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Quadro 2 Tipologia de classificação dos imigrantes activos

4. Agora só não têm dinheiro As causas do processo migratório

4.2 Análise e comentários às entrevistas

Após esta breve introdução teórica, a proposta seguinte é procurar nos textos das entrevistadas os motivos que as levaram a imigrar para Portugal.

Começando por Nadia, aquela que já tinha uma experiência anterior de imigrante, a razão que a fez abandonar a Ucrânia e decidir-se pela tentativa de melhoria de vida num outro país foi enunciada logo nos primeiros momentos da primeira entrevista: Trabalho à escola, professora pouco, pouco. Pouco tempo porque pouco dineiro e depois viso e paia a Checoslováquia e trabalha muitos anos na Checoslováquia e depois, depois vai lá para a Ucrânia e muito amigos, muito colegos e primeiro amigos e falarem "Nadia, vai lá na Português!" E não tenho viso. E depois viso e pro Portuguese agora trabalha Português. Na Ucraniana é mãe, pai, filha e filho. Tudos. Irmão, depois, irmã muito, muito doente, vem para o Português. Clima - não sei, não sei! - e coração e cabeça e tudos! E vai embora na Ucrânia. E agora sozinha. Ah! Vida! (Nadia, 11 de Julho de 2003)

Nadia, educadora infantil, partiu da Ucrânia, juntamente com o marido, rumo à Checoslováquia, porque o salário não lhe permitia sustentar a família. A má remuneração do corpo docente no seu país, que a impediu de exercer a profissão para a qual tinha vocação e formação, foi também referida pela sua colega Irina:

Na Ucrânia não. Já disse a você : quando uma família dois economistas, dois professoras, dois médicos, família muito pobre, muito pobre. E nossas professoras, agora, elas na Itália, na Espania, cá em Portugal. (Irina. 8 de Julho de 2003)

Esteve muitos anos a trabalhar na Checoslováquia. Ela nunca disse quando saiu da Ucrânia, no entanto, tendo em conta que: 1) acabou o curso por volta de 1985/86 e que, pouco tempo depois, desistiu de exercer a profissão na Ucrânia; 2) afirmou ter imigrado com o marido, com o qual casou aos 23 anos, logo, entre 1987 e 1988; tudo

aponta que o seu percurso migratório tenha iniciado na segunda metade da década de oitenta.

No entanto, o desmembramento da Checoslováquia na República Checa e na Eslováquia (1993), levaram-na a regressar à Ucrânia uma vez que já não lhe compensava economicamente viver nos recém-criados países. Foi nessa altura que decidiu vir para Portugal, apesar de ter sido solicitada para voltar a trabalhar num estabelecimento da antiga Checoslováquia:

Dois anos antes, telefonar patroa da loja fora: ''Nadia, vem cá trabalha." Pouco dineiro. Porque crona, crona - dineiro eslováquio é crona- muito baixo. (Nadia 11 de Julho de 2003)

Na Ucrânia ficaram os pais, os dois filhos e a irmã doente, impedida de trabalhar, todos eles dependentes economicamente de Nadia, dado que o marido, embora esteja, segundo ela, a trabalhar em Portugal, não contribui para as despesas familiares, entregando-se, ao que parece, à bebida.

A situação familiar de Nadia agravou-se ainda mais com os problemas de saúde do pai: Irina refere que ele contraiu uma tuberculose e Nadia, numa conversa registada no ano seguinte, fala de uma trombose, não ficando, assim, bem claro se o senhor padece de ambas as doenças. Não restam dúvidas, porém, que o seu estado de saúde é grave, sendo uma pessoa que necessita de cuidados permanentes, tendo já perdido a sua autonomia:

(Irina: (...) Agora Nadia sempre manda dineiro pra ela, p'ra pai porque pai tem ... Posso

dizer ou não? (pergunta a Nadia) fuberculhose. Tem que fazer operação no Augusto mês.)

