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L 1 Sonya refere que teve muitos problemas mas não os especifica, embora, na entrevista

7. Mandamos dineiro da sogra e ela chora, chora, chora, chora Oh, graças a Deus!

7.5 A relação com os portugueses

Irina mencionou o bom acolhimento que teve, quer junto das colegas de trabalho portuguesas, tenham elas sido as da casa de saúde ou as da fábrica, quer junto dos vizinhos. De resto, de todas as entrevistadas, Irina é a que se aproxima mais do "carácter mediterrânico": conversa fácil, bem disposta, fala com espontaneidade da sua vida, com uma necessidade constante de participar em todas as conversas; não esqueçamos, também o seu passado viajado e cosmopolita que a ensinou a conviver com diferentes realidades:

I Irina: - (...) Gente portuguesa, gente portuguesa, meninas portuguesas muita boas. Para todos muito abertas e muito boas. Sempre, sempre, sempre ajuda, sempre ajuda. Portugueses e portuguesas trabalhadores sempre ajudam. E não tenho nenhuma problema com trabalhadores, nenhuma! Trata bem. É verdade, é verdade! Meninas muito boas!

Eu trabalhei na casa de saúde: muito boa! Esta firma: muito bem! Meninas muito boas. Entrevistadora: - E os vizinhos, na rua... acha que tratam bem?

Irina: - É! É muito bom, muito bom! É verdade! Eu digo com todo de coração! É verdade! Entrevistadora: - Eu não tinha essa noção...

Irina: - É verdade porque não pode dizer mal, não pode. (Irina, 8 de Julho de 2003)

O à-vontade de Irina prende-se, naturalmente, com a sua filosofia de vida e com a concretização do seu projecto de vida; ela é já uma mulher realizada, porquanto, muito cru que pareça, segundo esta contabilista:

I Quando ganhas, depois estás contente. Coração não dói e não tens muitas saudades. Ganhas e já estás alegre e já tudo bem. (Irina, 15 de Abril de 2004)

E de facto, o seu bem estar económico em Portugal é, como já se analisou, uma realidade: a sua familia já pode comportar as despesas de uma casa só para si, já

compraram automóvel, sustentam, na Ucrânia, a sogra de Irina e facultam, ao neto, o acesso à educação mais elitista na cidade de Lviv.

O filho de Irina, jovem solteiro de vinte e dois anos, aparenta estar já completamente integrado na sociedade escalabitana, ao ponto de não querer voltar para o Ucrânia: o único constrangimento que o impede sair mais à noite para se divertir é a questão económica, isto é, tem de conter-se nas despesas, de resto, já tem amigos portugueses, um dos quais, para além de frequentar a sua casa, até o convidou para a cerimónia do casamento:

Entrevistadora: - Ele é novinho... tem vinte e...

Irina: -... vinte e dois anos. Hum... mas muito novo! Ele não quer voltar na Ucrânia. Entrevistadora: - E o que é que ele faz sábados e domingos? Já sai?

Irina: - Ele tem computador e sempre computador. Entrevistadora: - Internet?

Irina: - Não temos Internet porque não temos linha telefone, com telemóvel é muito caro. Tu sempre compra de sempre e sempre trabalhas.

Entrevistadora: - Ele não tem amigos?

Irina: - Tem. Mijail, filho de Valentina, filho de Valentina. Só vai para a discoteca não muito franquemente. Não, só às vezes. Tem dineiro não muito alto. Ordenado não muito.

Entrevistadora: - Tem amigos portugueses?

Irina: - Tem. Tem amigos. Soldador dele é muito amiga dele, muito amigo dele. Ele sempre

ajudo, ajudo, ajudo. Ele chamou Yuri ir para o casamento. Entrevistadora: - Convidou-o para o casamento?

