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ANÁLISE DAS METAS E EVOLUÇÃO DOS LABORATÓRIOS

4. PESQUISA DE AVALIAÇÃO DO FAB LAB LIVRE SP

4.1. ANÁLISE DAS METAS E EVOLUÇÃO DOS LABORATÓRIOS

Visando ao acompanhamento da gestão pública em relação ao desenvolvimento dos laboratórios no período de 24 meses, a SMIT previu em edital o acompanhamento de cinco indicadores que compõem o relatório encaminhado mensalmente à Secretaria pela ITS.

Dentre as metas estabelecidas pela SMIT estão a 1.7.1.1. (seminários externos de apresentação -- sensibilização); a 1.7.1.2. (visitas de apresentação ao laboratório); e da 1.7.2.2 a 1.7.2.4 (oficinas de curta, média e longa duração). O catálogo de atividades ofertadas pelas unidades pode ser encontrado no anexo D.

A meta precisa ser atingida mensalmente (preferencialmente) ou em caso de impossibilidade, uma carta deve ser redigida por parte da instituição gestora e encaminhada a SMIT justificando o não cumprimento e as maneiras para que esta seja atingida de maneira cumulativa nos meses seguintes.

A tabela com as informações detalhadas e os números da meta encontram-se no anexo B dessa dissertação.

Os indivíduos que contribuirão para o atingimento real da meta precisam ser contabilizados em momento e com objetivos distintos, de modo a não contabilizar um mesmo usuário mais de uma vez, para que o real impacto da política seja medido por parte da gestão pública.

Entretanto, em muitos momentos, conforme presenciado nas visitas a alguns laboratórios, para que o objetivo fosse alcançado, diversos usuários que chegam à unidade já cadastrados no sistema e com o intuito de participar de algum curso, são orientados assinar a lista de visitas, atrelada a meta 1.7.1.2..

A meta de visitação visa a medir o número de usuários que desconhecem o laboratório e estão realizando seu primeiro contato com as instalações na rede, para que assim possam ser sensibilizados e convidados a utilizar as instalações ou que estejam no espaço por motivos diversos, que não a participação em cursos.

O certificado dos cursos está atrelado a efetiva participação do usuário. Este, por sua vez, já terá seu nome contabilizado para as demais metas

O problema de um único usuário entrar nas metas referentes a visitação (1.7.1.2) e a dos cursos de curta, média ou longa duração (1.7.2.2, 1.7.2.3 e 1.7.2.4) está na duplicidade de indivíduos contabilizados, culminando na análise superestimada do real desempenho individual dos laboratórios

-- o que gera duplicidade e, muitas vezes, um número irreal quanto ao impacto da política pública.

O fato de a meta 1.7.1.2. depender de registro manual, lançando diariamente, o número final de visitas por laboratório fica difícil de ser aferido com precisão. Semelhante dificuldade se vê em relação à quantidade de visitantes que tiveram seu nome contabilizado em duplicidade.

Os dados foram analisados após a limpeza das bases em busca de duplicidade, reduzindo o universo da amostra de 14.859 pessoas registradas no sistema para 13.985.

Além do que foi citado acima, muitos nomes dentro do sistema estavam cadastrados em duplicidade devido a algum problema durante o período de cadastro.

Apesar do disparo da mensagem de erro para o usuário, muitas vezes, por ausência de alguma informação, o sistema armazenou as informações na base de dados. A

limpeza permitiu maior segurança na produção dos gráficos e dos mapas contidas na pesquisa.

De acordo com os dados analisados desde a abertura dos laboratórios, desde o início das atividades, em outubro de 2015, até agosto de 2017, último período de dados contabilizados até o fechamento desta pesquisa, 41.606 pessoas passaram pelos laboratórios.

