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A representação da homossexualidade nas telenovelas na primeira década do século XXI: Entre a subversão e a

3.1 América: Junior e Zeca

A novela “América”, escrita por Gloria Perez e dirigida por Jayme Monjardim, foi exibida na faixa das 21h entre o mês de março e novembro de 2005. A trama central gira em torno da historia de Sol (Débora Seco), jovem que busca realizar o sonho de ganhar a vida nos Estados Unidos e para isso tenta atravessar ilegalmente a fronteira do México com os Estados unidos, pois a jovem é movida pelo sonho de que terá uma vida melhor em solo norte – americano (Memória Globo). Antes de tentar a travessia ela conhece e se apaixona por Tião (Murilo Benício), jovem honesto e ganha a vida montando em bois na região de Boiadeiros. Sol entra em contato com Tião quando a vai a cidade rural pedir dinheiro emprestado à sua madrinha, a viúva Neuta (Eliane Giardini). Sol e Tião se relacionam e chegam a subir o altar para se casarem, porém, no dia do casamento Sol abandona Tião no altar para realizar o seu sonho e chegar aos Estados Unidos. Após ser abandonado por Sol, Tião passa a ter uma relação com Gil Madureira (Lúcia Veríssimo) que ganha a vida narrando rodeios. Sol consegue realizar o seu sonho. Porém, os personagens, mesmo que distantes um do outro, irão se reencontrar no decorrer da trama.

A história de “América” possui três núcleos: o rural, que se passa em Boiadeiro e que tem em Neuta a sua personagem central; o núcleo urbano que se passa na Zona Norte do Rio de Janeiro e o núcleo cosmopolita, que tem sede em Miami (EUA) e seus personagens com histórias relacionadas com o núcleo sediado no Brasil. A questão da homossexualidade será abordada a partir do personagem Júnior (Bruno Gagliasso), filho único da viúva e fazendeira Neuta, que não desconfia da orientação sexual de seu filho. Ao retornar a cidade de Boiadeiros, tudo o que Junior menos quer é ter uma vida cotidiana ligada às questões da fazenda de sua

mãe, secretamente ele faz desenhos de modelagem para roupas e não tem coragem de dizer a sua mãe que deseja ser estilista. Para ludibriar a sua mãe quanto a sua sexualidade Junior vai assumir a paternidade do filho de Ellis (Silvia Buarque), que está grávida de um peão que a abandonou, casados eles se tornam grandes amigos. Mas, Ellis, após ter o filho, abandoa Junior com a criança, que passa a ser criada pela fazendeira Neuta, mãe de Junior. O garoto engata outro namoro com outra moça da região para manter as aparências, porém, o que ninguém sabe é que Junior está apaixonado pelo peão Zeca (Erom Cordeiro). Desconfiada da relação entre Zeca e Junior, Neuta demite o peão e tal atitude da mãe de Junior faz com que este assuma a sua sexualidade para a sua mãe. Ao término da trama, Junior e Zeca terminam juntos.

3.1.2 Paraíso Tropical: Rodrigo e Tiago

A novela “Paraíso Tropical” (2007), escrita por Gilberto Braga e Ricardo Linhares, exibida na faixa das 21h, teve com trama central a história das gêmeas Paula e Taís (Alessandra Negrini), idênticas na aparência física, mas distintas no aspecto psicológico. O ponto de partida da novela é a história das irmãs, que ainda não sabem da existência de uma e de outra. Elas vão se encontrar logo no início da trama, quando Paula, que vive em Marapuã, cidade fictícia localizada na Bahia, se muda para o Rio de Janeiro, cenário aonde a trama inteira vai se desenrolar e local onde acaba por encontrar a sua irmã. Em um primeiro momento as irmãs se emocionam e se tornam amigas, mas em seguida elas se tornam rivais, pois, Paula descobre que a Irmã é golpista e uma pessoa ardilosa e que para se dar bem na vida é capaz até mesmo de prejudicá-la. Toda a trama irá girar em torno do embate entre as irmãs, numa espécie de bem contra o mal.

A questão da homossexualidade é abordada no núcleo cômico e suburbano da história, que se desenvolve com os moradores do Edifício Copamar, onde vive o casal Rodrigo (Carlos Casagrande) e Tiago (Sérgio Abreu). Rodrigo trabalha como assistente de Antenor (Tony Ramos), um dos personagens centrais da novela;

Tiago, que é formado em hotelaria, trabalha como recepcionista no hotel de Antenor (Memória Globo). Durante toda a novela o casal não enfrentará qualquer tipo de crise e a questão da sexualidade em si não é abordada, visto que eles vivem harmoniosamente com todos os personagens que mantém relação durante a trama. Basicamente a função do casal é sempre ajudar os amigos que estão em apuros ou servirem como confidentes e conselheiros amorosos de amigos. Iniciam e terminam a trama juntos.

3.1.3 Duas Caras: Bernardinho, Dália e Heraldo

Durante o mês de outubro de 2007 a 31 de maio de 2008 foi exibida, às 21h, a novela “Duas Caras”, de autoria de Aguinaldo Silva e direção de Wolff Maia. O núcleo principal da história se passa com os personagens Marconi Ferraço (Dalton Vigh), que no inicio da trama conhece Paula (Marjorie Estiano), jovem rica que se apaixona por Marconi, porém, este aplica um golpe e deixa a jovem na miséria. Passado alguns anos, Paula reencontra Marconi, porém, este alterou a sua aparência e identidade. Tornou-se um empreendedor bem sucedido do ramo da construção civil. A protagonista da história, Paula, passará o resto da trama pensando de que maneira se vingar de Marconi e colocá-lo na cadeia. Paralelamente ao núcleo central da história, há o segundo núcleo que passa na favela fictícia intitulada “Portelinha”. Por lá quem manda é Juvenal Antena (Antônio Fagundes), espécie de conselheiro- mafioso- amigo da comunidade. Antena é envolvido com vários tipos de negócios, porém, nenhum deles muito claro, mas, como se fosse uma espécie de comandante que deseja o bem de sua comunidade, ele resolve todos os problemas que surgem em sua na mesma.