Irina: - Hum, hum. É muito amigo. É bom, muito bom. Ele sempre entra na nossa casa. Tudo sempre. E rapaz é muito bom, muito bom. (Irina, 15 de Abril de 2004)

Em relação a Dacha, a jovem operária entrevistada, já não podemos afirmar que ela esteja muito à vontade em Portugal. Em primeiro lugar há que ter em conta um conjunto de circunstâncias inibidoras, relacionadas com a sua personalidade, uma vez que, como ela própria relatou, em pequena ficava no jardim-escola a chorar à espera da mãe, logo, não se adaptava a novas situações:

Entrevistadora: - E até aos seis anos ficou em casa? Dacha: - Não. Jardim infantil.

Entrevistadora: - E a sua mãe pagava ou era grátis? Dacha: - Não, sem pagar; não, sem pagar nada. Entrevistadora: - E era perto de casa?

Dacha: - Sim, foi perto, foi perto de casa. Não gostava muito. Entrevistadora: - Não? Porquê?

Dacha: - Eu chorar tanto! Sim! Eles deixaram-me. depois eu esperei ela, quando a mãe vem buscar. Oh! (Dacha, 13 de Abril de 2004)

Outra questão, é a que Dacha nunca tinha saído com os seus país da sua cidade natal, ao contrário de Yuri, que levou a infância a mudar de cidade, de escola, de amigos, por isso não é de estranhar que se isole em casa nos tempos livres e que conheça tão pouco da cultura portuguesa, neste caso concreto, da gastronomia:

Entrevistadora: - Gosta da comida?

Dacha: - Não comi tudo, mas gosto. Só comi as bortch, comi uma sopa, ovos e com pão. Como é que se chama?

(...)

Entrevistadora: - Mas não tem amigos portugueses? Dacha: - Não. não, não tenho. Tenho aqui.

Entrevistadora: - Não tem costume de ir a casa de portugueses? Dacha: - Não. Não tem tempo.

Entrevistadora: - O sábado e o domingo fica em casa?

Dacha: - Às vezes passear, no Verão. (Dacha, 13 de Abril de 2004)

Entre esses passeios, contou-se uma ida ao cinema, acompanhada de jovens amigos ucranianos (claro!):

Entrevistadora: - E aqui tem amigos? Dacha- Tenho, tenho pouco.

Entrevistadora: - Amigos ucranianos ou portugueses. Dacha: - Tenho ucranianos.

Entrevistadora: - E o que é que faz aqui um jovem ucraniano como a Dacha? Dacha: - Até eu já não sei. Tem sair mas é mais horas que estou em casa. Entrevistadora: - Nunca sai?

Entrevistadora: - Vai ao cinema?

Dacha: - Foi ao cinema Foi a um filme.... dos Anéis... como é que? Entrevistadora: - O Senhor dos Anéis.

Dacha: - Sim, sim, sim.

Entrevistadora: - E já consegue 1er ou ouve em inglês? Dacha: - Não, li na língua.

Entrevistadora: - Bravo! E foi com quem?

Dacha: - Com amigos. Fui com filho da Irina e com filho de Valentina. Dacha, 13 de Abril de 2004)

Apesar do pouco convívio. Dacha aprecia a simplicidade dos portugueses, ela também tão simples, sempre tão assustada. Por isso, como ela diz, só o facto de "não lhe terem feito mal" já é, para si, uma qualidade dos cidadãos do país que a acolheu:

Entrevistadora: - O que é que a impressionou mais em Portugal?

Dacha: - As pessoas são simples. Não ligam, não dão tanta atenção. É simples. E simples. As pessoas simples. Não tratam mal as pessoas. Não sei, mas comigo...

Entrevistadora: - Nem quando esteve a trabalhar no hotel?

Dacha: - Também! Se não percebeu alguma coisa, sim: "Oh, não percebes nada!". Isso tudo! Foi um pouco. Mas aqui, foi bom. Gostei. E pessoas também gostaram. E já tanto tempo estar lá. (Dacha 13 de Abril de 2004)

Parece ser sincera quando afirma gostar de trabalhar na fábrica de abat-jours, mas para isso muito contribui a dupla protecção da patroa e da mãe, que se senta mesmo a seu lado para trabalhar na máquina de costura. Elas não dizem, mas o pensamento está sempre na jovem Tatiana que não vêem há dois anos; todas as colegas o sabem, portuguesas ou não, e em silêncio são solidárias com a dor dessa separação.

