ANÁLISE E INTERPRETAÇÃO DE DADOS
1.2. Análise de dados sistema de categorias
A organização do conteúdo informativo envolve necessariamente a construção de um sistema de categorias, anunciando cada categoria ―a significação central do conceito que se quer apreender‖ (Vala, 1986:111). Como foi anteriormente referido, o sistema de categorias deste estudo foi (re)construído de forma progressiva, mediante a combinação de categorias definidas a priori e a sua articulação com as categorias que foram emergindo fruto das diferentes fases de análise de informação e ainda da nossa leitura de outros estudos
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nomeadamente na área da educação em línguas para os primeiros anos de escolaridade, e na da educação para a cidadania (Martins, 2008; Pinto, 2005; Sá, 2008; Tomaz, 2007).
Uma vez que os sujeitos do nosso estudo são os alunos, a professora da turma, optámos pela construção de sistemas de categorias diferentes.
Os alunos
Construímos um sistema de categorias para tratamento das representações dos alunos face à diversidade linguística e cultural e para a avaliação do programa interdisciplinar de sensibilização à diversidade linguística e cultural.
O sistema de categorias para o tratamento das representações dos alunos face à diversidade linguística e cultural comporta uma macro-categoria:
- Macro-categoria 1: Representações e atitudes face às línguas e culturas;
Na macro-categoria identificámos três categorias provenientes da articulação de categorias previamente definidas com as emergentes da análise dos questionários e das entrevistas:
- Imagens das línguas (C1): esta categoria prende-se com as representações dos alunos face à diversidade linguística, com as imagens que os alunos construíram sobre as línguas. Desta categoria emergem cinco subcategorias que nos remetem para as línguas enquanto: objectos de ensino/aprendizagem; objectos afectivos; objectos de poder; instrumentos de construção e afirmação de identidades individuais e colectivas; instrumentos de construção de relações interpessoais/intergrupais. Para cada uma das subcategorias referidas identificámos os indicadores de análise, conforme podemos observar no quadro que se segue:
Quadro 8 – Categoria 1 – Imagens das línguas
SUBCATEGORIA INDICADORES DE ANÁLISE
C1.1 - Objectos de ensino/aprendizagem C1.1.1 - Facilidade ou dificuldade de aprendizagem e uso das línguas;
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C1.1.3 – Distância ou proximidade linguística com a LM ou com outras LE;
C1.1.4 – Conhecimentos declarativos sobre a língua.
C1.2 - Objectos afectivos C1.2.1 - Demonstração de afectividade entre o aluno e a língua; C1.3 - Objecto de poder C1.3.1 - Demonstração de poder (sócio-económico; cultural;
profissional); C1.4 - Instrumentos de construção e
afirmação de identidades individuais e colectivas
C1.4.1 - Relação da língua com a construção e afirmação da identidade e sentidos de presença;
C1.5 - Instrumentos de construção de relações interpessoais/intergrupais
C1.5.1 - Comunicação e relação com o Outro;
(Baseado em Pinto, 2005; Martins,2008)
- Atitudes face às línguas (C2): esta categoria prende-se com as atitudes que os alunos demonstram face à diversidade linguística. Desta categoria emergem duas subcategorias: discriminação linguística; curiosidade e valorização em relação às línguas. Para cada uma das subcategorias definidas identificámos os indicadores de análise, conforme exposto no quadro 9.
Quadro 9 – Categoria 2 – Atitudes face às línguas
SUBCATEGORIA INDICADORES DE ANÁLISE
C2.1 - Discriminação linguística C2.1.1 - Demonstração de atitudes de discriminação linguística revelados no discurso e de etnocentrismo linguístico;
C2.2 - Curiosidade e valorização em relação às línguas
C2.2.1 - Abertura e valorização do conhecimento e contacto com outras línguas.
- Imagens e atitudes face às culturas: esta categoria remete para as representações e atitudes dos alunos face à diversidade cultural. Desta categoria emergem duas subcategorias: discriminação cultural e sensibilidade intercultural. Para cada uma das subcategorias definidas identificámos os indicadores de análise que se seguem:
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Quadro 10 – Categoria 3 – Imagens e atitudes face às culturas
SUBCATEGORIA INDICADORES DE ANÁLISE
C3.1 - Discriminação cultural
Demonstração de atitudes de discriminação cultural: C3.1.1 - Indícios de xenofobia;
C3.1.2 - Indícios de racismo;
C3.1.3 - Centração na cultura própria. C3.2 - Sensibilidade intercultural C3.2.1 - Interesse por outras culturas;
C3.2.2 - Abertura ao conhecimento e contacto com outras línguas; C3.2.3 – Curiosidade em relação às culturas;
C3.2.4 – Valorização da diversidade cultural.
