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4 APRESENTAÇÃO E ANÁLISE DOS RESULTADOS

4.1 BREVE HISTÓRICO DA FORMAÇÃO DO MUNICÍPIO DE IPANGUAÇU–RN

Para se entender a implantação dos agros irrigados, modernos e tradicionais, de Ipanguaçu–RN, há que se recorrer à origem desses. Resumidamente, a formação desse município advém da instalação da criação de gado na fazenda Sacramento. A abundância de recursos naturais – solo fértil e água – no vale do semiárido, considerado oásis, tornaram atrativa a migração de trabalhadores rurais e das famílias, que constituíram o povoado, o qual antes pertencia ao município de Santana do Matos-RN (VALVERDE; MESQUITA, 1961).

O referido povoado tinha, inicialmente, sua economia baseada na agropecuária de subsistência. Depois, foi aumentando o adensamento populacional, culminando com a fundação da cidade de Ipanguaçu (ilha Grande, na língua tupi-guarani: Ipan significa ilha, e

guaçu significa grande), entre os rios Piranhas-Açu e seu afluente Pataxó (CACUSDO, 1968),

nome atribuído ao cacique da tribo Janduíz reconhecido como grande conselheiro de conflitos locais, naquela época. Esse cacique foi considerado por alguns historiadores como o defensor da natureza, por seus rituais relacionados a abordar rios, lagoas e vegetação nativa (caatiga e carnaúba). Ele defendia a fertilidade da terra e a permanência das inundações sazonais.

Essas inundações, temidas atualmente durante os períodos de chuvas, muito contribuíam para a fertilização do solo mediante a deposição de húmus trazidos pelas águas e, portanto, eram esperadas por muitos moradores, na medida em que se fazia a ligação entre tempo da natureza com a fertilidade da planície.

Na atualidade, a história da instalação dos agros irrigados de bananeira, no município de Ipanguaçu–RN, deu-se a partir do ano de 1969 até o início de1980, com a introdução de algumas técnicas de irrigação rudimentares de bananeira. Predominava o complexo gado- algodão, agricultura de subsistência e extração vegetal de cera de carnaúba. Nos anos de 1970, o governo militarista investiu na agricultura moderna, não só no Nordeste, mas em todo o Brasil, destacando-se a liderança de Celso Furtado no Grupo de Trabalho para o Desenvolvimento do Nordeste (GTDN), que deu início ao planejamento da barragem

Engenheiro Armando Ribeiro Gonçalves, em Itajá–RN. As obras foram iniciadas em 1979 e concluídas em 1983. E, por essas veredas de carnaubeira e de caatingueira, Ipanguaçu–RN vem sendo transformado num polo de fruticultura de bananeira irrigada moderna e tradicional.

Descrição geral do município de Ipanguaçu–RN

O município de Ipanguaçu–RN distancia-se da capital Natal em 211 km, tendo como acesso rodoviário a BR-304, e no trecho de Itajá–RN em congruência, à direita, a RN–118, limitando-se com municipios: Afonso Bezerra, Açu, Itajá, e Angicos, na microrregião Vale do Açu-RN (Mapa 1). Com área de 374,236 km², está, cartograficamente, nas folhas Açu (SB.24-X-D-V) e Macau (SB.24-X-D-II) – escala 1:100.000 –, editadas pela SUDENE, nas coordenadas geográficas de 05°29’52,8” de latitude Sul e 36°51’18,0” de longitude Oeste.

Mapa 1– Localização de Ipanguaçu na microrregião Vale do Açu–RN

Fonte: IBGE (2006)

Elaboração: Reis e Silva (2013)

Geograficamente, Ipanguaçu–RN situa-se nos domínios da bacia hidrográfica do rio Piranhas-Açu, numa altitude, aproximadamente, de 24 metros. No trecho que fica à margem

direita do rio Piranhas-Açu à rodovia estadual RN–118, localizam-se os 29 agros, de produção irrigada de bananeira, modernos e tradicionais, objetos deste estudo.

A maior parte da população desse município reside na zona rural. E do número total de habitantes (13.856 hab.), aproximadamente 61% concentram-se nas áreas rurais (8.473 hab.), os 38,92% restantes residem na zona urbana (5.383 hab.), com densidade demográfica 37,02 hab./km² (IBGE, 2012). E quanto aos aspectos sociais e econômicos da população local, aproximadamente 39,4% estão acima da linha de pobreza, 31,1% entre a linha de indigência e de pobreza e 29,5% abaixo da linha de indigência (Gráfico 2 ), o que tem demonstrado ser um município muito carente no tocante a aspectos socioeconômico, embora seja grande produtor de fruticultura irrigada e localizado na rota de produção petrolífera onshore.