(Nadia 11 de Julho de 2003)

E depois veio pra casa muito doente, muito doente, agora pra casa.

Agora tem sessenta e cinco anos, muito perna doenta. Trombose. Agora pra casa.

Hospital, depois pra casa. Temperatura, depois não temperatura, depois vem. Muito problema porque eu trabalho e às cavalitas de mim. Depois muito mal... (Nadia 14 de Abril de 2004)

Atendendo ao pormenor de Irina pedir licença à sua colega para revelar a doença do

pai - tuberculose - tudo leva a crer que o senhor tenha contraído pelo menos esta

enfermidade. Em toda a parte do mundo ainda existem preconceitos quando se refere que alguém se encontra tísico e o cuidado manifestado por Irina no discurso é desse facto revelador, o que não invalida que tenha sofrido, igualmente, e para desgraça da família, uma trombose.

Como foi referido no primeiro capítulo, a família de Nadia vive numa grande quinta. Dadas as dramáticas condições familiares - a(s) doença(s) do pai e da irmã que os afastou do trabalho da quinta e das suas profissões - a sobrevivência da exploração agrícola está dependente do esforço económico empreendido por Nadia no estrangeiro. Esta situação foi confirmada pela sua colega Irina, enquanto conversava com Nadia:

(Irina: Ela deixa para si pouco viver. Porque família é toda ela muito pobre.) (Nadia 11 de Julho de 2003)

(Irina: Tem muitas vacas, muitas porcas, muitos patos. Ela tem grande quinta1 Grande

quinta! E mãe trabalha na quinta, Nadia também ajuda, ajuda mãe). (Nadia 11 de Julho de

2003

(Irina: Tem gran casa, gran quinta, muito ter e precisa dineiro para obras) (Nadia, 11 de Julho de 2003)

Por todas estas razões Nadia vive numa constante amargura, amargura essa que a faz fixar o olhar no chão quando fala e que lhe fez esquecer os sorrisos; ela sabe que toda a sua família está dependente de si... economicamente... e não só...

E todos os problemas, todos os problemas pra mira.

Problema, mãe telefonar: "Nadia, problema, Nadia, Nadia!". Nadia sozinha! (Nadia, 14 de Abril de 2004)

No que toca a Irina, a primeira da cinco a chegar a Portugal, quando se refere a Lviv, sua cidade natal, resume numa palavra o motivo que a trouxe a Portugal: súbita falta de dinheiro:

Nós moramos perto até a fronteira com a Polânia, com Polónia. E a gente quando quer dineiro e receber dineiro vai na Polónia, vai na Hungria, vai na Checoslováquia, e então receber. | Trabalham, é. Trabalha. E nossa terra, nossa terra, minha cidade é gente rico, rico. Tem muito I valor, tem casas, carros, casas de campo. Agora só não têm dinheiro. É isto; é este o í problema. (Irma, 8 de Julho de 2003)

Irina apresenta os habitantes da cidade de Lviv como pessoas que viviam de forma abastada devido a terem feito fortuna, no passado, como imigrantes em países outrora com regimes comunistas. Chega mesmo a enumerar os sinais exteriores de riqueza: casas próprias de habitação, carros e até casas de campo.

Quando foi entrevistada pela primeira vez, Irina tinha 49 anos. Tinham-se passado pouco mais de dois anos desde que chegara a Portugal. Até então nunca pensara em imigrar: a sua situação económica, enquanto mulher de um militar graduado que optara por viver em bases militares de pequenas cidades da União Soviética de forma a usufruir de maiores regalias sociais, podia considerar-se muito confortável:

Eu tenho casa, eu nunca comprei e não paguei nada, porque marido militar e nós, governo, governo dá pra ele, um apartamento sem nada, eu pago mais ou menos 25 euvros por mês. Temos tudo. Temos tudo: água, luz, gás. Depois meu marido militar e tem subsídio, ele foi militar 25 anos e agora tem muita subsídios. Pagamos pela luz, pela gás, pela água menos 50%. Menos... Porque nós nunca vivemos na grande cidade. Só pequenas aldeias para militar. E

I

sempre trocámos. Três, quatro anos, quando cinco anos já é muito tempo, já muito tempo. E nós

muito vezes nós trocámos de sítio. E para militar, situação na Ucrânia muito boa, muito boa.

