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Alternativas à polêmica: a supressão do “direito sagrado” à origem

CIVILIZAÇÃO SEM RAZÃO, RAZÃO SEM CIVILIZAÇÃO: A CRÍTICA À CIVILIZAÇÃO MODERNA

9. Alternativas à polêmica: a supressão do “direito sagrado” à origem

Aprendemos em “As Palavras e as Coisas”139 uma lição primordial que, de forma

indireta e pertubadoramente presente, orienta essa tentativa de construir uma conceituação sobre o processo civilizatório ocidental: apenas podemos ter acesso ao conhecimento do homem por sua vida, pelo seu trabalho e por sua linguagem, isto é, pelo que efetivamente realiza em suas ações, pelo que produz e por tudo que fala. Esse limite e, simultaneamente, essa condição do pensamento epistemológico sobre o homem, rompeu com as teorias da história que pretendiam encontrar “a origem”, “um primeiro começo”, “um sujeito constitutivo” que desse sentido linear e evolucionista a história dos seres humanos. A genealogia da história, ao contrário, privilegia a pluralidade de sentidos que atravessa a ação humana, com suas descontinuidades, seus recortes e deslocamentos.

Foi com base nessa premissa metodológica e histórica que Foucault refletiu sobre a problemática do poder. O que significa poder e qual a importância do poder no âmbito do processo civilizador ocidental? Foucault não escreveu uma teoria sobre o poder, mas uma analítica do poder, ou seja, sua intenção era captar o funcionamento específico, localizado e contextual das relações de poder; e não a capitulação

açambarcadora e abstrata de questões140 como: de onde vem o poder, qual a origem de sua dominação, quem ou o que o detém, como e por quem seria compartilhado, etc. Por conseguinte, deixa para trás toda uma tradição, a partir de um arco histórico e teórico que vai de Hobbes a Arendt, que pensou o poder a partir do parâmetro analítico do direito, com toda sua dimensão centralizada e todo seu aparato formal. Foucault141 esclarece essa crítica tomando como exemplo o Leviatã: esse “homem fabricado” é mais do que a hipótese teórica do contrato social no qual certo número de indivíduos, buscando a segurança contra o medo da guerra permanente, reúne-se em torno de leis constitutivas de um Estado. Esse estado de coisas não conferiria a garantia da segurança que justificasse a decisão pelo contrato, porém a suposição de que algo mais fundamental caracterizaria esse Estado-Leviatã, isto é, a soberania. Assim que perfeitamente instalada na sociedade poderia constituir um mundo para o qual o poder e seus efeitos desapareceriam. Assim, Leviatã retraça e resume os principais elementos de uma teorização do poder que coloca todo seu foco no Estado, como se o Estado o detivesse exclusivamente e se baseasse nas leis para manter sua posse. A modernidade política descrita em seus discursos seria, essencialmente, a pretensão de localizar a origem e o fundamento do poder: estes, de forma geral, remontam ao domínio monárquico, ao domínio do rei. Por isso, já em “Vigiar e Punir” (1975/1999) Foucault nos convida para “cortar fora a cabeça do rei”, na medida em opera um deslocamento profundo do lugar tradicional do poder no Estado para as mais diversas redes de relações sociais que atravessam as práticas humanas e sua história:

Ora, o estudo desta microfísica supõe que o poder nela exercido não seja concebido como uma propriedade, mas como uma estratégia, que seus efeitos de dominação não sejam atribuídos a uma “apropriação”, mas a disposições, a manobras, a táticas, a técnicas, a funcionamentos; que se desvende nele antes uma rede de relações sempre tensas, sempre em atividade, que um privilégio que se pudesse deter; que lhe seja dado como modelo antes a batalha perpétua que o contrato que faz uma cessão ou conquista que se apodera de um domínio. Temos, em suma, que admitir que esse poder se exerce mais que se possui, que não é o “privilégio” adquirido ou conservado da classe dominante, mas o efeito de conjunto de suas posições estratégicas – efeito

140Foucault, 2005:33. 141Foucault, 2005:34.

manifestado e às vezes reconduzido pela posição dos que são dominados (Foucault, 1999:26).