O personagem Bernardinho (Thiago Mendonça), morador da favela “Portelinha”, será o responsável por carregar a questão da homossexualidade. Vive numa pequena casa com o seu pai Bernardo (Nuno Leal Maia) e com dois irmãos: João Batista (Julio Rocha) e Benoliel (Armando Babaioff); além de sua madrasta Amara (Mara Manzan), que explora Bernardinho com serviços domésticos e fica, todos os dias, de pernas pro ar. A grande virada do personagem Bernardinho se dá quando Amara arma para cima dele e o coloca para fora do armário. Amara convida um falso

irmão para jantar em sua casa, trata-se de Carlão (Lugui Palhares), homem robusto e aparentemente heterossexual. Amara convence o seu suposto irmão a disfarçar que é homossexual e dormir com Bernardinho. O jantar termina e Carlão investe em Bernardinho, que atraído pelo rapaz o convida para dormir com ele. Na manhã seguinte, Amara acorda o marido, Bernardo, dizendo que escutou “sons estranhos” durante a noite. O pai do garoto vai até o quarto dele acompanhado dos filhos. Durante o percurso Bernardo demonstra já estar passando mal com a suposição de que seu filho esteja na cama com outro homem. Ao flagrar Bernardinho com Carlão na cama, uma grande confusão se arma e Bernardinho é expulso de casa.

Ao ser expulso de casa, Bernardinho será acolhido por Juvenal, que permitirá que o rapaz viva em um quarto localizado na quadra de escola de samba da Portelinha. Aos poucos, Bernardinho revela dotes culinários, animado com a ideia, Juvenal ajuda Bernardinho a montar um restaurante que em pouco tempo ganha fama por conta do bacalhau servido pelo cozinheiro. No decorrer da história Bernardinho irá desenvolver amizade com Dália (Leona Cavalli), que também foi ajudada por Juvenal, quando este a internou em uma clínica de reabilitação. No início da trama Dália será destratada pela comunidade e apenas contará com a ajuda de Bernardinho. Se junta a Dália e Bernardinho, Heraldo (Alexandre Slaviero), que foi expulso de casa pela mãe e foi procurar abrigo na comunidade. Durante a trama Dália, Heraldo e Bernardinho desenvolvem uma relação mútua que resulta na gravidez da amiga que, sem ter certeza de quem é o pai, ganha paternidade dupla de Bernardinho e Heraldo. A partir daí eles desenvolvem um triângulo amoroso bissexual que será perseguido por um grupo de fundamentalistas religiosos da comunidade. Ao termino da trama Dália termina com Heraldo e Bernardinho se casa com Carlão.

3.1.4 Insensato Coração: Roni, Xicão, Hugo, Eduardo e

Gilvan

A novela “Insensato Coração”, escrita por Gilberto Braga e Ricardo Linhares, e dirigida por Dennis Carvalho, foi exibida entre janeiro e agosto de 2011. A trama principal gira em torno das personagens Pedro (Eriberto Leão) e Marina (Paola Oliveira), que se conhecem durante um voo no primeiro capítulo e se apaixonam. Fazem parte da trama principal, alem de Pedro e Marina, o irmão de Pedro, Leo (Gabriel Braga Nunes), que vive de pequenos golpes e sente inveja do irmão, pois, acredita que este é o preferido do pai, Raul (Antônio Fagundes). A relação de Raul com os filhos Pedro e Leo é a base de toda a trama central (Memória Globo). Durante a novela, Pedro, que no inicio da historia engata romance com Marina e depois os dois se veem separados por conta de armadilhas de Leo, passará a novela inteira tentando provar que o irmão não presta e resgatar Marina para junto de si.

Em “Insensato Coração”, a homossexualidade será abordada a partir de cinco personagens que fazem parte do núcleo secundário da trama, são eles: Roni Fragonard (Leonardo Miggiorin), relações públicas e melhor amigo de Natalie Lamour (Debora Seco), estrela decadente que depende do amigo para aparecer na imprensa; Xicão Madureira (Wendel Bendelack), atendente no quiosque de Sueli Brito (Louise Cardoso), afeminado e fofoqueiro, mas querido por todos; Eduardo Aboim (Rodrigo Andrade), filho de Sueli que vai se descobrir gay no decorrer da trama; Hugo Abrantes (Marcos Damigo), professor de uma universidade de Direito. Se apaixona e se envolve com Eduardo no decorrer da trama; Gilvan (Miguel Roncato), jovem homossexual que é expulso de casa e adotado por Sueli e passa a trabalhar no quiosque. A novela “Insensato Coração” chamou atenção à época por conta de ser a primeira a conter em sua trama um núcleo gay, que gira em torno do quiosque de Sueli onde a comunidade gay toma como ponto de encontro na Praia de Ipanema. Ao término da trama Roni e Xicão não sofrem qualquer tipo de alteração em suas respectivas histórias; Hugo e Eduardo encerram a história assinando um contrato de união estável e Gilvan, é vítima fatal de um ataque

homofóbico por um grupo de “pitiboys” que perseguem homossexuais no Rio de Janeiro.