Muitos subsídios, muitas coisas boas. (Irina, 8 de Julho de 2003) jl No entanto, a condição familiar de Irina mudou: se por um lado ela apontou a

dado: a passagem do marido à "reforma". Este facto pode causar, à partida uma certa estranheza uma vez que o mesmo já tinha atingido a elevada patente de brigadeiro, contudo, Irina queixou-se muito do baixo valor da reforma do mando:

I A minha família na Ucrânia fica normal. Só agora este tempo, este tempo, não chega dineiro para tudo, não chega. Pensão de marido muito pequena, muito pequena. Era brigadeiro, esta verdade, é verdade, brigadeiro, muito pequena, setenta euros. E não pode comprar coisas de comida. É muito, muito pouco. (Irina 8 de Julho de 2003)

Irina e a sua família viram-se confrontadas com a passagem de uma realidade para a outra: a da vida de uma militar no activo para a vida de um militar pensionista. Anteriormente, a vida dentro das cidades militares proporcionava-lhe à-vontade económico, porquanto o Estado acarretava grande parte das maiores despesas:

Cidades militares é muito bem, o Estado dá tudo: apartamento; para a criança tem escola. Tudo como pequeno bairro na cidade. É muito, muito bem. Tinha vivido bem, bem, não posso dizer que não, não. (Irina 15 de Abril de 2004)

E esta situação de ex-militar, pensionista do Estado, sempre gerou descontentamento, no seio da família de Irina, de longa tradição de militares, como se pode ver no extracto que se segue:

Irina: - Quando já ele fez reforma, reforma muito pequena. Reforma muito pequena! Entrevistadora: - Mas antes da Perestroïka era boa a reforma?

hina: - Antes da Perestroika, não. Ela já foi na tropa. Ele está na tropa na Perestroika. Entrevistadora: - Mas se fosse reformado antes da Perestroika era bom?

Irina: - Mais ou menos, não pode dizer que era bom. Meu pai também tinha reforma, meu sogro também tinha reforma militar. Não, mais ou menos normal.

Eu vou família em Portugal com reformado militar ele tinha reforma muito boa, é muito boa. Meu marido tinha reforma setenta euros. É muito pouco, muito pouco.

Filho estudou, filha estudou, preciso eu dar dineiro pra eles. É muito rica!

Antes, quando foi na tropa, não temos nenhuma problema. Quando já reformado, todas. (Irina 15 de Abril de 2004)

Apesar de Irina referir esta questão da insuficiência das pensões concedidas aos militares, também apontou a deterioração do exército após o fim da União Soviética. Aliás, como igualmente o frisou noutro momento das conversas, o seu genro, também ele ex-major, abandonou o exército devido às complicações e aos problemas existentes no seio das Forças Armadas Ucranianas:

Quando antes só uma army, tropa, uma Sovietíc Union, menos problema. Quando tudo partir, problemas muitos. (Irina, 8 de Julho de 2003)

Outra das causas citada por Irina dentro do cenário do descontentamento pelo recente panorama da Ucrânia diz respeito aos salários permanentemente em atraso, a angústia que essa vicissitude representa e o beco sem saída económico existente, porquanto esta situação é uma constante na economia ucraniana:

Na Ucrânia sempre achas não chega dineiro. E está sempre a ver quanto tempo tu vais ter mais dineiro, quando patrão paga mais dineiro, não saber quando. Trabalha, trabalha, trabalha e não há dineiro. Esperas um, dois, três, quatro meses ih! e patrão consegue não pagar. (Irina, 8 de Julho de 2003)