Gráfico 2 – Aspectos socioeconômicos de Ipanguaçu–RN

39,4%

31,1% 29,5%

Acima da linha da pobreza Entre a linha de indigência e pobreza

Abaixo da linha de indigência

Fonte: IBGE (2012)

Elaboração: A Autora (2012)

Nesse município predomina o clima semiárido, com distribuição pluviométrica anual de aproximadamente 521,3 mm até 903,3 mm, com desvio de 382, mm, no período chuvoso, de fevereiro a maio (KÖPPEN, 1948). A média de temperatura anual é de 33,0 °C; e mínima de 21°C, e a umidade relativa do ar em torno de 73%, a evaporação 2.000mm/ano, com insolação de 2.800horas/ano (EMPARN, 2006).

Sobre a cobertura vegetal, destacam-se a vegetação nativa, carnaubais e caatinga, hiperxerófila. A primeira é composta pela palmeira carnaúba, de ocorrência nas áreas de várzea, mais úmidas, e a segunda, de caráter mais seco, apresenta diversidades, como as cactáceas e plantas de porte baixo: xiquexique, jurema-preta, mufumbo, faveleiro, marmeleiro, facheiro, dentre outras, que ocorrem nas áreas de tabuleiro, havendo parcas manchas no vale do rio Piranhas-Açu.

Segundo a Resolução nº 399/2004, o rio Piranhas-Açu tem uma extensão de 443,75 km, estendendo-se desde a nascente, Serra de Piancó, município de Bonito da Santa Fé, no estado da Paraíba, até sua foz deltaica, próximo à cidade de Macau, no Rio Grande do Norte. Como a maioria absoluta dos rios do semiárido nordestino, à exceção do São Francisco e do Parnaíba, é um rio intermitente em condições naturais. A perenidade de seu fluxo é assegurada por dois reservatórios construídos pelo DNOCS: Coremas - Mãe d’Água, na Paraíba, com capacidade de 1,360 bilhões de metros cúbicos (m³) e vazão regularizada de 9,5 m³/s, e a barragem potiguar Armando Ribeiro Gonçalves, com 2,400 bilhões de m³ e vazão regularizada de 17,8m³/s (RIO GRANDE DO NORTE, 2010). Ao entorno desse sistema hídrico formado pela calha do rio e seus reservatórios de regularização, denominado Sistema Coremas-Açu, atende às necessidades humanas de: abastecimento, irrigação e lazer.

Na bacia do rio Piranhas-Açu, estados da Paraíba e do Rio Grande do Norte, convivem aproximadamente 1.552.000 mil habitantes. Essa bacia está totalmente inserida em território semiárido, onde as médias pluviométricas variam, de um modo geral, entre 400mm e 800 mm anuais, concentradas, apenas, entre os meses de fevereiro e maio, isto é, centrada em poucos meses do ano, e conjugado à geomorfologia – solos rasos formados sobre um substrato cristalino, baixa capacidade de armazenamento –, contribui para característica intermitente dos rios da região.

Além disso, o padrão de precipitação tende a apresentar certa variabilidade anual, ocasionando a alternância entre anos de chuvas regulares e de acentuada escassez hídrica, com intensos períodos de secas, que conjugada a taxas de evapotranspiração elevadas, aproximadamente 2000 mm/ano, ocasionam um déficit hídrico significativo e se constituem fator-chave a considerar na gestão da água e no manejo das técnicas do cultivo da banana.

A formação geológica da maior parte da bacia é cristalina. São rochas impermeáveis, com baixa capacidade de armazenamento de água e, frequentemente, o solo tem baixa fertilidade. Entretanto, destacam-se as formações sedimentares, com maior porosidade, ou seja, com maior capacidade de armazenamento de água. Elas estão presentes apenas em dois pontos da bacia: uma menor, na sub-bacia do rio do Peixe, próximo a Souza, na Paraíba, e outra, integrante da formação Jandaíra, abrangendo todo o município de Ipanguaçu–RN. Os agros irrigados, aqui estudados, estão localizados sobre essa formação geomorfológica, constituída por depósitos de aluviões formando a planície fluvial do rio Piranhas-Açu, RN.

Talvez a importância socioeconômica e ambiental da bacia do Rio Piranhas-Açu para os agros modernos locais, deva-se ao fato de ele ser o maior reservatório, em volume de água, na região potiguar, possibilitando a fixação desses sistemas irrigados. Com o crescente

processo de modernização agrícola e com o investimento de capital, nacional e internacional na fruticultura, em Ipanguaçu–RN, vem se destacando no cultivo da banana. No decorrer dos últimos dez anos, a importância dos agros tem sido mais significativa, na medida em que eles vêm abastecendo os mercados: interno (Rio Grande do Norte, Paraíba e Pernambuco, dentre outros estados) e externo (americano e europeu) com alimentos frutíferos.

Do ponto de vista político-institucional, implantou-se a agricultura irrigada, nessa bacia, como estratégia de desenvolvimento, pelo governo federal e estadual, através do DNOCS. Essa política de irrigação tem tido um papel definidor para a instalação dos agros irrigados de formas diferentes de produção tradicional e moderno, na microrregião do Vale do Açu, e talvez sua ação mais significante tenha sido a construção de citada barragem, visto que a perenização do rio possibilitou a instalação de projetos de irrigação, atraindo inúmeras empresas agrícolas para Ipanguaçu–RN, nacional e internacional (GOMES, 2007).