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Delineando o estudo: reflexões a respeito do percurso metodológico

No documento O CAMINHO INTERGERACIONAL DOS SENTIMENTOS: (páginas 121-126)

MÉTODO

4.3 Delineando o estudo: reflexões a respeito do percurso metodológico

A proposta deste estudo busca refletir a intergeracionalidade sob a ótica das relações de vínculos afetivos que agrupam pessoas de diferentes gerações que estabelecem uma rede de relações simbólicas, imaginárias, num processo de trocas, no qual passam a compartilhar experiências significativas como a afetividade.

Neste contexto várias foram as inquietações iniciais na escolha de uma técnica que propiciasse perceber, por meio de registros individuais e rememoração de alguns aspectos relacionados à dimensão afetiva, a relação entre a vida individual/familiar e social, pois como afirma Bosi (1987), este tipo de registro alcança uma memória pessoal que significa também uma memória familiar, grupal e social.

É fundamental diferenciar que o processo de agrupar pessoas em função de sua geração é totalmente distinto agrupar pessoas em função do processo interativo entre pessoas jovens e idosas, em que a percepção do meio e do histórico de vida de cada um constitui a diversificação de suas vivências.

Para Vitale (1994), depoimentos individuais podem propiciar condições para observação das mudanças construídas entre as gerações e apresentam-se como forma adequada aos estudos das experiências de vida, visto que são duplamente subjetivos, ao enfocar a vida do sujeito interpretada por ele mesmo.

Por outro lado, essas representações não são apenas conteúdos da memória informativa, mas uma abordagem que envolve os aspectos históricos e sociais, culturais, que em seu todo, resulta num conjunto de experiência social, individualizado em cada sentir e vivenciado no corpo em um contexto cultural.

Para Triviños (1992), o caráter histórico que marca os fenômenos sociais e transforma-se pela ação do homem na sociedade, contempla o indivíduo como um ser total em sua diversidade, independente da sociedade em que vive. Ao compreender a realidade dos familiares em relação ao fenômeno da dimensão afetiva, buscamos evidências face às generalizações, para conceber a família como protótipo universal de suas experiências existenciais.

A escolha de uma metodologia definida como qualitativa, foi a opção que permitiu documentar e interpretar os aspectos do fenômeno estudado, do ponto de vista da pessoa e de seu esquema de referência.

Esta metodologia possibilita ao pesquisador dar conta de aspectos específicos inseridos no universo de significados, motivos, aspirações, crenças valores e atitudes, que correspondem a um espaço mais profundo das relações dos processos e fenômenos, cujos significados permitem ao pesquisador a captar a maneira pela qual os indivíduos interpretam a realidade frente às questões focalizadas (Minayo, 1994).

Na convivência entre as famílias de três gerações, há uma grande riqueza, pois passam a ver, sentir e agir com proximidade e conectividade diante de uma trilha de elucidação de fatos, marcados por diferenciais, pelas gerações, quando o cotidiano demarca suas influências no processo de vida. As evidências teóricas, práticas e investigacionais em descrever os eventos familiares, têm enfocado a transição de uma perspectiva individualista mais tradicional para um pensar mais interacional diante das mudanças nos arranjos familiares, precipitado por grandes eventos da vida que podem ocasionar impacto na área cognitiva, afetivas ou comportamentais que em decorrência da mudança em uma das áreas apresentará mudanças nas outras.

A adoção da Pesquisa Qualitativa nos remete ao entendimento que não existe uma teoria ou paradigma próprio, mas alimenta-se de vários referentes metodológicos e paradigmáticos,

constituindo um campo de atividades interpretativas que consiste em um campo de ampla diversidade do conhecimento.

Todavia, ao compreender a família numa perspectiva relacional, podemos conhecer um grupo que vive em seus espaços, preservando seu estilo de vida, norteado por suas crenças, valores e práticas; cujas obrigações e laços afetivos expressam toda uma riqueza de movimentos e ondulações onde se expressam a ritualização diária e sua familiaridade torna-se parte do cotidiano, cujos movimentos nunca são iguais em sua intensidadade.

Buscar a intensidade das relações afetivas das famílias é o melhor laboratório de ação na prática investigativa. Portanto, ao utilizar a técnica de história de vida, tal como Minayo (1994), a descreve, permite obter uma visão sistêmica do universo familiar e a explicitação das interações que aí se processam. Portanto, este trabalho tem como intenção a reconstrução de alguns dados baseados nos contatos com pessoas que participaram dos eventos históricos.

As diversas e heterogêneas pesquisas vêm buscando dar conta da complexidade em face às relações afetivas, carecendo, portanto, de instrumental biológico, cultural, social e psicológico, para que se possa entender o comportamento humano. O fato reforça a valorização de novos significados que não estão descolados do conhecimento cientifico, desenhados para cada grupo social em seu momento histórico.

