percebemos as repetições ocorrentes entre as gerações com maior consciência da herança desta expressividade.

e propõem uma abordagem abrangente na análise dos sistemas humanos – uma abordagem mais holística que permite interconexões, sendo uma de suas contribuições o conceito de nível, assim, propõem seis níveis: biopsicossociais (biológico, pessoal, relacional, familiar, comunitário e social) e pretendem abarcar o processo interno dos indivíduos, integrando-os a outros modelos que abordam a família.

Sob uma visão perspectivista, consideramos que a realidade é limitada por pressupostos que podem ser tendenciosos.

Aqui se usa uma citação para explicar o que são os níveis para esses autores do Metaconceitos.

Concordamos com a citação acima que ajuda na reflexão sobre os sistemas relacionais e a sua percepção como um todo, mas, nesta pesquisa optamos por elaborar o contexto sociocultural-histórico e atual da família.

Dentro desta abordagem, citamos Mac Kune-Karrer et al. (2000, p.149), quando referem que: “o desenvolvimento adequado em todos os níveis é definido por valores e por crenças sociais, que proporcionam as normas por meio das quais as famílias criam os filhos, os indivíduos desenvolvem-se e os relacionamentos florescem”.

Mac Kune-Karrer et al.(2000), enfatizam a importância da inclusão do desenvolvimento

Os sistemas humanos complexos são, como declarou Engel (1977), entidades de níveis múltiplos, entre eles, os biológicos, os psicológicos e os sociais. Para se ter uma perspectiva ampla sobre a condição humana, convém examinar e ter acesso a todos os níveis e as interações entre níveis. Como terapeutas, estamos particularmente interessados nos sistemas humanos nos seguintes níveis: os processos biológicos e mentais no interior do indivíduo; os sistemas relacionais individuais, diádicos, ou triádicos no interior da família; a família nuclear; a família extensa; o contexto social imediato da família, incluindo os sistemas de ajuda, como a influências da terapia e da comunidade; o contexto cultural histórico e atual da família; o sistema social nacional em que a família vive; e o sistema internacional. (Breunlin et al. 2000, p.44-45)

entre cada um dos níveis de um sistema biopsicossocial quanto à interação entre esses níveis e sugere que a sincronia entre eles pode não ser obtida de maneira satisfatória ou simples:

Entendemos que as famílias que procuram atendimento clínico ou orientação podem ter um ou mais níveis que não estão bem resolvidos. É importante salientar que o terapeuta familiar tem também seu próprio sistema familiar com seus níveis e, nesse encontro terapêutico, é preciso ter consciência que esses sistemas interagem formando uma complexidade.

Com a pretensão de saber como são os padrões relacionais familiares funcionais e disfuncionais, sabemos que, por mais que conheçamos, é apenas uma parte e mesmo que se juntem estas partes não obtêm o conhecimento de um todo.

Neste sentido, compartilhamos com as idéias de Mac Kune-Karrer et al., quando se apóiam em um nível e este em todos os outros. Nosso mundo interno é construído na interação com os outros, assim, uma forma de compreender a interferência desses níveis no sistema familiar é explicada pela autora quando se refere aos desequilíbrios e equilíbrios da família; às vezes, mais desorganizados pelos papéis sociais, mas, ao mesmo tempo comprometidos a melhorá-la em relação ao equilíbrio interno. Criando uma abordagem mais próxima da realidade e colaborativa, Mac Kune-Karrer et al. falam sobre os desafios teóricos dos conceitos e o que uma família pode sofrer nos conceitos de gênero:

O desenvolvimento exitoso de uma família bem ajustada em todos os níveis é algo que parece enganosamente simples, porque o desenvolvimento em cada nível alimenta e apóia o desenvolvimento em todos os outros níveis. A sincronização dos níveis de desenvolvimento atua sinergicamente, de modo que seu efeito final sobre o desenvolvimento familiar é maior que as partes.(Mac Kune-Karrer, et al.

2000, p.148)

Uma negociação para flexibilizar os papéis que os membros familiares desempenham poderia ajudar, um deles seria exemplificado na questão de gênero, pois possibilita maior clareza e observação nos padrões antigos e isto poderia provocar mudanças.

Nas questões de padrões de gênero, uma das formas de ver os relacionamentos seria renegociar os relacionamentos de várias maneiras com a família e a mesma com os sistemas internos e externos, (marido e mulher, mãe e filho, mãe e filha, pai e filha e pai e filho), entre outras interações.

Diante do prazer e desprazer nas relações, a afetividade sofre abalos. Os membros da família tornam-se psicologicamente pressionados quando não conseguem expressar-se nas relações e reagem de forma que podem afetar o sistema como um todo. Assim, dentro dos estudos sobre padrões e manifestações afetivas na família intergeracional, faz-se relevante clarificar este entendimento, refletindo sobre o contexto social.

