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A análise contemplou os dados construídos através de observação participante, experiência formativa baseada na MARES e entrevistas em profundidade.

Para a escala, utilizamos os dados obtidos através da escala de Pesce e avaliamos através do programa SPSS (Statical Package for the Social Science) versão 22.0 de forma mais quantitativa, construindo, assim, dados numéricos que nos serviram de apoio para a seleção dos participantes das entrevistas de profundidade — participantes com maiores e menores escores na escala.

Após a transcrição das entrevistas, codificação e preparo, fizemos uso do programa IRAMUTEQ, um software licenciado por GNU GPL (v2) que permite fazer análises estatísticas sobre corpus textuais e sobre tabelas indivíduos/palavras.

Trata-se de um software que viabiliza diferentes tipos de análise de dados textuais, desde aquelas bem simples, como a lexicografia básica, que abrange sobretudo a lematização e o cálculo de frequência de palavras, até análises multivariadas, como classificação hierárquica descendente, análise pós-fatorial de correspondências e análises de similitude. Por meio desse software, a distribuição do vocabulário pode ser organizada de forma facilmente compreensível e visualmente clara com representações gráficas pautadas nas análises lexicográficas.

No IRAMUTEQ essas análises podem ser realizadas tanto a partir de um grupo de textos a respeito de uma determinada temática (corpus textual), reunidos em um único arquivo de texto; como a partir de matrizes com indivíduos em linha e palavras em coluna, organizadas em planilhas, como é o caso dos bancos de dados construídos a partir de testes de evocações livres.

Esta análise ajudou a nos nortear quanto aos dados capturados. Tínhamos dados que nos mostrava um grupo com um escore de resiliência entre média e alta, porém, quando da leitura das entrevistas, ainda foi possível localizar muita dureza, dificuldade em olhar e lidar com as adversidades. O processo de reconhecimento por muitas vezes pareceu distanciado do real, apesar de estar contido na abordagem de Wilber de ver o mundo.

Após análise de todos os encontros da intervenção / grupos focais, procedemos à análise qualitativa de todo o material da pesquisa. Fizemos inicialmente uma descrição de cada encontro, já costurando uma análise comparativa com os dados, a priori, da observação participante, entrevistas, diário de campo e diário de gratidão. Buscamos identificar os significados das falas e discursos dos estudantes nos seus contextos histórico, sociocultural e político, enfatizando as dimensões intersubjetivas e simbólicas presentes nas relações sociais, dentro de uma perspectiva integral, nos utilizando dos quatro quadrantes de Ken Wilber como norteador / balizador na análise. Toda essa bagagem será analisada na próxima fase da análise. Para esta análise, nos apoiamos na pesquisa qualitativa de natureza fenomenológica que é um modo de investigação que difere das “posturas clássicas”, que se caracterizam por utilizar métodos empíricos e testes de natureza indutiva e lógico-dedutiva, que são submetidos ao rigor da prova verificadora e generalizadora.

Esclarecemos que a opção pela fenomenologia foi mais do que uma forma de coleta e organização de dados na pesquisa. Trata-se de uma postura assumida ao realizar a pesquisa que, nos dizeres de Bicudo (1999, p. 13), busca

[...] pelo sentido e pelo significado do que se faz e do que escolhe. Com isso, faz-se presente o autoconhecimento e o conhecimento do Outro. Nesse fazer, a análise, a crítica e a reflexão são constantes e são componentes básicos.

Nossa intenção na pesquisa põe em foco o fenômeno resiliência como possibilidade

para formação humana de futuros docentes na perspectiva integral, buscando por essa

constituição onde ela, inicialmente, se dá: o espaço da formação inicial do professor. A abordagem fenomenológica nos permitiu tratar e interpretar os dados de modo a ser possível evidenciar aquilo que é revelado no movimento de interpretação. Ou seja, a fenomenologia “[...] não traz consigo a imposição de uma verdade teórica ou ideológica preestabelecida, mas trabalha no real vivido, buscando compreensão disso que somos e que fazemos” (BICUDO, 1999, p. 13).

Na pesquisa qualitativa, o investigador busca a compreensão do “fenômeno” situado no tempo e no espaço tal como ele é descrito pelo sujeito que o vivencia, que não está estritamente ligado ao racional, mas ao homem situado no mundo-com-os-outros, ou seja, vivendo com outros humanos, numa relação da qual faz parte, não podendo dissociar-se dela.