Como diversas pessoas frequentam a unidade em dias distintos e assinam a lista manualmente, esse número, se considerado sem nenhuma repetição, deverá ser bem menor. Por outro lado, o universo expressivo da amostra no período de 23 meses demonstra inclusive que há um número considerável de usuários que retornam ao espaço. Reforçando o conceito de comunidade e de continuidade tão presente na ideia dos Fab Labs de modo geral.

Dos 41.606 usuários contabilizados nos 23 meses, 40.056 visitaram o laboratório desde o início da operação dos 12 laboratórios, entre março de 2016 e agosto de 2017 (figura 50).

Apesar de haver algumas leves oscilações no número de público na análise mês a mês, percebeu-se que na maior parte do período analisado após abril de 2016 os laboratórios

conseguiram superar as expectativas da meta estabelecida pelo poder público.

O período compreendido entre outrubro de 2015 e março de 2016 compreende a etapa de abertura dos 4 primeiros laboratórios da rede, na qual apenas em março de 2016 a política enconta-se completa e funcionando com todo o seu potencial, o que justifica a discrepância de público visualizada entre fevereiro de 2016 e março de 2016.

Figura 50 - - Comparativo de público em todas as atividades nos 12 laboratórios nos 23 meses de operação até agosto de 2017. Fonte: Desenvolvido pelo autor

Figura 51 - Gráfico de visitação considerando o período de março, 2016 a agosto, 2017. A seleção do período inferior aos 23 meses de operação se deu pelo motivo da não contabilização da meta nos 3 primeiros meses e para considerar o período de funcionamento até agosto de 2017. Fonte: Desenvolvido pelo autor.

Para fins de análise da representatividade de público na rede em relação a meta, o período anterior a março foi descartado, conforme a figura 51, por não contemplar o funcionamento dos 12 laboratórios.

Se consideradas todas as atividades desenvolvidas desde a abertura até agosto de 2017, somando os dados de todos os indicadores exigidos em edital, é possível perceber

um crescimento consistente desde a data de abertura até os dias atuais.

Março de 2016 foi a data de abertura dos outros oito laboratórios entregues em um segundo momento, conforme explicado anteriormente nessa dissertação pela entrevista com VASCONCELOS (2017), o que justifica o aumento significativo de público.

Para melhor compreensão do real desenvolvimento da política pública no decorrer do tempo, foi selecionada a série histórica de março a agosto de 2016 (funcionamento completo da rede com 12 laboratórios abertos) e igual período em 2017, de modo a comparar o comportamento e o impacto das ações executadas pelos espaços da rede, tendo como base o potencial de atração e possível crescimento (figura 52).

Com base no gráfico de comparação da série de dados em igual período, considerando todas as atividades ofertadas e contabilizadas na meta exigida pela SMIT em edital, é possível comprovar um crescimento considerável de público nos laboratórios da rede.

No período, o ano de2017 tem demonstrado menor oscilação em comparação com 2016, inclusive no mês de

julho, representando um comportando mais estável e público cativo.

Figura 52 - Comparativo de público em igual período 2016/2017, considerando os 12 laboratórios da rede até agosto de 2017. Fonte: Desenvolvido pelo autor

Como a maioria dos laboratórios localizam-se em espaços de CEU ou próximos a universidades, seria normal ver diminuição considerável no gráfico em período de férias escolares.

Entretanto, ao contrário do acontecido em 2016, 2017 apresenta um cenário bem mais estável, mantendo a vertente de crescimento no número de pessoas e consequentemente na divulgação da política pública.

0 1000 2000 3000 4000 5000 6000 7000

MAR ABR MAI JUN JUL AGO

Comparativo Público no período - 12 laboratórios

Embora a figura 45 demonstre o atingimento da meta com certa folga, ao analisar cada um dos indicadores individualmente é possível ver que, na maior parte dos laboratórios, as metas com amostras maiores têm sido atingidas com aperto. Na maior parte, não o são, como a 1.7.1.2. – visitas e apresentação do laboratório --, e a 1.7.2.1 - - cursos de curta duração (figura 53).

