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2 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

2.7 AGROS IRRIGADOS MODERNOS E TRADICIONAIS

Os agros irrigados modernos e tradicionais são o resultado de um longo e complexo processo iniciado há mais de 10.000 anos, por meio da formação da agricultura em suas mais diversas formas e configurações pesquisadas na contemporaneidade. O resultado desse processo, fortemente marcado pelas diferentes formas de produção, deu origem à geografia da agricultura11 na diversa esfera planetária. Sendo que formas de agricultura têm seguido uma visão dualista distinta “o tradicional e o moderno; o arcaico e o dinâmico”. Porém, existe outra visão, que mesmo emergindo da conceituação de uma agricultura irrigada tradicional ou moderna, não as compreende extremamente separada, mas num sistema de interações, cuja forma de produção moderna podendo ser reproduzida pela tradicional (DINIZ, 1984, p. 218).

Por esse ângulo, os agros irrigados aqui conceituados como modernos ou tradicionais – unidades de análises – (SEPÚLVEDA, 2008), trazem características básicas dos ecossistemas modificados pela ação antrópica, por meio de práticas de técnicas agrícolas e do uso de tecnologias desde as tradicionais até as atuais, o que tem provocado alterações tanto nos recursos naturais – vegetação, solo e água – quanto na economia, no social, na política pública e privada, de Ipanguaçu–RN.

Seguindo essa lógica, Conway (1987) acrescenta que tanto os agros irrigados modernos quanto os tradicionais são sistemas ecológicos modificados pelo ser humano para produzir comida, fibra etc. Percebe-se certa diferença na infraestrutura, mas as fragilidades se evidenciam mediante a resiliência, produtividade, equidade e autonomia.

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Já na conceituação do IBGE (2010), os agros são compreendidos por ecossistemas modificados pelo homem, onde ocorrem complexas relações entre os seres vivos e os elementos naturais – rocha, solo, água, vegetação, clima, dentre outros.

Todavia, na visão de Diniz (1986), antes do processo de modernização agrícola – revolução verde – o principal elemento para o cultivo agrícola era o solo seguido das condições climáticas, porém, com a modernização, têm ocorrido diversas interferências nesses elementos por meio das tecnologias agrícolas: maquinários, implementos, fertilizantes, agroquímicos, sementes selecionadas, técnicas de irrigação, o que tem contribuído para certo aproveitamento da agricultura, possibilitando entender-se que, com mudanças do manejo tradicional dos recursos naturais, emerge uma nova relação homem-natureza. Seguindo essa posição conceitual, nesta tese, acerca dos agros de cultivo de bananeira irrigada, indica-se que eles detêm certa aptidão tanto para forma de produção tradicional quanto para moderna.

É considerado de forma de produção agrícola tradicional o agro que adota técnicas e tecnologias tradicionais e modernas, mas com predominância tradicional. Fazendo uso de produtos agroquímicos, irrigação por sulco e microaspersão, fertirrigação, dentre outras novas. Por esse viés, o entendimento agricultura tradicional “é variável, desde uma simples prática agrícola até um conjunto de elementos”, tais como: posse da terra, relações de trabalho e hábitos locais, e até agindo sobre a especialização de produto (DINIZ, p.120).

O agro irrigado que usa técnicas atuais definidos como forma de produção agrícola moderna é aquele que faz uso de insumos e tecnologias, de pesquisas e de desenvolvimento (P&D), realizadas por instituições de ensino e pesquisas públicas e privadas, laboratórios e indústrias químicas (ARAÚJO; SCHUH, 1975; DINIZ, 1986).

Os agros irrigados modernos vêm possibilitando entrada, input, e saída, output, tanto de tecnologia quanto de produto especializado, agronegócio (TISDELL, 1999). Frequentemente, eles têm estrutura complexa, emergindo da interação entre os processos socioeconômicos e os ecológicos. Trata-se, portanto, de um complexo sistema agro-sócio- econômico-ecológico (CONWAY, 1993). Nesse sentido, o conceito de agros corresponde ao conjunto de elementos, com suas relações, de diferentes formas de produção, que, por sua vez, constituem a unidade agrícola. E o uso da tecnologia possui um papel importante na determinação da forma de produção, podendo repercutir no desempenho sustentável, pois não apenas permite elevar a produtividade agrícola, mas também cria elos dimensionais no local.

A diferente forma de produção agrícola irrigada, moderno e tradicional, consiste na aplicação conjunta de conhecimentos sistêmicos para a obtenção de determinado produto. É o conjunto de elementos agrícolas que se interligam para um propósito comum, uma meta,

constituindo forma de produção moderno ou tradicional. E os conjuntos de variáveis influenciam a produção dos agros ancorando-se no tripé: o que produzir? quanto produzir? para quem produzir? Essas indagações norteiam ações, de gestão, como: tomadas de decisões, planejamento, contabilidade rural e precisão, bem como a avaliação de sustentabilidade.

Desse modo, o planejamento e a contabilidade rural são alguns dos indicadores comparativos de formas de produção agrícolas, tanto moderna quanto tradicional, na medida em que, nesses últimos, predominam parcas tecnologias de gestão rural – potencial produtivo, conhecimento científico, informatização, adubos químicos, dentre outras –, enquanto que os agros modernos podem ser questionados sobre a dinâmica da porteira para dentro.12 Por outro lado, disseminar a ideia de que a responsabilidade pelo uso dos agroquímicos no manejo do sistema agrícola se restringe às indústrias produtoras e aos agros irrigados de forma de produção moderna “seria uma atitude ingênua, uma vez que os agricultores e a sociedade, de forma mais ampla, também têm uma parcela de responsabilidade” sobre o uso desses insumos agrícolas, atrelados a revolução verde (WAICHMAN, 2012, p.42).

