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Recolha, armazenamento e transporte

Grupo III Produção total

LISBOA E VALE

2.3.2. Recolha, armazenamento e transporte

Recolha e armazenamento intermédio

A operação de recolha realiza-se fundamentalmente nos locais de produção, no interior da UPCS, e deve ser desenvolvida de modo a facilitar e atingir os objectivos de controlo e minimização de riscos, de protecção dos trabalhadores, de operacionalidade dos serviços e de valorização dos resíduos produzidos. Devem-se considerar aspectos como preceitos de ordem ética ou de percepção de risco pela opinião pública, ou seja, de modo a proteger o ambiente hospitalar, o ambiente em geral e a saúde pública (Portugal-Ramos et al., 1999). Cada UPCS deve ter um plano para a circulação de resíduos, adequado à sua dimensão, estrutura e à quantidade de resíduos produzidos, devendo o circuito ser definido segundo critérios de operacionalidade e de menor risco para os doentes, trabalhadores e público em geral (Despacho nº 242/96, de 13 de Agosto).

Nos hospitais, os RH normalmente são recolhidos pelos AAM ou pelos funcionários da limpeza, sendo colocados num armazém intermédio (armazém do serviço). Para diminuir o contacto com os resíduos, os sacos devem ser fechados antes de serem recolhidos. De acordo com Muhlich (2000), estes trabalhadores devem usar luvas quando efectuam a recolha, devendo estas ser luvas de cozinha robustas, não sendo aconselhável a utilização de luvas descartáveis, devido à falta de protecção e à elevada produção de resíduos.

Não se devem acumular resíduos no local de produção, devendo existir vigilância e quando necessário recolha periódica. Os resíduos devem ser recolhidos diariamente com uma frequência ajustada à produção, devendo apenas ser removidos depois de etiquetados. Tanto os sacos como os contentores descartáveis devem ser substituídos imediatamente por equivalentes, sendo importante garantir um stock para substituição (Pruss et al, 1999). Os armazéns intermédios (armazéns dos serviços) deverão ser espaços planeados para essa finalidade, de preferência durante a construção da UPCS. Devem ser de fácil limpeza, arejados e dispor de equipamento de protecção de incêndios (e.g. extintor). O local deve estar claramente assinalado com uma indicação na porta e apenas ser acessível a pessoas autorizadas. No seu interior devem estar definidas diferentes áreas para os vários tipos de resíduos, de forma a facilitar a sua colocação.

Segundo Muhlich (2000), os armazéns intermédios devem ser limpos pelo menos uma vez por dia, devendo estar afixado um papel onde esteja assinalado o nome do responsável pela limpeza, a técnica utilizada, a frequência e a desinfecção desejada. Na maior parte das

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situações é aconselhável um compromisso entre as possibilidades de armazenamento, o volume/capacidade dos contentores utilizados e a frequência do transporte, de forma a minorar os problemas desta etapa.

Algumas vezes, por falta de espaço ou por serem instalações antigas, é necessário adaptar locais ou utilizar corredores ou vãos de escadas, para o armazenamento intermédio dos RH. Nestas situações é aconselhável assinalar estas áreas, utilizar contentores com sistema de fecho e assegurar a não permanência de pessoas não autorizadas.

Transporte interno e armazenamento central

Segundo Reinhardt e Gordon (1991), para minimizar os riscos de exposição torna-se essencial a manutenção da integridade dos recipientes (sacos ou contentores) durante todo o processo de recolha, armazenamento e transporte.

Além disso, procedimentos específicos devem ser utilizados no transporte interno de resíduos. Destaca-se o uso de carrinhos de recolha (apropriados consoante o tipo de contentores, usados apenas para o transporte de resíduos, de fácil movimento e de simples limpeza e desinfecção), o estabelecimento de horários específicos (coordenados com os picos de produção, capacidade de armazenamento e de tratamento) e o planeamento de trajectos de recolha, de forma a diminuir os riscos inerentes (Reinhardt e Gordon,1991; Hirst

et al., 1999; Pruss et al., 1999).

Idealmente o transporte interno dos resíduos deveria ser efectuado em elevadores próprios e por trajectos subterrâneos específicos, sem interferir com o transporte de doentes, visitantes e do abastecimento/fornecimento hospitalar. No caso de falta de espaço a escolha de determinados horários e percursos pode minorar os problemas, tal como a utilização de contentores bem fechados e sem qualquer contaminação exterior (Muhlich, 2000).

Em Portugal, e acordo com o Despacho nº 242/96, de 13 de Agosto, os contentores utilizados para armazenagem e transporte dos resíduos dos grupos III e IV devem ser facilmente manuseáveis, resistentes, estanques, mantendo-se hermeticamente fechados e, se forem de uso múltiplo, devem ser laváveis e desinfectáveis. Deve, também, ser dado relevo à identificação do serviço de origem dos resíduos nos respectivos contentores (para todos os grupos de resíduos), de forma a facilitar a identificação e correcção de possíveis problemas, nomeadamente em termos de triagem.

