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Representações e atitudes face às línguas e culturas Imagens e Atitudes face às culturas

ANÁLISE E INTERPRETAÇÃO DE DADOS

2. Apresentação e análise dos dados – os alunos

2.1. Apresentação e análise dos dados do questionário/entrevista inicial

2.1.1 Representações e atitudes face às línguas e culturas Imagens e Atitudes face às culturas

Numa primeira análise dos enunciados e das respostas e/ou transcrições do questionário/entrevista sobre as representações dos alunos acerca da diversidade cultural, verificámos que no total das unidades de ocorrência, a subcategoria Sensibilidade Intercultural é dominante (77,7% do total de ocorrências), como se pode constatar no gráfico seguinte:

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A análise das transcrições e dos enunciados evidenciou que os alunos dizem ter interesse, curiosidade e abertura ao conhecimento e contacto com outras culturas, sendo que do grupo-turma apenas um aluno respondeu que não considerava importante conhecer outras culturas, ―não, porque não gosto‖ (A15). Os restantes elementos da turma consideraram importante conhecer outras culturas, enunciando como motivos a curiosidade, ―eu tenho curiosidade em conhecer outras culturas‖ (A4) e o gosto por aspectos identitários como por exemplo a música e o vestuário, ―sei lá/ porque gosto muito de coisas indianas/ gosto das roupas e música‖ (A2). É de referir que um dos alunos A5 mencionou que gostava de conhecer outras culturas porque gostava de ajudar os pobres, ―sim (…) eu gosto de ajudar os pobres‖, associando assim outras culturas a um nível de desenvolvimento inferior.

Um aluno (A7), afirmou considerar a cultura portuguesa como a mais importante demonstrando pela mesma uma forte ligação afectiva, ―portuguesa (…) porque eu gosto dela‖. Os restantes elementos da turma consideraram que não existe nenhuma cultura mais importante do que as outras, referindo que ―as pessoas são todas iguais/ nem umas são melhores do que as outras/ ninguém é perfeito‖ (A2).

Da análise ressaltou ainda que os alunos A1, A10 e A11 alegam que existem culturas ―mais bonitas‖ e outras ―mais feias‖, e também que um aluno refere que algumas culturas ―são más‖ (A5). Estes testemunhos poderão revelar alguns indícios de discriminação cultural. Os alunos não quiseram ou não conseguiram referir quais as culturas ―bonitas‖ e/ou ―feias‖ e quais as ―más‖.

Imagens das línguas

No que concerne à categoria Imagens das línguas, destaca-se largamente a percepção das línguas enquanto objectos de ensino/aprendizagem (51,1% das ocorrências). Segue-se-lhe a percepção das línguas como objectos afectivos (24%), depois as línguas como instrumentos de construção e afirmação de identidades individuais e colectivas (11,1%). Por fim, os sujeitos referem-se às línguas como instrumentos de construção de relações interpessoais/intergrupais (6,7%) e como objectos de poder (6,7%).

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O gráfico 4 apresenta a distinção de respostas questões abertas sobre a diversidade linguística.

Gráfico 4 – Representações face às línguas

Desta forma, constatamos que as línguas são entendidas em termos de ensino- aprendizagem formal e informal (51,1%). É oportuno, neste momento, voltar a referir que a subcategoria objectos de ensino/aprendizagem tem quatro indicadores de análise que relembramos: facilidade ou dificuldade de aprendizagem e uso das línguas; objecto curricular; distância ou proximidade linguística com a LM ou com outras LE e conhecimentos declarativos sobre a língua. As imagens mais recorrentes nesta subcategoria relacionam-se como os indicadores de análise relativos à percepção de facilidade/dificuldade e uso das línguas (36,4%) e à distância ou proximidade linguística com a LM (36,4%), conforme podemos observar no gráfico que se segue onde consideramos as ocorrências registadas:

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Seguem-se as percepções relativas à imagem das línguas enquanto objectos curriculares (18,2%): ―eu já estudei inglês e espanhol‖ (A4), ―é uma coisa que podemos aprender‖ (A10), ―é uma coisa que devemos aprender a fazer‖ (A11), entre outros testemunhos passíveis de ilustrar este indicador de análise. Finalmente, o aluno A19 revela alguns conhecimentos declarativos sobre a língua quando afirma: ―Eu sei tudo de francês (…) assieds-toi. Sei tudo/sei quase tudo (…) não tenho lá uns amigos que vão lá ao bairro/ que é uns pretos que são franceses (…) Eu ouço eles a falar/era assieds-toi e o que era‖.

