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Breve análise sobre o conceito da didática da história Nesse momento nos focaremos em discutir sobre o conceito de Di-

No documento Centro Universitário UniProjeção (páginas 108-117)

O ENSINO DE HISTÓRIA NO BRASIL E A DIDÁTICA DA HISTÓRIA: CONCEITOS E PERSPECTIVAS

3. Breve análise sobre o conceito da didática da história Nesse momento nos focaremos em discutir sobre o conceito de Di-

dática da História a partir de autores que compactuam com a visão de Jörn Rüsen, também como ela vem sendo abordada e como podemos usufruir dentro da sala de aula, para tanto, nos debruçaremos em au- tores que buscam disseminar esse conceito no campo da História, haja vista que, embora seja menosprezado por alguns, a Didática da Histó- ria vem ganhando cada vez mais espaço nas discussões sobre ensino de história.

No Brasil, a Didática da História ainda é tida como parte da área da Educação, o que acaba fomentando a separação entre didática e his- tória, ficando algo irrelevante para a pesquisa de historiadores. Sobre esse ponto de vista, o doutor em Educação Oldimar Cardoso (2008) nos diz que essa concepção se fundamenta na crença de que o papel da didática é adaptar ao contexto escolar o conhecimento criado pelos historiadores. (CARDOSO, 2008, p.154).

De toda forma, a Didática da História deve ser compreendida como relevante pressuposto para a formação do sujeito na cultura es-

colar, deixando de ser apenas métodos de aplicação de conhecimento e entender que os conhecimentos são construídos no coletivo.

Ainda sob a ótica de Cardoso, há o que o autor denomina de cultu- ra escolar que seria formada pelas disciplinas que a escola dispõe para os alunos.

É o currículo escolar que no Brasil é formado pelo conjunto de conteúdos que integraram o ano letivo dos estudantes. Nesse sentido, o que o autor nos apresenta é que o currículo brasileiro é formado pelos próprios professores, nós enquanto docentes de História decidimos quais conteúdos introduzir em nossas aulas, isso ele demonstra que ocorre a partir da escolha dos livros didáticos, os quais são escolhidos pelos docentes em conjunto.

No caso brasileiro, os professores têm mais espaço para a criação das disciplinas escolares, já que não possuímos um currículo. Essa liber- dade individual é limitada apenas pelos outros professores da mesma escola, uma vez que o livro didático é selecionado em conjunto, deli- mitando o currículo. (...) Porém, não há qualquer restrição governa- mental à elaboração do currículo pelos professores, o que nos leva a crer que tenhamos mais liberdade que os franceses para participar da criação cotidiana das disciplinas escolares. (CARDOSO, 2008, p. 156). Cardoso (2008) faz uma referência em seu artigo ao modelo francês, no qual o currículo é estabelecido por órgãos do governo, ele ressalta que no Brasil é diferente, mas que podemos constatar que de certa maneira os livros didáticos que estão nas escolas brasileiras são de aprovação do Ministério da Educação, ou seja, passa pelo órgão go- vernamental antes de chegarem nas escolas para escolha, Mas esse é um embate que não pretendemos traçar nesse trabalho, apenas fize- mos um adendo demonstrando que, de certa maneira, a autonomia dos professores na construção do currículo dentro das escolas possui uma certa limitação.

Para Cardoso (2008), Didática da História significa ampliar os es- tudos sobre esse conceito entre historiadores, isso fica evidente quando diz em seu artigo que:

De acordo com a definição de Didática da História exposta neste ar- tigo, essa disciplina não estuda apenas o ensino e a aprendizagem da História escolar, mas todas as expressões da cultura e da consciência históricas que circulam dentro e fora da escola. Ainda que a Didática da História tenha aqui fortes relações com a História escolar, dada a imensa importância social desta, as pesquisas didático-históricas não se limitam ao contexto institucional da educação básica nem propõem compreendê-lo isolado da cultura e da consciência históricas externas a ele. (CARDOSO, 2008, p. 165 -166).