Sempre que o transporte interno de resíduos não é automatizado (e.g. sistema automatizado de pequenos carros no Hospital Universitário de Freiburg) são necessários trabalhadores para a realização destas funções. O treino e a informação destes trabalhadores são fundamentais para garantir um transporte seguro e correctos procedimentos em caso de acidente (e.g. limpeza de derrames, incêndios ou enganos na colocação dos resíduos). Estes trabalhadores devem possuir equipamento de protecção adequado, tal como botas com biqueira de aço e luvas à prova de perfuração (Muhlich, 2000).

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No transporte dos resíduos deve-se ter em atenção a separação das diferentes fracções (e.g. vários grupos de resíduos, materiais recicláveis). Nem sempre é viável organizar transportes separados, especialmente quando existem pequenas quantidades de algumas fracções. A utilização de carrinhos de recolha facilita o transporte separado destes diferentes componentes.

Em relação ao armazenamento central, o Despacho nº 242/96, de 13 de Agosto, determina que cada UPCS deve ter um local específico para essa finalidade, para os resíduos não perigosos (grupos I e II) separado do local para os resíduos perigosos (grupos III e IV), ambos deverão estar devidamente sinalizados e ter fáceis condições de acesso e limpeza. Os locais de armazenamento devem ser dimensionados em função da periodicidade de recolha e/ou do transporte/tratamento, devendo a sua capacidade mínima corresponder a 3 dias de produção. Caso os resíduos estejam armazenados, ultrapassando o prazo anterior, até um máximo de 7 dias, deverão existir condições de refrigeração.

O local de armazenamento central deve estar situado na UPCS e idealmente as distâncias de transporte entre os armazéns intermédios e este devem ser o mais curtas possível. Devem ser cumpridos alguns requisitos, designadamente (Pruss et al., 1999):

ƒ possuir pavimento impermeável, com drenagem, de fácil limpeza e desinfecção; ƒ ter fornecimento de água para os procedimentos de limpeza;

ƒ fácil acesso para os trabalhadores que realizam a recolha interna;

ƒ permitir o fecho do armazém para impedir o acesso de pessoas não autorizadas e estar devidamente assinalado;

ƒ fácil acesso para os veículos que efectuam o transporte dos resíduos (no caso de serem tratados fora da UPCS);

ƒ estar protegido da luz directa do sol;

ƒ não ser acessível a animais, insectos e aves; ƒ ter boas condições de iluminação e ventilação;

ƒ não estar situado nas proximidades de armazéns alimentares ou de áreas de preparação de comida;

ƒ possuir equipamento de limpeza e equipamento de protecção adequado;

ƒ os sacos e/ou contentores limpos devem estar situados nas proximidades (para ser feita a reposição nos serviços).

Geralmente os trabalhadores que realizam a recolha interna são os mesmos do armazenamento central, tendo o necessário treino e informação sido referidos anteriormente. Estes trabalhadores podem pertencer à UPCS ou a empresas exteriores. No armazenamento central, por vezes é necessário alguns resíduos serem transferidos para contentores de maiores dimensões (e.g. contentores/compactadores), procedimento que deve ser efectuado de forma mecânica para evitar o contacto dos trabalhadores com os resíduos, facilitando também o trabalho destes profissionais (Muhlich, 2000).

No armazém central devem existir meios para a lavagem e desinfecção dos contentores (quando reutilizáveis) e dos carros de recolha dos resíduos. Sempre que estes são em grande quantidade é aconselhável haver um equipamento mecânico para a realização deste

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procedimento, como anteriormente referido. Depois de lavados e desinfectados devem ser colocados em local específico, separado dos contentores com resíduos.

Neste local pode existir uma câmara de refrigeração para armazenar os resíduos infecciosos. Este equipamento é particularmente necessário quando as quantidades de resíduos são pequenas e o transporte dos resíduos para tratamento é bastante espaçado. Os tempos de armazenamento e a necessidade de refrigeração são definidos pela legislação. Em Portugal, e como referido anteriormente, sempre que os RH estejam armazenados mais de três dias e até um máximo de sete dias, deverão existir condições de refrigeração.

Os resíduos radioactivos devem ser acondicionados em contentores específicos que impeçam a sua dispersão, fabricados em chumbo blindado. Estes resíduos devem permanecer no interior destes contentores até ser ultrapassado o tempo de decaimento da radioactividade. Devem estar etiquetados especificando o tipo de radionuclido, a data e detalhes sobre as condições de armazenamento (Pruss et al., 1999).

Na zona de armazenamento devem, também, existir ecopontos, ou seja, contentores para a deposição de determinadas fileiras e fluxos de materiais para reciclagem, facilitando o encaminhamento de alguns resíduos para valorização.