Por seu turno, para a avaliação do programa interdisciplinar de sensibilização à diversidade linguística e cultural assumimos igualmente três categorias:
- Nível de envolvimento: esta categoria prende-se com o conceito de envolvimento, preconizado por Laevers, permitindo avaliar a qualidade do processo de ensino-aprendizagem pela observação dos comportamentos da criança, conforme exposto anteriormente. No entanto, por problemas técnicos com a videogravação das sessões, nem sempre foi possível avaliar com rigor e precisão todos os sinais de envolvimento definidos por Laevers. Por tal, optámos por avaliar: a concentração; a energia; a complexidade e criatividade; a persistência; o tempo de reacção e os comentários verbais. Para cada uma das subcategorias definidas identificámos os indicadores de análise que se seguem:
Quadro 11 – Categoria 4 – Nível de Envolvimento
SUBCATEGORIA INDICADORES DE ANÁLISE
C 4.1 - Concentração C4.1.1 - Focalização da atenção do aluno na actividade. (Sinais de atenção ou distracção na realização das actividades) C 4.2 - Energia C4.2.1 - Implicação do aluno na realização das actividades.
(Sinais de transpiração, ruborização, fala alta ou agitação) C 4.3 - Complexidade e
criatividade
C4.3.1 - Aplicação de um grau acentuado de capacidades cognitivas e criativas.
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C 4.5 - Persistência C4.5.1 - Focalização da atenção e da energia numa actividade. (Sinais de desistência ou não da actividade)
C 4.7 - Tempo de reacção C4.7.1 - Rapidez de resposta a estímulos. (Sinais de motivação e de alerta para a acção)
C 4.8 - Comentários verbais C4.8.1 - Explicitação do envolvimento dos alunos nas actividades. (Comentários espontâneos)
(Baseado em Laevers, 1994; Sá, 2007)
- Percepção sobre os conhecimentos adquiridos: esta categoria prende-se com as afirmações das crianças sobre as aprendizagens efectuadas durante as sessões do programa e no decorrer da entrevista final sobre as diversas temáticas abordadas. Convém referir que os conhecimentos apresentados remetem-nos para as diferentes áreas da educação para a era planetária (cf. capítulo I), como se pode ver no quadro que se segue:
Quadro 12 – Categoria 5 – Percepção sobre os conhecimentos adquiridos
SUBCATEGORIA INDICADORES DE ANÁLISE
C 5.1 - Diversidade linguística e cultural
Manifestação de conhecimentos sobre a diversidade linguística: C5.1.1 - Revela conhecer vários nomes de línguas, culturas e povos; C5.1.2 - Revela conhecer funções e estatutos das línguas e culturas; C5.1.3 - Revela conhecimentos sobre a situação geo-política das línguas e culturas no mundo.
C 5.2 - Diversidade biológica
Manifestação de conhecimentos sobre a diversidade biológica: C5.2.1 - Revela conhecer vários nomes de seres vivos; C5.2.2 - Revela conhecer espécies em vias de extinção; C 5.3 - Consciência
Planetária
C5.3.1 - Compreensão da responsabilização individual pelo futuro da humanidade.
C5.3.2 - Compreensão da responsabilização colectiva pelo futuro da humanidade.
(Baseado em Laevers, 1994 ;Sá, 2007)
- Apreciação do programa: esta categoria prende-se com um conjunto de afirmações dos alunos sobre o programa de intervenção. Desta categoria emergem três subcategorias: utilidade, satisfação e divulgação, presentes no quadro 13.
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Quadro 13 – Categoria 6 – Apreciação do programa
SUBCATEGORIA INDICADORES DE ANÁLISE
C 6.1 -Utilidade C6.1.1 - Manifestação de opiniões dos alunos sobre a utilidade do programa.
C 6.2 - Satisfação C6.2.1 - Focalização da atenção do aluno sobre aspectos positivos ou negativos do programa.
C6.3 - Divulgação C6.3.1 - Divulgação do programa junto da família.
(Baseado em Laevers, 1994; Sá, 2007)
A professora
Para analisar o corpus documental relativo aos dados recolhidos envolvendo a professora titular de turma, construímos um sistema de categorias que comporta três macro- categorias:
- Macro-categoria 1- Representações e atitudes face às línguas e às culturas - Macro-categoria 2 - Concepções da Educação para a era planetária - Macro-categoria 3 - Avaliação do programa de intervenção
A macro-categoria 1 – Representações e atitudes face às línguas e às culturas apresenta praticamente o mesmo sistema de categorias que o definido para os alunos, como podemos constatar no quadro que se segue.
Quadro 14 – Macro-categoria 1– Representações e atitudes face às línguas e às culturas MACRO-CATEGORIA: Representações e atitudes face às línguas e culturas
CATEGORIA SUB-CATEGORIA INDICADORES DE ANÁLISE
C1 – Imagens das línguas
C1.1 - Objectos de ensino/aprendizagem
C1.1.1 - Facilidade ou dificuldade de aprendizagem e uso das línguas; C1.1.2 – Objecto curricular;
C1.1.3 – Distância ou proximidade linguística com a LM ou com outras LE;
C1.1.4 – Conhecimentos declarativos sobre a língua.