Eu trabalho na Ucrânia, eu trabalho. Fim do mês, fim do mês, não! Não tem dineiro para pagar! Não tem! Depois esperas mais um mês. "Oh, menina, não tem dineiro para pagar!". Tu consegues esperar, o que fazer? Trocar, mudar trabalho, não. Esperamos dois, três e pergunta: "Outra menina a seguir". É verdade! Esperas três, quatro meses e depois não chega dineiro, não chega. Cá, cada mês, cada mês, sempre, fim do mês patroa paga. Para marido também, não tem

problema. Cada mês tenho dineiro. (Irina, 8 de Julho de 2003) j Irina foi bem clara quanto à identificação no tempo da origem de todos estes

problemas económicos, respondendo objectiva e frontalmente à pergunta:

Entrevistadora: - Mas estes problemas foram quando acabou a União Soviética, foi? ! Irina: - É, quando acabou. Antes, está tudo bem. (Irina, 8 de Julho de 2003)

Outro dos motivos que levou Irina a procurar melhores condições de vida em Portugal foi o sonho do "El Dourado" transmitido pelos órgãos de comunicação social

responsável pelo facto de os ucranianos acreditarem que, uma vez chegados a este país, poderiam encontrar salários muitos superiores aos que, de facto, acabariam por vir a usufruir:

A minha amiga na Ucrânia, ela tem muita curiosidade. Sempre 1er, filosofia, sempre, sempre, muita curiosidade. Ela 1er no jornal que pode, vai, vai em Portugal. Pode ganhar dineiro, muito. Na Ucrânia agente vive muito mentira, nós tem. Aqui manda em Portugal, na Portugal, gente pra trabalhar, vive muito mentira. Quando estás em Portugal consegues ganhar dineiro, muito, muito, muito! Dois mil euvros por mês! Mais! Então, nós ouvimos e pensámos que esta era verdade. Depois, quando vem cá, ordenado é pequeno... (Irina, 8 de Julho de 2003)

Valentina é a mais velha das cinco operárias, a menos faladora e aquela que se diz mais desprendida da Ucrânia. De início não quis participar nas conversas mas, posteriormente, aderiu espontânea e surpreendentemente, mostrando à entrevistadora os seus certificados de habilitações. No entanto, nunca se alargou muito nas suas narrações. Será uma característica da província que a gerou, distante geograficamente das zonas ocidentais onde nasceram as suas compatriotas e colegas de trabalho?

Apesar de tudo, mesmo quando silenciosa, era impossível ignorá-la e ela recusar o seu passado: no seu grande porte, na avidez da sua pele, na vastidão do seu olhar, a trabalhar silenciosa ao fundo na fábrica, aparecia com imponência o estandarte de uma bandeira azul e amarela.

Depois de ter lutado por um bom currículo, Valentina conseguiu um lugar como directora de uma loja, loja essa que teve de ser vendida após a Perestroika. Foi esse o marco histórico decisivo na sua vida e que condicionou decisivamente a sua permanência na Ucrânia:

Estudei, estudei, estudei, estudei.

Eu trabalhei na Ucrânia... loja! Directora de loja. Depois, Perestroika, lá lá lá..., eu vende-se esta loja e vai embora pra Portugal com marido. (Valentina, 11 de Julho de 2003)

E ficou por aqui. Não apresentou quaisquer motivos para além destes, como se quisesse fazer um corte com o passado, com a terra que a tinha enviado para Portugal. Centremo-nos, no entanto, no tom do discurso, quase melodioso: a repetição do verbo estudar, acentuando as sua qualificações e a importância do estudo, condição sine qua

non para uma profissão, não só com compensações económicas mas com valorização

social. Até que algo faz cair tudo por terra; esse acontecimento tem um nome basta, dizê-lo, toda a gente o conhece mas, sobretudo, já o sentiu na pele e já o avaliou negativamente. Segundo o texto de Valentina, o juízo é unânime, por isso o seu cantarolar, ao resumir uma cognição social, deixa de ser uma voz individual e passa para o nível ideológico; mais do que uma ironia implícita que sintetiza o drama de um povo pós-Perestroika, será sinónimo de algo que todos subidamente conhecem, dado que, na Ucrânia, qualquer um tropeça nas suas consequências.