Mac Kune-Karrer et al. ampliam estas reflexões com os seguintes fatores:

a) observa-se uma rapidez na evolução de valores e crenças sociais que têm evoluído;

b) em decorrência da rapidez de aquisição dos novos valores, há uma perda de orientação da nova geração de pais que não conseguem repassar valores da geração anterior;

c) há dificuldade dos pais articularem modelos para um desenvolvimento adequado;

Em transição. As famílias, embora ainda em conflito, têm esperanças na sua capacidade de desenvolver-se para um estado de equilíbrio entre os gêneros.

Seus papéis e expectativas dos gêneros estão em processo de expansão.

(...). As famílias ainda estão experimentando os novos papéis.

(...) O ajuste ainda é questionado. Há uma crescente sensação de mutualidade e de compartilhamento nos processos de tomada de decisões referentes a uma grande gama de tarefas familiares. Os membros da família parecem seguindo nesta mesma direção. Há uma validação de papéis que as mulheres e homens desempenham na família, embora haja flutuação entre as antigas e novas crenças, essas famílias exploram verbalmente os ganhos e as perdas que experimentam quando os papéis mudam.(Mac Kune-karrer et al. 2000, p.221)

d) os pais encaram o desenvolvimento de seus filhos muito diferente do seu próprio, ou seja, existe dificuldade para compreender ou desculpar o que os filhos fazem;

e) há um sentimento de culpabilidade dos pais em razão da falta de percepção das forças sociais que transcendem a influência imediata da família;

f) existe um aumento da expectativa dos pais em relação ao desenvolvimento dos filhos nas competências em diversas áreas, como exemplo, escola;

g) há um aumento da carga e tipo de informações recebidas de vários meios de comunicação, ocorridas precocemente sobre temas referentes à natureza humana e relacionamentos;

h) a cada geração, constata-se que a puberdade é iniciada cada vez mais cedo;

i) há um estímulo do social e da família para a individualidade e expressividade precoce dos filhos, diferente do modelo dos pais que eram “vistos,” mas não ouvidos;

j) na manifestação desta individualidade e expressividade dos filhos, às vezes, os pais sentem como desrespeito e iniciam seqüências de controles ineficazes;

l) questões como aids, drogas, crimes, violência e perigos afetam a família e perde-se um pouco da idade das inocências;

m) há relutância dos pais em soltar as rédeas dos filhos e um desejo de controle;

n) a situação econômica retarda a saída dos filhos de casa ou causa o retorno à mesma (dentro de uma visão da sociedade americana).

o) os pais oscilam entre permissividade e controle excessivo, afetando o desenvolvimento familiar;

p) discordância entre gerações – (entre pais, pais e avós, etc.), ou seja, estas discordâncias ocorrem no uso de diferentes crenças em relação à evolução que atinge a família. As mudanças na definição de famílias provenientes de divórcios, pais solteiros, recasamentos; mulheres no mercado de trabalho como únicas provedoras de família; casais procurando modelos de casamentos a desenvolver.

Enfim, os autores citados resumem a rápida evolução social das duas últimas décadas sob a ótica do contexto social-americano; suas idéias e colocações também podem ser observadas na área clínica e dentro do contexto brasileiro.

Nos trabalhos dentro da área clínica, constatamos que este quadro de fatores que atinge as famílias, pode estar relacionado às causas de ansiedade e incerteza em muitas delas.

Os estudiosos da área familiar sabem do constante movimento de mudanças em que a família está inserida, tanto quanto de suas necessidades estruturais para se organizar e permitir o desenvolvimento de seus membros.

Portanto, quando estudamos a família, devemos estar atentos aos movimentos estruturais, sociais e aos históricos que possibilitam um maior entendimento dos fatores que a afetam.

Neste estudo, propusemos uma revisão a respeito da afetividade pensando na transmissão geracional, realizando uma viagem para dentro do si mesmo e das raízes familiares na busca de uma compreensão de recortes desse complexo movimento do universo interior e exterior, conforme preconiza a abordagem dos Metaconceitos. Assim, a teoria dos Metaconceitos deverá ampliar nosso entendimento dentro da área clínica no atendimento às famílias, com a percepção da importância das interações dos níveis e o quanto estes afetam o sistema interno individual dos membros familiares.

Este sistema regula a afetividade e esta é recebida pelas relações familiares; pois um desses níveis, o seqüencial, por exemplo, interfere nos padrões e reflete-se nos padrões afetivos recebidos.

Com esta pretensão, buscamos descobrir o que as palavras não disseram e o que é transmitido na história pessoal com as histórias familiares, mas, antes de aprofundar os estudos sobre afetividade, optamos por introduzir um capítulo sobre a comunicação, já que ela está intimamente ligada aos afetos.

O tema comunicação aqui é percebido intrinsecamente ligado à questão afetiva, visto que para expressar qualquer afeto faz-se uma comunicação e só isto seria justificativa suficiente para a

relevância do tema desta pesquisa, embora existam outras e que só algumas serão destacadas; uma delas será o valor afetivo dentro da família.

No documento O CAMINHO INTERGERACIONAL DOS SENTIMENTOS: (páginas 50-57)