Sonya é incansável a costurar, parece dialogar através do olhar com a máquina de costura; é difícil parar, mesmo para falar e quando o faz, é em surdina. Declarou também o seu bem estar na fábrica:

Eu gosto do trabalho, gosto de colegas; muito gosto de colegas ! Teresa! (Sonya 8 de Julho de 2003)

Mencionou, igualmente, a rede de solidariedade que os portugueses montaram à sua volta quando ele chegou a Portugal, de forma que não lhe faltassem os bens essenciais:

Pessoas portuguesas muito boas. Eu também só conheço muito boas pessoas. Sempre ajuda. Quando viemos mora aqui, perto casa, vizinhos, muita ajuda para nós sempre. Quando preciso de coisas... pergunta nós. Roupa, comida. Tem muito bom. Sempre ajuda. Muito bom! (Sonya, 8 de Julho de 2003)

Quanto a Nadia, sente-se bem entre os portugueses, se bem que não tenha feito amizades entre eles, para além daquelas que estão no âmbito das relações de trabalho: Agora estás boa, agora estás boa porque trabalho, amigos, tudo. Aqui gosto.

Entrevistadora: - Gosta dos vizinhos? Nadia: - Gosto.

Entrevistadora: - E os portugueses, como é que são os portugueses? A D. Adriana é muito boa, agente já sabe.

Nadia: (risos) - Todos. Gosto todos!

Entrevistadora: - É porque ainda não teve tempo de conhecer os maus...

(Irina, a rir: Nós, durante o dia, trabalhamos. Esta meninas portuguesas, estas amigas, boas

amigas!)

Nadia: - Para mim já está bom! (Nadia, 11 de Julho de 2003)

(...)

Entrevistadora: - 0 que é que a Nadia faz no fim de semana, no Nadia: - Para mim já está bom! (Nadia, 11 de Julho de 2003)

(...)

Entrevistadora: - 0 que é que a Nadia faz no fim de semana, no sábado, domingo? Nadia: - Passear. Passear muito.

Entrevistadora: - E tem amigos portugueses?

Nadia: - Não, não. Pra mim muito complicado língua. Tem que falar, pra mim difícil não entende. (Nadia, 14 de Abril de 2004)

Nadia alega a questão da língua como factor inibidor da integração. Dacha refere a falta de tempo. Questionadas se não conheciam casos em que já se tivesse dado uma aproximação visível, Irina relatou dois casos de amor, um deles que já tinha dado até em casamento:

nunca foi casado - nunca! - ele encontrou uma senhora: ela é russa, ela é viúva. Ela tem muitos problemas com patrão e vai no sindicato pedir ajuda e encontrámos! Ele muito gosta ela e já faz casamento! Já conheço com esta família! Eu muito gostos eles! Já fala russo! ... não muito... Quando ela quer ralhar, não consegue ralhar certo em língua portuguesa e começa a falar língua russa. Ele diz: "Fala português! Fala português!".(risos)

Depois conhece uma rapariga: ela ... (foi interrompida com uma brincadeira de uma colega portuguesa e respondeu que tem mais habilitações literárias que a Valentina). Eu conheço com uma rapariga, muito bonita, também russa - muito, muito bonita! - ela tem medo com um rapaz português e disse: "Não, não fiques para trás de mim, não vai comigo, não vai!". E ele, meio ano!, sempre pra trás dela, pra trás dela e agora muito amor e se calhar, com o tempo, também vai casar. Eu acho que vai casar porque este homem - este rapaz - sempre, sempre com ela. E agora ela muita ajuda dele e ela disse que: "este rapaz na coração eu!".