Martins e Bicudo (1989) veem o pesquisador como aquele que deve perceber a si mesmo e a realidade que o cerca em termos de possibilidades, nunca só de objetividades e concretudes, a partir de que a pesquisa qualitativa, dizem, dirige-se a fenômenos, não a fatos. Fatos são eventos, ocorrências, realidades objetivas, relações entre objetos, dados empíricos já disponíveis e apreensíveis pela experiência, observáveis e mensuráveis no que se distinguem de fenômeno.

O significado de fenômeno vem da expressão grega fainomenon e deriva-se do verbo fainestai que quer dizer mostrar-se a si mesmo. Assim, fainomenon significa aquilo que se mostra, que se manifesta. Fainestai é uma forma reduzida que provém de faino, que significa trazer à luz do dia. Faino provém da raiz Fa, entendida como fos, que quer dizer luz, aquilo que é brilhante. Em outros termos, significa aquilo onde algo pode tornar-se manifesto, visível em si mesmo. [...] Fainomena ou fenomena são o que se situa à luz do dia ou o que pode ser trazido à luz. Os gregos identificavam os fainomena simplesmente como taonta que quer dizer entidades. Uma entidade, porém, pode mostrar-se a si mesma de várias formas, dependendo, em cada caso, do acesso que se tem a ela. (MARTINS; BICUDO, 1989, p.21-22) Borges e Dalberio (2012) concebem a fenomenologia como o estudo dos fenômenos em si mesmos, independentemente dos condicionamentos exteriores a eles, cuja finalidade é apreender sua essência, que é a estrutura de sua significação. Na segunda metade do século XVIII, o filósofo Jean-Henri Lambert denominou a fenomenologia como a “teoria das aparências”, para distinguir a aparência das coisas do que elas são em si mesmas; com Hegel , na Fenomenologia do Espírito (1807) “é a ciência da experiência que faz a consciência”; e

Edmund Husserl, nas primeiras décadas do século XX, faz da fenomenologia uma meditação sobre o conhecimento, considerando que tudo que é dado à consciência é o fenômeno. Para ele, a consciência é intencional e não está fechada em si mesma, mas se define como certa maneira de perceber o mundo e seus objetos.

Triviños (1987, p. 43) afirma ainda que a fenomenologia é o “[...] estudo das essências, e todos os problemas, segundo ela, tornam a definir essências: a essência da percepção, a essência da consciência”, por exemplo. Mas também a fenomenologia é uma filosofia que substitui as essências na existência e não pensa que se possa compreender o homem e o mundo de outra forma senão a partir de sua “facticidade”. É uma filosofia transcendental que coloca em “suspenso”, para compreendê-las, as afirmações da atitude natural, mas também uma filosofia segundo a qual o mundo está sempre “aí”, antes da reflexão, como uma presença inalienável, e cujo esforço está em reencontrar esse contato ingênuo com o mundo para lhe dar enfim um status filosófico. É o ensaio de uma descrição direta de nossa experiência tal como ela é, sem nenhuma consideração com sua gênese psicológica e com as explicações causais que o sábio, o historiador ou o sociólogo podem fornecer dela.

Na pesquisa fenomenológica, para o pesquisador não há fechamentos e nem sistemas concluídos, pois estar no mundo é sempre interrogá-lo. Colocam-se em destaque as percepções dos sujeitos e, sobretudo, salienta-se, o significado que os fenômenos têm para as pessoas. Assim, “o mundo não é aquilo que eu penso, mas aquilo que vivo, sou aberto ao mundo, comunico-me indubitavelmente com ele, mas não o possuo, ele é inesgotável” (PONTY apud MASINI, 1997, p. 66).

A fenomenologia dá ênfase ao ator, na experiência pura do sujeito, em forma subjetiva. Assim, “[...] baseada na interpretação dos fenômenos, na intencionalidade da consciência e na experiência do sujeito, falou do currículo construído, do currículo vivido pelo estudante” (TRIVINOS, 1990, p. 47).

