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Vínculos afetivos ao longo da vida

No documento O CAMINHO INTERGERACIONAL DOS SENTIMENTOS: (páginas 109-116)

FAMÍLIA

3. Vinculação Evitante com Medo – sente-se desconfortável ao se aproximar emocionalmente das outras pessoas, receia confiar completamente e tornar-se dependente

3.5 Vínculos afetivos ao longo da vida

As seguranças sentidas na presença da pessoa de quem o individuo está próximo caracteriza os vínculos que são vistos como comportamentos que promovem a proximidade contato com uma ou mais figuras específicas a quem o indivíduo está conectado.

Dentro da visão sistêmica, usamos o conceito proposto por Oliveira baseado na interconexão entre as duas teorias: apego e sistêmica:

Os vínculos afetivos são formados na interação em uma relação em que ambas as partes são importantes, ativas e recursivas.

Oliveira considera que os estudos foram importantes dentro do âmbito familiar e a opção pela tabela a seguir foi escolhida para a melhor visualização de algo que consideramos importante evidenciar:

Tabela 11 - Evidenciando vínculos (adaptação)

Os vínculos afetivos são formados nos vários relacionamentos interpessoais que o individuo estabelece durante sua vida. Estes diferentes vínculos – como os vínculos parentais, os vínculos fraternos, os demais vínculos familiares, os vínculos conjugais, os vínculos de amizade – assumem diferentes formas e diferentes papéis em nossas vidas. São esses relacionamentos, desde os mais íntimos e profundos até os mais superficiais, que caracterizam o homem enquanto ser social e suprem suas necessidades de troca e interação. (Oliveira, 2005, p.77)

Os vínculos afetivos são formados via relacionamentos, em que ambas as partes são importantes e ativas, para sua formação;

O relacionamento interpessoal pode ser identificado como um vínculo afetivo, ou seja, pode adquirir uma dimensão vincular, quando as trocas que se estabelecem no mesmo satisfazem determinadas necessidades do indivíduo, como as de segurança, conforto, companheirismo, utilidade, percepção de competência, entre outras. De acordo com os tipos de necessidades satisfeitas, diferentes vínculos podem ser formados.

O aspecto inter-relacional é, portanto, o que define a formação do vínculo afetivo.

Quando as trocas adquirem características bastante especificas, ou seja, quando necessidades de segurança e confiança são supridas na relação, pode-se, então, desenvolver um relacionamento vincular de apego.

Fonte: Oliveira (2005, p.79).

Concordamos com o pensamento de Oliveira (2005), a respeito da construção desses vínculos no sistema familiar e, até mesmo, o intergeracional. Podemos pensar no vínculo que se forma na relação com os avós. Se existir um tipo de necessidade satisfeita, o vínculo será constituído na relação avós e netos que podem se satisfazer na questão do tempo e paciência de trocas de informações, sendo visto hoje como uma situação de resgate intergeracional e revisão do papel dos idosos.

3. 6 Teoria do apego e teoria sistêmica: uma possível integração

As manifestações de apego poderiam ser traduzidas nos laços afetivos fortes que sentimos pelas pessoas especiais em nossas vidas?

Para Bowlby (2002), quando nasce um bebê, este se encontra muito longe de ser uma tabula rasa, pelo contrário, possui certo número de sistemas comportamentais prontos para serem ativados, direcionados e corrigidos, já nasce equipado com uma vasta série de sistemas predispostos aos estímulos de vários tipos que podem ser fortalecidos ou enfraquecidos.

Entre os sistemas, alguns fornecem as bases ao desenvolvimento anterior do apego e aqui será abordado o comportamento de apego mãe/bebê. Pela primeira vez, esta forma simples de comportamento manifesta-se como sistemas primitivos mediadores do choro, sucção, agarramento, seguindo no processo evolutivo do recém-nascido. Algumas semanas depois, o sorriso e a balbuciação serão adicionados e, meses mais tarde, o engatinhar e andar. Estes comportamentos são chamados de padrões motores que estão mais organizados do que um padrão fixo de estímulo que os ativam e finalizam.

O ser humano ao nascer possui uma acentuada tendência para estabelecer ligações afetivas, ou seja, apego a uma figura específica. Esta tendência é uma necessidade básica primária essencial

à sobrevivência do indivíduo, e o comportamento do apego resulta na consecução ou conservação de proximidade por uma pessoa ou de alguma outra diferenciada e preferida.

O comportamento de apego passa por variações no tempo como: uma verificação auditiva para uma visual e a localização da figura de apego, acompanhamento (seguir com os olhos), o agarramento (beijos, apertos, entre outros toques), chamamento, choro, sorrir, sugar, algo desenvolvido de acordo com a sensibilidade do outro, que pode ser a do indivíduo cuidador.

