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A AMPLIAÇÃO DA COMPREENSÃO DOS TRAÇOS DA I MAGEM C ORPORAL EM HOMENS

Lista de Siglas e Abreviaturas ADF Asymptotic Distribution of Fit / Estimação Assintoticamente Livre de Distribuição

A NEXO 3 A PROVAÇÃO DO C OMITÊ DE É TICA EM P ESQUISA

1.3 E STRUTURA DA T ESE

2.1.2 A AMPLIAÇÃO DA COMPREENSÃO DOS TRAÇOS DA I MAGEM C ORPORAL EM HOMENS

Da suposta satisfação à insatisfação corporal. Do suposto descuido com a aparência às cirurgias plásticas e busca pela musculatura. Da atividade física por motivos de saúde às rotinas obstinadas nas academias. De uma visão restrita da Imagem Corporal x Transtornos Alimentares à visão ampliada da Imagem Corporal x demais experiências significantes com o corpo. A mudança do foco de atenção, iniciado por volta de 1990, possibilitou que pesquisadores olhassem para além de mulheres e Anorexia Nervosa. O surgimento dos homens como “sujeitos de pesquisa” foi um processo lento, marcado por questionamentos metodológicos. É nos pontos centrais desse processo de ampliação da pesquisa em Imagem Corporal que nos centramos agora.

Fallon e Rozin (1985) conduziram um estudo historicamente importante para compreensão do processo de construção do conhecimento sobre a Imagem Corporal de homens. No estudo, pediram aos sujeitos da amostra – 227 mulheres e 248 homens universitários jovens – que escolhessem na Escala de Figuras de Stunkard (STUNKARD, SORENSEN, SCHLUSINGER, 1983) as silhuetas que melhor representassem o corpo real, o corpo ideal, aquele que julgavam ser atraente no próprio sexo e aquele que julgavam ser atraente no sexo oposto. Para a pesquisa, a insatisfação corporal era dada pela distância entre o corpo ideal e o corpo real. O estudo aponta para uma inexistência de insatisfação corporal nos homens. Como os escores de corpo ideal, o corpo real e o corpo atraente eram praticamente iguais, os autores concluíram que a presença de insatisfação corporal, tendo o corpo como um todo como referência, era inexistente nos homens (Figura 1).

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Figura 1 - Diferenças de Satisfação Corporal entre os Sexos

Nota: Valores médios dos escores de corpo ideal (ideal), corpo atual (real), corpo que o sujeito julga atraente ao sexo

oposto (atraente) e corpo que o sexo oposto julga atraente (sexo oposto atraente). * corpo atraente escolhido pelos homens; ** corpo atraente escolhido pelas mulheres

Fonte: Fallon e Rozin (1985), tradução nossa, modificado pela autora

Noutro estudo, objetivando avaliar as diferenças entre os sexos e as gerações, Rozin e Fallon (1988) se propuseram a investigar as possíveis causas do aumento de adoção de dietas e da incidência de transtornos alimentares em mulheres jovens. Usando a mesma metodologia do estudo de 1985, recrutaram 97 famílias de estudantes universitários, sendo a amostra composta por 55 filhas (idade média de 18,6 anos), 42 filhos (idade média de 19 anos), 97 pais (idade média de 50, 3 anos) e 97 mães (idade média de 46,5 anos). Com um questionário sobre atitudes alimentares e a Escala de Figuras de Stunkard, pediram aos sujeitos da amostra que apontassem o corpo ideal, o corpo real, aquele que julgavam atraente para o próprio sexo e aquele atraente para o sexo oposto (Figura 2).

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Figura 2 - Imagem Corporal entre os sexos e entre diferentes gerações

Nota: Valores médios dos escores de corpo ideal (ideal), corpo atual (real), corpo que o sujeito julga atraente ao sexo oposto

(atraente) e corpo que o sexo oposto julga atraente (sexo oposto atraente). * corpo atraente escolhido pelos pais; ** corpo atraente escolhido pelos filhos; *** corpo atraente escolhido pelas mães; **** corpo atraente escolhido pelas filhas.

