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Lista de Siglas e Abreviaturas ADF Asymptotic Distribution of Fit / Estimação Assintoticamente Livre de Distribuição

A NEXO 3 A PROVAÇÃO DO C OMITÊ DE É TICA EM P ESQUISA

2.2 V OZES M ASCULINAS NA I MAGEM C ORPORAL

2.2.1 E STIMA C ORPORAL , AVALIADO PELA B ODY E STEEM S CALE

2.2.1.3 EVIDÊNCIAS SOBRE O CONSTRUTO

Outras pesquisas, que não abordaram exatamente a estrutura fatorial da Body

Esteem Scale, contribuíram também para o entendimento deste construto, tanto no sexo

feminino quanto no masculino. Calden, Lundy e Schlafer (1959) apontaram para algumas

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questões relativas ao corpo e à atratividade física, destacando características ímpares do sexo masculino. Um total de 196 mulheres e 110 homens universitários respondeu a um questionário de “conceitos corporais”, no qual deveriam indicar o grau se satisfação/insatisfação com partes e funções do corpo. Os resultados indicavam que os homens não estavam satisfeitos com seu corpo e gostariam de ser 1,5 kg mais pesados, enquanto as mulheres buscavam um corpo 3 kg

mais magro17, aproximadamente. Todas as mulheres insatisfeitas com o corpo desejavam

perder peso, enquanto metade dos homens insatisfeitos queria ficar mais magra, os demais queriam ganhar peso. Os homens da amostra se apresentaram extremamente insatisfeitos com sua altura: queriam ser mais altos. Porém, expressaram uma maior satisfação em relação à sua atratividade física. Em relação às partes do corpo, os homens da amostra queriam ter os ombros mais largos, pernas e braço mais grossos e um grande tórax. Quanto à face masculina, esta deveria ter o queixo mais proeminente, com nariz e orelhas pequenos. As mulheres, por sua vez, buscavam quadris e cintura pequenos, pernas e braços mais finos. O busto era a única parte do corpo que deveria ser grande. Tanto homens quanto mulheres concordaram que o corpo mais

atraente era aquele com um somatotipo balanceado, e que a endomorfia18 extrema foi julgada

como a forma menos atraente dos homens. As mulheres, por sua vez, julgaram a mesomorfia extrema como repulsiva, indicando que o homem hipermusculoso não era o tipo mais atraente para elas.

As diferenças entre os sexos masculino e feminino e as evidências de insatisfação masculina voltariam à tona numa grande pesquisa feita entre 62.000 leitores americanos da revista Psychology Today. Berscheid, Walster e Bohrnstedt (1973) divulgaram os dados desta pesquisa, advindos de um questionário de 109 itens encartado no número de julho de 1972 da revista. Puderam verificar que para 31% dos respondentes homens, a satisfação com o corpo foi considerada excelente, acima da média; a satisfação com o corpo foi considerada média para 48% dos respondentes homens e 21% relataram uma satisfação corporal pobre, abaixo da média. Entre as mulheres, os percentuais foram 20%, 53% e 27%, respectivamente.

17 Os resultados da pesquisa são apresentados em libras. Os homens buscavam um corpo, em média 3 libras mais

pesado e as mulheres buscavam diminuir 7 libras do seu corpo. A conversão de libras em quilos é dada pela divisão do valor em libras por 2 e a subtração de 10% do quociente. No texto, apresentamos estes valores aproximados.

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Destaca-se a pronunciada insatisfação masculina com a parte central do corpo, região do tórax e abdome. Em relação às outras partes do corpo, concluiu-se haver um alto grau de insatisfação com os dentes, seguidos pelo peso e tônus muscular. Ao contrário do que verificou Calden, Lundy e Schlafer (1959) os homens se mostraram satisfeitos com sua altura, orelhas, nariz e queixo.

A Psychology Today faria novamente esta pesquisa nacional sobre a satisfação com o corpo em outras 2 ocasiões: em 1985 e 1996. Na pesquisa de 1985, 30.000 leitores responderam aos questionários e uma amostra de 2.000 respostas foi analisada. Ao tratar e discutir os dados, Cash, Winstead e Janda (1986) observaram um incremento da insatisfação em ambos os sexos, sendo ainda as mulheres mais insatisfeitas que os homens em todas as áreas do corpo, com exceção da face e da altura. Já na pesquisa de 1996, o índice de respostas caiu para 4500 leitores respondentes, sendo que a amostra analisada foi composta por 4000 questionários. Destes, apenas 14% deles foram respondidos por homens. Em relação aos dados específicos da satisfação corporal, o percentual de pessoas insatisfeitas não só aumentou desde a primeira pesquisa, quanto o índice de aumento foi maior nesta última pesquisa. Nota-se ainda que as diferenças entre os sexos caíram e a preocupação dos homens com o tórax supera a insatisfação das mulheres com os seios. Todavia, este último achado deve ser olhado com cautela, dada a enorme diferença entre o grupo feminino e masculino da amostra (GARNER, 1997). Nem todos os itens foram perguntados nas três pesquisas, mas, aqueles que se repetiram nos oferecem uma visão de como a satisfação com a Imagem Corporal mudou nos últimos anos, entre os americanos (Quadro 2).

