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ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS

Grupo III Produção total

6 6 Protecção não adequada ou falta de utilização de

6. ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS

A informação recolhida na parte prática do trabalho de investigação foi de natureza, tanto qualitativa como quantitativa, possibilitando uma análise mais completa e fundamentada dos assuntos abordados. Por esta razão, optou-se por subdividir a análise dos resultados em três pontos.

Em primeiro lugar analisam-se os resultados das entrevistas e da observação directa, dados com carácter qualitativo. Em seguida são apresentados e comentados os resultados dos inquéritos por questionário, dados quantitativos. Por último, são estabelecidas as relações entre os dados qualitativos e os quantitativos, sendo igualmente efectuada a síntese dos resultados obtidos.

6.1. RESULTADOS DAS ENTREVISTAS E DA OBSERVAÇÃO DIRECTA 6.1.1. Gestão de resíduos hospitalares

A descrição da gestão de RH nos seis hospitais em estudo (população) baseia-se na informação recolhida nas entrevistas, na observação directa e na análise documental, efectuados durante a primeira e a segunda etapa da fase 1.

Na metodologia foi salientado que os critérios de selecção da população em estudo tiveram por base a classificação dos hospitais, em especializados e distritais, e a sua distribuição geográfica, em Norte e Sul (englobando apenas Portugal Continental pelas razões anteriormente referidas).

A descrição da gestão de RH é efectuada tendo em conta os critérios adoptados. Contudo e devido à divergência em termos contextuais entre os hospitais seleccionados, considerou-se importante realizar para cada hospital uma análise individual e mais pormenorizada, informação que é apresentada em Gonçalves (2004).

A. Hospitais especializados versus hospitais distritais

Tanto nos hospitais especializados como nos hospitais distritais a quantificação dos RH não perigosos (grupos I e II) é efectuada por estimativa (Tabela 6.1), sendo da responsabilidade dos respectivos hospitais. Na maior parte das situações é pago um valor à autarquia (entidade que recolhe estes resíduos), calculado em função do consumo de água, o que não é proporcional aos quantitativos de resíduos produzidos. Este facto não incentiva a redução da sua produção, nem a necessária quantificação.

Apenas num hospital distrital (hospital 1), no ano de 2001 e primeiros 5 meses de 2002, foi efectuada a pesagem dos resíduos não perigosos, embora em conjunto com os resíduos perigosos. Este procedimento estava relacionado com o facto destes resíduos serem recolhidos conjuntamente, sendo, por vezes, os resíduos dos grupos I e II também

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incinerados na central de incineração em funcionamento nesse hospital. Com o encerramento desta central, em 1 de Junho de 2002, passaram a ser pesados apenas os resíduos dos grupos III e IV.

Tabela 6.1. Método de quantificação dos RH produzidos nos hospitais analisados, em 2001 e 2002.

método entidade método entidade

E/D N/S de quant. responsável forma de pagamento de quant. responsável forma de pagamento

Hospital 1 D N pesagem SUCH por kg incinerado e pesagem SUCH por kg incinerado

2001 estimativa hospital em função consumo de água no hospital

estimativa hospital em função consumo de água pesagem SUCH por kg recolhido

2002 no hospital preços diferentes p/ grupo

Hospital 2 E N estimativa hospital em função consumo de água pesagem Ambimed por kg recolhido

no hospital preços diferentes p/ grupo

Hospital 3 D S estimativa hospital em função consumo de água pesagem Ambimed por kg recolhido

no hospital preços diferentes p/ grupo

Hospital 4 E S estimativa hospital em função consumo de água pesagem Ambimed por kg recolhido

na Ambimed preços diferentes p/ grupo

Hospital 5 E N estimativa hospital estimativa SUCH por kg recolhido

preços iguais p/ grupo

Hospital 6 D S estimativa hospital em função consumo de água pesagem SUCH por kg recolhido

no hospital

RH grupos I e II RH grupos III e IV

E/D – Hospitais especializados e hospitais distritais. N/S – Hospitais a Norte e a Sul.

Em relação ao método de quantificação dos resíduos perigosos, nos hospitais distritais procede-se à sua pesagem, método efectuado nos próprios hospitais. O mesmo se verifica nos hospitais especializados (no hospital 2 a pesagem processa-se no hospital, enquanto no hospital 4 nas instalações de tratamento), com excepção do hospital 5, em que o cálculo da produção é efectuado por estimativa (Tabela 6.1).

A quantificação dos resíduos dos grupos III e IV é da responsabilidade das entidades que procedem ao seu transporte e tratamento. O preço pago pelos hospitais é calculado por quilo de resíduo tratado. Na maior parte das situações o preço depende do método de tratamento (autoclavagem ou incineração).

A capitação e a percentagem de RH produzidos por grupo, entre 2000 e 2002, são apresentadas na Tabela 6.2. Observa-se uma grande variação entre hospitais, tanto nos valores das capitações como nas percentagens por grupos, não existindo um padrão de diferenciação entre hospitais especializados e distritais. Estas variações deverão estar relacionadas com a forma de quantificação destes resíduos, especialmente em relação à quantificação dos resíduos não perigosos, que é efectuada por estimativa.

