• Nenhum resultado encontrado

RSE de uma empresa nacional: o caso Itautec

Os think tanks, portanto, faz muito sentido nas sociedades modernas que por

3.4.2 RSE de uma empresa nacional: o caso Itautec

A Itautec52 diz assumir a proposta de que a sustentabilidade e a TIC podem e devem caminhar juntas. A empresa vem construindo programas que focam práticas e políticas socioambientais, e algumas dessas diretrizes seguem orientações de padrões internacionais. A empresa entende que sustentabilidade diz respeito à utilização de recursos naturais de maneira consciente, que significa minimizar os efeitos nocivos causados ao meio ambiente e a todas as formas de vida que dele fazem parte. Além disso, diz que o desafio para o atendimento desse objetivo deve ser compartilhado por todos – consumidores, empresas, governos e organizações não governamentais. O ideal de sustentabilidade da empresa estaria em sintonia com o crescimento econômico, a proteção ao meio ambiente e o desenvolvimento social. Por isso, a Itautec aposta numa sustentabilidade que resulte em “encontrar uma maneira de fazer negócios que garantam lucro ao mesmo tempo em que geram efeitos positivos para a sociedade, com o menor impacto possível sobre o meio ambiente” (ITAUTEC..., 2011, p.7).

Um dos eixos do programa de sustentabilidade ambiental da empresa visa atender exigências externas como requisito de manter a exportação de seus produtos para o mercado europeu. Essas atividades estão focadas na redução de substâncias nocivas dos seus produtos apontada pela diretriz RoHS. A empresa substituiu o Chumbo (Pb) nas soldas dos componentes por uma liga composta de metais menos nocivo à saúde como o estanho, cobre e a prata; foi substituído ainda o

52

A Itautec faz parte da Itaúsa – holding que controla um conjunto de empresas que atuando em áreas diversas como os setores financeiro e imobiliário, indústrias química, eletrônica, de painéis de madeira, louças e metais sanitários, abrangendo setores de informática, componentes, serviços e Internet. A Itautec foi fundada em 1979 com capital 100% nacional. Com fabrica em Jundiaí – São Paulo, desenvolve produtos e soluções em informática e automação, possui 35 filiais e escritórios em 9 países. Disponível em: <http://www.itautec.com.br/pt-br/empresa/itausa>. Acesso em: 09 out. 2012.

Mercúrio (Mg); Cádmio (Cd) e Cromo Hexavalente. O processo de reciclagem e reuso exclusivo dos seus resíduos eletrônicos faz parte também desses esforços. Estas ações indicariam o estágio inicial de desenvolvido da RSE segundo Laville (2009), onde os objetivos focam a ecoeficiência, sistemas de gestão, transparência e relatórios ambientais.

O primeiro produto da empresa em conformidade com a RoHS, o ATM CX3 citado no relatório ambiental da empresa (ITAUTEC..., 2007, p.74), faz parte de um grupo de produtos destinados ao setor bancário, são estações de autoatendimento utilizadas em instituições financeiras e bancos, setor de forte penetração dos produtos da Itautec. Clientes da empresa contam com presença no exterior e, portanto, seria esse o motivo para a empresa tomar a dianteira no atendimento de suas necessidades de se adequar as legislações daqueles países onde realizam negócios.

No final do ano de 2008 a Itautec foi contemplada pelo Centro de Computação Eletrônica da Universidade de São Paulo (CCE/USP) com o selo “verde” como reconhecimento pelo fornecimento de um lote de computadores que atendiam especificações de sustentabilidade ambiental. O selo apresentado na Figura 16 é individual. O selo é vinculado ao número de série do equipamento, e indica que o computador é sustentável porque atende aos requisitos da diretriz europeia RoHS; além disso, o selo avalia se a empresa também adotaria padrões internacionais de gestão da qualidade e gestão ambiental, comprovando ser certificada pelas normas ISO 9.001 e 14.001 respectivamente. A Itautec foi o primeiro fabricante nacional de computadores a receber a certificação da USP, sendo, portanto, na avaliação do CCE/USP o primeiro fabricante nacional de computadores “verdes” (EM-CERIMÔNIA..., 2008; CARVALHO; FRADE; XAVIER, 2014).

Figura 16 – Selo verde do CCE da USP.

Fonte: Carvalho, Frade e Xavier (2014, p. 191).