Quadro 2 - Insatisfação com as partes do corpo

Survey de 1972 Survey de 1985 Survey de 1996

Mulheres Homens Mulheres Homens Mulheres Homens

Aparência como um todo 25% 15% 38% 34% 56% 43%

Peso 48% 35% 55% 41% 66% 52% Altura 13% 13% 17% 20% 16% 16% Tônus Muscular 30% 25% 45% 32% 57% 45% Tórax/Seios 26% 18% 32% 28% 34% 38% Abdome 50% 36% 57% 50% 71% 63% Quadril 49% 12% 50% 21% 61% 29% Face 11% 8% 20% 20% -- --

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Focados na aparência física, Mahoney e Finch (1976) avaliaram as relações entre a satisfação com o self e a catexe corporal – leia-se satisfação corporal – e as diferenças destas duas variáveis entre os sexos. Após avaliarem 239 universitários (103 homens e 136 mulheres), os pesquisadores concluíram que para ambos os sexos a catexe de apenas algumas partes/funções do corpo se correlacionam com a satisfação do self. As partes/funções do corpo correlacionadas com a satisfação do self na amostra foram a voz, seguido pelo tórax, os dentes, nariz, o formato das pernas e a face.

Num segundo estudo, Mahoney e Finch (1976a) analisaram uma nova amostra de 98 homens e 128 mulheres universitárias para determinar as dimensões da satisfação. Fizeram esta nova análise a partir de um questionário que listava 22 aspectos do corpo para os homens e 20 para as mulheres, numa escala de 5 pontos de variação de satisfação. Confirmaram as diferenças entre partes/funções do corpo entre os sexos, que se mostram importantes para a satisfação do self. Identificaram seis fatores, que explicaram 72,2% da variância que congregaram as partes/funções mais importantes na satisfação do homem: (1) “pernas” – que incluía coxas, panturrilhas, formato das pernas e joelho – (2) “face” – que incluía olhos, nariz e dentes – (3) “peso” – que incluía cintura, peso corporal e quadris – (4) “altura” – que incluía altura do corpo, comprimento da perna e tamanho do pé – (5) “tronco” – que incluía largura dos ombros, tamanho do pescoço e circunferência do tórax – e (6) “voz/cabelo” – que incluía a cor do cabelo e o timbre da voz. Para as mulheres, identificaram 5 fatores que explicaram 62,7% da variância: (1) “face” – fator formado por lábios, voz, olhos, cor do cabelo, face, nariz e dentes – (2) “peso” – fator formado por quadris, peso do corpo, coxas e cintura – (3) “altura” – fator formado por altura do corpo, comprimento da perna, tamanho do busto – (4) “pernas” – fator formado por formato das pernas, panturrilhas e joelhos – e (5) “extremidades” – fator formado por mãos, tamanho do pescoço e do pé. As diferenças entre os fatores evidenciavam diferenças na importância e valores que cada parte do corpo tinha em cada sexo.

Escalas à parte, uma série de pesquisadores vem utilizando a técnica de entrevistas semi-estruturadas/focus groups para compreender melhor a estima corporal nos homens. Grogan e Richards (2002) realizaram cinco focus groups – um com crianças, um com pré-adolescentes, dois com adolescentes e um com adultos – num total de 20 sujeitos, entre

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oito a 25 anos. Na fala dos sujeitos, consegue-se identificar cinco aspectos importantes para a avaliação do corpo: (1) as possibilidades do corpo – isto é, as competências que o sujeito tem e o que o corpo consegue fazer, (2) a musculatura, (3) a gordura corporal, (4) as características da face e (4) outros aspectos do corpo não diretamente ligados à musculatura – aparência dos quadris, do glúteo, o tamanho do pênis. Quanto à musculatura, evita-se falar de extremos: o homem muito musculoso não é bem visto. No discurso dos sujeitos, Grogan e Richards (2002) identificaram um tom de reprovação em relação ao tempo que esse sujeito muito musculoso dedica ao corpo, que foi associado ao excesso de vaidade. Então há a vontade explícita de ser forte, mas forte “o suficiente”, sem exagero. Reconheceu-se também no discurso da amostra, a negação de que eles se importam em cuidar da aparência. Nesse ponto, eles admitiram que vão para a academia, que cuidam da alimentação, mas o “dito” sobre estes comportamentos é sobre o cuidado com a saúde, por que declaram terem coisas mais importantes que cuidar da aparência. Entretanto, quando Grogan e Richards (2002) dirigiram a discussão para a satisfação com o corpo especificamente, reconheceu-se no discurso algo além da sensação de confiança, de ser capaz de realizar algo. A satisfação com o corpo tem uma ligação forte com a aparência também, não só com a função como declarado abertamente. A preocupação com alguns aspectos do corpo, nestes rapazes, estava transpassando o socialmente aceito. No “não dito”, foi possível identificar que a aparência, a boa forma, a musculatura e o equilíbrio estético entre as diversas características do corpo são importantes. Não só para a saúde ou as competências do corpo: são importantes porque eles também procuram a beleza, mesmo que não falem abertamente.