Transporte externo

O transporte dos resíduos no exterior dos centros produtores é efectuado sempre que o tratamento/eliminação seja fora da UPCS. Deve ser realizado por veículos de caixa fechada e estanques, com excepção dos resíduos equiparados a urbanos (grupos I e II) que devem ser transportados em veículos próprios. Os motoristas que transportam estes resíduos devem ser portadores de documentos oficiais, com indicação do conteúdo e dos riscos potenciais envolvidos.

Em Portugal, as regras sobre as operações de transporte de resíduos em território nacional e os modelos das respectivas guias de acompanhamento encontram-se na Portaria nº 335/97, de 16 de Maio. Esta refere que o produtor, o detentor e o transportador respondem solidariamente pelos danos causados.

O transporte de RU está isento de guia de acompanhamento, com excepção dos resultantes de triagem e destinados a operações de valorização. A Guia de Acompanhamento de Resíduos (modelo A) é aplicável a todos os resíduos, com excepção dos referidos anteriormente e dos RH perigosos (grupos III e grupo IV), estes últimos devem ser acompanhados da Guia modelo B da referida portaria (Portaria nº 335/97, de 16 de Maio). No entanto, quando os resíduos a transportar se encontram abrangidos pelos critérios de classificação de mercadorias perigosas, previstos no Regulamento Nacional do Transporte de Mercadorias Perigosas por Estrada, aprovado pela Portaria nº 1196-C/97, de 24 de Novembro, o produtor, o detentor e o transportador são obrigados ao cumprimento desse regulamento. O movimento transfronteiriço de resíduos rege-se por legislação própria,

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Regulamento Comunitário nº 259/93, do Conselho, de 1 de Fevereiro e Decreto-Lei nº 296/95, de 17 de Novembro.

O produtor de RH é responsável pelo acondicionamento e etiquetagem dos resíduos a transportar no exterior da UPCS. No caso dos resíduos perigosos devem ser cumpridos os regulamentos nacionais e internacionais, alguns referidos anteriormente. De acordo com Pruss et al. (1999), todos os sacos e contentores devem estar identificados, devendo constar o grupo (ou categoria) dos resíduos, a data de recolha, o local de produção (e.g. serviço e nome do hospital) e o destino do resíduos.

Os RH apenas devem ser transportados por operadores licenciados para este tipo de função, devendo estes possuir veículos apropriados e funcionários devidamente treinados. Os funcionários devem estar familiarizados com os riscos que este tipo de transporte envolve (especialmente em relação ao transporte de resíduos infecciosos e de resíduos químicos) e terem conhecimentos de como neutralizar estes riscos.

Os veículos utilizados para o transporte de RH devem cumprir os seguintes requisitos (Pruss et al., 1999):

ƒ possuírem sistemas adequados para prenderem a carga durante o transporte; ƒ apenas devem ser utilizados para o transporte de RH (tal como os contentores); ƒ devem estar sempre fechados (com excepção das cargas e descargas);

ƒ a parte interna permitir a limpeza e desinfecção e os anglos internos serem arredondados;

ƒ num compartimento separado do veículo devem ser transportados sacos vazios, roupa de protecção, equipamento de limpeza, ferramentas, desinfectante e um kit especial para derramamentos de líquidos;

ƒ o nome e morada do operador devem estar escritos no veículo;

ƒ o símbolo internacional de perigo deve estar inscrito no veículo ou nos contentores, tal como um telefone de emergência.

Quando a utilização de veículos próprios não se justifica, devido à pequena quantidade de resíduos, pode ser utilizado um contentor resistente que é colocado no chassis de um veículo. Este contentor muitas vezes é usado como armazenamento na UPCS, sendo substituído por outro aquando do transporte (Pruss et al., 1999).

No transporte também se pode utilizar refrigeração. Esta situação verifica-se quando, por exemplo, as distâncias de transporte são grandes ou as temperaturas são elevadas. Recorre-se, também, à refrigeração quando o tempo de armazenamento dos RH excede o legalmente estipulado. Nestes casos, os resíduos são armazenados em grandes contentores com refrigeração, sendo estes depois transportados e substituídos por outro contentor vazio.

Os RH devem ser transportados seguindo o percurso mais rápido, devendo este estar previamente planeado. Deve ser evitado o manuseamento dos resíduos após o início do transporte e até chegar ao destino final. Caso não possa ser evitado (e.g. avaria, acidente), deve ser programado e realizado seguindo determinadas condições. Estas devem ser

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especificadas no contracto estabelecido entre o produtor e o transportador (Pruss et al., 1999).

Os hospitais devem conhecer e fiscalizar as condições de transporte, os quantitativos de resíduos transportados e o seu destino. Sendo importante a comparação dos valores apresentados pelos operadores e dos quantitativos reais. Os hospitais devem estar informados dos custos individuais das várias etapas do transporte (Muhlich, 2000).