Podemos compreender então que segundo o autor o campo da Di- dática da História é representativo por todos os acontecimentos do co- tidiano escolar, perpassando desde a teoria que se sobressai através dos conhecimentos da disciplina histórica, até mesmo com as expressões culturais que o ambiente escolar proporciona, é o que o autor se refere quando aborda o conceito de consciência história proposta pelo filósofo alemão Jörn Rüsen.

O que Rüsen apresenta é que a consciência histórica é inerente à existência humana e se trata de um componente da própria consciên- cia. Ele parte do pressuposto que todos os humanos vivenciam expe- riências do seu próprio tempo, portanto, possuem consciência da sua existência, e participa da construção histórica.

Como bem menciona Cardoso (2008), a consciência histórica está intrinsicamente vinculada à Didática da História, visto que, deixa de ser apenas o estudo do campo da disciplina e métodos e passa a ser tra- tada como fonte de interpretação do todo que cerca o aluno, sociedade e escola.

Em consonância, Luis Fernando Cerri fala sobre a ligação entre consciência histórica e Didática da História de maneira que interde- pendente, principalmente para fins de significa a história escolar na vida dos alunos.

Do conceito de consciência histórica decorrem algumas consequências importantes, sobre a teoria da história e sobre o ensino. Com esse con- ceito, a Didática da História não pode ser mais um conjunto de teorias

e métodos voltados ao ensino, mas precisa ser uma teoria da aprendi- zagem histórica, superando, se quiser responder aos desafios contem- porâneos, o campo restrito da metodologia de ensino. (CERRI, 2010, p. 268).

Nesse sentido, Cerri enfatiza que a consciência histórica se alia a Didática da História quando se percebe a significação de ambas na vida cotidiana. Torna-se a busca de um ensino de história que seja atrati- vo, instigador e não penas informativo e conteudista, nem tão pouco a Didática da História seja apenas métodos de como ensinar os conhe- cimentos históricos, mas sim compreender que a consciência histórica é um fenômeno social com múltiplos elementos e variáveis, assim a Didática da História passa a exigir um redimensionamento, deixando para trás as listas de conteúdos (CERRI, 2010)

Analisando o que a professora e especialista em educação Edinalva Padre Aguiar (2015) nos apresenta sobre Didática da História, pode- mos ampliar esse conceito indo ao encontro do que Rüsen aponta sobre o que seria o objeto maior da didática, a própria consciência histórica, bem como o seu desenvolvimento e sua importância na vida concreta.

Aguiar (2015) fala sobre a consciência história embasada na teo- ria de Rüsen é que é uma categoria que perpassa todo o pensamento histórico. É por meio dela que o passado é experenciado e interpretado e que se entende os usos e funções da História na vida pública e priva- da (AGUIAR, 2015). A autora chama a atenção para o pensamento de Rüsen sobre consciência histórica, visto que é o objeto fundamental da Didática da História.

Entendemos que esse campo encontra-se em processo de aprimora- mento teórico e empírico, cuja contribuição não se inscreve somente no âmbito educacional e escolar, posto que – assim como a produção da Ciência Histórica – deve voltar-se para as necessidades cotidianas, para as interrogações neles levantadas e para as necessidades de orien- tação temporal, cumprindo sua função de desenvolver a consciência histórica. (AGUIAR, 2015).

História se preocupa com o desenvolvimento da consciência histórica como um fator importante para a vida prática.

Vimos anteriormente autores que utilizam as ideias de Rüsen para demonstrar o que é Didática da História e consciência Histórica, en- tretanto, para concluir essa breve análise de como está conceituada a Didática da História por alguns autores, usaremos as concepções ex- clusivas de Jörn Rüsen (2006) que em seu texto Didática da História: passado, presente e perspectivas a partir do caso alemão, apresenta esse conceito como universal, pois, conseguimos identificar os objeti- vos traçados por ele em nosso fazer diário, dentro da escola.

