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Metodologia de investigação: estudo de caso exploratório com características de investigação–acção colaborativa

ORIENTAÇÕES METODOLÓGICAS E CONTEXTUALIZAÇÃO DA INVESTIGAÇÃO

1. Opções Metodológicas

1.1. Metodologia de investigação: estudo de caso exploratório com características de investigação–acção colaborativa

― (…) é às nossas hesitações que chamamos caminhos‖ (Kafka)

Na metodologia do estudo de caso, o objecto de estudo, de acordo com Godoy (1995), é a análise profunda de uma unidade de estudo, um exame detalhado de um ambiente, de um indivíduo ou de uma situação concreta (cf.Neves, 1999). Esta metodologia consiste numa

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investigação pormenorizada, tendo em vista a promoção da análise do contexto e dos processos envolvidos no fenómeno em estudo. Deste modo, o fenómeno não está isolado do seu contexto uma vez que o interesse do investigador é justamente essa relação entre o fenómeno e o seu contexto (cf. Cassel & Simon, 1994).

No caso da presente investigação, pretendíamos realizar uma análise em profundidade do desenvolvimento das sessões do programa de intervenção interdisciplinar de sensibilização à diversidade linguística e cultural, no âmbito de uma educação para a era planetária, implementado numa turma do 1º Ciclo do Ensino Básico.

O estudo de caso como metodologia de investigação é rico e profundo na informação, caracterizando-se por descrever um evento ou caso de uma forma longitudinal. O caso consiste geralmente no estudo aprofundado de uma unidade individual. Desta forma, o âmago da presente investigação reside na análise de um conjunto de situações de sala de aula, de uma forma longitudinal, ou seja ao longo da implementação do programa de intervenção (seis sessões de aproximadamente 90 minutos cada).

A metodologia do estudo de caso assume-se como holística (sistémica, ampla ou integrada), uma vez que pretende compreender a integração do caso no seu todo e a sua unicidade. Como refere Yin (in Coutinho & Chaves, 2002:224), ―é a estratégia de investigação mais adequada quando queremos saber o ―como‖ e o ―porquê‖ de acontecimentos actuais sobre os quais o investigador tem pouco ou nenhum controle‖.

De acordo com Coutinho & Chaves (2002: 224), existem cinco características-chave nesta abordagem metodológica:

- o caso é um ―sistema limitado, tendo fronteiras delimitadas em termos de tempo, eventos ou processos‖ e que ―nem sempre são claras e precisas;

- o caso é sobre algo que deve ser identificado para focalizar a pesquisa e para direccionar a investigação;

- o investigador tem de ter presente a preocupação de preservar a unicidade do caso; - a investigação é produzida em ambiente natural;

- o investigador recorre a múltiplas fontes de dados/a métodos de recolha de informação diversificados.

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Complementando as características identificadas por Yin (in Lessard-Hébert et al, 1990: 170), cumpre-nos acrescentar que na metodologia estudo de caso as fronteiras entre o fenómeno e contexto não estão demarcadas e que a metodologia toma por objecto um fenómeno contemporâneo situado no contexto da vida real.

Nesta metodologia, ―o investigador está pessoalmente implicado ao nível de um estudo aprofundado de casos particulares‖. O investigador aborda o seu campo de investigação a partir do interior, tendo uma participação activa na vida dos sujeitos e faz uma análise em profundidade e de tipo introspectivo. O estudo caso tem sempre um cariz descritivo, caracterizando-se pelo facto de reunir informações ―tão ―numerosas‖ e tão pormenorizadas quanto possível com vista a abranger a totalidade da situação” (Lessard-Hébert et al, 1990: 169-170).