Ridgeway e Tylka (2005) entrevistaram 30 universitários, tendo como foco a percepção da forma e a composição corporal ideal masculina para este grupo de rapazes. Os resultados específicos sobre a apreciação de partes e funções do corpo apontam para (1) a importância de ter uma musculatura definida, de ter um corpo grande, largo, mas sem exagero; (2) ter uma baixa concentração de gordura e (3) ser alto. Identificou-se 3 áreas típicas de preocupação: a região abdominal, os braços e o tórax. Para serem apreciadas, estas regiões deveriam ser definidas, grandes, largas, pois seriam as representantes da masculinidade para estes rapazes. Esta referência sobre a associação entre muscularidade, masculinidade e

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virilidade foi encontrada em outros estudos qualitativos – como veremos adiante, mas também em estudos quantitativos, como os de O’Neil et al (1986), Schwartz e Tylka (2008) e Tucker (1982). Os ombros, as costas, as coxas, o pescoço, as panturrilhas e as nádegas também foram mencionadas como áreas importantes, porém com menos frequência e/ou com menos ênfase pelos entrevistados. E especialmente as panturrilhas e as nádegas são referidas como áreas de menor preocupação e investimento em mudanças. Na conclusão de seu estudo, Ridgeway e Tylka (2005) apontam para cinco dimensões da satisfação corporal no homem: (1) muscularidade, baixo percentual de gordura e altura; (2) definição e baixo percentual de gordura do abdome e glúteos; (3) largura dos ombros e pescoço; (4) largura e definição das panturrilhas e (5) largura, definição e força dos braços, tórax, costas e coxas.

Bottamini e Ste-Marie (2006) realizaram entrevistas semiestruturadas com 11 rapazes, entre 18 e 25 anos. Alem do roteiro de entrevistas, utilizaram diversas figuras de revistas masculinas, representantes da constituição física endomórfica, mesomórfica e ectomórfica para identificar ideais de beleza. Utilizaram também duas escalas de figuras: a Adult

Figure Instrument – que consta de sete figuras, com variação no percentual de gordura entre

elas – e a Male Figure Drawings – na qual há uma variação na massa muscular entre cada um das nove figuras, aumentando da primeira até a última. Os pesquisadores identificaram nestes rapazes a vontade de perder percentual de gordura, aumentar a massa muscular e de serem mais altos. A altura aparece nessa pesquisa como um fator importante na avaliação do corpo, importante para sentir o corpo adequado. O excesso de pelos no corpo, especialmente nas pernas e tórax, por vezes é tolerado, noutros momentos é indiferente e já em outros, é motivo de evitação corporal. As estratégias usadas para lidar com este excesso de pelos inclui usar calças ao invés de shorts, camisas mais fechadas ou raspá-los, especialmente os da face, os do tórax e os pelos pubianos. Os participantes declararam não cuidar muito de sua aparência, dizendo preferir o conforto das roupas à roupas bonitas e praticar exercícios para saúde e não, primordialmente, para cuidar da aparência do corpo. Entretanto, ao longo da entrevista, afirmam que os exercícios físicos são usados como estratégias para lidar com o excesso de gordura e a falta de massa muscular, uma referência à busca de um corpo mais próximo do idealizado. Os cuidados com o cabelo são declaradamente admitidos, sendo a calvície uma

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grande fonte de preocupação. A calvície é associada por estes rapazes à perda de virilidade e atratividade física. O tamanho do pênis é outra fonte de grande preocupação, pois existe uma associação declarada entre o tamanho do pênis e a capacidade de satisfazer a parceira. Reaparecem aqui, as considerações sobre ser “forte o suficiente”, sem excesso.

A produção de pesquisa brasileira sobre a estima corporal masculina, ou mais amplamente sobre a satisfação corporal, ainda é bem pequena. A Body Shape Questionnaire

(BSQ) é a escala amplamente usada nas investigações nacionais. Entretanto, vale ressaltar que,

mesmo que esta escala tenha sido validada com uma população masculina (Di PIETRO, 2001) a escala é conceitualmente falha para a população masculina, pois não considera o fator muscularidade, ao abordar a satisfação corporal. Dessa forma, as conclusões nacionais não alcançam estes dados. Outra escala comum é a escala de figuras de Stunkard, usada por exemplo na pesquisa de Dasmasceno et al. (2005) e Coqueiro et al. (2008). Não só a escala masculina de Stunkard não foi validada no Brasil, como ela contém a mesma falha conceitual que a BSQ: aborda apenas a questão da adiposidade, deixando de lado as variações na muscularidade, uma prerrogativa para uma escala de figuras masculina (CAFRI, THOMPSON, 2004; CAMPANA, TAVARES, 2009). Entretanto, alguns estudos qualitativos apontam para um ideal de corpo masculino brasileiro e de valorização de partes do corpo que se assemelham ao que é apontado na literatura internacional: tórax, braços, abdome bem definidos, um corpo grande sem exagero, com pouco percentual de gordura (IRIART, CHAVES, ORLEANS, 2009; LUDORF, 2009).