Apenas 57% das metas foram atingidas no período. Os demais 43% teriam apenas o 24° mês para o cumprimento da meta total, o que estatisticamente se torna impossível, ao considerarmos os demais 23 meses da série histórica.

A análise dos indicadores da meta permitiu compreender que dentre os pequenos laboratórios apenas o da Vila Itororó não atingiu nenhum dos indicadores da meta.

Entre os quatro grandes, apenas o Centro Cultural Cidade Tiradentes conseguiu atingir a maioria das metas. Entretanto, este funcionou o período completo de 23 meses, ao contrário dos demais grandes laboratórios que começaram as atividades em março de 2016.

Figura 53 - Gráficos de público por atividade até agosto de 2017. Fonte: Desenvolvido pelo autor

40.000 41.000 42.000 43.000 44.000 23 meses meta 1.7.1.2. Visitas Externas 0 2.000 4.000 6.000 8.000 10.000 23 meses meta 1.7.1.1. Sensibilização 0 500 1.000 1.500 23 meses meta 1.7.2.3. Curso de Longa Duração 20.000 21.000 22.000 23.000 24.000 23 meses meta 1.7.2.1. Curso de Curta Duração 0 1.000 2.000 3.000 4.000 5.000 23 meses meta 1.7.2.2. Curso de Média Duração

A proximidade dos três laboratórios do Centro pode ser um dos problemas para o não cumprimento da meta individual, considerando a localização de cada um -- Galeria Olido, Marcenaria Experimental da Vila Itororó e o Centro Cultural São Paulo (CCSP) (com uma UNIP a frente e FMU próxima). Este último foi o único que de fato, atingiu a meta individual.

O motivo seria o grande fluxo de pessoas nas adjacências e, principalmente, a permanência desses indivíduos no Centro Cultural, favorecendo o direcionamento do público para o laboratório por já se encontrarem no espaço por motivos de recreação.

A proximidade das universidades contribui consideravelmente para ao cumprimento da meta ao direcionarem parte do fluxo para o uso das máquinas do laboratório para o desenvolvimento de trabalhos acadêmicos. É possível ver, pelos gráficos, que espaços próximos a instituições de ensino ou perto de CEUs (Centro de Ensino Unificado) de fato têm maior incidência de público, muitas vezes alimentados pela demanda dos próprios centros educacionais.

Podemos dizer que no caso dos laboratórios do centro ocorre uma “canibalização” entre os espaços por disputarem o mesmo público.

De modo a embasar tal afirmação, foi analisado, utilizando o Google Maps o raio de influência dos três laboratórios, considerando um raio de quatro quilômetros a partir do laboratório, o que permitiu concluir que os três laboratórios acabam por dividir uma parcela considerável do público (figura 54).

Figura 54 - Raio de influência dos laboratórios centrais. Fonte: Desenvolvido pelo autor

Como resultado, o laboratório da Vila Itororó não tem nem a visibilidade e nem o apelo necessário em comparação com os demais. A facilidade de locomoção dentro do centro de São Paulo, se se considerar os demais laboratórios localizados em áreas periféricas, permite a migração do público para os laboratórios em espaços de maior visibilidade. Com exceção das metas de cursos de curta duração e visitação, as demais possuem números menores e mais fáceis de serem gerenciados.

Figura 55 - Percentual de público por atividade até agosto de 2017. Fonte: Desenvolvido pelo autor

Porém, o não atingimento da meta, principalmente se considerada a grande distância entre o esperado e o que foi realmente alcançado, faz levantar questão sobre a possibilidade de as metas serem superestimadas e pouco representarem a dinâmica dos laboratórios.

Até porque, como demonstra a figura 55, esses dois indicadores são os mais relevantes para que a meta proposta seja alcançada.

A possibilidade de os indicadores estarem pouco alinhados com as potencialidades do laboratório e com o ritmo real de crescimento e consolidação da política resultou em uma portaria, expedida em 04/08/2016 com o aditamento do convênio nº 001/SES/2015, permitindo a “flexibilização” da meta dentre os laboratórios do lote e dentro das atividades desenvolvidas no laboratório.