As etapas de formulação do estudo de caso remetem-nos para três propósitos básicos: explorar (desenvolvimento da teoria); descrever (seleccionar a unidade de estudo); e explicar (desenvolvimento do relatório do caso) (cf. Coutinho & Chaves, 2002; Yin, 1993). A figura que se segue, foi construída a partir de Yin (1993) e procura documentar os três propósitos básicos do estudo de caso:

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De acordo com o exposto e atendendo às características do estudo de caso referidas por alguns autores (Coutinho & Chaves, 2002; Neves, 1999; Godoy, 1995; Yin, 1993), poderemos afirmar que o nosso estudo é um estudo de caso uma vez que:

- focaliza-se numa unidade de estudo em particular (programa de intervenção referente à SDLC no âmbito de uma EEP), conferindo unicidade à investigação;

- procura analisar um conjunto de situações de sala de aula;

- procura utilizar múltiplas fontes de dados e métodos de recolha de informação diversificados (entrevistas/questionários, observação, videogravação);

- pretende a integração do caso no seu todo, conferindo um carácter holístico à investigação.

Assim, o estudo de caso é o método adoptado, no entanto o desenho da investigação apresenta também características de investigação–acção colaborativa, uma vez que a metodologia investigação-acção potencia uma maior autonomia e um maior envolvimento no processo de ensino (cf. Sá, 2007).

Na metodologia de investigação–acção está implícita a ideia de que os professores iniciam ―a cycle of posing questions, gathering data, reflection, and deciding on a course of action‖ (Ferrance, 2000: 2).

Esta metodologia permite superar algumas discrepâncias existentes entre o binómio teoria-prática, potenciando melhorias significativas no que concerne à qualidade de educação. Através da investigação–acção o professor reflecte sobre o seu trabalho, permitindo a focalização de problemas, determinando a sua etiologia e a mobilização de estratégias que permitam superá-los, melhorando o processo de ensino-aprendizagem. Assim, temos como elementos do ciclo da investigação–acção: a identificação do problema, a planificação, a acção, a recolha de dados e a reflexão (cf. Ferrance, 2000), tal como a figura 13 procura documentar:

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Figura 13 - Ciclo da investigação–acção (construído a partir de Ferrance, 2000)

De acordo com Bogdan & Biklen (1994:293), a investigação-acção ―é um tipo de investigação aplicada no qual o investigador se envolve activamente na causa da investigação‖, o que resulta num processo sistemático com interferência directa do investigador na realidade a estudar.

A metodologia de investigação–acção foi usada de modo colaborativo, uma vez que o programa de intervenção foi construído segundo uma lógica dialógica, entre a investigadora e a docente titular de turma. A implementação das actividades foi realizada conjuntamente com a docente, pois esta estratégia diminui o risco de constrangimento, uma vez que a investigadora foi apoiada pela docente com a qual os alunos estão em contacto diário.

Importa, pois, salientar que organizámos o nosso estudo procurando articular as fases da investigação identificadas pelo estudo de caso e pela investigação-acção. É de referir que cada fase forneceu informações à que a sucedeu e foi informada pela que a precedeu, segundo uma lógica de reformulação e de melhoria da nossa intervenção, conforme podemos observar na figura seguinte que apresenta as etapas da formulação da presente investigação:

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Figura 14 - Etapas da formulação da investigação no âmbito deste estudo (adaptado a partir de Yin, 1993 e Ferrance, 2000)

O presente estudo assume-se, ainda, como sendo de tipo exploratório, uma vez que pretende ser a preparação para outros estudos (Yin, 1993) e não pretende fazer generalizações, mas sim preparar novos caminhos de investigação sobre a SDLC no âmbito de uma educação para a era planetária nos primeiros anos de escolaridade.

De forma a assegurar a fiabilidade do nosso estudo, utilizámos diferentes técnicas e instrumentos de recolha de dados com o intuito de diminuir o grau de subjectividade presente nos estudos de natureza qualitativa. Procedemos, depois, a uma triangulação dos diversos dados obtidos pelas diferentes técnicas e instrumentos, com o objectivo de alcançar dados de uma forma mais segura e credível (Carmo & Ferreira, 1998).

Após a delineação da metodologia de investigação que privilegiámos, passamos de seguida, a apresentar o contexto de emergência do nosso estudo.

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2. Contextualização da investigação