O primeiro aspecto que Rüsen aponta é a intencionalidade da His- tória enquanto disciplina escolar, ou seja, para qual função ela é básica, como reprodução de conhecimentos ou uma concepção hermenêutica historicista. Par ele, a hermenêutica é essencial para a consolidação da consciência histórica, pois é pela interpretação dos fatos passados que os acontecimentos do presente se fazem sentido e se justificam, é o que chama de insight, é o processo de humanização da história que Rüsen chama a atenção, ou seja, é possibilitar o conto com o passado a nível de transformação de pensamento.

A pressuposição dessa concepção hermenêutica, historicista é que a história é construída por forças mentais, que o historiador, sendo in- terprete ativo, pode “repensar” ou aprimorar, e que guiam suas ques- tões históricas e interpretações. Alcançar o conhecimento empírico do passado poderia levar a um insight sobre o movimento das forças do presente. (RÜSEN, 2006, p 07).

Partindo do pressuposto que a consciência histórica parte da in- terpretação e que traz ressignificado do presente é que entra o campo da Didática da História para auxiliar essa perspectiva. Os historiadores viam o campo da didática apenas como sendo instrumentos de utili- zação do professor para a transposição didática, sem a participação na geração de discurso (RÜSEN, 2006), cabendo apenas à pedagogia incumbir-se desse papel. No entanto, esse cenário se modifica através de uma perspectiva interpretativa e ativa do professor historiador, do professor que também é pesquisador e que também se preocupa com

a construção de um sujeito que se constituem não apenas pela história objetiva.

O que percebemos ao longo desse trabalho é que o ensino de histó- ria se modificou ao longo dos períodos no Brasil, principalmente, o ob- jetivo dele nas salas de aula. Estamos repensando um ensino de Histó- ria voltado para a valorização dos estudantes e de seus conhecimentos adquiridos com as vivências de cada um, portanto, buscando entender de que maneira analisamos e refletimos a consciência histórica. Invali- dar o conhecimento que o estudante apresenta é negligenciar o mesmo, pois, a sua formação enquanto sujeito social é construído em boa parte na escola, onde o professor estimula o sujeito a ser ativo tanto em sala de aula quanto na sociedade.

4. Considerações finais

Ao longo desse artigo vimos como o ensino de história se transfor- mou no Brasil, partindo da construção da história enquanto disciplina escolar, até a consolidação dos PCNs. O que também demonstrou que a disciplina histórica passou por mudanças significativas ao longo desse vasto período.

A história nas escolas tinha como o objetivo primário afirmar uma identidade nacional que precisava se consolidar logo após a forma- ção da republica, também serviu como fomentadora dos interesses do Estado, o que também não deixa de servir até os dias atuais, muito embora que seja num tom de discrição, mas que ainda é perceptível. Também havia engessamento na dinâmica do professor, o qual até a criação de novos instrumentos educacionais não poderia utilizar de interpretação, mas sim passar o conteúdo puramente, o que vai ao en- contro de todos os momentos políticos que o Brasil vivenciou desde a Proclamação da República, onde a educação foi utilizada (e ainda é) para legitimar governos e governantes.

Na busca por mudanças no ensino de história no Brasil que pes- quisadores sobre o tema se debruçam na teoria de Rüsen para trazerem uma nova possibilidade de pensar sobre ensinar história. Nesse senti- do, a Didática da História começa a ganhar força e a se transformar em

assunto inovador nesse segmento, como possibilidade de trazer termos como consciência histórica para o debate, e fazer com que os pesquisa- dores se debrucem para sanar as lacunas que há entre conhecimento e aprendizado, ou seja, transformar o que é posto como conhecimento em algo relevante para a vida prática, isso é que dá sentido ao que se está ensinando, bem como ao que se está aprendendo, em um processo onde a história enquanto cultura escolar transcende os espaços inter- nos e externos da sala de aula.

Referências

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CONSCIÊNCIA HISTÓRICA E A MÚSICA COMO FONTE

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