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Quadro 2 Tipologia de classificação dos imigrantes activos

6. Bandido todos dineiro A procura de emprego

6.1 O tráfico de pessoas

Uma da questões que se relaciona directamente com as políticas de restrição dos vários países europeus no que toca a entrada de estrangeiros no seu solo é o tráfico de pessoas, o qual actualmente anda ligado ao mercado do sexo, aos mercados de trabalho e à migração ilegal (SASSEN, 2002: 45).

Para que não exista qualquer tipo de equívocos, optou-se por acentuar a distinção entre o tráfico de mão-de-obra e prostituição (que diz respeito, geralmente, às mulheres e às crianças) na legitimidade das funções a ocupar nos países de destino; sendo assim, a prostituição surge como uma actividade manifestamente discutível quanto à legitimidade, ao contrário do tráfico, o qual tem a ver com o projecto migratório de indivíduos que recorrem aos serviços das redes ou de outros indivíduos para serem colocados em postos de trabalhos das economias dos países receptores (PEREIRA; SABINO; MURTEIRA, 2005: 37).

Em 2000, a Assembleia Geral das Nações Unidas, também conhecida como Convenção de Palermo, adoptou a Convenção contra Criminalidade Organizada Transnacional, que contém o "Protocolo Adicional relativo à Prevenção, à Repressão e à Punição do Tráfico Ilícito de Migrantes por Via Terrestre, Marítima e Aérea" (ambos entraram em vigor em 2003) que apresenta, no artigo 3.°, alínea a), três situações que, geralmente, se encontram interligadas com o tráfico de pessoas (EUROPEAN COMMISSION, 2004: 47) :

• o uso de ameaça, força, coerção, rapto, fraude ou engano, abuso de poder ou da posição de vulnerabilidade de alguém ou a entrega ou aceitação de pagamentos ou benefícios para obter o consentimento de alguém que tem o controlo sobre outra pessoa;

• a exploração da prostituição e de outra ou de outras formas de exploração sexual, trabalho ou serviços forçados, escravatura, práticas similares à escravatura, servidão ou recolha de órgãos.

Embora não exista uma noção universalmente aceite de tráfico de pessoas, o facto é que qualquer uma delas, seja ela qual for, acaba sempre por abarcar três elementos essenciais: "o recrutamento, transporte e acolhimento das vítimas; a inexistência ou condicionamento da vontade das vítimas; e a sujeição a actividades degradantes ou desumanas" (COSTA, http://pascal.iseg.utl.pt/~socius/wp/wp200408.pdf: 31).

O aumento da actividade das redes de tráfico tem-se verificado devido à conjugação de um conjunto de factores (PEREIRA; SABINO; MURTEIRA, 2005: 32): por um lado, a crescente procura de migração internacional, seja nos país de origem, seja nos de destino, aliada às políticas restritivas existentes nos Estados de destino, particularmente nos da União Europeia; por outro lado, o baixo risco de detenção, investigação e prisão que constitui a prática desta actividade devido aos escassos recursos materiais afectos ao policiamento, à corrupção no controlo de fronteiras, à falta de vontade política no combate, às políticas restritivas, que não se fizeram acompanhar de legislação adequada sobre o tráfico nem da necessária cooperação a nível interno ou internacional.

Estes dois factores contribuem para o enriquecimento dos que se dedicam a este tipo de actividades e, apesar das lacunas já mencionas no combate ao alastramento das

suas teias, têm esbarrado com uma vasta produção legislativa internacional no sentido de diminuir a sua actividade e com a criação de mecanismos que visam o seu ataque. Contam-se entre esses meios, a título exemplificativo, a Europol (Serviço Europeu de Polícia); o programa STOP que visa a formação e o intercâmbio de informação entre os responsáveis contra o tráfico e a exploração sexual de menores; a Rede Judiciária Europeia; a Convenção relativa ao Auxílio Judiciário Mútuo em Matéria Penal entre os Estados Membros da UE; a Eurojust, agrupamento de procuradores, magistrados ou oficiais de polícia dos Estados membros que visa incentivar a aferição de procedimentos penais no que toca os comportamentos criminosos que impliquem mais do que um dos estados membros (COSTA, 2004:16,17).