A falta de rigor nas quantidades (umas por estimativa outras por pesagem), a utilização de diferentes unidades de medida (litros e quilos) e a divergência encontrada entre os vários documentos consultados (e.g. dados fornecidos pelos hospitais, mapas de registo, relatórios da Direcção-Geral de Saúde), leva a considerar os valores apresentados na Tabela 6.2 como pouco rigorosos, pelo que se optou por não efectuar comentários sobre os valores apresentados.

Esta constatação demonstra a importância de serem estabelecidas orientações específicas para a quantificação dos RH, em particular dos RH não perigosos, uma vez que estes são actualmente avaliados por estimativa. A falta de rigor na determinação dos resíduos dos

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grupos I e II condiciona os valores totais de RH e, também, as percentagens correspondentes à produção de resíduos por grupo.

Tabela 6.2. Capitação e distribuição percentual de RH produzidos nos hospitais analisados (informação de base: entrevistas e análise documental).

Capitação

E/D N/S Ano (kg/cama*dia) Grupos I e II Grupo III Grupo IV

Hospital 1 D N 2000 3,38 42,8 46,8 10,3 2001 3,55 65,0 30,0 5,0 2002 4,24 68,9 29,5 1,6 Hospital 2 E N 2000 6,03 49,3 2001 5,17 59,6 33,7 6,7 2002 n.d n.d. n.d. n.d. Hospital 3 D S 2000 6,65 88,3 10,9 0,8 2001 9,43 90,8 8,5 0,7 2002 9,70 90,9 8,4 0,7 Hospital 4 E S 2000 n.d 89,1 9,8 1,1 2001 8,87 75,7 21,5 2,8 2002 n.d n.d. n.d. n.d. Hospital 5 E N 2000 3,42 54,3 2001 3,20 56,7 27,8 15,5 2002 n.d n.d. n.d. n.d. Hospital 6 D S 2000 2001 4,46 77,5 15,3 7,3 2002 n.d n.d. n.d. n.d. Produção de RH (%) 50,7 45,7

E/D – Hospitais especializados e hospitais distritais. N/S – Hospitais a Norte e a Sul. n.d. Não determinado por falta de dados compatíveis.

A gestão dos RH pode ser subdividida em três fases: no interior dos serviços, no espaço hospitalar (e.g. recolha intra-hospitalar, armazém central) e no exterior do hospital (e.g. armazenamento, tratamento). Com base nesta divisão foi agrupada a informação referente a todo o circuito dos RH, desde a sua produção até ao destino final.

Na Tabela 6.3 apresenta-se um resumo das principais características da gestão dos RH no interior dos serviços. Em termos de deposição de resíduos não existem grandes diferenças entre os hospitais especializados e os distritais.

Em todos os hospitais são utilizados os sacos das cores estipuladas pela legislação em vigor (Despacho nº 242/96), com excepção de um hospital especializado (hospital 2), que em vez de sacos brancos e de sacos vermelhos eram utilizados, em 2001, sacos transparentes sem qualquer inscrição. Contudo, por uma recomendação da Inspecção-Geral do Ambiente, em 2002 foram adquiridos pelo hospital sacos vermelhos (embora a sua utilização não se tenha estendido rapidamente a todos os serviços).

Neste hospital eram adoptadas as cores dos contentores da empresa que procede à recolha e tratamento destes resíduos, a Ambimed, associando a cor verde aos resíduos do grupo III (que pela legislação é o branco) e a cor amarela aos resíduos do grupo IV (que pela legislação é o vermelho). Um outro problema detectado neste hospital prende-se com a

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utilização de caixas de cartão para resíduos perigosos destinados a incineração1 como suporte dos sacos pretos (para resíduos não perigosos), o que pode levar a algumas confusões.

Pela informação recolhida neste hospital especializado (hospital 2), algumas deficiências encontradas estão também relacionadas com problemas económicos (e.g. a não aquisição de contentores específicos para os vários grupos de resíduos). Problemas deste tipo são apontados também em outros hospitais, nomeadamente em relação à impossibilidade de adquirir contentores em inox com tampa e pedal para todos os quartos/enfermarias e salas de tratamento, o que na maior parte das situações tem sido substituído por contentores em plástico, mais económicos mas com uma durabilidade menor (e.g. é o que se verifica no hospital distrital 3).

Tabela 6.3. Gestão dos RH nos serviços dos hospitais analisados, em 2001 e 2002.

E/D N/S Triagem Recolha Armazém

Cores sacos Contentores eficiência quem efectua local Hospital 1 D N G. I e II: pretos opacos grandes, s/ tampa 1 zona de sujos2

G. III: brancos opacos grandes (e.g. verdes)1 Erros AAM ou armazéns

G. IV: vermelhos opacos e biobox específicos

Hospital 2 E N G. I e II: pretos opacos diversos, caixas SUCH Empregados zona de sujos