Nessa perspectiva, também a teoria marxista do poder segundo a qual a classe dominante teria dele se apropriado para mais eficazmente manter seu domínio sobre a classe dominada, esbarraria nos mesmos limites das teorias da soberania estatal (Hobbes) e da soberania popular-democrática (Rousseau e tantos outros). Existe ainda uma terceira teorização do poder que o compreende como subsumida a ideia de força, isto é, o poder seria o enfrentamento belicoso entre as forças em jogo: como afirma Clausewitz, “a política é a guerra continuada por outros meios”. Sendo assim, seu meio de atuação, por excelência, é a repressão. Em todas essas teorias o poder aparece, primeiro, em sua acepção exclusivamente repressiva, segundo, em conseqüência desse caráter repressor, seus produtos e seus modos de articulação são negativos. O corpo social (Estado, igreja, família) e seus procedimentos cotidianos caracterizariam, assim, a demanda do poder pela lei da proibição, da censura e da punição. Entretanto, Foucault142, principalmente aquele que escreve a partir da década de 1970143, repete continuadamente em seus textos como a “história dos últimos séculos da sociedade ocidental não mostrava a atuação de um poder essencialmente repressor”. Mesmo porque considerar essa hipótese como verdadeira incorreria em dificuldades para explicar o próprio andamento do processo civilizador ocidental: como se explicaria, de um lado, os incontáveis processos de resistência às redes de dominação, de outro, como entender o sucesso de fenômenos aparentemente pacíficos de repressão que se espraiam ao longo das sociedades?

Contra o pressuposto negativo do poder, Foucault nos presenteia com uma posição muito mais consistente para explicar a aceitação da repressão civilizatória, ou seja, a defesa do caráter produtivo do pode144r. Essa mudança de perspectiva analítica é

1421999; 2006; 2005.

143“Vigiar e Punir” (1975/1999) é um dos exemplos desses escritos nos quais Foucault redefiniu sua concepção de poder.

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“Tenho, agora, uma visão muito mais clara de tudo isso; acho que é preciso distinguir as relações de poder como jogos estratégicos entre liberdades – jogos estratégicos que fazem com que uns tentem determinar a conduta dos outros, ao que os outros tentam responder não deixando sua conduta ser determinada ou determinando em troca a conduta dos outros – e os estados de dominação, que são o que geralmente se chama de poder. E, entre os dois, entre os jogos de poder e os estados de dominação, temos as tecnologias governamentais, dando a esse termo um sentido muito amplo – trata-se tanto da maneira com que se governa sua mulher e seus filhos, quanto da maneira que se dirige uma instituição” (Foucault, 2010:285 – Vol.V).

resultante - uma vez que Foucault dedicou-se durante sua vida intelectual anterior a década de setenta ao poder punitivo -, de seus estudos sobre os sistemas ocidentais de vigilância dos séculos XVIII e XIX. Nesse período desenvolveram-se, simultaneamente ao capitalismo, técnicas de disciplinamento que, ao invés de meramente estabelecer a punição, pretendiam fazer com que o indivíduo atualizasse plenamente suas capacidades no trabalho, tornando-o mais eficaz. Esse mesmo processo disciplinador atravessou a prática dos exércitos ocidentais, cujo caráter irregular e arbitrário, cedeu lugar a “convocação para o exercício, para marchar em fila, para atirar com fuzis, para manipular o fuzil desta ou daquela maneira, de forma que o exército tenha o melhor rendimento possível” (Foucault, 2006:75). Também alcançou plenamente os espaços de funcionamento das escolas nas quais os indivíduos são domesticados mediante a disposição disciplinada e qualitativamente útil do tempo. Enfim, a marca do poder disciplinador é exatamente esse caráter anônimo que não encontra seu locus de referência em nenhuma parte, de forma que essa porosidade torna-o refratário a apropriação de qualquer natureza, torna-o invisível aos olhos do mais atento observador, pois sua estada na disciplina é o que o mantém vigilante das técnicas de sujeição. Essas técnicas de sujeição são as mais variadas possíveis, mas também as mais específicas tendo em vista seus critérios fundamentais de produção e utilidade:

Quanto aos instrumentos utilizados, não são jogos de representação que são reforçados e que se faz circular; mas formas de coerção, esquemas de limitação aplicados e repetidos. Exercícios, e não sinais: horários, distribuição de tempo, movimentos obrigatórios, atividades regulares, meditação solitária, trabalho em comum, silencia, aplicação, respeito, bons hábitos. E finalmente, o que se procura reconstruir nessa técnica de correção não é tanto o sujeito de direito, que se encontra preso nos interesses fundamentais do pacto social: é o sujeito obediente, o indivíduo sujeito a hábitos, regras, ordens, uma autoridade que se exerce continuadamente sobre ele e em torno dele, e que ele deve deixar funcionar automaticamente nele (Foucault, 1999:106).

Parece que esse recorte conceitual do poder disciplinador não demonstra, suficientemente, o afastamento foucaultiano das teorias repressivas, uma vez que mantém o aspecto negativo do poder atualizando-se na sujeição, domesticação e adestramento dos corpos. Ora, essa espécie de poder substituiu o poder soberano que

configurava o sentido civilizador das sociedades ocidentais anteriores ao período moderno (a partir do século XVIII) porque ele se atualizava e se atualiza como produtor de técnicas, estratégias, mecanismos cada vez mais elaborados e criativos de disciplinamento. Mais que isso. Essa espécie de poder “induz ao prazer, forma saber e produz discursos”145. Nesse sentido, existiria um processo, simultaneamente atuante, de

produção de saber tecnológico, de discursos que confiram sentido a essas tecnologias do poder, de internalização dessas tecnologias e das práticas efetivas dessas tecnologias. Na maior parte do tempo, a coerção se apresenta de maneira quase indolor, dado seu caráter multifacetário e expansivo.

