• Nenhum resultado encontrado

4.2 OS CAMINHOS PELA MARES E MARÉS

4.2.3 Instrumentos

4.2.3.1 Instrumentos para construção dos dados

inscritos no curso, estabelecendo nosso código de ética e responsabilidade perante o grupo, de modo que o vivenciado por eles naquele momento não poderia ser compartilhado fora daquele ambiente. Foi também esclarecido que não haveria risco aos alunos ou exposição indevida de seus cadernos de atividades e/ou entrevista, cada um recebendo um nome fictício sem possibilidades de identificação por parte de qualquer leitor deste trabalho.

Após a explicação geral dos objetivos da pesquisa e dirimidas as dúvidas, os participantes assinaram o termo de consentimento livre e esclarecido – TCLE (Apêndice 1).

4.2.3 Instrumentos

Para efeito de melhor visualização, dividimos os instrumentos em duas categorias: o primeiro diz respeito aos utilizados para construção dos dados quantitativos e o segundo trata dos instrumentos utilizados para realizar a intervenção de promoção de resiliência, na perspectiva da MARES.

4.2.3.1 Instrumentos para construção dos dados

Escala de Resiliência de Wagnild e Young (1993) – (Anexo A)

A Escala de Resiliência de Wagnild e Young é uma versão adaptada para o português por Pesce et al. (2005) e foi utilizada nesta pesquisa para levantar os participantes que apresentaram maiores e menores escores de resiliência após a intervenção.

Esta escala é um dos poucos instrumentos usados para medir níveis de adaptação psicossocial positiva em face de eventos de vida importantes. Possui 25 itens descritos de forma positiva com resposta tipo likert variando de 1 (discordo totalmente) a 7 (concordo totalmente). Os escores da escala oscilam de 25 a 175 pontos, com valores altos indicando elevada resiliência. Seus autores entendem por resiliência o conjunto de processos sociais e intrapsíquicos que possibilitam o desenvolvimento saudável do indivíduo, ainda que submetido a situações de adversidade. Postulam que a complexidade do constructo se refere à interação entre os eventos adversos e fatores de proteção externos e internos inerentes ao indivíduo (CHEQUINI, 2009, p. 48), pressupostos que não apresentam nenhuma incompatibilidade com os que fundamentam esta pesquisa.

De acordo com Angst (2009), o referido teste de resiliência tem como objetivo medir níveis de adaptação psicossocial positiva e é dividido em três fatores:

• Fator I – se refere à competência pessoal, aceitação de si mesmo e da vida: à invencibilidade, controle, desenvoltura, perseverança. Indicam resolução de ações e valores que dão sentido à vida: a amizade, a realização pessoal e a satisfação. • Fator II – se refere à aceitação de si e da vida: adaptabilidade, equilíbrio,

flexibilidade, perspectiva de uma vida equilibrada, independência e determinação. • Fator III – apresenta questões de competência pessoal: itens indicativos de

autoconfiança e capacidade de adaptação a situações adversas.

Conforme informações disponibilizadas pelo Projeto Alavanca, as questões que fazem parte do fator I são: 1, 2, 6, 7, 8, 10, 11, 12, 14, 16, 18, 19, 21, 23, e 24; do fator II as questões: 4, 5, 15 e 25; e as do fator III: 3, 9, 13, 17, 20 e 22.

Segundo os próprios autores, a escala de Resiliência de Wagnild e Young (1993) é capaz de avaliar apenas indivíduos resilientes, pois não constam itens negativos para mensurar a baixa resiliência, e esta é uma das grandes limitações do instrumento.

“Na realidade, as limitações e incertezas da escala de resiliência refletem as instabilidades no conhecimento sobre o tema” (PESCE et al., 2005, p. 9), o que, segundo os autores da escala, não desqualifica seu uso, uma vez que identificar os recursos internos que os indivíduos resilientes utilizam na superação de eventos difíceis da vida contribui “para nosso entendimento da resistência ao estresse e à adaptação bem sucedida” (CHEQUINI, 2009, p. 49).

Esta escala entrou na pesquisa para avaliar os participantes antes e depois da intervenção, sendo aplicada a todos os participantes da pesquisa. A aplicação inicial ocorreu no primeiro encontro, e a final, no décimo terceiro encontro. Nos dois momentos de aplicação, cada participante recebeu uma escala, sendo orientado a respondê-la individualmente e sem pressa, lendo com bastante atenção cada pergunta, pensando em si e nos seus atos diários, sem receio de julgamentos ou de ter seus dados expostos futuramente. Foi explicado que não existe resposta certa ou graduação melhor, devendo ser explicitado aquilo que o participante de fato estava sentindo.

