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Análise da entrevista: pergunta 3

No documento Do ensino de tradução literária (páginas 168-171)

CAPÍTULO 3 O ENSINO DE TRADUÇÃO DE TEXTOS LITERÁRIOS

5. O ensino da tradução de textos literários

5.1. Análise da entrevista: pergunta 3

O ensino de tradução de textos literários não deveria, portanto, ser realizado focando somente no texto, em suas ambiguidades e estilo, mas também em tudo aquilo que os rodeia: a forma como é apresentado perante o público, o mercado editorial e, por fim, os leitores. Assim, de modo a complementar o que foi disposto anteriormente, apresentaremos, a seguir, algumas opiniões de professores de instituições brasileiras de ensino, a respeito da viabilidade ou não do ensino de tradução. Neste capítulo, não iremos negritar as partes tidas como mais importantes, por acreditarmos que toda a resposta é relevante para nossa discussão.

3) É possível ensinar tradução de textos literários em nível de formação acadêmica de graduação?

1. Álvaro Faleiros (USP)

É possível, por um lado, sensibilizar futuros tradutores para as tramas do fazer literário, comparando traduções, por exemplo. Por outro lado, é possível ampliar o vocabulário e os conhecimentos textuais dos futuros tradutores.

2.

Célia Maria Magalhães

(UFMG)

Sim, dando ênfase aos traços citados [conferir respostas 1 e 2 da entrevista] e pontuando como as escolhas linguísticas parecem deliberadas e motivadas para construir certos significados, desde que deixando espaço para mais de uma interpretação, sempre justificadas em suas relações contextuais. 3. Eclair Almeida Filho (UnB) (entrevista oral com transcrição literal)

Sim. Eu acho que principalmente a tradução literária funciona bem coletivamente, une várias ideias, concepções. [...] O tradutor literário precisa estar aberto para o diferente, até para perceber o que é igual, o que se mantém, o unívoco.

4. José Luiz Vila Real Gonçalves (UFOP)

Com toda certeza.

5. Marileide Dias Esqueda (UFU)

Sim, do contrário estaríamos supondo que a profissionalização do tradutor é impossível.

6.

Maurício Mendonça Cardozo

(UFPR)

Não vejo razão alguma para presumir que não fosse. Mas é claro que isso pressupõe uma formação nessa área de especialidade (tradução e literatura), coisa que só se pode fazer ao longo de toda uma graduação. Acredito menos na efetividade de uma disciplina isolada de tradução literária no contexto de uma formação profissionalizante que, de resto, não contempla a literatura como uma questão. Não há dúvida de que é melhor haver uma disciplina como esta do que não haver nenhuma. Mas daí a presumir que essa disciplina dê conta de uma formação em tradução literária, ainda há um longo caminho.

7. Paulo Henriques Britto (PUC-Rio)

É o que venho fazendo, ou tentando fazer, desde 1978, na PUC-Rio. Ao lado de aulas teóricas, em linguística, língua portuguesa, literatura e Estudos da Tradução, o aluno é obrigado a cursar uma série de oficinas práticas de tradução, sendo uma delas, no mínimo, de tradução literária. É claro que apenas os alunos com vocação literária podem se tornar bons tradutores de literatura. Os demais são encaminhados para outras áreas no vasto campo da tradução.

8.

Rosalia Angelita Neumann Garcia

(UFRGS)

É possível, mas não são todos os alunos que se interessam – o que é compreensível, dada a dificuldade de conseguir trabalhos de tradução literária e da complexidade da própria atividade. Na graduação, no entanto, mesmo para alunos que não querem ser tradutores de literatura, é importante que aprendam a desvendar os textos literários, pois assim aprendem a LER.

9. Válmi Hatje- Faggion (UnB)

Sim. Acho possível ensinar tradução de textos literários em nível de formação acadêmica de graduação, pois neste nível de ensino e aprendizagem, o aluno, tradutor em formação, tem a oportunidade concreta de vivenciar o processo tradutório do texto literário e de entrar em contato com as teorias (autores, pesquisas) que fundamentam o processo tradutório. Assim, com o passar do tempo, com a prática regular de fazer tradução, esse tradutor vai, aos poucos, se familiarizando com as atividades tradutórias ao traduzir diferentes gêneros literários. Ele passa a conhecer mais e melhor a estrutura e as diferentes possibilidades de composição do texto caracterizado como literário. Ao mesmo tempo, imagino que quem tem afinidade com o texto construído artisticamente, poderá eventualmente ter mais vantagens, facilidades de lidar com este

tipo de composição e decomposição textual (reescritura/tradução). O contato e a prática frequente com o texto a ser traduzido desenvolve a habilidade de lidar com essa modalidade de texto (texto de partida e texto traduzido).

Tabela 4. Entrevista: pergunta 3.

Por meio do levantamento da fortuna crítica e pelas respostas dos entrevistados, pudemos confirmar teoricamente algo que já é feito na prática: a viabilidade do ensino da prática de tradução de textos literários.

Apresentamos, resumidamente, o modo como o ensino de tradução de textos literários pode ser realizado, segundo as respostas dos entrevistados apresentadas na tabela acima:

1. Sensibilizar para “o fazer literário”; 2. Ampliar o vocabulário;

3. Ampliar os conhecimentos textuais;

4. Enfatizar as particularidades do literário, do conceito de leitura e de interpretação;

5. Justificar as escolhas tradutórias de acordo com o contexto; 6. Realizar a prática de tradução em grupos;

7. Teoria e prática devem ser realizadas conjuntamente;

8. A prática de tradução de textos literários deve ser realizada durante toda a graduação.

Alguns entrevistados apontam para a questão de só haver a disciplina de tradução de textos literários, o que seria insuficiente para uma formação de tradutores maduros. Porém, ressaltam a importância da existência dessa disciplina no currículo dos bacharelados em Tradução como forma de aprimorar:

1. A leitura; 2. O vocabulário;

3. A familiaridade com a leitura literária; 4. A habilidade tradutória nessa tipologia.

As respostas são, portanto, positivas em relação a esse tipo de ensino de tradução. Após termos apresentado as justificativas para o ensino de tradução de textos

No documento Do ensino de tradução literária (páginas 168-171)