O cuidador ao propiciar os cuidados interage com o bebê socialmente, protege-o, em um processo de recursividade de manifestações afetivas, formando um envolvimento, um vínculo afetivo forte de proximidade que, se constitui em um processo de comunicação simultaneamente desenvolvido.

Esta pessoa pode ser a mãe ou outra que substitua o papel de cuidador.

Conforme especificado nos padrões de apego, as pessoas que tiveram apego seguro, além de sentirem prazer em suas interações, ficam confortáveis na presença de parceiros em tempos de estresse e incerteza.

Para nós, fica a questão de que talvez os pais se apeguem por amor, treinando o seu papel de cuidador, e os filhos, inicialmente, por uma necessidade básica de sobrevivência.

Bowlby pensando na principal figura de apego, diz:

Neste sentido, o apego pode ser o nascimento do vínculo afetivo e aqui poderíamos conectar o prazer e o desprazer como base do afeto.

É evidente que quem uma criança seleciona como sua principal figura de apego, e a quantas figuras ela se ligará, depende em grande parte de quem cuida dela e da composição da família que vive. Como constatação empírica não pode haver dúvida de que virtualmente todas as culturas as pessoas em questão são sua mãe natural, pai, irmãos mais velhos e talvez avós, e que é entre estas figuras que uma criança selecionará tanto a principal figura de apego como as figuras subsidiárias.(Bowlby, 2002, p.379-380)

Assim, é relevante pensarmos no quadro descrito por Bowlby, como uma homeostase que mantém um estado relativamente regular entre o indivíduo e seu ambiente.

Na medida que a criança cresce, seu sistema de apego mantém um balanço entre os comportamentos exploratório e o de proximidade, considerando a acessibilidade da figura do apego e o perigo presente no ambiente físico e social, ou seja, o funcionamento da díade.

O autor complementa que:

O adulto forma e mantém vínculos, conforme seu estilo de apego construído ao longo do ciclo vital.

Para Bowlby (2002), os processos de desenvolvimento têm sua origem nos três primeiros anos de vida e tornam o homem diferente das outras espécies. Além da formação intrínseca, existe a capacidade para a linguagem entre outros símbolos, co-construir modelos em uma rede de planejamento e de colaboração com os outros.

Todo este desenvolvimento faz do homem o que ele é, sendo relevante pensarmos no que está em constante processo evolutivo da aprendizagem de comportamento, mas levando nesta caminhada os padrões aprendidos e desenvolvidos na memória afetiva nos três primeiros anos, segundo estudos desta teoria com a qual concordamos.

Bowlby (1964-1984), Canavarro (1999), Moneta(2003), Shaffer (2005); e no Brasil, Abreu (2005), Oliveira (2005), Carvalho (2005) e outros autores já citados , dentro da Teoria do Apego, embora advindos de temas e abordagens diferentes todos falaram de afetividade dentro das interações familiares, porém, às vezes, usaram outros recortes.

(...) o comportamento de apego não desaparece com a infância, mas persiste durante uma vida inteira. Figuras antigas ou novas são selecionadas e mantêm-se com elas a proximidade e/ou comunicação. Enquanto o resultado do comportamento continua sendo virtualmente o mesmo, os meios para obtê-los tornam-se cada vez mais diversos. (Bowlby, 2002, p.435)

A Teoria do Apego como a abordagem sistêmica têm como interesse mútuo o comportamento dos seres humanos e como estes formam vínculos nas interações familiares.

Oliveira aponta este encontro possível entre as duas abordagens e diz:

(...) a analisar a possibilidade de integração da Teoria Sistêmica e a Teoria do Apego: seriam essas abordagens conciliáveis em suas essências? O estudo de ambas e a leitura de diferentes trabalhos de clínicos e pesquisadores que combinam com sucesso essas duas abordagens teóricas no estudo e na intervenção junto a crianças, adolescentes, casais e famílias. (Oliveira, 2005, p.73)

Todo sistema é um todo organizado, e os elementos dentro do sistema são necessariamente interdependentes.

Isso se aplica igualmente aos papéis triádicos mãe-pai-criança dentro da família, aos comportamentos recíprocos de cuidador e criança e aos componentes da criança em si (como, por exemplo, seus comportamentos de apego e seu sistema de comportamento exploratório).

Sistemas complexos são compostos de sistemas e subsistemas. Esse interligado conjunto de sistemas é igualmente aplicável ao sistema familiar da criança. Os subsistemas dentro do sistema maior são separados por fronteiras, e as interações entre as fronteiras são governadas por regras implícitas e padrões. A disfunção dentro do sistema é freqüentemente o resultado da quebra nas regras adaptativas que governam essas fronteiras.

Os padrões de comportamento em um sistema são circulares ao invés de lineares. Isso nos leva a assumir um modelo muito mais complexo de fatores que ativam e cessam diferentes padrões de comportamento. Essa idéia também pode ser aplicada à Teoria do Apego.