Fonte:: Rozin e Fallon (1988), tradução nossa, modificado pela autora

Os autores concluíram que era o sexo, e não as gerações que tinham influência no comportamento alimentar e na satisfação com o corpo. Após discutirem as implicações dos escores femininos, o estudo apontou para duas conclusões sobre os homens: (1) os homens mais velhos não são preocupados com seu peso – mesmo se achando mais gordos não demonstram vontade de alterar seus hábitos alimentares – e (2) que os homens jovens não têm insatisfação com seu corpo – por não haver diferença significante entre o corpo ideal e o corpo real. Esta ausência de insatisfação masculina, avaliada por escalas de silhuetas, seria replicada em outros estudos (LAMB et al., 1993; LEON et al., 1985; TIGGEMANN, 1992; ZELLNER, HARNER, ADLER, 1989).

Entretanto, a suposta satisfação masculina já começava a ser questionada. Numa carta ao editor da revista Lancet, escrita por Pope e Katz (1987), os autores

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apresentavam a Anorexia Reversa. Definiram este quadro como a percepção de que o corpo é ainda pequeno, mesmo estando muito musculoso. Chamavam a atenção da comunidade científica para a distorção da experiência corporal num grupo específico, os halterofilistas, assim como para o abuso de esteroides anabolizantes.

Neste mesmo ano, outra pesquisa relevante ao estudo da Imagem Corporal de homens, focada na satisfação com o corpo seria conduzida. Drewnowski e Yee (1987) avaliaram a busca por ganhar e perder peso. Estavam atentos ao fato de que, numa pesquisa realizada em

uma revista de circulação nacional, 41% dos homens que responderam um questionário9

reportaram insatisfação com o peso e que 44% tinha medo de ficar gordo. Drewnowski e Yee (1987) acreditavam que estavam evidenciando-se indícios de insatisfação no homem americano. A amostra da pesquisa foi composta por 98 homens e 128 mulheres universitárias, com idade média de 18,7 (±1,2) anos e 18,5 (±0,9) anos respectivamente. Os resultados indicaram insatisfação corporal em ambas as amostras, tendo as mulheres um índice de insatisfação maior que a amostra de homens. A vontade de alterar o peso nos homens não estava ligada à dieta, mas à atividade física. A amostra se dividiu quase igualmente entre aqueles que querem ganhar (45%) e perder peso (40%). Dos 98 homens da amostra, apenas 10 deles se disseram satisfeitos com seu corpo.

Os resultados que apontavam para a insatisfação corporal masculina encontrados por Drewnowski e Yee (1987) viriam a ser confirmados por Silberstein et al. (1988). Os pesquisadores fizeram um estudo transversal sobre as relações entre a prática de atividade física e dietas, bem estar e satisfação com o corpo. Na amostra, de 45 mulheres e 45 homens adultos, não foram encontradas diferenças entre os sexos quanto ao grau de insatisfação, verificados pela Body Esteem Scale, Body Size Drawing Scale e Self-Esteem Scale. Entretanto, notaram que havia uma diferença na direção da insatisfação: enquanto, em unanimidade, as

9 Aqui se faz referência à grande pesquisa nacional, feita por três anos por uma revista dirigida ao público leigo, a

Psychology Today. Um grande questionário foi encartado na revista em três ocasiões 1972, 1985 e 1996 para ser respondido pelos leitores. As perguntas eram variadas, versando sobre satisfação com a vida, com o peso, com partes do corpo e com o estilo de vida. Os dados foram avaliados e publicados na própria revista e foram fontes de considerações em livros e trabalhos acadêmicos como, por exemplo, os de Thompson, 1990; Thompson et al., 1998, Cash e Pruzinsky, 2002. Um melhor detalhamento desta pesquisa foi feita adiante, no capitulo seguinte a este e pode ser visto nas páginas 82-83.

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mulheres da amostra queriam um corpo mais magro, os homens se dividiram entre aqueles que queriam um corpo mais pesado e os que queriam um corpo mais leve. Entre os motivos para fazer exercícios, o controle do peso não era o principal motivo para os homens se manterem ativos. Esta mesma dualidade dos homens entre perder/ganhar peso foi confirmada em outras pesquisas – como, por exemplo, Cohn e Adler (1992), Davis e Cowles (1991), Mishkind et al. (1986) e Raudenbush e Zellner (1997).

