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Entrevistadora: - A Dacha vai falar tudo o que quiser, sobre tudo o que quiser, está bem?

Dacha: - Mas quer saber primeiro o quê? Então? Vida d1 eu? Da Ucrânia? País muito

bonito, muito lindo. Onde que eu nasci. Onde que tinha muitos amigos. Onde é que tem minha irmã. Que é que mais?

Entrevistadora: - A Dacha tem que idade, quantos anos?

Dacha: - Tenho vinte e quatro anos. Tenho vinte e quatro anos. Estudei, acabei a escola. Desisti estudar. Tirei um curso de cabeleireira. Trabalhei, trabalhei um ano. Depois mudei, mudei pra fabrica e pronto, agora cá estou! E é assim...

Entrevistadora: - E a escola era boa na Ucrânia? Dacha: - Sim. Era muito boa, as professoras, tudo! Entrevistadora: - Estudava o dia todo?

Dacha: - Sim.

Entrevistadora: - E que matérias é que estudava? Dacha: - Matemática, é tudo! O mesmo do que aqui. Entrevistadora: - Estudava russo, era?

Dacha: - Não. A língua nossa. Entrevistadora: - Ucraniano? Dacha: - Sim, sim.

Entrevistadora: - Inglês, estudava?

Dacha: - Sim, também, foi, sim. Matéria inglês. Também russo. E os outros: é Matemática, é Biologia, é História, é Música.

Entrevistadora: - E na sala tinha rapazes? Dacha: - Sim. Temos rapazes e nós, raparigas.

Algumas acabaram... (diz em russo e pede tradução à mãe) aqui é nona classe, foram estudar mais para outro sítio e algumas continuaram.

Dacha: - Tinha seis, seis anos, sim.

Entrevistadora: - E até aos seis anos ficou em casa? Dacha: - Não. Jardim infantil.

Entrevistadora: - E a sua mãe pagava ou era grátis? Dacha: - Não, sem pagar; não, sem pagar nada. Entrevistadora: - E era perto de casa?

Dacha: - Sim, foi perto, foi perto de casa. Não gostava muito. Entrevistadora: - Não? Porquê?

Dacha: - Eu chorar tanto! Sim! Eles deixaram-me, depois eu esperei ela, quando a mãe vem buscar. Oh!

Entrevistadora: - E depois esteve na escola até à nona classe, foi? Dacha: - Até... não! Nona e mais dois.

Entrevistadora: - Décimo primeiro.

Dacha: - Sim. Acabei, acabei dezasseto, dezassete anos.

Entrevistadora: - Como é que era lá, era tudo igual, até ao décimo primeiro, todos estudavam igual, ou chegava o nono ano e escolhiam outras disciplinas, outras matérias?

Dacha: - Em cada ano, depois da cinco ano da estudar, uma matéria ou dois mais. Entrevistadora: - Toda a gente?

Dacha: - Sim, sim, sim. Todo o ano! Só uma professora, só uma professora estudava tudo, a escrever e 1er e Música e Matemática. É uma professora. Depois da cinco anos a estudar assim, teremos uma professora que foi, como é que dizer?, Sem mudar, não mudou e já até, até o fim da escola ela tava connosco. É uma que estava, por exemplo, ela podia dar professora de Biológica, da qualquer e de outras matérias - História - e doutras pessoas. E cada ano mais uma matéria; cada ano, por exemplo, temos três, depois estudei um ano, mais uma, depois estudei um ano, mais uma ou duas.

É assim. Agora as notas são diferentes. Entrevistadora: - Como eram as notas?

Dacha: - Como que eu estudei? Estudei bem!

Entrevistadora: - Como lhe davam as notas? Eram números?

Dacha: - Era número dois, três quatro, cinco. Só! Mas agora não. Agora é nove, dez, onze e doze. Aqui não?

Entrevistadora: - Sim, também. Dacha: - Também?

Comigo era só as notas dois, três, quatro, cinco. Mais alto - cinco. Entrevistadora: - Aqui até à nona classe. Depois é até vinte. Dacha: - Agora, lá é até... não sei.