Relativamente à subcategoria imagens das línguas como objectos afectivos (24,4%), verificamos que as línguas também são entendidas como objectos com os quais os sujeitos deste estudo se relacionam afectivamente. Quando questionados sobre que língua gostavam mais, apenas dois alunos identificaram o português como sendo a língua de que gostam mais (A10, A19). A língua mais vezes mencionada foi o espanhol, indicada por quatro alunos (A5, A9, A11, A15). É de referir o facto de três alunos assumirem a variante brasileira do português como sendo ―brasileiro‖ e indicando-a como sendo a língua de que gostam mais (A3, A14, A18). No gráfico que segue podemos observar as línguas identificadas pelos alunos como suas preferidas.

Gráfico 6 – Línguas que os alunos dizem gostar mais

Os alunos identificaram que um dos motivos que influenciava a sua preferência por uma língua era a imagem sonora: ―brasileiro não é muito do falar, é mais do cantar‖ (A2),

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―indiana (…) gosto de ouvir‖ (A4), ―é o espanhol (…) a forma de falar‖ (A5), entre outros testemunhos possíveis de mencionar. Desta forma, como podemos verificar, os sons das línguas despertam nos sujeitos deste estudo sentimentos de atracção.

Quanto à subcategoria instrumentos de construção e afirmação de identidades individuais e colectivas (11,1%), as imagens mais recorrentes dos alunos relacionam-se com o facto de as línguas nos permitirem construir o sentido de presença, como podemos constatar nos testemunhos que se seguem: ―depende se algumas línguas forem como é que/algumas são portuguesas, outras são/ como hei-de fizer (…) algumas são estrangeiras outras são portuguesas‖ (A5), ―uma língua é uma maneira de nós falarmos do nosso país‖ (A4) e ―serve para falar como o país‖ (A3).

A análise dos dados obtidos pelo questionário/entrevista demonstrou que as línguas/culturas são também entendidas enquanto objectos que concedem poder aos sujeitos que delas se apropriam (6,7 %), nomeadamente no que se refere ao poder sócio-cultural e de acordo com as experiências das crianlas de contacto mais ou menos directo com outras línguas/culturas: ―[inglês] porque os jogadores falam muito bem‖ (A14), ―Eu vou dizer uma coisa, o espanhol (…) Porquê? Porque lá estuda-se melhor (…) não, mas eu sei porque o meu pai já trabalhou em Espanha. Porque lá estuda-se‖(A5).

Os sujeitos referem-se às línguas enquanto instrumentos de construção de relações interpessoais/intergrupais (6,7%), sendo esta imagem perspectivada pelos sujeitos na óptica da comunicação e relação com o Outro.

Assim, no que concerne à comunicação e socialização com o Outro, as crianças enfatizam: a utilização das línguas para comunicar com os falantes de outras línguas no estabelecimento de contacto intercultural: ―Eu vou ali e quando eu vou comprar coisas/ eles falam assim, um euro/ e eu compreendo/eu compreendo‖ (A19); ―porque uma pessoa pode vir ter com a gente/ inglês ou francês ou espanhol e nós não sabemos falar a língua dele e ficamos especados a olhar para eles/ e não fazemos nada por isso/ é importante sabermos as línguas‖ (A2); ―Não percebemos a língua deles / o meu tio também uma vez/estava em Inglaterra e foi ao supermercado e não sabia o que ia comprar/ porque não sabia dizer leite/ não sabia falar

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inglês‖ (A2). As crianças parecem, pois reconhecer o papel das línguas na comunicação intercultural, nomeadamente para fins integrativos e utilitários.

Atitudes face às línguas

Relativamente à categoria Atitudes face às línguas, apenas verificamos ocorrências relativamente à subcategoria valorização e curiosidade em relação às línguas.

Assim, de forma geral, a análise das ocorrências evidencia que as crianças demonstram curiosidade e interesse pela aprendizagem de línguas: ―eu nunca ouvi falar, mas eu quero falar, porque eu gostaria de falar‖ (A5); ―O russo (…) para aprender algo novo‖ (A15).

Consideramos pertinente estimular esta curiosidade e interesse na valorização das línguas para a aprendizagem de línguas e para uma educação plurilingue pela SDLC.