Estes últimos estudos levantaram o questionamento sobre o estudo de Fallon e Rozin (1985) e os demais que replicaram seus resultados. Concluiria-se que estas pesquisas tinham uma imperfeição metodológica: na análise dos dados, o cálculo da média da população não era feito em valores modulares ( |x| ) , sofrendo o efeito da vontade de ganhar peso

(marcado pelo sinal positivo (+)) e da vontade de perder peso (marcado pelo sinal negativo (-))10.

Na média dos dados, parecia não haver diferenças entre o corpo real e ideal, o que indicava ausência de insatisfação corporal. Ou seja, se a população masculina investigada incluísse aproximadamente o mesmo número de homens que desejavam perder peso e que desejavam ganhar peso, as direções opostas dos valores, marcados pelos sinais matemáticos + e - resultariam numa média perto de zero. Esta aparente igualdade entre corpo ideal e real, longe de ser sinônimo de satisfação, era o resultado da combinação matemática de dois grupos insatisfeitos (DREWNOWSKI, YEE, 1987; GROGAN, 1999, SILBERSTEIN et al., 1988).

Neste ponto, as pesquisas com escalas de figuras caminharam de uma ausência de insatisfação para a conclusão de que os homens não eram satisfeitos como se chegou a pensar. Nas mulheres, a busca pela magreza – o Drive to Thinness – aparece, reaparece e se estabelece como uma marca do sexo feminino. Nos homens, há uma variação entre os que desejam ser magros e os que desejam ter mais peso.

O entendimento dessa variabilidade passa pela compreensão do que, mais tarde, seria chamado de busca pela musculatura – Drive for Muscularity. Esta importante

10 Exemplificando: se numa escala de figuras, o corpo que considero “ideal” está 3 silhuetas mais magras que meu

corpo real, meu escore de insatisfação é -3. Se ao meu lado, o “ideal” de corpo de outra pessoa é exatamente 3 silhuetas acima da silhueta apontada como corpo “real”, o escore de insatisfação desta pesso é +3. A média matemática de nossos escores de insatisfação é zero, ou seja, na média, parece não haver diferenças entre o corpo ideal e o corpo real, parece não haver insatisfação. Enquanto na verdade, o que ocorre, são formas distintas de insatisfação com o corpo.

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variável não é contemplada na Escala de Figuras de Stunkard, de forma que, na leitura das pesquisas que a utilizaram, devemos considerar esta lacuna conceitual, o que leva a uma limitação metodológica do instrumento. O estudo de Mishkind et al. (1986) encontrou a já conhecida variação entre a vontade de perder e ganhar peso nos homens. Além disso, identificou a preferência por um corpo caracterizado por ter o tórax bem desenvolvido, de ombros largos, com quadril estreito e musculatura definida. Esta figuração de corpo ideal

passou a ser definida como “hipermesomórfica”11. Cohn e Adler (1992), após investigar a

satisfação corporal em homens e mulheres universitários, usando a mesma metodologia empregada por Fallon e Rozin (1985) chegaram a uma conclusão importante: existia uma limitação na pesquisa deles e nas pesquisas anteriores em distinguir entre a vontade dos homens de ganhar peso em gordura e de se tornar musculoso. Raudenbush e Zellner (1997) usaram a Escala de Figuras de Stunkard, considerando as diferenças entre perder e ganhar peso na análise dos dados. Observaram na sua amostra de homens e mulheres adultos que, se um homem está acima do peso, ele deseja tornar-se mais magro/pequeno – 7 sujeitos entre os 24 da pesquisa – e se está com o peso normal ou magro o corpo ideal tende a uma figura mais pesada/mais larga – 10 entre os 24 da pesquisa.

Os dados apontavam para um ideal de corpo masculino mais difícil de ser alcançado que o feminino. O corpo ideal masculino congrega a busca pela magreza e a busca pela musculatura, de forma que não basta ser magro, não basta ser forte. Há de ser magro e forte para alcançar o corpo ideal.

11

A mesomorfia, a endomorfia e a ectomorfia são componentes do somatotipo antropométrico. Segundo Guedes e Guedes (2006) a “endomorfia relaciona-se à participação da adiposidade no estabelecimento do tipo físico, a

mesomorfia reflete a influência do desenvolvimento músculo esquelético e a ectomorfia traduz o envolvimento do aspecto de linearidade relativa ao tipo físico” (p.166).