A CCE/USP não desenvolve atividades de auditoria para verificar a coerência das declarações com as efetivas práticas empresariais dos fornecedores. A certificação do CCE/USP se apoia no

respaldo garantido com a apresentação de documentações por parte dos fornecedores. Os standards RoHS e ISO são os únicos padrões listados pelo CCE/USP entre as exigências para compras de equipamentos eletroeletrônicos. Entretanto, argumentamos que isso não diminui a importância socioambiental da iniciativa que demonstra atuação prática daquele centro de computação na construção e propagação dos discursos da “TI Verde”. Do mesmo modo como o faz com as práticas de ações voltadas para processos de reciclagem do próprio e-waste da USP a partir do projeto Centro de Descarte e Reuso de Resíduos de Informática (CEDIR). Carvalho (2009, vídeo online, palestra) afirma que o CEDIR pretende ser um exemplo de uma ação específica de práticas sustentáveis em TIC e tem como objetivo ser um centro de referência em campus universitário, tanto do ponto de vista ambiental como de viabilidade econômica.

As ações de RSE da Itautec são complementadas com processo de reciclagem dos seus resíduos eletrônicos. Exceto as placas de circuitos impresso (PCI), que são enviadas para uma indústria em Singapura e Alemanha, a empresa afirma que os demais componentes eletrônicos são processados pela Itautec. Mas ao contrário do que afirma a diretora do CEDIR, a professora Teresa Carvalho (CARVALHO, 2009, vídeo online, palestra), a Itautec alega que as receitas oriundas do processo de reciclagem são insuficientes para cobrir todos os custos envolvidos no processo (ITAUTEC..., 2011; FURUKAWA, 2008, vídeo online, palestra).

Segundo Fernando Cesar Carlos53, porta voz do programa de sustentabilidade da Itautec, a destinação dos equipamentos obsoletos recebidos é realizada de forma responsável. Ser responsável significa adotar procedimentos seguros para a transformação do e-waste em recursos reutilizáveis. Seriam etapas compreendidas de desmonte dos equipamentos; descaracterização; pesagem dos resíduos; e segregação em partes por tipo de material. O resultado do processo é a obtenção de matéria prima que retorna a cadeia produtiva para a fabricação de novos produtos.

O website da empresa mantém canal de comunicação para que usuários dos produtos da Itautec possam providenciar o envio dos equipamentos obsoletos. A crítica ao processo de descarte dos equipamentos obsoletos da Itautec diz respeito à quantidade limitada de pontos de entrega dos equipamentos, o que dificulta e torna onerosa a

53 O contato com o representante da Itautec está registrado através de

operação para o usuário, conforme registrado no Anexo E. O deslocamento do e-waste até a filial da empresa simplesmente inviabiliza o descarte e não estimula uma consciência para o descarte correto do e-waste. Em última análise o que a empresa está dizendo com isso é que “esse problema do e-waste não é dela”. Afinal, de quem seria então? Qual seria uma possível solução para o problema? Acreditamos que seria a construção de uma estrutura de logística que venha favorecer o trânsito do e-waste em propriedade do usuário até o produtor que deve fazer o descarte ambiental.

Quando comparado com iniciativas de outras empresas (por exemplo, a Lenovo) a Itautec impõe que os custos de transporte corram por conta exclusiva do usuário dos equipamentos quando os envia para reciclagem. Isso ocorre apesar da empresa afirmar que adota princípios de diretrizes internacionais como a Waste Electrical and Electronic Equipment (WEEE) para o descarte do e-waste. De acordo com a diretriz, a responsabilidade pelo processamento e custos é do produtor. Logo, é contraditório o discurso da empresa, já que afirma ter condições operacionais para enfrentar os problemas ambientais relacionados como o e-waste. O relatório ambiental de 2013 a Itautec afirmava que a empresa havia sido pioneira em seu segmento desenvolvendo um programa de descarte do e-waste. Mas a quantidade em toneladas de resíduos eletrônicos recuperados informados não apresenta qualquer correspondência com o volume de produtos produzidos e comercializados, e isso impossibilita uma avaliação quanto à representatividade ecológica da ação.

Atuando em um mercado globalizado, a política da Itautec assume que as empresas do setor têm buscado reagir para conciliar respeito ambiental, justiça social e prosperidade econômica. A Itautec talvez esteja nesses aspectos há alguns passos atrás quando comparada com a Lenovo, e isso pode estar acontecendo devido à defasagem do rigor de regulamentações que as empresas transnacionais estão sujeitas. Ou seja, a Itautec demonstra uma reação compatível com as exigências legais as quais é submetida e isso indicaria que o mercado e as empresas, mesmo diante de uma urgente crise ecológica, só agem com maior propriedade para mitigar os efeitos nocivos de suas atividades quando são instigadas por órgãos reguladores dos Estados e ONGs.