A trajetória fenomenológica procura estabelecer um contato direto com o fenômeno que está sendo vivido. Para compreender esse fenômeno, é preciso, então, buscar a descrição da experiência pelos sujeitos que o vivenciam. A essência objetivada pela fenomenologia não é um conteúdo conceitual passível de definição, mas uma significação da essência existencial, que como tal deve ser descrita. Essa descrição deve ser a mais natural e espontânea possível; não é opinião nem o que se pensa, mas o que o sujeito está experienciando. Uma palavra, uma definição não poderão dizer o que há a dizer. É preciso recorrer ao discurso, à descrição, para

a aproximação maior possível da densidade semântica do fenômeno humano (REZENDE, 1990).

Para Garnica (1997), a essência do que se procura nas manifestações do fenômeno nunca é totalmente apreendida, mas a trajetória da procura possibilita compreensões. Fenômenos nunca são compreendidos sem que sejam inicialmente interrogados: disponíveis na percepção, são questionados, e, na perspectiva fenomenológica, qualquer forma de manifestação ou objetividade implica um relacionamento intersubjetivo. O questionamento põe-nos frente ao manifesto, em atitude de abertura ao que se mostra, na intenção de conhecer, própria da consciência. O fenômeno, assim, é sempre visto contextualizadamente.

Situado o fenômeno, recolhidas as descrições, iniciamos os momentos das análises sob a perspectiva da abordagem integral de Wilber, ancorados na subjetividade sob um ponto de vista coletivo, a partir do nosso encontro com os participantes e com os valores culturais que nos atravessam. Não tínhamos outro caminho senão “Nós” - coletivo, que pode ser compreendido através de entendimento mútuo entre pesquisador e interlocutor, como foi o caso, considerando a realização das entrevistas. Seguindo a perspectiva integral, existe um conjunto de metodologias, que é assim resumida por Wilber (2006, p. 57): “Hermenêutica é a denominação geral da arte e da ciência da interpretação do nós”.

Assim diante do leque de possibilidades que a MARES nos oferece e numa tentativa de tecer uma rede das análises qualitativas, nos apoiamos na chamada Fenomenologia Hermenêutica (BICUDO, 2011).

Aqui, a descrição do fenômeno interrogado se manifesta a partir de um texto articulado, histórica e culturalmente situado, doando-se à análise e à reflexão. Assim, tratando-se do material das entrevistas — parte do corpus desta pesquisa —,em um primeiro momento, buscamos estabelecer um horizonte geral de compreensão, enquanto no segundo, iniciamos um movimento mais vertical, em profundidade. Retornamos, portanto, às leituras à procura de mais particularidades, elegendo tópicos que nos levaram, no momento seguinte, às unidades de sentido e de significado, ou passagens significativas dos textos que respondem às perguntas que direcionamos a eles. Os tópicos, então, são os contextos ou as categorias mais amplas nas quais estão imersas as unidades de significado, as expressões que fazem sentido ao que o pesquisador busca compreender. Nessa fase, o pesquisador realiza uma hermenêutica, buscando explicitar o que compreende do dito pelo sujeito, construindo as asserções articuladas ou, colocando na linguagem do pesquisador, o sentido percebido nos discursos do sujeito. Machado (1994) nos diz que, na pesquisa fenomenológica, os discursos

dos sujeitos revelam os significados atribuídos e, na análise ideográfica, o pesquisador busca compreendê-los; busca, portanto, uma interpretação do fenômeno interrogado. Essa interpretação dá ao pesquisador o sentido do todo e ele passa a buscar convergências do que é dito e a proceder a Análise Nomotética. Afirma Machado (1994, p. 42): “o termo nomotético deriva-se de nomos, que significa uso de leis, portanto, normatividade ou generalidade, assumindo um caráter de princípio ou lei”. Assim, o fenomenólogo, ao realizar a análise nomotética, procura passar do nível de análise individual para o geral, procurando os aspectos que lhe são significativos nos discursos dos sujeitos e lhe permitem realizar convergências que agregam pontos de vista, modos de dizer, perspectivas, que o levam à compreensão do investigado. Essas convergências dos aspectos individuais, percebidas nos discursos dos sujeitos, levam o pesquisador às Categorias Abertas, grandes regiões de generalidades que passam a ser interpretadas pelo pesquisador. Na interpretação, o pesquisador vai construindo o seu discurso e expondo sua compreensão acerca da estrutura do fenômeno que interroga. O pesquisador chega, portanto, às generalidades pelo movimento de análise e interpretação. Essas generalidades, porém, não são universalidades sobre o que é interrogado. Elas iluminam “uma perspectiva do fenômeno, considerada a inesgotável abrangência do seu caráter perspectival” (MACHADO, 1994, p. 43).

