Lista de Siglas e Abreviaturas ADF Asymptotic Distribution of Fit / Estimação Assintoticamente Livre de Distribuição
A NEXO 3 A PROVAÇÃO DO C OMITÊ DE É TICA EM P ESQUISA
2.2 V OZES M ASCULINAS NA I MAGEM C ORPORAL
2.2.2 A NSIEDADE F ÍSICO S OCIAL , A VALIADA PELA S OCIAL P HYSIQUE A NXIETY S CALE
2.2.3.4 EVIDÊNCIAS SOBRE O CONSTRUTO DRIVE FOR MUSCULARITY
Como a DMS e a SMAQ não foram alvos de muitos estudos psicométricos, é oportuno trabalhar com mais evidências sobre o construto Drive for Muscularity para fundamentar a proposição dos modelos fatoriais para estas escalas.
Pope, Phillips e Olivardia (2000), em The Adonis Complex: the secret crisis of
male obsession, descrevem os "segredos" dos homens na academia. O foco dos autores estava
centrado na descrição do “Complexo de Adonis”, entretanto, mesmo sem nomear explicitamente, acabam por detalhar comportamentos, crenças e preocupações relacionadas com o Drive for Muscularity. Os autores asseguram que a preocupação/ medo/ agonia de não ter o corpo que se quer ter, a preocupação em não ser "grande” o bastante e a ansiedade a respeito da aparência tem levado homens a buscar as academias de ginástica, em especial as de musculação. O sentimento de ser menos homem, a insegurança a respeito do corpo e o medo de ficar gordo são outros motivos que tem levado homens a investir num corpo musculoso. A checagem constante do corpo no espelho – quase sempre às escondidas e acompanhada de
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contrações dos músculos a serem examinados – e a evitação de situações sociais são outros dois comportamentos que fazem parte da dinâmica da busca pela musculatura.
Grogan e Richards (2002), em sua pesquisa qualitativa com crianças, adolescentes e homens jovens identificaram que ser musculoso e ter uma massa muscular bem definida foram classificados como importantes, por todos os homens de sua amostra, desde os oito aos 25 anos. O corpo musculoso, para estes rapazes, tem uma ligação estreita com a atratividade física. Especificamente para os homens adultos jovens, o corpo musculoso ideal pode ser definido como aquele com peitorais grandes e definidos, abdominais definidos, atlético, em forma. As pesquisadoras notaram ainda, que este tema causou desconforto ao ser discutido nos grupos, e o descrevem como um tema “sensível” a população, que para escapar deste desconforto rapidamente mudaram o foco da discussão sobre o corpo musculoso e Drive
for Muscularity para o desempenho atlético. Grogan e Richards (2002) identificaram os limites
sensíveis que a preocupação e a busca pela musculatura têm em sua amostra. Quando a busca pela musculatura relaciona-se aos cuidados com a saúde, a boa forma e ao desempenho atlético, identificaram no discurso de sua amostra, uma ligação entre masculinidade e muscularidade, sendo totalmente aceitável investir tempo para cultivar os músculos. Por outro lado, quando a amostra associa a busca pela musculatura à vaidade, buscar ser musculoso é inaceitável. Essa diferença foi identificada nos comentários sobre o excesso de musculatura – por que é preciso ser apenas musculoso o bastante. Homens com excesso de músculo foram julgados negativamente, classificados como pessoas vaidosas, obsessivas com sua aparência. Da mesma forma, quando a preocupação e a Drive for Muscularity foram relacionadas com a vontade de perder peso/ medo de ficar gordo foram julgadas negativamente, pois a amostra julgou que estas motivações/ justificativas para estar na academia cuidando dos músculos são femininas. E isso é inaceitável.
Grogan e Richards (2002) identificaram ainda que a conquista de um corpo musculoso (o bastante) provoca uma sensação de poder para lidar com as coisas do dia a dia. A autoestima foi relacionada, pela amostra, com esse corpo musculoso, assim como a ideia de que a conquista desse corpo ideal trará felicidade e autoconfiança.
