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Currículo mínimo para formação de tradutores de textos literários

No documento Do ensino de tradução literária (páginas 188-191)

CAPÍTULO 3 O ENSINO DE TRADUÇÃO DE TEXTOS LITERÁRIOS

5. O ensino da tradução de textos literários

5.3. Formação de tradutores de textos literários

5.3.1. Currículo mínimo para formação de tradutores de textos literários

O ensino de tradução em ambiente acadêmico, como relatado, decorre da década de 1930, pouco antes da Segunda Guerra Mundial. No entanto, como visto anteriormente, só tivemos o primeiro curso implantado no Brasil em 1968, em uma instituição privada de ensino, a Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-Rio). Em ambiente público federal, a criação do curso de bacharelado em Tradução na Universidade de Brasília, datado de 1979, contava inicialmente com as habilitações em Inglês, Francês e Alemão, porém atualmente, além das duas primeiras, tem-se a habilitação em espanhol criada em 2009. Dentre os mais recentes cursos de bacharelado em Tradução no Brasil, o curso de Tradução da Universidade Federal da

Paraíba (UFPB), criado em 2009, e o curso da Universidade Federal de Uberlândia (UFU), criado em 2010, como resultado da expansão de cursos promovido pelo REUNI.

No subtópico seguinte apresentaremos algumas particularidades relatadas pelos entrevistados, além de características dos currículos acadêmicos do curso de Tradução de três instituições de ensino, a saber: Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-Rio); Universidade de Brasília (UnB); e Universidade Federal de Uberlândia (UFU). A escolha dessas instituições é justificada devido ao tempo de criação do curso, dois cursos mais antigos (PUC-Rio; UnB), e o criado mais recentemente (UFU) e o fato de estarem em instituições de renome nacional.

5.3.1.1. A opinião dos entrevistados

7) [...] O que seria/é necessário no currículo mínimo para formar tradutores de textos literários?

1. Álvaro Faleiros (USP)

É possível pensar num currículo mínimo que incluiria, por exemplo, cursos de literatura, de história, de filosofia e de ciências sociais; além de disciplinas sobre teoria da tradução.

2.

Célia Maria Magalhães

(UFMG)

Seria necessário no currículo mínimo, em primeiro lugar, uma ou duas disciplinas para o desenvolvimento de conceitos básicos dos Estudos da Tradução, como a unidade de tradução nas diversas abordagens, a complexa questão da equivalência nas diversas abordagens, as características próprias e o estilo do texto traduzido. Depois dessas disciplinas, oficinas de tradução direta e inversa para a prática da tradução.

3. Eclair Almeida Filho (UnB) (entrevista oral com transcrição literal)

Acho que o aluno de tradução literária deveria ter que passar por umas questões de teoria literária, por alguma teoria da linguagem e por filosofia da linguagem, antes de começar a traduzir.

[...] tem que ter uma formação, conhecer teoria da literatura, teoria da linguagem, filosofia da linguagem, figuras de retórica, isso é muito importante para a tradução [...]

4.

José Luiz Vila Real Gonçalves

(UFOP)

[...], a tradução literária demandará o aprofundamento, especialmente, nos estudos literários, na literatura comparada, na estilística contrastivo- comparada, na produção de textos literários.

5. Marileide Dias Esqueda (UFU)

Creio que o currículo deve contemplar, como já mencionei anteriormente, teoria literária e teoria da tradução do texto literário.

6.

Maurício Mendonça Cardozo (UFPR)

Creio que já tenha respondido a isso na pergunta de número 3.

3. É possível ensinar tradução de textos literários em nível de formação

acadêmica de graduação?

Não vejo razão alguma para presumir que não fosse. Mas é claro que isso pressupõe uma formação nessa área de especialidade (tradução e literatura), coisa que só se pode fazer ao longo de toda uma graduação. Acredito menos na efetividade de uma disciplina isolada de tradução literária no contexto de uma formação profissionalizante que, de resto, não contempla

a literatura como uma questão. Não há dúvida de que é melhor haver uma disciplina como esta do que não haver nenhuma. Mas daí a presumir que essa disciplina dê conta de uma formação em tradução literária, ainda há um longo caminho.

7. Paulo Henriques Britto (PUC-Rio)

Como já observei, uma base sólida nos dois idiomas e nas duas literaturas, sempre com ênfase na língua e na literatura da cultura-alvo, além de rudimentos de linguística (fonologia é fundamental, no caso da poesia), teoria literária e teoria da tradução.

8.

Rosalia Angelita Neumann Garcia

(UFRGS)

Não sei exatamente o que deve constar no currículo, mas acho que muitas disciplinas de leitura de literatura (com a constante produção de ensaios, resenhas, etc.) e de revisão de traduções. Fora isso, é uma questão de gosto e talento.

9. Válmi Hatje- Faggion (UnB)

Disciplinas de prática e teoria da tradução incluindo diferentes gêneros literários e literaturas. Disciplinas com conteúdo de formação sobre o uso da linguagem, conhecimento de teoria da tradução, teoria da literatura, crítica e história cultural, sociedade, literatura e história da tradução (para conhecer a tradição da tradução). Conteúdos que ampliem o horizonte de caráter multidisciplinar do tradutor em formação, incluindo áreas como Sociologia, Antropologia, Psicanálise, artes em geral, pintura, música.

Tabela 9. Entrevista: segunda parte da pergunta 7.

Resumidamente, de acordo com os entrevistados, o currículo mínimo destinado à formação de tradutores literários em nível de graduação deveria constar de:

1. Disciplinas que ampliem o caráter multidisciplinar do tradutor: a. Sociologia; b. Antropologia; c. Psicanálise; d. Artes em geral; e. História; f. Filosofia.

2. Disciplinas relativas às línguas de trabalho (materna e estrangeira); 3. Disciplinas de literatura das línguas/culturas envolvidas;

4. Disciplinas de produção de textos literários; 5. Disciplinas de linguística;

6. Disciplinas de fonologia (importante para a tradução de poesia); 7. Disciplinas de estilística constrastiva/comparada;

9. Disciplinas relativas à teoria da linguagem; 10. Disciplinas relativas à filosofia da linguagem; 11. Disciplinas de literatura comparada;

12. Disciplinas de revisão de tradução; 13. Disciplinas relacionadas à crítica; 14. Disciplinas de história da tradução; 15. Disciplinas de teoria da tradução;

16. Disciplinas de teoria da tradução do texto literário; 17. Oficinas de prática de tradução de textos literários; 18. Oficinas de prática de versão de textos literários.

Percebemos, portanto, a necessidade de um currículo mais amplo que permita ao aluno cursar disciplinas mais gerais como história e sociologia, mas também realizar uma união entre disciplinas destinadas aos alunos de Letras que têm o foco na literatura e disciplinas características dos cursos de Tradução. Desse modo, o aluno sairia com uma formação mais completa ao ter conhecimentos relacionados à teoria literária e também das teorias e da história da tradução e, consequentemente, resultaria em um tradutor mais seguro na realização de traduções literárias.

Após essas preciosas observações relatadas pelos professores entrevistados a respeito do que deveria abarcar o currículo destinado à formação de tradutores de textos literários, passaremos a analisar currículos de três instituições de ensino brasileiras, como referido anteriormente.

5.3.2. As diferenças curriculares no curso de bacharelado em

No documento Do ensino de tradução literária (páginas 188-191)