Os sistemas têm características homeostáticas ou auto-reguladoras que mantêm a estabilidade de certos padrões invariáveis. Isso também é valido para pensarmos a operação básica que a criança realiza para usar a figura de apego como uma base segura para a exploração.

Evolução e auto-(re) organização são inerentes aos sistemas abertos. Os comportamentos de apego da criança, assim como as estruturas familiares, passam por mudanças desenvolvimentais segundo os mesmos processos.

Ambas as abordagens incluem o reconhecimento do papel da criança na organização dos padrões de interação da família, assim como a criança em si sendo organizada pelos padrões familiares.

Fonte: (Marvin, 2003, p.76) apud Oliveira (2005).

Para Oliveira (2005), autores que tornam possível esta conexão são: Patrícia Minuchin (1985 apud Marvin, 2003), Stewart (1990 apud Marvin, 2003). Os primeiros que discutiram a possibilidade de integração das teorias que deram a conotação para alguns pontos de convergência e divergência. Entretanto, a autora refere que essas teorias não apresentam pressupostos teóricos básicos contraditórios e, sim, um compartilhamento de idéias, como apresentado abaixo.

Tabela 12 – Idéias básicas compartilhadas entre as duas teorias (adaptação)

Conforme Canavarro (1999, p.54-55): “(...) as relações afetivas são apontadas como o contexto no qual a maior parte da socialização ocorre”. A autora valoriza aspectos como a aquisição de aptidões comunicacionais, a regulação das emoções e a construção do autoconceito.

Neste sentido, nosso estudo sobre a família intergeracional é importante e devemos estar atentos aos estudos referentes à diferenciação, individuação e memória. Pensamos na “memória afetiva emocional” (grifo nosso), como uma referência bibliográfica familiar que mutuamente contribui com a história biográfica individual.

Dentro desse contexto familiar, chama atenção a compreensão do desenvolvimento dessas histórias familiares, ou melhor, das histórias (narradas) das interações relacionais familiares que podem ser reconstruídas, revistas, sendo, primeiro, negociadas com o passado, tornando, às vezes, até mais criativo o futuro, memorizando fatos resilientes que possam contribuir para um desenvolvimento do processo vital.

Na construção do referencial teórico, gostaríamos de ampliar o instrumento genograma, considerado como um facilitador por proporcionar um visual hierárquico, genealógico além de ser um modo de obtenção de dados.

O genograma é também uma forma de aprender como garimpar certas informações que podem estar acopladas a segredos, triangulações, lealdades e repletas de sentimentos, poderá possibilitar ao entrevistador um transitar pela geração e seu ciclo vital, somando histórias familiares intergeracionais na área relacional, modelos de padrões interacionais por meio dos discursos e memórias de suas manifestações afetivas.

Ao optarmos por um olhar intergeracional e observar o contexto dentro das histórias familiares narradas, tentamos entender, com um recorte diferenciando, a época, a cultura, o gênero e as transmissões dos valores afetivos da família. Ouvir sentimentos associados a esta memória afetiva, observar padrões afetivos de interações nos relacionamentos, maneiras de comunicar esses

padrões, entre outros, já especificados neste estudo, contribuíriam para maior compreensão dentro da área clínica.

Hoje, percebemos uma abertura maior nas áreas da expressividade da verbalização se comparadas com as gerações anteriores dentro do processo evolutivo dos seres humanos.

O que transmitimos por meio dessa mensagem afetiva?

Ao mesmo tempo, entendemos que sentimos, organizamos os sentimentos e os transmitimos e isto forma a afetividade. Quando aplicamos um estudo intergeracional sobre os padrões interacionais, acreditamos que este poderá ser repetido em outra geração, ou mesmo, pulando uma e aparecendo em outra. As idéias de Bowen (1978), citam o processo de transmissão multigeracional de modelos familiares que no Brasil foram reforçados por Cerveny:

A família transmite e manifesta as mensagens dos tipos de comportamentos com palavras, não ditos e rituais cotidianos, co-construindo estes estados comportamentais. Um exemplo que nos orienta, seria pensar no ritual de cumprimentos entre os membros de uma família que pode ser um ritual mais carinhoso, proporcionando afetividade e aproximação ou algo mais indiferente, um afastamento.

As famílias repetem a si mesmas e o que sucedeu numa geração tenderá a aparecer nas gerações subseqüentes ainda que de forma diferente. Sua hipótese é que modelos interacionais e vinculares em uma geração podem fornecer modelos implícitos para o funcionamento familiar na geração posterior. Bowen referiu-se principalmente à fusão e diferenciação do indivíduo com sua família de origem e a triangulação, que ele considera a unidade básica de um sistema emocional.

(Cerveny, 2001, p.49-50)

No documento O CAMINHO INTERGERACIONAL DOS SENTIMENTOS: (páginas 109-116)