• Nenhum resultado encontrado

Grupo III Produção total

LISBOA E VALE

4. RISCO E PERCEPÇÃO DE RISCO ASSOCIADOS AOS RESÍDUOS HOSPITALARES

4.1. RISCO PARA A SAÚDE

4.1.2. Redução do risco para a saúde

Na redução dos riscos para a saúde a primeira opção passa por eliminar a causa do perigo (Figura 4.4). Quando tal não é possível, deve-se procurar reduzir essa causa, através da alteração dos produtos (e.g. substituição de produtos químicos perigosos por menos perigosos) ou da forma como uma determinada actividade é realizada. Em último lugar, deve-se optar por minimizar o risco e pela utilização de equipamento de protecção individual (EA, 2002).

Os riscos para a saúde induzidos pelos RH podem ser reduzidos através de medidas específicas. Na Tabela 4.7 apresentam-se alguns exemplos dessas medidas e a sua associação à hierarquia de segurança referida na Figura 4.4.

Embora as medidas mais importantes e efectivas estejam relacionadas com a eliminação do risco (e.g. efectiva separação na fonte), ou com a sua substituição por um menor risco (e.g. aposta no treino e conhecimento dos trabalhadores), na prática nem sempre são exequíveis, especialmente com a rapidez necessária. Desta forma, é necessário optar também por outras medidas, tal como o uso de equipamento de protecção individual e o

Gestão de RH: conhecimentos, opções e percepções dos profissionais de saúde

estabelecimento de um programa de saúde ocupacional efectivo, que inclua imunização, tratamento profilático pós-exposição e vigilância médica.

Figura 4.4. Hierarquia de segurança (EA, 2002).

Tabela 4.7. Medidas de redução do risco em relação à gestão dos RH e a hierarquia de segurança (adaptado de EA, 2002).

Hierarquia de segurança Acção

Eliminar o risco

Deixar de realizar uma actividade específica

e.g. não utilizar cortantes e perfurantes num determinado procedimento; e.g. manusear de forma mecânica os resíduos em vez de

manualmente.

Separar correctamente os resíduos

e.g. grande parte dos riscos por perfuração de agulhas, no

manuseamento e recolha de resíduos, estão relacionados com a deposição destes resíduos em recipientes errados.

Substituir por um risco menor Treino e conhecimento

e.g. os trabalhadores dos resíduos que têm conhecimento dos riscos

associados ao seu manuseamento e deposição, são mais receptivos em adoptar as necessárias medidas de precaução de forma a minimizarem a exposição.

Realizar auditorias

e.g. a sua realização permite identificar e rectificar situações de perigo,

prevenindo possíveis acidentes e também permite identificar procedimentos e práticas de operação deficientes.

Minimizar o risco Relato de acidentes e de incidentes, investigação e medidas correctivas

Sistemas robustos facilitam as acções correctivas após um incidente, de forma a assegurar que as potenciais consequências sejam minimizadas (e.g. após um ferimento por picada de agulha devem ser consideradas as medidas de profilaxia).

Utilizar EPI* Equipamento de protecção individual adequado e efectivo Como luvas, protectores das pernas e outros EPI, que criam uma barreira física em relação aos potenciais riscos dos RH (e.g. picada de agulhas, exposição das mucosas e da pele, exposição bacteriana).

Substituir por um risco menor Minimizar o risco Utilizar equipamento de protecção individual Medi das de mi nimizaç ão d o ri

sco (da mais

neg ativa p ara a mais pos itiva ) Eliminar o risco

Gestão de RH: conhecimentos, opções e percepções dos profissionais de saúde

O treino em relação à saúde e segurança deve assegurar que os trabalhadores conheçam e compreendam o risco potencial associado aos RH, o valor da imunização relativamente a determinadas doenças, como a hepatite B e o tétano, e a importância da utilização do equipamento de protecção individual (Pruss et al., 1999).

Contudo, a forma mais efectiva de gerir os RH é, em primeiro lugar, não os produzir. Assim, como tem sido referido, é fundamental que os programas de gestão de resíduos incluam uma forte componente de redução, o que vai induzir a redução dos impactes na saúde, uma vez que menos resíduos perigosos são armazenados, transportados ou enviados para processos de tratamento, minimizando os riscos, por exemplo, de acidente e exposição. Os riscos para a saúde associados aos RH variam, assim, com as etapas de gestão e com o tipo de procedimento. Na Tabela 4.8 apresentam-se algumas desses etapas, as medidas que podem ser adoptadas para a minimização dos riscos e a redução efectiva desses riscos.