Por esse viés, não se desconsidera que os agros irrigados, sejam modernos ou tradicionais, estejam conectados com a indústria agroquímica por ela ter um produto a oferecer que torna o agro mais produtivo e competitivo, bem como não se descarte a necessidade de capacitação das pessoas envolvidas no manejo direto, que ao fazerem uso de produtos químicos, se faz necessário a construção de uma visão compartilhada multidimensional, sob diretrizes legais de uso das tecnologias com as boas práticas agrícolas.

O termo manejo de agros, utilizado para indicar as atividades planejadas – plano de manejo –, ou praticadas, nos sistemas agrícolas, é definido como “a execução de procedimentos e operações que interferem nas condições ambientais de uma determinada área, visando incrementar a produtividade, melhorar a qualidade e agregar valores à matéria- prima” (AQUINO, 2003, p.1).

O manejo de agros irrigados pode também ser entendido como uma forma de exploração de uma cultura que garanta a manutenção, ou a recuperação, de recursos naturais na obtenção de benefícios ambientais e socioeconômicos. Dessa maneira, o enfoque deixa de ser apenas uma cultura e passa a ser o agro irrigado, aqui entendido como um ecossistema modificado e gerido socialmente para suprir necessidades humanas, sem perder o viés sustentável. Considerando que as discussões sobre sustentabilidade de agros, abordam-se o desenvolvimento de duas, distintas, formas de produção agrícola brasileira: agricultura

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familiar e agricultura patronal (SANTILLI, 2009). São características da agricultura familiar: diversidade de culturas, como milho, feijão, arroz, mandioca, hortaliças, dentre outras; geralmente a família é proprietária dos meios de produção e realiza as atividades diárias no sistema agrícola; segurança alimentar e nutricional; geração de emprego e renda, dentre outras. A agricultura patronal, moderna, tem as seguintes características: monocultura – laranja, banana, abacaxi, café, soja, arroz, cana-de-açúcar, dentre outras –, produção de alimentos, fibras e energia em larga escala; uso de pacotes tecnológicos e mecanização; uso de conhecimentos científicos; geração de emprego mais, especializado e de capacitação continuada; padronização e uniformização dos agros.

Porém, os agros irrigados conforme as contingências da prática de técnicas e uso de tecnológicas (DINIZ, 1986), podem ser considerados de diferentes formas: modernos (novas tecnologias) e tradicionais (predominam tecnologias tradicionais e parcas tecnologias como uso de agroquímicos, fertirrigação, implementos e maquinários agrícolas).

A produção tradicional, bananeira irrigada, caracteriza-se pelo predomínio de uso de técnicas manuais, utilizando desde enxadas, terçados, tração animal, até implementos agrícolas como escarificador do solo13 (BORGES; SOUZA, 2004), trator; acentuado uso de agroquímicos, pulverização direta por meio de atomizador apoiado ao ombro do operador; baixo conhecimento tecnológico e empregabilidade por ha.; não atendimento aos direitos de trabalhadores; desconsideram o uso de equipamentos de proteção individual (EPIs); não analisa a fertilidade do solo e a qualidade da água; não armazena, higieniza e transporta adequadamente o produto; canais de comercialização dependente do atravessador.

Enquanto a produção moderna, bananeira irrigada, caracteriza-se pelo uso de novas tecnologias: mecanização, trator e outros implementos; alto uso de agroquímicos, pulverização direta por meio de atomizador apoiado ao ombro do operador e indireto por via aérea; elevado conhecimento científico e tecnológico; alta empregabilidade por ha.; atendimento de direitos sociais de trabalhadores; utilizam EPIs; analisa periodicamente: fertilidade do solo e qualidade da água armazena, higieniza e transporta adequadamente .

Estudos expõe que aproximadamente 70% das pulverizações nos agros podem ser perdidas devido a técnicas incorretas de aplicação. Muitos desconsideram que a aplicação de agroquímicos deva perpassar pela boa prática interdisciplinar e capacitação dos trabalhadores

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Implemento agrícola utilizado para fragmentar o solo compactado e a possibilidade de processos erosivos e facilita o trabalho em locais com solo totalmente seco, e como não movimenta a terra lateralmente, esta não se acumula nos terraços, como ocorre no preparo do solo com arados mecanizado.

tendo a visão multiprofissional – agrônomo, biólogo, químico, economista, engenheiro, médico, físico, gestor, dentre outros –, conforme o esquema da Figura 1 (COSTA, 2009).

Figura 1 – Aplicação sistêmica dos agroquímicos

Fonte: Costa (2009, p. 2)

Nessa figura, destaca-se no segundo anel, do centro para a extremidade, os itens – legislação, registro e notificação – os quais são legitimados pelos artigos 3º e 9º da Lei nº 7.802/1989, que dispõe sobre a pesquisa, a experimentação, a produção, a embalagem e rotulagem, o transporte, o armazenamento, a comercialização, a propaganda comercial, a utilização, a importação, a exportação, o destino final dos resíduos e embalagens, o registro, a classificação, o controle, a inspeção e a fiscalização de agroquímicos, seus componentes e afins, dentre outras providências para a aplicação de agroquímicos.

Além disso, essa figura representa o manejo sistêmico, o conhecimento e as tecnologias que se fazem necessárias para a aplicação dos agroquímicos nos agros irrigados. Contudo, o sistema de manejo agrícola brasileiro, desde o período colonial, tem-se vinculado no pensar determinista da infinitude dos recursos naturais, o que pode ter contribuído para a depleção ambiental e cultural, tão questionadas nos agros irrigados, de uma maneira geral.

No próximo subitem, discute-se sobre o cultivo da bananeira irrigada dando-se ênfase a alguns aspectos básicos de cultivo e de comercialização da banana.