O trabalho seguiu, então, ancorado nas categorizações que foram, depois de recolhidas, transcritas para a linguagem do pesquisador, num discurso mais próprio da área na qual a pesquisa se insere.

Na compreensão está sempre subentendida a interpretação. Ela possibilita ao investigador aceitar os resultados da redução como afirmativas que têm significados para ele, mas que apontam para a experiência do sujeito, isto é, apontam para a consciência que este tem do fenômeno (MARTINS, 1992). A interpretação refere-se ao fenômeno que é percebido e vivido; na realidade trata-se de interpretar a existência.

O caminho fenomenológico não pode ser imposto ao pesquisador, sequer sugerido. Precisa ser basicamente uma opção, uma visão de mundo. Sendo assim, a postura do investigador difere fundamentalmente da do pesquisador das ciências naturais, pois procura compreender o homem como sujeito que tem seu mundo vivido para ser desvelado e, para tanto, vai buscar sentido nas suas falas e ações. Empatia, integração, participação, diálogo, liberdade pessoal e social, encontro, intersubjetividade, perpassam uma situação de pesquisa nessa modalidade (CAPALBO, sd).

Fica, portanto, evidenciada a contribuição dessa abordagem para os estudos no campo da educação que, na nossa pesquisa, visou compreender a promoção de resiliência em estudantes da graduação de pedagogia de IES da Região Metropolitana do Recife, como um caminho de possibilidades no que diz respeito à formação humana integral.

As nossas categorias teóricas de análise, conforme apontadas ao longo dos capítulos teóricos do projeto são: resiliência, perspectiva integral de Wilber e formação.

Nesse sentido, pensamos serem possíveis categorias metodológicas de análise empírica, em um sentido ampliado, que podem vir a conduzir nossas análises e discussões de resultados, já na perspectiva dos quadrantes da abordagem integral. A saber:

✓ 1º QD Ausência de reconhecimento, cuidado de si e suas consequências na formação humana;

✓ 2º QD Relação do sofrimento e a realização no exercício do(c)entes;

✓ 3º QD Dons circulantes com a constituição de redes de apoio social – reestabelecendo relações saudáveis;

✓ 4º QD O cosmos, suas limitações e implicações para formação humana; e ✓ Reconhecimento de si, dos outros e do meio nas multidimensões.

Tais categorias serão abordadas ao longo do próximo capítulo, que versará sobre os resultados, análises e discussão da pesquisa.

A nossa maior expectativa com essa pesquisa foi que a mesma pudesse gerar benefícios para os estudantes de pedagogia, servindo para o seu cotidiano profissional e ampliando para uma esfera maior, a vida, podendo adotar condutas que levem outras pessoas a também alterarem seu modus operandi de viver no mundo. Talvez fosse uma intenção ambiciosa diante do que está posto no que se diz respeito à formação social, pessoal e profissional, porém são modos e vontades que vão mobilizando pequenas alterações e modificando o curso da viagem.

Sabemos que as alterações e benefícios aqui apontados dizem respeito à ótica desta pesquisadora diante deste grupo. Não é possível generalizar ou acreditar que os resultados sejam os mesmos para qualquer grupo, mesmo que a intervenção feita seja similar.

Que os mapas cartesianos de viagens náuticas sirvam de norteadores, mas que não nos impeçam nunca de ver belezas em outros caminhos, que possamos sair um grau fora do meridiano e encontrar outras possibilidades, mesmo que sejam turbulentas e ondas gigantes, mas terá sido uma nova aventura, afinal o que seria de nós se tudo fosse do mesmo jeito sempre, ou se todos os nós fossem desatados de uma só vez.

No próximo capítulo, nossa carta náutica segue para os nossos achados, nossos olhares e as discussões que teceremos sobre o que capturamos, chegando ao final desta viagem saborosa, não fácil, porém bastante construtiva.