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O varal das nossas memórias

No documento Centro Universitário UniProjeção (páginas 167-170)

A PESQUISA NO VARAL DAS MEMÓRIAS: A DIDÁTICA DA HISTÓRIA E O USO DA MEMÓRIA NA SALA DE AULA

2. O varal das nossas memórias

O projeto “Varal das nossas memórias” se constitui no Programa de Pós-Graduação em História da Universidade Federal do Rio Grande (FURG) e é sustentado por dois pilares: o meu desejo por um ensino de história que valorizasse o educando, para dessa forma, auxiliar na sua constituição enquanto ser histórico (e, portanto, político); e também o carinho que tenho pela escola onde estudei minha vida inteira, pela qual sempre houve o desejo de retornar, para de alguma forma, retri- buir o que ela havia me dado.

Nessa reflexão, a respeito do carinho que possuo pela escola, per- cebi que não só eu como uma grande parte dos meus amigos, possui

um enorme apreço pelas memórias construídas naquele espaço, de- monstrando o que Halbwachs denominaria memória coletiva, em que as memórias individuais se encontram dentro de um outro espectro, mais amplo, que é compartilhado por uma comunidade específica que mantém o diálogo a respeito dessas memórias, o que é fundamental. Segundo Halbwachs,

para que nossa memória se auxilie com a dos outros, não basta que eles nos tragam seus depoimentos: é necessário ainda que ela não tenha cessado de concordar com suas memórias e que haja bastante pontos de contato entre uma e as outras para que a lembrança que nos recor- dam possa ser reconstruída sobre um fundamento comum (HALBWA- CHS, 1990, p. 33).

Além disso, percebi que a escola busca potencializar momentos de valorização da memória, trazendo alguns ex-alunos para conversar com os membros da comunidade escolar em alguns eventos específicos. O problema é que esses eventos, por serem esporádicos, não dão conta de manter preservada e evidenciada a memória daquela comunidade. Desse insight, pensei se seria possível construir um espaço físico den- tro da escola destinado a essa preservação/evidenciação e, além disso, analisar se tal valorização, ao se aproximar memória e história, pode potencializar o ensino de História nos moldes com os quais o penso, ou seja, se o uso da memória dos alunos e da comunidade escolar é útil na formação de sujeitos conscientes.

Dessa forma, o projeto é estruturado em duas principais fases: ofi- cinas para a construção do varal; e a implementação propriamente dita do mesmo. Na primeira fase, uma série de 4 oficinas se dedicarão a trabalhar com os alunos a história da escola onde estudam, bem como as noções de preservação do patrimônio e da memória, além de traba- lhar os métodos de pesquisa em História Oral, que será o método pelo qual “coletaremos” as memórias. São elas: 1) A História do lugar onde estudamos; 2) O pertencimento e a escola; 3) Memória, História e Pa- trimônio; 4) Como preservar e valorizar as nossas memórias?

Na segunda fase, então, o grupo de alunos será instigado a entre- vistar pais, avós, vizinhos ou pessoas conhecidas que possuam memó-

rias em relação à escola, para então construirmos na coletividade o varal. Além disso, vale destacar que o varal se propõe a ser vivo, ou seja, que os alunos que estudam na escola se sintam pertencentes ao ambiente escolar e que busquem produzir e preservar suas próprias memórias ali. Dessa forma, entro em consonância com a ideia de que o pertencimento é fundamental para a relação de ensino-aprendizagem, como afirma Paula Almeida de Castro, ao colocar que “é através do per- tencimento que os alunos podem legitimar suas identidades em seus diferentes contextos de convivência, sobretudo, na escola” (CASTRO, 2015, p. 39).

Vale destacar que ao trabalhar com a História Oral, trabalho com a noção de que ela diz respeito a um processo detalhado e planejado, no qual é indispensável à gravação e transcrição de entrevistas, bem como a análise das mesmas. Uso, portanto, a definição de que a História Oral se constitui enquanto:

[...] um conjunto de procedimentos que se inicia com a elaboração de um projeto e que continua com o estabelecimento de um grupo de pes- soas a serem entrevistadas. O projeto prevê: planejamento da condição das gravações com definição de locais, tempo de duração e demais fato- res ambientais; transcrição e estabelecimento de textos; conferência do produto escrito; autorização para o uso; arquivamento e, sempre que possível, a publicação dos resultados que devem, em primeiro lugar, voltar ao grupo que gerou as entrevistas (MEIHY; HOLANDA, 2014, p. 15).

Dessa forma, valorizando e evidenciando as memórias da comuni- dade escolar da qual eu faço parte, acredito me aproximar ainda mais da beleza, da estética do ambiente escolar, ignorado (ou sufocado) na academia, preterido em relação ao cientificismo e à necessidade inces- sante de produção. Além disso, encontro no projeto uma forma de re- tribuir de alguma forma o tanto que aprendi e vivi naquele espaço, já que o varal, ao ser constituído, deve ser visto e utilizado, visando sem- pre manter viva a memória da escola, enquanto patrimônio material e imaterial.

tas, além da expansão dessa reflexão. Após a construção do varal e da análise de seu uso no ensino de história, será construída uma cartilha para que outros professores possam implementar outros varais, ou ain- da outras formas de preservação, como murais e até paredes, para que a memória de outras escolas seja preservada e evidenciada.

Por fim, destaco que quando da criação do projeto, faltava ainda um método definido para a análise do processo de ensinar de história, utilizando a memória como um dos eixos entre o conteúdo e o aluno. As perguntas a respeito desse método ainda estavam latentes em minha mente quando tive o primeiro contato com as pesquisas no campo da Didática da História, e mesmo sem compreendê-la por completo, pude ver um grande potencial em sua utilização. Por isso, antes de estabele- cer a relação entre o projeto e o campo, opto por discutir brevemente o que é a Didática da História e - o que parece ser a preocupação das pessoas vinculadas a ela – a qual lugar ela pertence.

No documento Centro Universitário UniProjeção (páginas 167-170)