Já há muitos! Já há muitos! (Irina, 11 de Julho de 2003)

Ao longo dos vários capítulos e particularmente neste, não nos restam dúvidas de que as cinco mulheres em análise estão satisfeitas no seu local de trabalho, muito contribuindo para isso a seriedade da entidade patronal, a situação regularizada como trabalhadoras estrangeiras, a relação com as colegas portuguesas, a boa impressão

causada pelo povo português, em geral e a aceitação que tiveram pelos vizinhos. Contudo, há a ter em conta que, até terem chegado a esta situação, assumiram variados riscos durante todo o processo migratório, que a integração foi um duro processo de sobrevivência física e psicológica, que, em poucos anos, no seu país de origem, perderam um estatuto económico e que agora, se encontram separadas de grande parte dos seus familiares. Por isso, esta aparente "adaptação" pode ser meramente funcional, se tivermos em conta que aprenderam o idioma, foram aceites pelos portugueses, arranjaram um trabalho que lhes permite sustentarem-se e sustentar a família que ficou na Ucrânia.

Assim, os especialistas da área da psiquiatria alertam-nos para um número cada vez maior de imigrantes que. tendo passado medos e privações ao longo do seu processo

migratório sofrem do Síndrome do Imigrante com Stresse Crónico e Múltiplo, uma patologia da área depressiva, mais conhecida, talvez, pelo Síndrome de Ulisses, caracterizada pela apatia, pelos sentimentos de culpa e ideias de morte (ACHOTEGUI,http://www2.ub.edu/comunicacions/revista_launiversitat/revista_25/R evista_25/actualitat_6ai.htm).

À semelhança do herói da Odisseia, deparam-se aos imigrantes muitos obstáculos e perigos que podem fazer com que este se sinta derrotado ou mesmo vencido quando, por exemplo, cai nas teias do tráfico de pessoas, não consegue entrar no mercado laboral ou a realidade que encontra na sociedade de acolhimento é diferente do que esperava, levando-a a sofrer de ansiedade, irritabilidade, insónias, problemas de memória e de concentração, fadiga extrema, cefaleias, etc..

Após a leitura da descrição dos sintomas da doença da irmã de Nadia, uma das hipóteses poderia ser pensar que ela estava a contrair este síndrome, senão vejamos: Nadia: - Minha irmã trinta e cinco anos. Agora pra casa Tem trabalha, tem Santarém trabalha. Entrevistadora: - Veio trabalhar para Santarém?

Nadia: - Sim, sim. Depois muito doente e veio embora pra Ucrânia. Entrevistadora: - Doente com quê?

Nadia: - Doente com cabeça. Muito doente cabeça. Muitos nervos, muito nervosa e depois isto tudo...

Entrevistadora: - Depressão?

Nadia: - Não, não é. Doutor falar operação não precisa porque operação depois não trabalha mãos e pernas; só, só comprimidos. (...)

Entrevistadora: - E a sua irmã, na Ucrânia, fazia o quê?

Nadia: - Minha irmã? Trabalhava muito grande loja. Depois não. Antes trabalha jurista (...) Entrevistadora: - E quando veio pra Portugal trabalhou onde?

Nadia: - Quando veio pra Português trabalha limpezas! Limpezas, porque não tem visto. Nunca visto e só trabalha limpezas.

Entrevistadora: - E esteve quanto tempo?

embora pra Ucrânia. Muito difícil. É difícil a língua, irmã falares: "Eu doente esta: cabeça." E esta, doctor: "Da cabeça, não.". Depois muitas radiografias e depois análises, análises amigos levam pra Ucrânia seis mês e depois pra mim anos. (Fala em ucraniano e Irina explica: "Ela fez as análises e depois passou seis meses e aqui é que vieram na casa dela o papel")

Entrevistadora: - E o que dizia?

Nadia: - Eu não sei! Irmã vai embora pra Ucrânia! E depois seis meses análises!

Anda muito três semanas no hospital na Ucrânia e pouco, pouco melhor. (Nadia, 14 de Abril de 2004)

Esta mulher passou da situação profissional de jurista a empregada de limpeza e com a agravante de ser imigrante ilegal, por não ter visto, o que mais aumentava o medo da sua estadia em Portugal e a condicionava na entrada no mercado laboral. Os problemas de saúde enunciados no texto enquadram-se naja descrita patologia: dores de cabeça e distúrbios nervosos.