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2.1.2 TEORIAS PARA DRIVE FOR MUSCULARITY

A aparência do homem musculoso não é uma coisa nova. Também não parecem novos os valores positivos associados à musculatura – como poder, caráter e coragem (LUCIANO, 2001). Esculturas, pinturas e gravuras, datadas de cinco séculos antes de Cristo, passando pela Renascença, pelo período Medieval até o século XX ilustram como a musculatura estabeleceu-se como uma marca no sexo masculino (Figuras 3 a 11). A aparência musculosa também está presente na mitologia Grega e Romana, com seus deuses e heróis sendo retratados como homens grandes e musculosos, como pode ser vista na escultura Laoconte, do período helenístico, que numa cena dinâmica, explora força e virilidade (Figura 12) (ECO, 2008).

Figura 3 - Base de mármore da urna funerário de um Kourus

Nota: Achado em Atenas, aproximadamente de 510 A.C. Exposto no National Archaeological Museum, em Atenas

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Figura 4 - Poseidon

Nota: Peça datada entre 125-

100 A.C, exposta no National Archaeological Museum, em Atenas

Figura 5 - Lateral de um sarcófaco

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Figura 6 - The Pietá

Figura 7 - Hercules and Antaeus

Nota: Pintura à óleo, de Schiavone, entre 1456-1461, exposto

na National Gallery, em Londres

Nota: Escultura de Antico, entre 1500-1510,

exposto no Victoria & Albert Museum, Londres

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Figura 8 - Samson Slying a Philistine

Nota: Escultura em

mármore, de

Giambologna, entre 1560- 1562, em exposição no Victoria & Albert Museum, Londres

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Figura 9 - Samson and Delilah

Figura 10 - The Eagle Slayer

Nota: Pintura a óleo, , de Rubens, entre 1609-1610, exposto

na National Gallery, Londres

Nota: estatueta em bronze, de Wyon, 1846, em exposição no

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Figura 11 - Torso of Banovic Strahinja

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Figura 12 - Laocoonte

Nota: Escultura em mármore, , século I AC, exposto no Musei Vaticani Fonte: ECO (2008).

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A beleza já foi pensada e teorizada por filósofos, artistas e historiadores. Juntamente com estas reflexões, algumas teorias científicas surgiram para explicar especificamente Drive for Muscularity no sexo masculino. São nos pontos centrais destas teorias que focaremos nossa atenção nos próximos parágrafos.

A teoria sociocultural procura explicar como os padrões estabelecidos pela mídia influenciam as atitudes do sujeito em relação ao seu corpo (THOMPSON et al., 1998). Especificamente para os homens, Morrison, Kalin, Morrison (2004) propõem 3 princípios fundamentais que devem ser considerados nas investigações a respeito da mídia e seu impacto na representação mental do corpo: (1) a mídia promove o corpo musculoso ideal – V-shaped, com abdome definido, baixo percentual de gordura e musculatura definida; (2) a disseminação destes ideais incentivam os homens a adotar o “corpo como um objeto”, ao invés do “corpo

como um processo”12; (3) os homens que se desviam destes padrões, sendo muito magros ou

gordos, podem avaliar-se negativamente e adotar comportamentos para atingir o ideal. Morrison, Morrison e McCann (2006) complementam este último princípio afirmando que a mídia promove a musculatura como algo desejável e a ausência da musculatura como indesejável, associando valores positivos e negativos, respectivamente, especialmente quanto à atratividade física.

Quanto à primeira proposição, Leit, Gray e Pope (2002) verificaram um paralelo entre a maior tendência a ter atitudes e comportamentos a favor da musculatura e o aumento da promoção do corpo hipermesomórfico na TV, anúncios e revistas. Tiggemann (2002) observa que corpos musculosos masculinos estão ficando mais comuns em propagandas, deixando homens e meninos mais frequentemente expostos a estas mensagens.