Cada etapa está também relacionada com diferentes grupos de risco. Os profissionais de saúde estão sobretudo em risco na identificação e separação dos resíduos. A sua recolha, transporte e armazenamento põe especialmente em risco os trabalhadores da limpeza e manutenção e os trabalhadores dos resíduos. Os operadores das instalações de tratamento podem estar em risco durante o tratamento e deposição dos resíduos.

Os doentes, são também considerados um grupo de risco, uma vez que existe a possibilidade de estarem expostos a problemas induzidos pela deficiente gestão dos RH (e.g. infecções nosocomiais), tal como se pode verificar com os visitantes das UPCS. Os riscos referidos podem ser prevenidos através de duas medidas básicas: pelo afastamento da fonte de infecção e pela interrupção de qualquer via de transmissão.

Os responsáveis pela gestão dos RH devem assegurar que todos os riscos estão identificados e que foram tomadas as medidas de protecção adequadas. Segundo Hirst et al (1999), todos os trabalhadores que produzem ou manipulam os resíduos devem estar cientes que são pessoalmente responsáveis pelo cumprimento de todos os procedimentos estipulados (e.g. deposição dos resíduos nos recipientes correctos), podendo o incumprimento destes procedimentos causar problemas em outros trabalhadores.

Como foi referido, o risco associado aos RH depende do tipo de trabalho realizado e apenas com base nesse factor se deve seleccionar o equipamento de protecção mais adequado. Este pode englobar: batas, aventais, botas de borracha ou botas com biqueira de aço, luvas (adaptadas ao tipo de trabalho), máscaras faciais, entre outros equipamentos (Pruss et al., 1999).

Em Portugal, estas medidas devem, também, estar articuladas com a Comissão de Controlo da Infecção (CCI) cujas atribuições foram definidas no Despacho da Direcção-Geral da Saúde, publicado no Diário da República nº 246, de 23 de Outubro de 1996.

Gestão de RH: conhecimentos, opções e percepções dos profissionais de saúde

Tabela 4.8. Procedimentos para a minimização e redução efectiva dos riscos nas etapas de gestão dos RH (adaptado de Reinhardt e Gordon, 1991; Muhlich, 2000a).

Procedimentos para a minimização dos riscos

Efectiva redução dos riscos

Classificação dos resíduos

ƒ Classificação dos resíduos para identificação dos que necessitam de uma gestão especial (e.g. resíduos infecciosos);

ƒ Definição clara das classes de resíduos (evitar definições subjectivas).

ƒ Melhorar a separação dos resíduos e evitar dúvidas e consequentemente erros.

Separação dos resíduos

ƒ Separar os resíduos que necessitam de um manuseamento especial (e.g. infecciosos, radioactivos);

ƒ Não misturar resíduos com diferentes classificações (e.g. não colocar resíduos não urbanos nos equiparados a urbanos);

ƒ Utilizar contentores diferenciados e apropriados para os diferentes tipos de resíduos (e.g. contentores à prova de perfuração para os cortantes e perfurantes);

ƒ Colocar os resíduos directamente nos recipientes respectivos (não realizar a separação posterior).

ƒ Reduzir os erros devido à deficiente triagem (e.g. agulhas em sacos);

ƒ Minimizar o manuseamento dos resíduos e as possibilidades de exposição;

ƒ Efectuar uma contentorização apropriada de forma a que os resíduos sejam facilmente reconhecíveis (e.g. resíduos perigosos em contentores próprios).

Recolha e transporte dos resíduos no interior da UPCS

ƒ Precaução no levantamento e movimentação dos contentores de resíduos. Utilizar as técnicas correctas para elevar objectos pesados;

ƒ Utilizar carros apropriados para recolher e transportar os diferentes tipos de recipientes de resíduos;

ƒ Utilizar carros que sejam fáceis de carregar e descarregar, transportar, travar e limpar; ƒ Fechar e selar (caso seja apropriado) todos os

recipientes de resíduos antes de os transportar; ƒ Utilizar equipamento de protecção individual

apropriado (como luvas, máscara, óculos, avental) no manuseamento de resíduos perigosos.

ƒ Reduzir a probabilidade de lesões (e.g. nas costas);

ƒ Reduzir a possibilidade dos contentores de resíduos caírem do carro e, assim, reduzir a incidência de exposições e lesões;

ƒ Reduzir a incidência de acidentes e derramamento de líquidos;

ƒ Proteger contra a exposição.