As saudades sentidas muito contribuem para os distúrbios da ordem emocional. O

senso comum costuma caracterizar os indivíduos provenientes dos países de Leste

como fortes, frios sentimentalmente, etc., etc., mas, quantos não estarão já a sofrer patologias depressivas em que a apatia e os sentimentos de culpa são já a tónica dominante?

Centremo-nos em Sonya: o que sentirá uma mãe que não vê a sua filha adolescente há dois anos?

Entrevistadora: - E como é que se chama a sua filha pequenina? Sonya: - Pequenina da Ucrânia, Tatiana.

Entrevistadora: - Tatiana. Ela não vem cá?

Sonya: - Agora não. Há dois anos que não vejo a filha. (Sonya, 8 de Julho de 2003)

Quantas vezes terá esta mãe posto em causa a sua decisão de migrar e se terá culpado da situação que, na melhor das intenções, acabou por criar, deixando a filha mais nova na Ucrânia para fazer o curso superior, mas privando-a da família, dado que o pai e a

irmã também vieram para Portugal? Por isso, facilmente se compreende que a permanência desta mulher na sociedade receptora, apesar das contrapartidas económicas e do respeito das colegas de trabalho e da patroa, se tenha transformado num verdadeiro martírio:

Sonya: - (...) Muitas saudades agora ... muitas saudades ... porque pequena .... moro numa pequena cidade, tem tudo! Trabalhava... Tocava com grande quintal, grande! (não se percebe a seguir, há interrupções por causa do trabalho). Tenho muita coisa. Agora aqui! (Sonya, 8 de Julho de 2003)

A sua filha, Dacha, sabe que, contrariamente aos seus desejos, não pode ainda voltar de vez, por isso ficaria satisfeita se pudesse ir de férias à sua terra e rever os seus amigos...:

Eu quero ir de férias. Depois ver amigos. Depois voltar pra casa. (Dacha, 13 de Abril de 2004 Não é, pois de estranhar, que esta família se encontre desejosa de regressar o mais depressa possível à sua pequena cidade, não podendo, se calhar, fazê-lo tão rápido quanto inicialmente tinham projectado. Segundo as suas contas, talvez por volta de 2005 já estariam em condições de o fazer, caso a vida em Portugal fosse mais acessível do que a realidade que vivenciam e que os impede de acumular o dinheiro suficiente para refazer a sua vida na Ucrânia:

Entrevistadora: - A sua filha grande quer voltar ou quer viver em Portugal?

Sonya: - Agora... quer voltar. Nós todos quer voltar. Quando chego aqui penso três/quatro anos. Trabalhar. Pagar comer. Agora chego aqui, tudo diferente... Comida muito caro. Depois também preciso mandar para a Ucrânia. Não ganha muito, muito.

Agora, não sei. Agora, com calma. Agora, trabalhar! Na Ucrânia a vida agora é difícil, trabalho não há, vida também é caro. (Sonya, 8 de Julho de 2003)

Irina tem saudades da sua terra, da sua filha e do seu neto, no entanto o seu filho já exerce uma forte pressão para permanecer em Portugal.

Entrevistadora. - E ele quer voltai- ou não?

Irina: - Não, não quer, não quer. Ele agora tem férias, deixou a universidade e dentro de três anos tem de voltar para acabar, continuar e acabar a universidade. Não quer, não quer voltar. Em Portugal vive melhor, (bina, 8 de Julho de 2003)

Tendo em conta o entusiasmo que Irina demonstrou sobre a sua permanência em Portugal, surgiu a curiosidade em saber quais eram os seus planos em relação ao futuro. Nas primeiras entrevistas, esclareceu-nos que estava decidida a voltar:

Entrevistadora: - (...) A Irina vai voltar para a Ucrânia, para viver? Irina: (sorrisos)

Entrevistadora: - Não vai cá ficar a vida toda?

bina: - Não, eu já sou velha para ficar. Para melhor ficar quando jovem. Não tenho muitos problemas. Quando é mais idade é melhor voltar.