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Morrison, Morrison e Hopkins (2003) realizaram dois estudos em sua pesquisa, com homens jovens universitários. Nesse momento, é de nosso interesse o segundo estudo, qualitativo, realizado com uma amostra de 218 homens jovens universitários. Os autores identificaram nas falas dos entrevistados que estes fazem ligações entre muscularidade e: masculinidade, atratividade física, poder social (sucesso profissional), bem estar, saúde física e desempenho atlético. Assim, ser musculoso está ligado para estes jovens a uma série de benefícios e o estabelecimento de um corpo musculoso é o meio para alcançá-los. Ao contrário das expectativas dos autores, os modelos midiáticos de homens musculosos não foram identificados como uma motivação importante para se tornar musculoso.
Adams, Turner e Bucks (2005) entrevistaram 14 rapazes, entre 18 e 32 anos, dos quais cinco eram homossexuais, dois eram bissexuais e os demais heterossexuais. O índice
de massa corporal da amostra variou entre 18,4kg/m2 a 34,1kg/m2. Foi empregada a técnica de
análise interpretativa fenomenológica28 para investigar a experiências de insatisfação corporal em homens. Os pesquisadores organizaram os dados em quatro domínios: sociedade, interpessoal, intrapessoal e apresentação social. Evidências agrupadas no domínio interpessoal, refletem o que os entrevistados sentiam a respeito do seu corpo e mais especificamente, sobre sua musculatura. Ser musculoso está ligado a “ser bem visto”. Para os entrevistados, ter um corpo fraco ou gordo expõe o sujeito a julgamentos sociais negativos, como preguiçoso, indulgente. O corpo adequadamente musculoso, mais uma vez, foi associado à masculinidade. Nessa amostra identifica-se a ideia de que a musculatura comunica algo aos outros sobre a viabilidade genética, melhores habilidades físicas e ainda, força física. Ter um corpo musculoso foi considerado de extrema importância, pois sucesso e autoestima são identificados como tendo uma relação direta a este tipo de corpo. As preocupações com o corpo giram em torno da aparência – embora isso seja veementemente negado, quando perguntado diretamente – e como a aparência afeta o sucesso profissional, escolar e amoroso. Novamente encontra-se referência sobre o peso corporal e a massa muscular. O estado de humor parece ser um
28
Os autores usam como referência teórica da análise interpretativa fenomenológica: .SMITH, J. A., OSBORN, M. Interpretative phenomenological analysis. In SMITH, J. A. (Ed.), Qualitative psychology: A practical guide to research methods, 2003. Londres, UK: Sage.
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moderador da insatisfação corporal, sendo que quando o sujeito está mais triste há uma maior insatisfação com o corpo, mesmo que nada tenha realmente mudado. A percepção do controle e da falta de controle sobre a vida e especificamente sobre o corpo, também foi centrada na conquista do corpo musculoso. Na falta de controle – ou a incapacidade – em conquistar a musculatura ideal, os homens dessa amostra relataram comportamentos usados para lidar com o desconforto de ter o corpo longe do ideal, como por exemplo: evitação do corpo, concentração em outras características do corpo não diretamente ligadas à musculatura (como a face), checagem corporal, compra de objetos representativos de poder e posição social (por exemplo, um carro caro) e da adoção de uma rotina de exercícios para a melhora da musculatura, podendo esta incluir também o uso de esteroides anabolizantes.
Adams, Turner e Bucks (2005) identificaram também, como Grogan e Richards (2002), que o excesso de preocupação com a musculatura não é um fato bem visto, sendo conectado a uma falha de caráter do sujeito. Ademais, os pesquisadores identificaram negações enfáticas a respeito de qualquer engajamento em atividades que possam ser associadas com excesso no cuidado com a aparência. Para os pesquisadores, a Drive for
Muscularity é um assunto delicado a ser tratado na população masculina, por causa da tênue
barreira entre o que pode ser aceito e entre aquilo que não é aceitável. Os pesquisadores argumentam que os questionários que se destinam a avaliar esta questão devem usar as palavras e expressões usualmente empregadas pela população alvo, a fim de aumentar a probabilidade dos respondentes conseguirem se posicionar frente ao tema.