Entrevistadora: - E depois da sua nona classe, décima classe, onze classe, tudo igual para todos?

Dacha: - Sim. Sim.

Entrevistadora: - Depois foi fazer curso de cabeleireira?

Dacha: - Sim, fui tirar um curso de cabeleireira, nove meses e depois fui trabalhar um ano.

Entrevistadora: - Era bom trabalhar como cabeleireira, ganhava bem?

Dacha: - Ganhava como...eu mais ao menos, pra mim, só pra mim estava bem: pra ir descansar, pra ir comprar as coisas... mas pra (incompreensível), pra dar à mãe, pra pagar mais não, não dava, não. Depois fui pra fábrica.

Entrevistadora: - Era fábrica de quê?

Dacha: - Era um grande espaço e mandaram de lá as coisas. Fazemos roupa: camisolas, camisas. E é assim também.

Entrevistadora: - Não ficava triste de ter estudado tanto e depois estar a trabalhar numa fábrica?

Dacha: - E assim a vida: não podiam estar lá, preciso foi trabalhar. É só minha. É assim. E agora cá estou!

Dacha: - Não sei. Depois, depois, não sei. Eu quero ir de férias. Depois ver amigos. Depois voltar pra casa.

Entrevistadora: - E aqui tem amigos? Dacha - Tenho, tenho pouco.

Entrevistadora: - Amigos ucranianos ou portugueses. Dacha: - Tenho ucranianos.

Entrevistadora: - E o que é que faz aqui um jovem ucraniano como a Dacha? Dacha: - Até eu já não sei. Tem sair mas é mais horas que estou em casa. Entrevistadora: - Nunca sai?

Dacha: - Sim, sim, pra ver cinema, por exemplo. Entrevistadora: - Vai ao cinema?

Dacha: - Foi ao cinema. Foi a um filme.... dos Anéis... como é que? Entrevistadora: - O Senhor dos Anéis.

Dacha: - Sim, sim, sim.

Entrevistadora: - E já consegue 1er ou ouve em inglês? Dacha: - Não, li na língua.

Entrevistadora: - Bravo! E foi com quem?

Dacha: - Com amigos. Fui com filho da Irina e com filho de Valentina5.

Entrevistadora: - E como é que aprendeu Português? Dacha: - Como é que aprendi? Fui à escola.

Entrevistadora: - À noite?

Dacha: - Sim, começou às oito até às onze. E ... pronto! Então era as pessoas, com pessoas, a televisão, nós também pouco falar. Depois, aprendi! Também não é tão fácil!

Entrevistadora. - E o que é que acha dos portugueses? Pode dizer à vontade que eu não me zango.

Dacha: - Não percebi a pergunta.

Entrevistadora: - O que é que acha dos portugueses e de Portugal? Dacha: - As pessoas?

Entrevistadora: - O que é que estranhou mais em Portugal? A comida? Dacha: - A comida?

Entrevistadora: - Gosta da comida?

Dacha: - Não comi tudo, mas gosto. Só comi as bortch6, comi uma sopa, ovos e com

pão. Como é que se chama?7

Entrevistadora: - O que é que a impressionou mais em Portugal?

Dacha: - As pessoas são simples. Não ligam, não dão tanta atenção. É simples. É simples. As pessoas simples. Não tratam mal as pessoas. Não sei, mas comigo... Entrevistadora. - Nem quando esteve a trabalhar no hotel?

Dacha. - Também! Se não percebeu alguma coisa, sim. "Oh, não percebes nada!". Isso tudo!

Foi um pouco. Mas aqui, foi bom. Gostei. E pessoas também gostaram. E já tanto tempo estar lá.

Entrevistadora: - Há muita gente jovem aqui, ucranianos jovens em Portugal ? Dacha: - Acho que há, sim.

Tem os casais novos que casaram, que vieram junto.

Entrevistadora: - Casaram, mas casaram ucranianos com ucranianos...? Dacha: - Sim, sim, sim.