Esse deslocamento foucaultiano do poder: de repressor a produtor, é melhor compreendido a partir de seus escritos sobre sexualidade. Duas perguntas correlatas os orientam: existe evidência histórica na repressão da sexualidade e nas relações de poder? Foucault responde taxativamente que não. Com essa reposta ele146 se põe na contramão de Freud a quem ele reconhece ter sido um dos primeiros a compreender o poder como aquele que perpassa as mais variadas relações do psiquismo, sem, contudo, encontrar um ponto fixo de atuação, uma legislação jurídica que o determine, nem mesmo um soberano pelo qual temer: se existisse a discussão da soberania na psicanálise de Freud, este certamente seria o próprio inconsciente. Entretanto, Freud, assim como Marcuse, também se associaram às teorias tradicionais do poder repressor na medida em que compreenderam o processo civilizador ocidental como aquele que normalmente diz não, inclusive deve dizer não, reprimindo as forças desejantes do inconsciente e criando os efeitos perversos para as sociedades modernas ocidentais: o mal-estar na civilização.

Existe, contudo, um acerto de contas histórico nesse limite freudiano que a genealogia foucaultiana não deixou em aberto. Segundo ele, essa tese freudiana de um poder exclusivamente repressor, responderia a um contexto específico do processo civilizacional do Ocidente no qual se vivia sob a insígnia da disciplina dominante formatada nos termos da cultura burguesa. Esta se caracterizou por uma severidade ainda mais profunda no disciplinamento dos costumes e das condutas sexuais do que se pôde assistir na era da cultura cristã. Essa hipótese, que o filósofo do poder trata de argumentar genealogicamente, é colocada sob o registro enfático de que grande parte

145Foucault, 1999. 146Foucault, 2006:74.

dos historiadores da sexualidade atribuía ao cristianismo as práticas mais severas de repressão sexual147. Nesse caso, a hipótese por si só já causa certa estranheza e curiosidade. Mas em que exatamente se fundamenta?

Os estudos tradicionais da sexualidade afirmam, em geral, a contraposição entre a interdição cristã da sexualidade e a liberação sexual defendida pela moral pagã grega e romana. Eis os interditos: monogamia, sexo para a procriação e a desqualificação do prazer sexual. Mas, a partir dos estudos historiográficos de Paul Veyne, Foucault descobriu que essas interdições já existiam nas sociedades romanas e foram fortemente incorporadas pelos habitantes do Império romano. Dessa forma, o papel do cristianismo no processo civilizatório foi mais no sentido de produzir novas técnicas de internalização desses interditos morais. Por conseguinte, escreve Foucault que “é mais do lado dos mecanismos de poder do que do lado das idéias morais e das proibições éticas que é preciso fazer a história da sexualidade no mundo ocidental desde o cristianismo” (2006:65). Uma das mais importantes técnicas criadas pelo cristianismo é aquela da confissão em que o indivíduo busca continuadamente a verdade sobre si mesmo e, de forma interligada a esta, aquela do pastorado a qual significa um conhecimento externo sobre o indivíduo. Nessa medida, Foucault articula um importante elemento conceitual que dota de sentido a idéia de poder como positivamente produtivo: em vez do poder que produz formas de sujeição dos sujeitos, agora o poder que produz formas de subjetivação. Vale a pena conferir uma passagem chave para a formulação desse conceito:

Foi, portanto, uma moral moderada entre o ascetismo e a sociedade civil que o cristianismo estabeleceu e fez funcionar através de todo esse aparelho do pastorado, mas cujas peças essenciais baseavam-se em um conhecimento, simultaneamente exterior e interior, um conhecimento meticuloso e detalhado dos indivíduos por eles mesmos e pelos outros. Em outras palavras, é pela constituição de uma subjetividade, de uma consciência de si perpetuamente alertada sobre suas próprias fraquezas, suas próprias tentações, sua própria carne, é pela constituição dessa subjetividade eu o cristianismo conseguiu fazer funcionar essa moral, no fundo mediana, comum, relativamente pouco interessante, entre o ascetismo e a sociedade civil (2006:71).

147“Creio que esse esquema histórico tradicionalmente aceito não é exato, que não pode ser mantido por inúmeras razões” (Foucault, 2006:62).