Frente ao exposto, afirmamos que, entender esse campo temático, não significa apenas decodificar os modelos cognitivos, reduzir estas representações a esse patamar seria deixar de lado os aspectos fundamentais da conduta humana. Preso ao estudo do mundo social e familiar, por meio do processo de idealização e formalização em si, poderá não favorecer as interpretações das experiências de vida e suas verdades científicas.

Há uma imensa riqueza nas relações afetivas vivenciadas pelos familiares, que pressupõe

uma multiplicidade de fenômenos que circulam no universo de suas vidas, como: incertezas, repetidos fracassos, dificuldade de interações, culpa, desespero, impotência e vitimização fatores que deixam suas vidas vazias, assim, precisam ser ouvidos e compartilhados, como fonte de interpretação de suas práticas.

Ao usar esta lente teórica, podemos falar do fenômeno, no qual ontologicamente “a realidade” é apreendida na forma de múltiplas construções que são experimentadas de maneira própria em cada um e mantida pelo grupo ao qual se está inserida, sendo assim, não existe “uma verdade única”, mas uma multiplicidade de resposta que se torna verdadeira.

Portanto, a construção da realidade social propõe uma visão complexa do homem, implicando a multiplicidade, o relativismo e a diversidade para que possamos olhar os relacionamentos afetivos no sistema familiar intergeracional.

Assim, vale o pressuposto de que as famílias atribuem significados às suas relações afetivas, ao considerar suas ações mediante um contexto em que cada um vivencia suas interações interpessoais e intrapessoais e isso possibilita olhar o fenômeno sob uma perspectiva de autodireção, com possibilidade de compreender como o ser humano atua e acessa suas ações. Isto envolve escolhas conscientes que certamente ajudam a redefinir suas interações pelo significado que a experiência tem para ele e certamente, influenciará na formação de seu comportamento afetivo.

A proposta deste trabalho inclui o relato das histórias em que a família faz parte do universo de experiências (real e/ou simbólica) dos seres humanos que, ao mesmo tempo comuns e individualizados, todos têm algo a dizer. Esta dimensão histórica possibilita um olhar mais abrangente sobre a variedade das formas que os seres humanos organizam a própria sobrevivência e reprodução, redimensiona os fenômenos que parecem novos ou peculiares a nosso tempo.

Ao procurar entender essas unidades de relações sociais, a família também diferencia de seus membros por sexo e por idade que se relacionam cotidianamente, gerando uma complexa e

dinâmica trama de emoções; ela não é soma de pessoas, mas um conjuntos vivo, contraditório e cambiante de pessoas com sua própria individualidade e personalidade. A sexualidade, a reprodução e a socialização são esferas potencialmente geradoras, tanto de relações prazerosas como conflitivas, na medida que se configura uma distribuição de privilégios, direitos e deveres dentro do grupo (Bruschini, 1997).

Delineando o estudo com reflexões a respeito do percurso metodológico na pesquisa qualitativa, escolhemos o Estudo de Caso.

Os estudos contemporâneos possibilitam que cada vez mais trabalhemos com estudos de caso, pois é difícil ter sujeitos com idênticas condições e que estas sejam controláveis, o importante não é a generalização, mas, o que aconteceu durante o processo de experiência de cada um.

O pensamento sistêmico tem uma maneira de abordar, visualizar, situar, pensar e sentir um problema em relação a seu contexto em uma circularidade; cada pergunta formulada pelo pesquisador tem uma intenção e parte de alguma hipótese. De modo estratégico, o investigador pode estar imbuído de diferentes intenções ao fazer os quatro tipos de perguntas sugeridas por Tomm (1988):

Tabela 13 - Tipos de perguntas sugeridas por Tomm (adaptação)

Perguntas lineares Caráter investigativo

Perguntas circulares Caráter exploratório e de curiosidade Perguntas estratégicas Efeito corretivo

Perguntas reflexivas

Fonte: Tomm (1988, p. 5 - 9).

O pesquisador busca entender o significado da ocorrência natural dos eventos complexos, ações e interações no contexto sob o ponto de vista dos participantes envolvidos; pois é um dos instrumentos-chave desta ação e interação e deve estar atento a cada pergunta, pois cada questionamento tende a provocar diferentes efeitos nos indivíduos estudados que são sempre

Desencadeiam uma atitude reflexiva a respeito dos sistemas de valores e crenças, preexistentes na família, pressupondo que seus integrantes são seres autônomos e não podem ser instruídos diretamente.

Denzin, Lincoln 1994-p.20- Qualitative research involves the studied use and colletction of a variety of empirical materials-case study, personal experience, introspective, life story, interview, observational, historical, interactional and visual texts-that describe routine and problematic moments and meaning in individual’s lives.

imprevisíveis. Os pesquisadores procuram por princípios a compreensão holística do fenômeno e a realidade é concebida em múltiplas construções pelos significados partilhados.

No documento O CAMINHO INTERGERACIONAL DOS SENTIMENTOS: (páginas 121-126)