Entrevistadora: - Não conhece quem tenha casado com portugueses? Dacha: - Tem, mas eu não conheço muito. Mas ouvi falar.

Entrevistadora: - Mas não tem amigos portugueses? Dacha: - Não, não, não tenho. Tenho aqui (na fábrica).

Entrevistadora. - Não tem costume de ir a casa de portugueses?

Dacha: - Não. Não tem tempo.

Entrevistadora. - O sábado e o domingo fica em casa?

Dacha: - Às vezes passear, no Verão.8 -.

Entrevistadora: - Aqui há Igreja Ortodoxa? Dacha: - Aqui não, acho que não.

Entrevistadora: - E como é que foi o seu Natal, este Natal? Dacha: - O meu Natal, como foi o meu Natal?

Em casa, teve em casa, com mãe e com pai, com meia noite. Preparamos a mesa.

Entrevistadora: - Como é que era a mesa?

Dacha: - E comida qualquer, não temos comida especial. Não, não tem.9

No nosso Natal tem uma tradição. As raparigas fazem um vestido, um vestido branquinho ... é um tradição... um vestido do... um vestido do animal, depois com coisas, não pode explicar. E depois vão por as casas e cantam... e não entras só. Bata à porta, fica, cantas, entras, bebes um pouco vinho, comida.

Entrevistadora: - E porque é que são os doze pratos? Por causa das doze badaladas? Dacha: - É, é.

- Perguntou às colegas portuguesas e chegaram à conclusão que seria açorda alentejana.

- A mãe interrompe e acrescenta: "Connosco, mais ou menos todos. Família de Valentina, (refere outras pessoas) e nós."

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- A mãe interrompe-a para a corrigir: "Tem, Dacha. Tem. Como dizer? Que nós, antes de Natal, (nome em ucraniano), chama-se (nome em ucraniano): é comida simples, sem gordura, agente põe só noite antes de Natal. Chama-se (nome em ucraniano). E só pode comer comida sem gordura.

Depois, na outro dia já pode comer tudo: com carne, com... Não pode comer carne nesta norte. Depois tem canto especial, vai pra casa e cantar. Chama-se (nome em ucraniano). É o Natal! O nosso Natal. É o Ano Novo, é! É o Ano Novo, mas é normal, é igual aqui. Ano Novo. Primeiro Janeiro. Aqui é seis Janeiro. Tem que estar na mesa doze pratos diferentes durante três dias: seis, sete e oito.

Entrevistadora: - Dão prendas?

Sonya: - Agora pró Ano Novo. Só pra crianças. Pequena prendas. Entrevistadora: - E têm tradição de Pai Natal, Menino Jesus? Sonya: - Pai Natal só Ano. No nosso Natal, não.

Pai chama Did Moroz, igual aqui, dia 24 de Dezembro.

Nós non. Chama-se Mo. Pai de Natal chama-se Pai de Ano Novo. Tem um homem com roupa vermelho, com barbara branca (o barulho não deixa perceber).

Entrevistadora: - Então, quer dizer, é um homem e uma mulher? Sonya: - Sim. É um homem velhote e a rapariga é nova, é novinha."

Entrevistadora: - E que festas importantes têm mais? É a Páscoa, o Natal, o Ano Novo, têm mais festas importantes?

Dacha: - Tem, Dia da Mulher. Março. 10

- A mãe acrescenta:" Tem, Dia da Mulher. Março. E muito importante?

É, é muito importante. Muita pra Ucrânia Dia da Mulher. E que fazem no Dia da Mulher?

Passear, dão umas flores, pequenas flores, pequenas prendas. Já no tempo do Comunismo era dia especial?

Antes, sempre. Dia sempre. E tempo do comunismo também. Só depois dia Um de Maio, Dia do Trabalhador.

Antes, agora não.

E fazem festa de Perestroika? De Perestroika não.

Estou a inventar...

Dia Nove de Maio, Grande festa! Grande vitória! Ah! Sobre a Alemanha!

Também é uma grande festa.

ANEXO II