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C1.2 - Objectos afectivos C1.2.1 - Demonstração de afectividade com a LM;
C1.3 - Objecto de poder C1.3.1 - Demonstração de poder (sócio- económico; cultural; profissional); C1.4 - Instrumentos de construção
e afirmação de identidades individuais e colectivas
C1.4.1 - Relação da língua com a construção e afirmação da identidade e sentidos de presença; C1.4.2 – Identidade entre língua materna e território;
C1.5 - Instrumentos de construção de relações
interpessoais/intergrupais
C1.5.1 - Comunicação e relação com o Outro; C2 – Atitudes face
às línguas
C2.1 - Discriminação linguística C2.1.1 - Demonstração de atitudes de
discriminação linguística reveladas no discurso; C2.2 - Curiosidade e valorização
em relação às línguas
C2.2.1 - Abertura e valorização do conhecimento e contacto com outras línguas;
C3- Imagens e atitudes face às culturas
C3.1 - Sensibilidade intercultural C3.1.1 - Interesse por outras culturas; C3.1.2 - Abertura ao conhecimento e contacto com outras línguas;
C3.1.3 – Curiosidade em relação às culturas. C3.1.4 – Valorização da diversidade cultural; C3.2 - Discriminação cultural Demonstração de atitudes de discriminação
cultural:
C3.2.1 - Indícios de xenofobia; C3.2.2 - Indícios de racismo;
C3.3Etnocentrismo cultural C3.3.1 - Centração na cultura própria. (Baseado em Martins, 2008; Pinto, 2005)
Quanto à segunda macro-categoria – Concepções da Educação para a era planetária – identificámos três categorias:
- Educação Intercultural (EI): esta categoria prende-se com a identificação das representações da professora titular de turma sobre a educação para a era planetária. Esta categoria integra três subcategorias – Conceito de Educação Intercultural; Multiculturalismo; e Interculturalismo; – com as quais se procura compreender a importância atribuída à EEP, como se pode observar no quadro 15.
- Cidadania planetária: esta categoria prende-se com o conceito de consciência planetária e pela visão de um mundo mais solidário e mais inclusivo (cf. figura 2– Pilares da consciência planetária).
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- Implementação curricular da área: esta categoria remete para o modo como a EEP é ou poderá ser abordada na prática curricular. Desta categoria emergem quatro subcategorias: abordagem ecológica, abordagem curricular disciplinar, abordagem curricular transdisciplinar e abordagem curricular transcurricular, que poderemos ver no quadro 15. É de referir que estas categorias foram definidas a priori a partir do corpo teórico do trabalho.
Quadro 15 – Macro-categoria 2- Concepções da Educação para a era planetária
CATEGORIA SUB-CATEGORIA INDICADORES DE ANÁLISE
C4.- Educação Intercultural
C4.1 – Multiculturalismo C4.2.1 – Reconhecimento da diversidade cultural;
C4.2 - Interculturalismo C4.3.1 – Reconhecimento do carácter multidimensional e complexo da interacção entre sujeitos diferentes;
C5 -Cidadania planetária
C5.1 – Consciência planetária C6.1.1- Compreensão da responsabilização individual pelo futuro da humanidade. C6.1.2 - Compreensão da responsabilização colectiva pelo futuro da humanidade. C6 - Implementação
Curricular da área
C6.1 - Abordagem ecológica C5.1.1 - Promoção da EI a partir de vivências dos alunos e de outros contextos para além da escola (comunidade envolvente, família, …); C6.2 – Abordagem curricular
disciplinar
C5.2.1 – Implementação da EI através de uma área curricular própria com conteúdos específicos;
C6.3 – Abordagem curricular transdisciplinar
C5.3.1 – Implementação da EI no contexto das diferentes áreas curriculares;
C6.4 – Abordagem curricular transcurricular
C5.4.1 – Implementação da EI através do clima/ambiente e organização curricular da sala de aula e da escola (currículo oculto);
(Baseado em Tomaz, 2007)
Na terceira macro-categoria: Avaliação do programa de intervenção – identificámos como categoria, Avaliação global, que emergiu da análise das entrevistas à professora titular de turma. Como indicadores de análise da subcategoria identificámos a avaliação das estratégias, dos materiais e dos conteúdos, conforme podemos constatar no quadro que se segue.
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Quadro 16 – Macro-categoria 3- Avaliação do programa de intervenção MACRO-CATEGORIA: Avaliação do programa de intervenção
CATEGORIA SUB-CATEGORIA INDICADORES DE ANÁLISE
C7 - Avaliação do programa de intervenção
C7.1 – Avaliação global C7.1.1 – Avaliação das estratégias; C7.1.2 – Avaliação dos materiais; C7.1.3 – Avaliação dos conteúdos;
Tendo apresentado as categorias de análise dos dados que recolhemos, no âmbito deste estudo, iremos de seguida descrever e analisar os dados recolhidos à luz das categorias definidas para depois discutir os resultados obtidos.