À medida que os países europeus mais procurados pelos trabalhadores migrantes lhes fecham as suas fronteiras, a prestação de serviços das redes de colocação de trabalhadores ilegais continuará, inevitavelmente, a ser solicitada por muitos indivíduos, como única ponte entre os países emissores e receptores. Neste processo, quem mais requisita os serviços a estes grupos ilegais de colocação de migrantes são pessoas provenientes de regiões muito pobres e que se encontram em situações de profundo desespero ou de desconhecimento das condições de trabalho e de exploração que os esperam.

No que toca a caracterização dos traficantes, estes, segundo Aronowitz (citado por (PEREIRA; SABINO; MURTEIRA, 2005: 40) não têm um perfil homogéneo, apesar de apresentarem alguns pontos em comum. O que não há dúvida é que as redes de tráfico apontam sempre para uma organização, embora nem todas tenham o mesmo elevado nível de complexidade, não se podendo especular que um grupo desta natureza seja uma rede de crime organizado.

Cada rede de tráfico é composta por sub-unidades independentes, embora articuladas entre si, que controlam e se especializam por cada uma das fases do processo, o qual se divide, grosso modo, no recrutamento, no transporte e no controlo dos migrantes no país de chegada. Nesta última fase, os traficantes submetem os indivíduos traficados a condições muito duras, através do controlo de residência, da apreensão de documentos, do endividamento pelo transporte, das constantes ameaças de deportação ou de denúncia aos serviços de controlo de imigração, etc. .

No que toca as características gerais dos indivíduos traficados, segundo Salt (citado por (PEREIRA; SABINO; MURTEIRA, 2005: 43), a diversificação das nacionalidades observou-se a partir dos anos noventa, juntando-se aos cidadãos da Europa Central e de Leste, que aumentaram cada vez mais, os cidadãos provenientes dos continentes asiático e africano, bem como do Médio Oriente.

Uma actividade que está igualmente relacionada e que se confunde com o tráfico de pessoas é o smuggling ou auxílio à imigração ilegal. Tanto uma como outra são actividades criminosas e, embora tenham algumas semelhanças, à partida distinguem- se porque o objectivo do smuggling é atravessar as fronteiras ilegalmente, violando os interesses políticos do Estado, enquanto que o tráfico de pessoas tem como objectivo explorar a vítima, violando os direitos humanos.

Com base em informações recolhidas (COSTA, http://pascal.iseg.utl.pt/~socius/wp/wp200408.pdf: 32), foi elaborado um quadro com

a sistematização das semelhanças e das diferenças existentes entre o tráfico de pessoas e o smuggling.

Tráfico de pessoas 'Smuggling*

Semelhanças • Violação das regras de entrada e de permanência de um país através da colocação de alguém dentro das suas fronteiras.

• Pagamento em dinheiro fornecido ao responsável pelo serviço em cima referido. consentimento da vítima O pagamento efectuado O lucro do criminoso A liberdade da vítima A estrutura organizativa dos agentes

Não existe (um possível acordo inicial que não corresponde à verdade, não é sinónimo de liberdade pelo desconhecimento que a vítima tem das condições que a esperam no país de destino). O preço é muito elevado e| tende a aumentar à chegada ao destino, submetendo o migrante ao traficante através de volumosas quantias e| juros.

O traficante explora a vítima sobretudo após a sua colocação no local de destino. Limitação da liberdade da vítima pelo traficante (apreensão de documentos, encarceramento, maus tratos, etc.).

Organização geralmente bem estruturada, envolvendo a complexidade do processo: recrutamento, transporte, colocação no mercado de trabalho, cobrança das dívidas, protecção e vigilância, lavagem do dinheiro, etc..

A vítima manifesta sempre o seu acordo.

O preço é referente âs despesas da viagem e ao trabalho do passador.

O passador cobra à vítima as despesas do transporte.

Com a chegada ao país de destino, cessa qualquer tipo de laço com o passador.

• Prática individual ou de uma organização simples.

Aronowitz (citado em PEREIRA; SABINO; MURTEIRA, 2005: 38) identificou cinco factores básicos que conduziram à expansão do tráfico e do smuggling: 1) crescente pobreza e falta de oportunidades das pessoas; 2) a diminuição do controlo das fronteiras da Europa de Leste devido à queda do muro de Berlim; 3) a internacionalização da economia e a globalização; 4) os avanços nas telecomunicações e nos transportes; 5) o envolvimento cada vez mais acentuado do crime organizado nestas actividades.