“C) Fica a Cláusula 9 acrescida dos subitens 9.5.2, com a seguinte redação: Poderão ainda, de comum acordo e de maneira justificada, serem flexibilizadas as metas de visitações, atividades de sensibilização, cursos de curta, média e longa duração, desde que observada a manutenção da carga horária total prevista como meta, conforme as necessidades práticas do projeto, inclusive 28% 6% 2% 53% 11% Curso de Curta Duração Curso de Média Duração Curso de Longa Duração Visitação Sensibilização

sendo permitida a compensação dos quantitativos entre os laboratórios. (SÃO PAULO, 2016)

O texto prevê que isso aconteça em comum acordo entre as partes. Como a mesma empresa gerencia os 12 laboratórios, a possibilidade de flexibilização se tornou uma prática, não uma exceção.

O resultado foi a padronização do crescimento de ambos os lotes, independentemente do potencial de público que pudesse frequentar os laboratórios quando considerado sua região de atuação, como visto na figura 56.

Figura 56 - comparativo de desempenho entre lotes até agosto de 2017. Fonte: Desenvolvido pelo autor

Exceto pela oscilação no lote 1, em julho de 2016, onde poucas ações estão relacionadas na tabela e

provavelmente foram devidamente justificadas para a SMIT, dados a que não foi possível acessar.

Embora seja uma rede e o crescimento de todos os laboratórios de maneira homogênea seja interessante, a relação dos lotes com a meta é diferente, considerando que as metas do lote 1 são maiores e mais difíceis de serem atingidas em relação às do lote 2.

Para que a flexibilização da meta traga, de fato, efeitos benéficos, estas deveriam ser ajustadas de acordo com as estatísticas históricas do conjunto de laboratórios em questão. Para isso, seria necessário estabelecer a meta anualmente, baseando-se em cálculos estatísticos que considerem o atingido no ano anterior e projetasse um valor somado ao que foi atingido para projeção do crescimento a política mês a mês durante o período.

Outro ponto concernente à flexibilização da meta é a possibilidade de se concentrar esforços em um único laboratório pelo bem do lote e alcance dos indicadores, enquanto outros recebem público aquém de suas potencialidades.

Como exemplo, tem-se o lote 1, contendo Vila Itororó, CEU Heliópolis e Centro Cultural Cidade Tiradentes (CCCT),

dentre outros, nos quais, com exceção das oficinas de longa duração que ficaram aquém da meta (realizado= 54, meta=60), todos os demais indicadores foram atingidos praticamente duas vezes em relação ao projetado nesses três laboratórios.

Os cursos de longa duração tiveram praticamente o dobro de inscritos, apenas no laboratório de Heliópolis, demonstrando claramente o direcionamento dos esforços para espaços que historicamente cumprem o desejado e o possível sucateamento dos demais, possibilitado pelos ajustes contidos na portaria em questão.

A flexibilização da meta permitiu que a redução na oferta, ou o baixo engajamento quanto à divulgação e incentivo à procura dos cursos e por geração de público em outros laboratórios, fosse compensada por aqueles onde estatisticamente a meta seria cumprida.

O atendimento aos indicadores nesse caso não necessariamente rendeu resultados positivos aos demais laboratórios, negligenciados por não atingirem a meta frequentemente.

Os esforços deveriam ser dirigidos de acordo com o tamanho e expectativa de público a todos os laboratórios,

proporcionalmente ao investimento e à infraestrutura disponíveis, sem a exclusão ou não incentivo à oferta em laboratórios que se mostraram mais complicados dentro do lote.

Tal atitude pode, em longo prazo, resultar no sucateamento desses laboratórios, que têm dado menor retorno, em prol daqueles que estar demonstram estar mais alinhados com seu público.

4.2. PERFIL DOS LABORATÓRIOS E ANÁLISE DE