Entrevistadora: - E vai voltar quando? Quando estiver melhor na Ucrânia ou quando tiver muito dinheiro aqui?

bina: - Quando eu ganho mais ou menos dineiro, depois volto. Acho que dentro de um ano ou dois, mais ou menos. (Irina, 8 de Julho de 2003)

(...)

(A propósito das saudades da Ucrânia...)

bina: - Eu tenho muito, tenho muito... Tenho saudades da filha, neto, tenho saudades da minha casa, da minha quinta - aqui fazer só dineiro -,da minha terra, da minha língua... Tenho muito! É verdade!

Gosto português, gosto Portugal mas tenho muitos saudades da Ucrânia, (bina, 11 de Julho de 2003)

Segundo ela, pretende voltar em 2006. Estabelecer-se num país estrangeiro é um projecto de vida mais apropriado a migrantes mais jovens, o que não é o seu caso, e ela tem muitas saudades do seu país e da sua família; em Portugal, segundo ela, o único objectivo é fazer dinheiro. No entanto, no ano seguinte, Irina já não estava tão certa deste seu desejo de regressar, o conforto económico falava mais alto...:

Irina: "Eu já pensei: "voltar ou não voltar?" Já não sei. Filho não quer, não quer voltar. Marido também. Diz: "Oh, bina, cá temos tantas coisas boas. Que fazer?(...)"(Sonya, 13 de Abril de

2004) ~~ J

Quanto a Nadia, esta nunca referiu saudades, talvez por não ter razões para as ter; a questão de querer ficar em Portugal nem se coloca - ela tem de ficar, sob pena de toda a família morrer à fome na Ucrânia:

Entrevistadora: - E agora quais são os planos? E ficar cá muito tempo ou voltar? (responde em ucraniano)

(Irina: Ela quer ficar cá. Tem de ganhar dineiro. E tem que mandar na Ucrânia porque família

doente. Ela só, ela só, única! Agora pode, agora pode arranjar trabalho. Melhor ficar cá!)

Nadia: - Também eu manda tudo. (Nadia, 11 de Julho de 2003)

Valentina, sempre resistente à demonstração dos sentimentos, apesar de negar as saudades, afirma querer voltar, refazer a sua vida mediante a compra de uma casa e de um carro (outrora perdidos...):

Entrevistadora: - Vai ficar sempre cá, em Portugal?

Valentina: - Não, pra sempre? Não! Quando já D. Adriana não quer, Valentina vai embora depois vou na rua. Precisa, precisa muito comprar o carro, precisa ajuda pra a mãe, irmão, tem o problema na Ucrânia também...

Entrevistadora: - E decidiu comprar casa aqui ou lá? Valentina: - Na Ucrânia.

Agora quero comprar casa outra cidade onde eu moro. (Irina falava sobre as saudades da Ucrânia...)

Não tenho. Um filho grande... outra família. (Valentina, 11 de Julho de 2003)

Explicitamente, Irina, Sonya e Dacha, ao traçarem o seu projecto migratório, fizeram- no a pensar que duraria menos de meia dúzia de anos, pelo que tudo aponta para que este fosse de curta duração. Note-se que a situação de carência económica destas migrantes foi recém criada, não sendo pessoas desfavorecidas à nascença, pelo que consideraram provavelmente esta adversidade uma circunstância pontual das suas vidas, facilmente resolúvel em poucos anos. No entanto, mãe e filha não estão a reunir as condições necessárias para concretizar os seus objectivos e já põem em causa o tão

desejado regresso para breve; Irina, por seu turno, hesita entre o regresso ao convívio com os familiares próximos que deixou na Ucrânia e o bem estar económico que goza em Portugal e que dificilmente obterá tão cedo no seu país.

Quanto a Valentina e a Nadia, a sua permanência no país que os acolheu, à semelhança de Sonya e de Dacha, dependerá do facto de conseguirem ganhar dinheiro suficiente que lhes permita comprar os bens de que anseiam (casa e automóvel, no caso de Valentina) e levar dinheiro para sustentar toda a família necessitada.

Em todos os casos, sejam quais forem as necessidades de cada uma, esperam que a