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Alguns estudos e exemplos de reciclagem

Grupo III Produção total

LISBOA E VALE

3. PREVENÇÃO E RECICLAGEM DE RESÍDUOS HOSPITALARES

3.1. REDUÇÃO NA FONTE

3.2.1. Alguns estudos e exemplos de reciclagem

A implementação de programas de reciclagem nos hospitais teve início muito antes das iniciativas de redução de resíduos, muitas vezes por serem mais imediatos e terem uma boa

Gestão de RH: conhecimentos, opções e percepções dos profissionais de saúde

aceitação, tanto pelos profissionais de saúde, como pela comunidade envolvente. Em alguns casos estes programas devem-se, também, a obrigações legais.

Em relação às potencialidades de reciclagem em hospitais, são apresentados dois estudos, um sobre a reciclagem de plástico e outro sobre a reciclagem de vidro hospitalar. São, também, referidos exemplos de hospitais que implementaram programas de reciclagem e focada a utilização de produtos reciclados em meio hospitalar.

Potencialidades de reciclagem em hospitais

Os plásticos representam uma componente significativa dos RH (entre 20 a 25% em volume), sendo superior à quantidade presente nos RU. Lee et al. (2002) efectuaram um estudo em cinco hospitais gerais e três hospitais veterinários, analisando as potencialidades da reciclagem de plástico, tendo em consideração os diversos tipos de plástico e respectivas quantidades nos RH, os locais de produção e os custos de tratamento. Concluíram o seguinte:

ƒ A maior quantidade de resíduos plásticos nos hospitais é produzida nos bares e cantinas, embora também exista uma grande quantidade de outros tipos de plásticos (e.g. embalagens de DM, seringas, sacos de sangue e de soros e sistemas intravenosos). Os locais com mais produção são: o Serviço de Aprovisionamento, os Laboratórios, o Bloco Operatório e os Serviços de Alimentação;

ƒ Os Serviços de Alimentação constituem os locais mais simples de implementar a separação para reciclagem e com um maior potencial. Isto deve-se ao facto da probabilidade de contaminação ser muito baixa e de ser possível reduzir os tipos de plástico utilizados;

ƒ Cerca de 30% dos RH produzidos nos Laboratórios, Bloco Operatório, Urgências e ambulâncias são plásticos, embora normalmente não sejam separados para reciclar, sendo uma parte resíduos infecciosos. Em particular nas ambulâncias esta percentagem sobe até aos 49%;

ƒ Para incrementar a reciclagem de plásticos nos hospitais tem que se apostar numa correcta separação na fonte, especialmente entre plásticos contaminados e não contaminados, criar as infra-estruturas necessárias e sensibilizar os gestores e os profissionais de saúde.

Num outro estudo relacionado com embalagens de papel e plástico, Francis et al (1997) procuraram averiguar no Bloco Operatório a possibilidade de separar para reciclar uma parte dos resíduos provenientes da preparação de cirurgias. O papel e plástico produzidos nesta fase normalmente não estão contaminados, podendo ser separados directamente para reciclagem. Neste estudo concluíram que 7,5% dos resíduos produzidos no Bloco Operatório eram resíduos não infecciosos, destes 33% correspondiam a materiais plásticos e 66% a materiais à base de papel. Foi colocado um contentor para a separação destes materiais e sensibilizados os profissionais de saúde.

O vidro de embalagem é um material preferencial no acondicionamento de muitos medicamentos e outros produtos médicos (e.g. frascos de xarope, frascos com medicamentos injectáveis). Em França, foi criada pela indústria vidreira, a associação

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PERFUVERRE, com o objectivo de fornecer informações relativas à reciclagem deste material. De acordo com Dheilly (1995), a reciclagem do vidro de embalagem hospitalar não apresenta riscos para a saúde, pela própria tecnologia envolvida na sua reciclagem (e.g. fusão do casco a temperaturas muito elevadas). Contudo, este tipo de vidro não tem sido separado para reciclagem de forma sistemática, embora seja um material de muito boa qualidade.

O mesmo autor conclui que cerca de 80% do vidro hospitalar consumido em França é vidro destinado a práticas de perfusão. O conteúdo destes frascos não apresenta riscos (e.g. soro fisiológico, glicose), é perfeitamente identificável pelos profissionais de saúde, é vidro branco e facilmente reciclável, desde que seja separado no local de produção. Os restantes 20% do vidro hospitalar são bastante diversificados (e.g. ampolas) sendo mais complexa a sua reciclagem. Em 1994 foram reciclados pelos hospitais franceses, com o apoio desta associação, cerca de 1000 toneladas de vidro hospitalar (Dheilly, 1995).