McCreary, Saucier e Courtenay (2005) investigaram a associação entre a Drive
for Muscularity, masculinidade e feminilidade. Recrutaram uma amostra de 527 homens
universitários, entre 17 e 54 anos (sendo que apenas 1,3% da amostra tinha idade superior a 22 anos). Os pesquisadores usaram as escalas DMS, Extended Personal Attributes Questionnaire e o formato resumido da Bem Sex Role Invetory. Os autores concluíram que existem correlações significantes entre Drive for Muscularity e a percepção de uma série de aspectos do papel de gênero masculino, face às correlações positivas entre os escores da DMS e os índices de masculinidade. Essa pesquisa quantificou a associação entre masculinidade e muscularidade que apareceram anteriormente nas pesquisas qualitativas.
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Davis, Karvinen e McCreary (2005) investigaram correlações entre Drive for
Muscularity e características da personalidade em homens. A suposição inicial, é que
encontrariam as mesmas correlações para Drive for Muscularity na sua amostra masculina que são comumente encontradas entre Drive to Thinness e os aspectos da personalidade analisados, em amostras femininas. Cem rapazes universitários, com idade média de 22,8 ± 3,3 anos constituíram a amostra desta pesquisa. Responderam aos questionários DMS, Narcisistic
Personality Inventory, Eysenck Personality Questionnaire-Revised, Self-Oriented Subscale da Multidimensional Perfeccionism Scale, Appearance Orientation e Fitness Orientation Subscales
da Multimensional Body-Self Relations Questionnaire. Os resultados indicaram haver correlações positivas entre os aspectos do neuroticismo e perfeccionismo analisados, a orientação ao exercício e a orientação à aparência com Drive for Muscularity. Entretanto, não ocorreu qualquer correlação entre o aspecto do narcisismo investigado e Drive for Muscularity. Os pesquisadores também verificaram quais construtos investigados poderiam predizer Drive
for Muscularity. Concluíram que apenas o neuroticismo, perfeccionismo, orientação ao
exercício e à aparência foram, em sua amostra, preditores significantes para Drive for
Muscularity. Esses achados contrariaram as expectativas dos autores, pois acreditavam que o
narcisismo também teria correlações significantes e seria um preditor de Drive for Muscularity, assim como ocorre para Drive to Thinness. Davis, Karvinen e McCreary (2005) concluíram que homens ansiosos, com tendências perfeccionistas e que são altamente focados na sua aparência e na sua forma física tendem a ter valores mais altos de Drive for Muscularity. Quanto ao narcisismo, os autores especulam que a falta de correlação pode ser explicada pela possibilidade de que apenas algumas características do narcisismo (e eles citam a vaidade como um exemplo) poderiam estar relacionadas com Drive for Muscularity. Mas é apenas uma especulação. Frente a ausência de correlação entre o índice de massa corporal (IMC) e Drive for
Muscularity, os autores ainda fazem uma consideração: esta medida antropométrica não
consegue separar massa magra de massa gorda e por isso, não aparenta ser de muita utilidade em pesquisas com homens atléticos.
Bergeron e Tylka (2007) investigaram se a insatisfação corporal masculina seria um conceito distinto de Drive for Muscularity, isto é, se cada um dos construtos avaliam
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aspectos distintos da Imagem Corporal de homens. Para as autoras, ainda era necessário esclarecer se a insatisfação com a musculatura, a gordura corporal e altura eram empiricamente distintos das atitudes e comportamentos ligados diretamente à Drive for
Muscularity. Recrutaram uma amostra de 368 universitários, com idade média de 19,11 (± 1,9)
anos. Avaliaram a satisfação corporal com a Male Body Attitudes Scale, Drive for Muscularity com a Drive for Muscularity Scale e a Drive for Muscularity Attitudes Questionnaire, o bem estar psicológico com as escalas: General Health Questionnaire-28, Center for Epidemiological Studies-
Depression Scale, Rosenberg Self-esteem Scale, Proactive Subscale da Proactive Coping Inventory e Psychological Hardiness Scale-Short Form.