Com isso, Foucault quer nos dizer que o poder apenas pôde, ao longo de tantos séculos, disciplinar os habitantes das sociedades ocidentais porque esteve investido de uma intensa produção de saber, além do saber dos corpos sociais, também e precipuamente, o saber dos indivíduos sobre eles próprios e em relação a eles próprios148. Esse saber fundamentou de forma ainda mais intensa o processo civilizador da Grécia clássica, com suas prerrogativas éticas de cuidado de si e conhece-te a ti mesmo, bem como os autores gregos e latinos dos dois primeiros séculos da era cristã, cuja estilística de vida conformou a prática dos indivíduos. Embora, estejamos o tempo todo falando de indivíduo e de ethos de vida, no sentido mesmo de uma estética individual, Foucault149 não anunciou uma ética narcísica como substituição ao processo de desaparecimento dos valores universais nos tempos modernos. Pois, a ética anunciada retém a “forma”, possivelmente no sentido de condição de possibilidade, de praticar o cuidado de si mediante, em vista do, tendo como efeito, enfim, o cuidado com o outro.

Nesse sentido, desenvolve-se uma ética da imanência, que dispensa os valores absolutos e as regras da sociedade, uma vez que se inscreve no âmbito mesmo da finitude humana, na dimensão absurdamente humana e a partir de premissas práticas cuja estrutura humana torna perfeitamente factível: que vai desde o controle de uma alimentação saudável até o auto-governo de si, ou seja, o exercício da liberdade. Ora, o conjunto das práticas, detalhadamente descrito por Foucault em seus cursos do Collège de France, não exigiria, a rigor, um talento intelectual e nem mesmo uma sensibilidade estética apurada que limitaria sua efetividade apenas a uma elite aristocrática, a uma classe social ou a um grupo intelectual específico. Por isso, concordamos com Foucault quando ele diz que a forma civilizatória desenvolvida pelos autores da Grécia clássica era perfeitamente elaborada, mas não poderia ser conduzida a uma normatização generalizada já que limitava seu arco de ação a uma elite social. Em algum lugar de seus cursos ele diz que “Toda a antiguidade me parece ter sido um „profundo erro‟”, diferentemente da forma desenvolvida pelos autores romanos, basicamente os estóicos, que estendiam o auto-disciplinamento ético a todo aquele indivíduo que desejasse

148Essa discussão será retomada no terceiro capítulo no qual dedicaremos uma análise mais aprofundada da concepção civilizatória de Foucault cujo deslocamento de sua analítica de poder como problematização da subjetividade, hermenêutica da subjetividade ou simplesmente formas de subjetivação constituirá o centro de interesse analítico.

149Frédéric Gros, um dos organizadores do curso: “Hermenêutica do sujeito” (2010a), destaca as críticas ao deslocamento foucaultiano em torno da problematização do sujeito e apresenta os equívocos comuns na compreensão desse tema.

orientar sua conduta por uma forma reta. Sendo assim, essa forma civilizatória era definida nos termos propícios de uma universalização, de maneira a ser internalizada, por exemplo, pelo cristianismo que se seguiu, temporal e espacialmente, a forma estóico-romana de existência.

Não existe em Foucault, entretanto, uma valorização pura e simples desse recorte histórico da civilização ocidental; não se trata de uma tentativa, perfeitamente criticável, de um saudosismo de um tempo em que se vivia segundo valores nobres, melhores, aristocráticos contra o tempo atual que vive sob a égide do pluralismo valorativo e da conseqüente descanonização de valores. Isto é, as circunstâncias modernas não deixaram de ser aquelas descritas em seus textos anteriores à década de setenta: adestramento dos corpos, sujeição aos efeitos de poder, enclausuramento, etc.

Não assistimos a um novo Foucault refazendo suas análises anteriores e produzindo uma nova análise do poder, pois vamos encontrar essa preocupação com o auto-governo de si, com a liberdade do sujeito moderno, nas suas primeiras elaborações filosóficas; sua famosa frase: “Onde há poder, há resistência” traduz exatamente essa preocupação permanente. A idéia, cara a Foucault, da micro-política da resistência assume sua significação na possibilidade sempre aberta pelo poder que não se fixa em um domínio determinado, que não é possuído por nenhum soberano, que não se encontra restrito a lei (“poder sem lei e sem rei) que a liberdade pode atualizar-se e sempre de novo reatualizar-se. Sob condições limitadas, é verdade, sem a possibilidade de expandir-se como norma universalizante. Talvez seja dessa possibilidade que se trata quando retoma os autores antigos, ao menos da tentativa de pensar a partir de premissas atuais, sem Deus e sem valores absolutos, uma ética da imanência, da disciplina e da distância que possa ser encarada como uma forma civilizatória universal. Com isso, entendemos que, na perspectiva foucaultiana, não é que a disciplina, a repressão e o poder que lhes dá sentido sejam em si mesmas produtoras de incivilização e descivilização, de alienação e sujeição, mas é a forma como se instalam na maneira moderna ocidental de civilizar.

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