Programas de reciclagem em hospitais

Muitos hospitais têm desde há alguns anos, programas de reciclagem. Em alguns casos estes programas começaram com resíduos de separação mais simples (e.g. cartão, pilhas), sendo progressivamente alargados a outros tipos de resíduos (e.g. plástico, vidro).

Um exemplo é dado pelo programa de reciclagem realizado pelo Hospital Beth Israel (Nova Iorque - EUA). Inicialmente englobava, apenas, a recolha selectiva de cartão e de papel de escritório, posteriormente foi ampliado a jornais, revistas, garrafas de vidro e latas. Foram colocados contentores específicos nas secretárias, fotocopiadoras e em outros locais de produção, além de serem distribuídos cartazes e panfletos explicando os objectivos e a logística do programa. Esta iniciativa rapidamente cobriu os investimentos efectuados, gerando lucros, devido ao dinheiro poupado no tratamento dos resíduos desviados para reciclagem e nos dividendos ganhos pela venda desses mesmos materiais (Lopez, 1990

fide OTA, 1990).

Um programa de reciclagem bastante conhecido nos EUA foi o desenvolvido pelo Albany Medical Center (Nova York), denominado CURE Waste, servindo posteriormente de exemplo a outros hospitais. Em seis anos, este hospital conseguiu reciclar cerca de 46% dos resíduos produzidos, separando para reciclagem tudo o que tivesse essa possibilidade. Este hospital tem, também, um Centro de Destilação para resíduos químicos tendo diminuído a produção anual destes resíduos perigosos de 29 para 6 toneladas (Rounds, 1998; EWG, 1998).

Outros hospitais nos EUA iniciaram programas de reciclagem. O Hospital Bellin, devido a imposições legais, começou a efectuar, em 1990, a reciclagem de papel. Este programa permitiu diminuir os custos da gestão de resíduos, estando prevista a sua expansão para materiais como o plástico e o vidro. Também o Hospital Universitário Thomas Jefferson, pelos mesmos motivos, iniciou a reciclagem de latas de aço da cozinha, das latas de bebidas, do cartão, do papel de escrita e do vidro (dos serviços de apoio e de alguns departamentos médicos) (ECRI, 1991).

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No Hospital Universitário de Freiburg (Alemanha), desde os finais dos anos 80 que são separados diversos materiais para reciclagem. Todos os materiais que não entraram em contacto com os doentes, como vidro, papel e material diverso de embalagem, podem facilmente ser reciclados. Mas também reveladores, banhos de fixação e películas de raio X dos departamentos de radiologia. Na Tabela 3.8 apresenta-se um resumo dos diferentes materiais reciclados, por rotina, neste hospital (Daschner e Dettenkofer, 1997).

Tabela 3.8. Materiais reciclados no Hospital Universitário de Freiburg (Daschner e Dettenkofer, 1997).

ƒ Papel e cartão (e.g. jornais, papel dos serviços administrativos, material de embalagem); ƒ Vidro;

ƒ Plástico (incluindo esferovite);

ƒ Metal (e.g. alumínio, folha de flandres, prata dos reveladores nos departamentos de raio X); ƒ Películas de raio X e fixadores;

ƒ Químicos (e.g. xilol) e óleos usados; ƒ Têxteis;

ƒ Material biodegradável (e.g. comida fermentável, flores, borras de café, madeira)

Utilização de produtos reciclados

Na reciclagem além de ser fundamental separar os vários materiais nos locais de produção é também importante adquirir produtos reciclados de forma a promover o mercado da reciclagem. Uma iniciativa bastante interessante é apresentada por Vandoren (1996). No South Bay Medical Center (California, EUA) sempre que possível optam por produtos reciclados, solicitando aos habituais fornecedores para procurarem alternativas aos produtos tradicionais.

Neste hospital utilizam, entre outros produtos, guardanapos reciclados (80% pós-consumo), contentores para cortantes e perfurantes reciclados (3 a 25% pós-consumo), papel de cópia reciclado (75% pós-consumo), embalagens estéreis recicladas, forras recicladas para os tabuleiros (100% pós-consumo) dos doentes e oxímetros de pulso reciclados (80% pós- consumo). As negociações com a indústria têm sido também um meio de conseguir substituir alguns produtos, como as efectuadas com a indústria BioNova que passou a comercializar papéis para mesa de exames, capas e batas em papel reciclado (Vandoren, 1996).

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4. RISCO E PERCEPÇÃO DE RISCO ASSOCIADOS AOS RESÍDUOS