Bergeron e Tylka (2007) concluíram que: a insatisfação com a gordura corporal prediz uma variância única no desconforto psicológico; a insatisfação com a gordura corporal prediz uma variância incremental nos sintomas de depressão; a insatisfação com a gordura corporal e com a musculatura predizem uma variância única na autoestima; insatisfação com a
musculatura prediz uma variância incremental no coping29; insatisfação com a gordura corporal
e com a altura predizem uma variância incremental na resiliência. No total, a insatisfação corporal (considerando a insatisfação com a musculatura, gordura corporal e altura) prediz uma variância entre 4,9% a 8,8% no bem estar psicológico dos homens da amostra. Drive for
Muscularity, por sua vez, prediz os sintomas depressivos, a autoestima e o coping. Na análise
das correlações bivariadas, a insatisfação com a musculatura teve uma correlação positiva com o fator 2 da Drive for Muscularity Scale, “comportamentos para ficar forte”, (r=0,27, p<0,001), uma correlação positiva com o fator 1 da Drive for Muscularity Scale, “orientação para a musculatura”, (r=0,84, p<0,001) e uma correlação positiva com a Male Body Attitudes Scale (r=0,68, p<0,001), sugerindo que a insatisfação com a musculatura e a Drive for Muscularity são construtos com características comuns, mas não idênticas.
29 Coping pode ser definido como o conjunto das estratégias utilizadas pelas pessoas para adaptarem-se a
circunstâncias adversas (ANTONIAZZI, DELLÁGLIO, BANDEIRA, 1998, p.274). Pelo modelo de Folkman e Lazarus
pode ser entendido como um conjunto de esforços, cognitivos e comportamentais, utilizado pelos indivíduos com o
objetivo de lidar com demandas específicas, internas ou externas, que surgem em situações de stress e são avaliadas como sobrecarregando ou excedendo seus recursos pessoais (ANTONIAZZI, DELLÁGLIO, BANDEIRA, 1998,
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Ainda, pesquisas prévias demonstraram que o uso de suplementação alimentar e de suplementos para melhora de performance estão positivamente correlacionados com Drive for Muscularity (CHITTESTER, HAUSENBLAS, 2009; DODGE et al., 2008; LITT, DODGE, 2008; McCREARY, 2007; McCREARY et al, 2007; MORRISON, MORRISON, 2006); assim como exercícios de resistência e compulsividade corporal – definido como o grau que a pessoa sente que deve seguir rigorosamente seu treinamento e planejamento alimentar (CHITTESTER, HAUSENBLAS, 2009; KELLEY, NEUFELD, MUSHER-EIZENMAN, 2010).
Se nos focarmos nos aspectos comportamentais, tem-se visto correlações positivas entre Drive for Muscularity e checagem corporal (McCREARY, SAUCIER, 2009; MORRISON, MORRISON, HOPKINS, 2003; POPE, PHILLIPS, OLIVARDIA, 2000). Checagem corporal – que inclui comparação social, pesagem e medições compulsivas de partes do corpo e vigilância sobre o corpo – é um comportamento incluído na descrição da dismorfia muscular (POPE, PHILLIPS, OLIVARDIA, 2000). Consome tempo, é estressante, pode causar perdas sociais e aumentar a insatisfação com o corpo e a musculatura.
Tem-se observado que a autoestima, a estima corporal, a resiliência, a satisfação corporal e coping associam-se negativamente à Drive for Muscularity (BERGERON,
TYLKA, 2007; CHITTESTER, HAUSENBLAS, 2009; MCCREARY, SASSE, 2000; MCCREARY, SAUCIER,
2009; NOWELL, RICCIARDELLI, 2008; VARTANIAN, GIANT, PASSINO, 2001). Entretanto, isso não
é uma regra (HATOUM, BELLE, 2004). Foi também demonstrado que Drive for Muscularity pode
ser preditora de sintomas depressivos, baixa autoestima e coping. Ainda, insatisfação com a musculatura, depressão, desconforto e angústia com o peso e o tamanho do corpo e
dependência de exercícios tem-se associado positivamente com Drive for Muscularity
(BERGERON, TYLKA, 2007; CHITTESTER, HAUSENBLAS, 2009; GROSSBARD et al., 2009; KELLEY, NEUFELD, MUSHER-EIZENMAN, 2010).
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