Quanto a segunda proposição, esta encontra eco na teoria da auto- objetificação, da qual falaremos posteriormente. Por hora, lembra-se que há evidências de que

12 A respeito deste tópico, Morrison, Morrison e McCann (2006) esclarecem que homens que estão predispostos a

adotarem a aparência de cada parte do corpo como o parâmetro de avaliação de si estão mais predispostos a objetificar o corpo. Isto é, voltando-se especificamente para as qualidades estéticas do corpo, estas passam a ser o peso e as medidas de avaliação dos demais aspectos da vida do sujeito, e em modificando-as, haveria repercussão nas demais áreas da vida também – como sucesso profissional, nos relacionamentos e na vida em família. Já aqueles que adotam o “corpo como um processo” tem uma visão que vai além das qualidades estéticas do corpo, baseando-se também nas experiências vividas e nas capacidades do corpo (BUDGEON, 2003)

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a aparência do homem é importante, desde muito cedo para estabelecer uma hierarquia de dominância. E o sucesso, por sua vez, asseguraria a atratividade física entre as mulheres. Entretanto, os autores consideram que atualmente ter sucesso é muito mais “parecer um homem de sucesso” que se adorna com as armadilhas do sucesso – como as roupas caras e o corpo musculoso (CORSON, ANDERSEN, 2002). Ademais,

O corpo musculoso e tonificado também é o sinal mais evidente de um comportamento correto: é o corpo musculoso que dá a prova mais importante da capacidade que se tem de dominar a própria vida. Em compensação, um corpo gordo e sem músculos é julgado com desprezo, pois é indício de um homem que não cuida de si mesmo e certamente é desprovido de força de caráter, e até mesmo frouxo... este corpo musculoso não é apenas a chave do sucesso, mas também o meio de obter reconhecimento social de uma pretensa retidão moral; não é apenas um ideal estético, mas o modelo em relação ao qual cada homem pode e deve julgar-se e corrigir-se a si mesmo (MARZANO-PARISOLI, 2002, p. 37).

Quanto a terceira proposição, Luciano (2001) afirma que na cultura ocidental, os músculos simbolizam saúde, dominância, poder, força, virilidade sexual e respeito. Pelo fato de que os homens musculosos são percebidos como aqueles que atendem às características tradicionalmente masculinas, eles podem se sentir mais respeitados, admirados, atraentes e confiantes (LUCIANO, 2001).

Este último argumento tem precedentes na literatura, como pode ser visto em Thompson et al., (1998):

...Pesquisas consistentes têm demonstrado comportamentos estereotipados e traços de personalidade associados com cada um dos três somatotipos. Estes estudos sugerem que a constituição física mesomórfica está associada com os traços mais favoráveis enquanto os gordos endomórficos foram associados como socialmente agressivos, preguiçosos e pouco atraentes e os magros ectomórficos foram associados como sendo nervosos, socialmente retraídos e submissos (p.93).

E em Miskind et al., (1986)

Nós acreditamos que o tipo muscular mesomórfico é o ideal por que está intimamente ligado à visão cultural da masculinidade e o papel de gênero masculino, que estabelecem que os homens devam ser poderosos, fortes, eficazes –

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até dominantes e destrutivos... Uma aparência musculosa pode servir como um símbolo de personificação destas características (p.549).

Nas pesquisas voltadas à influência da mídia, esclarece Gray e Ginsberg (2007), é importante considerar que a mídia tem uma chance muito pequena em promover um valor, um ideal, um conceito se estes não existirem, de alguma forma, na cultura local. Ademais, para Morrison, Morrison e McCann (2006) têm recebido pouca atenção os fatores subjacentes à promoção dos tipos físicos ideais. Família e amigos ajudam a disseminar e a legitimar o ideal promulgado pela mídia e deveriam ser considerados como extensões da ação midiática. A influência da mídia na cultura parece ser recíproca, complexa e definida por uma série de variáveis moderadoras, como por exemplo, a influência dos pais, amigos e comparações sociais, que devem ser consideradas nas pesquisas.

A teoria da comparação social foca-se em determinar como as opiniões e as avaliações das habilidades influenciam as atitudes nos grupos sociais (FESTINGER, 1954). Na proposição original da teoria da comparação social, Festinger (1954) propõe nove hipóteses, derivadas de uma reunião de dados de pesquisas prévias realizadas por ele. Especificamente para nosso trabalho, as hipóteses III e VII e seus respectivos corolários e derivações, são as mais