Os resultados quantitativos obtidos foram utilizados para selecionar os sujeitos para as entrevistas de profundidade. Não foi intuito desta pesquisa fazer análises quantitativas da mesma. O intervalo entre a primeira e a segunda aplicação da escala de resiliência foi de aproximadamente doze semanas.

Optamos por usar a escala de resiliência como instrumento de inclusão e exclusão, para a etapa seguinte. Através dos escores, selecionamos dois participantes com os escores mais baixos e outros dois com os escores mais altos, critério por nós utilizado apenas para facilitar a escolha dos entrevistados.

Não foi nosso foco a análise quantitativa, mas esta nos trouxe dados interessantes, colaborando com as análises qualitativas. Assim fizemos uma breve análise quantitativa das escalas de Resiliência de Wagnild e Young (1993), de modo apenas a enriquecer os dados do nosso trabalho.

Utilizamos o programa SPSS para fazer a análise, o qual apresenta várias possibilidades de resultados, variando apenas da amostra que é inserida. Todos os dados relevantes para a pesquisa precisam estar claros, como fatores e categorias, que vão sendo preenchidos ao longo do programa.

Devido ao tamanho da nossa amostra ser considerada pequena para pesquisas quantitativas, utilizamos a análise t-Student para amostras emparelhadas, feita pra verificar alguma diferença entre o antes e depois da aplicação da intervenção.

Para efeitos de cálculo foi necessário separar os fatores em antes e depois da intervenção (aplicação pré e outra pós-intervenção).

Quadro 4 – Amostra emparelhadas

Fonte: A autora (2019) (2018)

Em todos os tipos de testes t necessitamos relatar o valor de "t", que é chamado de razão crítica, assim como do p-valor, pois assim podemos identificar a veracidade da sua probabilidade (p). Com essas informações, podemos afirmar se a diferença ocorre na

Estatísticas de amostras emparelhadas

Média N Desvio padrão Erro padrão da média Par 1 Fator_1_antes 5,3547 25 ,63032 ,12606 Fator_1_depois 5,5173 25 ,61922 ,12384 Par 2 Fator_2_antes 5,6600 25 ,72844 ,14569 Fator_2_depois 5,7800 25 ,91663 ,18333 Par 3 Fator_3_antes 5,2600 25 ,83898 ,16780 Fator_3_depois 5,3533 25 ,78516 ,15703

realidade (p<0,05), rejeitamos a hipótese nula ou existente apenas ao acaso (p>0,05) aceitamos a hipótese nula (SPARRENBERGER, 2015)

A partir desta conceituação, podemos dizer que foi significativo apenas o fator 1. Isso mostra que somente no fator 1 houve uma diferença significativa de média após a intervenção. Nos outros fatores não foram significativos, ainda que um aumento da média no pós-teste possa ser visualizado.

Quadro 5 – Teste

Teste de amostras emparelhadas

Diferenças emparelhadas t df Sig. (2 extremi dades) Média Desvio padrão Erro padrão da média 95% Intervalo de confiança da diferença Inferior Superior Par 1 Fator_1_antes - Fator_1_depois - ,16267 ,30616 ,06123 -,28904 -,03629 -2,657 24 ,014 Par 2 Fator_2_antes - Fator_2_depois - ,12000 ,56421 ,11284 -,35289 ,11289 -1,063 24 ,298 Par 3 Fator_3_antes - Fator_3_depois - ,09333 ,41410 ,08282 -,26427 ,07760 -1,127 24 ,271 Fonte: A autora (2019) (2018)

O fato de os outros fatores não terem sido significativos pode ser relacionado à amostra pequena, a especificidade de cada fator. Em resumo, com a finalidade de verificar as possíveis diferenças de média entre o pré e o pós-intervenção, foi realizada uma análise por meio do teste t de student. Inicialmente as respostas dos participantes foram separadas de acordo com os fatores do instrumento em antes e depois da intervenção. Pode-se verificar que, dos três fatores, apenas um apresentou um dado significativo, ou seja, apenas para o fator 1 (referente à competência pessoal, aceitação de si mesmo e da vida: à invencibilidade, controle, desenvoltura, perseverança) se pode considerar que houve um impacto da intervenção e um aumento significativo da média. Desta forma, podemos perceber que a intervenção provocou uma melhor avaliação, ou maior modificação de olhar com campo da competência pessoal, no que diz respeito aos cuidados consigo e ao reconhecimento. Para os demais fatores, não foram encontradas diferenças significativas entre o pré e o pós-aplicação, mas é possível verificar um aumento da média após a intervenção, o que, no entanto, não pode ser considerado dado significativo a ponto de afirmar que ocorreu alguma mudança decorrente da intervenção.

Optamos pelo uso da escala primeiro pela escassez de instrumentos que avaliem resiliência e, segundo, porque estamos considerando o fato de já estar adaptada e validada, sendo muito utilizada em pesquisas no Brasil.