Quando esta entrevistada falou do seu filho, o qual já tinha trabalhado em Portugal e estava na iminência de o fazer novamente, traçou-nos o panorama de desemprego da sua cidade, Dnipropetrovski, onde, pelas suas palavras a oferta de emprego é escassa tendo em conta a sua forte densidade populacional:

Pobre! Agora, pobre (o filho). Sempre nos chama dineiro sempre! ... e tem diploma! Não consegue trazer trabalho, não consegue. Complicado, cidade grande.. (Valentina, 11 de Julho de 2003

Passando agora a Sonya, esta não teve qualquer experiência de imigração, aliás, a sua história chega a ser comovente porque, embora casada e mãe de duas filhas, nunca saíra, até então, da casa paterna:

Eu nunca saio, 45 anos, só um cidade! Primeira vez ando! (Sonya, 8 de Julho de 2003)

Por vida, uma rua, uma casa ... ("O mesmo trabalho. Era muito constante na vida" diz, a rir, Irina). (Sonya, 8 de Julho de 2003)

Esta mulher tomou a corajosa decisão de enveredar pelo caminho da imigração devido ao facto de ter perdido o seu posto de trabalho, na altura em que a Ucrânia começou a sofrer grandes convulsões políticas:

Sonya: - (...) Depois, procura trabalho na cidade, também atelier, não grande, pequeno atelier, para fazer roupa militar. Porque cidade, cidade, pequena mas tem muitos empregos, muita fábrica e tem ... anda muito militar com isto. E trabalhar 20 anos. E depois quando fecha quando há problemas na Ucrânia perdi tudo, perdi o emprego.

Entrevistadora: - Quando perdeu o emprego?

Sonya: - 90-91 ano. Muito chorar. Habituada. Gosta.(Sonya 8 de Julho de 2003)

Conversar com Sonya foi a experiência mais intimista de todo o processo de recolha do material. Ela estava todo o dia sentada a um canto da sala de trabalho e a sua tarefa consistia em coser os tecidos que iriam ser utilizados na confecção dos abat-jours. Ao seu lado, sentava-se uma operária portuguesa que atendia as chamadas quando a patroa não estava. Este local, devido às conversas telefónicas e ao barulho da incansável máquina de costura, era, por excelência, o mais ruidoso de todo o recinto. Se juntarmos os sons das canções do rádio sempre ligado e o barulho dos ferros de engomar industriais, dificilmente se conseguia ouvir a voz de Sonya que falava da sua vida em suaves sussurros como se contasse uma história a uma criança, na esperança de que ela adormecesse.

Por isso, embora tenha sido incompreensível o depoimento que se relacionava com o emprego do marido, noutra parte do testemunho Sonya refere que ambos ficaram desempregados, juntamente com a filha, Dacha (actualmente sua colega de trabalho): Era muito bom, muito, muito rico! Tenho casa! Carro! Casa tenho tudo mobilado. Em casa tenho tudo, igual aqui. Tudo! Depois, problema. Quinta - também só problema. Depois, não há trabalho, não há dineiro. Eu, para casa. O marido, para casa. Filha para casa. Não há trabalho para a vida, para viver. Para comida para casa não há dineiro. (Sonya, 8 de Julho de 2003)

A partir de então a família, que outrora vivia numa situação desafogada, passou a debater-se com a falta de dinheiro para satisfazer as necessidades mais básicas do quotidiano, tais como o aquecimento, a alimentação, os estudos da filha mais nova: Tem casa. Tem tudo. Tem televisão. Tem vídeo. Tudo.