Armazenamento dos resíduos

ƒ Utilizar áreas de armazenamento apropriadas e específicas para os resíduos a armazenar; ƒ Manter registos actualizados que identifiquem

cada contentor, o seu conteúdo, data em foi armazenado e, no caso dos resíduos radioactivos, o tempo requerido para o decréscimo da radioactividade;

ƒ Limitar o acesso ao pessoal autorizado; ƒ Manter as áreas limpas e sem parasitas; ƒ Colocar sinalização apropriada.

ƒ Minimizar acidentes, derramamentos de líquidos e exposições;

ƒ Minimizar a possibilidade da utilização inadvertida dos resíduos e a contaminação de materiais;

ƒ Assegurar o correcto movimento dos resíduos para o exterior do armazenamento, de forma a reduzir a exposição a resíduos ou contentores deteriorados. Reduzir a possibilidade de exposição à radioactividade.

ƒ Minimizar a exposição de pessoas não autorizadas;

ƒ Prevenir a transmissão de agentes infecciosos através de vectores;

ƒ Possuir identificação fácil e rápida para facilitar o trabalho de uma equipa de emergência.

Tratamento e deposição dos resíduos

ƒ As operações de tratamento e deposição de resíduos apenas devem ser realizadas por pessoal devidamente treinado;

ƒ Utilizar o equipamento de protecção individual apropriado.

ƒ Minimizar os riscos de exposição das pessoas que manuseiam os resíduos ou o equipamento.

Gestão de RH: conhecimentos, opções e percepções dos profissionais de saúde

Além disso, é fundamental que os trabalhadores relatem todos os incidentes e acidentes relacionados com os resíduos, para que sejam tomadas medidas de minimização dos riscos e para uma melhor compreensão do problema. Segundo Muhlich (2000a), muitas vezes os acidentes não são relatados, especialmente os mais pequenos, por desconhecimento por parte dos trabalhadores dos procedimentos a seguir, devido à complexidade e demora do processo, por dificuldades em termos de linguagem (e.g. trabalhadores emigrantes) e por medo de perderem o emprego.

Uma forma de resolver este problema passa pela simplificação do registo dos acidentes e pela formação dos trabalhadores. Também, no interesse da saúde e segurança do trabalhador, o relatório de exposição ou de acidente não deve ser punitivo, de forma a encorajar a rapidez e a exactidão na descrição do mesmo (Reinhardt e Gordon, 1991). A redução do risco derivado do contacto directo e da exposição, nomeadamente aos agentes infecciosos, deve passar igualmente pelo emprego apropriado de práticas de higiene.

A higiene pessoal básica é importante na redução do risco devido ao manuseamento dos RH. Isto é particularmente relevante para os trabalhadores da gestão de resíduos. É recomendável um banho diário e a lavagem das mãos antes de comer, durante o dia de trabalho e antes do regresso a casa. Também é importante a utilização de técnicas apropriadas de limpeza e protecção das feridas dos trabalhadores e o fornecimento diário de luvas limpas e batas (Turnberg, 1996).

No entanto, não apenas para os trabalhadores relacionados com a gestão dos resíduos, mas para todos os que têm contacto com os resíduos (e.g. profissionais de saúde), sabe-se que as mãos são o veículo mais comum de transmissão de infecções, nomeadamente das infecções nosocomiais. A higiene das mãos, que inclui lavagem e desinfecção, é uma medida fundamental de prevenção primária (Pruss et al., 1999).

Além disso, a existência de um programa de resposta à exposição ou ao acidente tem uma importância fulcral. Todos os trabalhadores que manuseiam RH devem estar treinados para a possibilidade de exposições ou acidente com os resíduos (Reinhardt e Gordon, 1991). Segundo Pruss et al.(1999), o programa de resposta à exposição ou ao ferimento deve incluir os seguintes passos:

ƒ medidas imediatas de primeiros socorros, como limpeza da ferida ou da pele e irrigação dos olhos com água limpa;

ƒ relato imediato do incidente à pessoa responsável;

ƒ retenção, se possível, do item envolvido no acidente, detalhes da sua origem para identificação de possível infecção;

ƒ atenção médica adicional no caso de acidente, com a maior rapidez possível; ƒ vigilância médica;

ƒ testes ao sangue ou outros testes, se indicado; ƒ registo do incidente;

ƒ investigação do incidente, identificação e implementação de acções de remediação, de forma a prevenir incidentes similares no futuro.

Gestão de RH: conhecimentos, opções e percepções dos profissionais de saúde

No caso de um ferimento por picada de uma agulha, deve-se retirar um pouco de sangue e a ferida deve ser lavada abundantemente com água corrente. Depois, devem ser seguidos todos os passos de resposta a um acidente, referidos anteriormente (Pruss et al., 1999).