Depois problemas de dineiro. Na Ucrânia é fria e casa aquecer com gás, gás natural. E muito dineiro. Por mês paga, por mês (faz as contas e a respectiva conversão de cabeça, em ucraniano), 50 euros, quando muito frio, negativo, menos 25. Porque a reforma é pouca. Mãe, 25 euros, pai também. Só para a comida... só para a comida.. Sempre ajuda porque tem pena, muito frio. (Muitas interferências provocadas pelo trabalho)

Pequena filha ano passado acaba a escola, quer estudar mais. Ela, normal. Preciso dineiro, porque agora é preciso pagar, agora já não há assim dineiro para ir na universidade. É preciso pagar. ("A vida deles é muito dura, a educação", diz Irina.) (Sonya 8 de Julho de 2003

Sonya reforçou este panorama de pobreza existente na Ucrânia apresentando a situação da irmã e do cunhado, ambos professores, os quais estavam quase a decidir- se, eles também, pela solução da imigração, uma vez esgotadas todas as hipóteses de alcançar as condições mínimas de sobrevivência:

i Minha irmã, ela ganha muito pouco. Ela ganha trinta euros. Ela é professora Biologia. Marido dela, professor de Música. Ele junto ganha cinquenta. Muito pouco. Não chega. Ela também diz-me: "Já não tenho paciência para esta vida paia pagar coisas." Tem filho, tem pequeno filho, 4 anos, ela também diz: "É pena desta vez deixa escola e vai." É porque a vida melhor mas dineiro não chega.

Agora tem business, abre loja supermarcket, tem comida tem tudo, mas não pode comprar! Quanto é que paga só para aquecer a casa?

No Inverno paga sessenta euros. É preciso aquecer com gás. Cada mês, cinquenta sessenta euros. Só gás.

Minha irmã ganha trinta euros!

Não tenho grande casa. Só vivemos junto: mãe, pai, nós. Como dizer ? (diz a palavra em ucraniano) espaço grande.

Onde mora irmã, pequeno espaço. Mas também, vinte euros ela paga.

É difícil. Ela liga desliga, liga desliga. É complicado. Depois, quando é calor, não. Menos! É complicado. Ela diz: "Dineiro não chega pra nada".

ordenado. Complicado! (Sonya, 13 de Abril de 2004)

Outra questão referida por Sonya foi o facto de ela ter chegado a Portugal sem ter a noção certa das condições de vida existentes no novo país onde ia viver, iludida de que conseguiria poupar muito mais do que, na realidade, estava a fazê-lo, arrastando, por isso, o tempo de permanência que tinha destinado a viver longe da Ucrânia, dos seus pais e, sobretudo, da sua filha mais nova:

Agora... quer voltar. Nós todos quer voltar. Quando chego aqui penso três/quatro anos. Trabalhar. Pagar comer. Agora chego aqui, tudo diferente... Comida muito caro. Depois também preciso mandar paia a Ucrânia. Não ganha muito, muito.

Agora, não sei. Agora, com calma. Agora, trabalhar! Na Ucrânia a vida agora é difícil, trabalho não há, vida também é caro. (Sonya, 8 de Julho de 2003)

Dacha, filha de Sonya, fala assustada, sempre a olhar para a mãe, como se estivesse a pedir o seu consentimento para voltar para a sua cidadezinha de Khust. Diz que imigrou para acompanhar os pais, dado que se encontravam todos desempregados, como já foi referido anteriormente. No entanto, mesmo antes de ser despedida da fábrica, enquanto trabalhava como cabeleireira, o seu ordenado só lhe permitia satisfazer os gastos do dia-a-dia, o que seria insuportável para uma jovem que vivesse sozinha e que tivesse de pagar do seu bolso todas as despesas de uma casa e da