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DO LOCAL AO GLOBAL: COMPARTILHAMENTO DE SOLUÇÕES EM REDE

Diversas cidades, principalmente os grandes centros veem surgir empresas, muitas vezes do modelo startup e outras organizações locais, desenvolvendo ferramentas inteligentes e serviços interativos que permitem a participação dos cidadãos e proporcionam uma análise clara da realidade local para o desenvolvimento dessas ferramentas devido a proximidade com o problema abordado.

Conectados através das redes sociais e das TICs, tais iniciativas criam o ambiente adequado para que novos modos de construir e governar as cidades se tornem possíveis,

pautados em soluções de baixo custo que favoreça o urbanismo participativo.

Visando estimular a prática da produção de aplicativos e tecnologias pela comunidade, TOWNSEND (2013) e RUIZ e TIGRE (2015) utilizam como base para suas argumentações as competições de aplicativos para celulares (hackatona), que tem acontecido em diversas cidades do Brasil e dos Estados Unidos.

Para os autores, tais eventos são capazes de mobilizar um público considerável, aptos a produzirem inovações e tecnologias que reflitam de maneira mais assertiva sobre os problemas que precisam ser solucionados com custo reduzido para a administração pública, quando comparado aos valores contratados com grandes empresas do ramo de tecnologia.

Para a comparação foram utilizados principalmente as informações coletadas durante entrevistas que comporão principalmente os próximos capítulos dessa pesquisa e que atestam as diferenças do modelo citado, tendo o MobiLab como agenciador desse modelo de contratação de empresas de menor porte.

Um ponto a ser considerado nesse modelo é o tempo de disponível para o desenvolvimento. A hackatona, embora

contenha o potencial de reunir um grande número de desenvolvedores das mais variadas origens focadas em produzir soluções para um mesmo problema com óticas diferentes, este modelo tem a sua possibilidade de desenvolvimento restrito pelo pouco tempo disponível desde o briefing inicial até o momento da entrega.

Uma hackatona varia de 24 a 72 horas para que os dados sejam interpretados, um modo de solução para o problema seja pensado e estruturado e por fim o aplicativo desenvolvido e entregue aos organizadores para que o melhor seja selecionado.

De acordo com essa dinâmica, todas as ideias e soluções produzidas carregam um número considerável de problemas que precisarão ser solucionados com calma e maior tempo de trabalho sobre o que foi produzido.

O foco principal dessas maratonas deve ser o de trazer novos olhares e criar um banco de soluções, estratégias e profissionais capazes de contribuir para a melhoria da cidade.

Dando aos participantes a oportunidade de manter o código aberto para que seja trabalhado posteriormente e a solução inicial transformada em um produto mais complexo

que possa ser ofertado à Administração Pública ou à população.

Logo, para garantir a sustentabilidade da política RUIZ e TIGRE (2015), expõem a importância de desenvolver modelos de negócios e planejamentos eficientes, que permitam replicar as tecnologias desenvolvidas a nível local para outras cidades.

De fato, replicar soluções inteligentes se mostra como um grande desafio a ser enfrentado.

Para TOWNSEND (2013), embora a sociedade esteja conectada e em rede, conforme explicitado anteriormente, a ineficácia na capacidade de duplicar as tecnologias inteligentes destaca-se como um problema global.

Ao encomendar uma solução, as cidades investem grandes somas de dinheiro focadas em gerar inovações sem se preocupar com o que já fora criado, quando muito poderia ser economizado se as tecnologias criadas fossem adaptadas a realidade local, o que beneficiaria e muito o modelo desenhado até aqui.

Por outro lado, algumas iniciativas têm obtido sucesso ao serem replicadas em outras partes do mundo,

considerando os ajustes necessários para que fossem adaptadas ao novo território.

Organicity, por exemplo, é uma iniciativa, encabeçada pelo Fab Lab Barcelona em parceria com mais 5 cidades e entes da iniciativa privada na Europa, que busca unir pessoas interessadas em produzir tecnologia que aborda qualquer um dos problemas da cidade, funcionando como um termo guarda-chuva para agregar projetos de melhorias que tenham objetivos similares.

Consiste na construção de uma rede de atores, de diversas cidades capazes e com interesse de identificar problemas e produzir tecnologia voltada a melhoria da eficiência dos sistemas urbanos e qualidade de vida baseados em dados coletados e compartilhados na rede de modo colaborativo, dentro de moldes similares ao processo de open design citado anteriormente.

Sendo assim, o termo é referente a um conjunto de ideias que sustenta diversas tecnologias com foco similares, por meio de uma página web ou aplicativo que possa fazer a gestão dos demais sistemas (Figura 5).

A ferramenta tecnológica é uma forma de cocriação da cidade e produção de informações que podem ser

compartilhadas com empresas parceiras ou demais instituições com interesse em contribuir para melhorias urbanas, utilizando a participação e ferramentas de georreferenciamento para conectar pessoas e ideias (figura 6).

Nos dois casos, entende-se que o desenvolvimento de projetos em rede e pela lógica open source, supera a produção e compartilhamento de tecnologia permitindo que experiências e impressões naveguem pela rede. A vida se torna compartilhada, acessada constantemente e simultaneamente por ambos os lados.

Figura 5 - Interface Organicity - Fonte: Fab Lab Barcelona

Figura 6 - Processo de cocriação Organicity- Fonte: Fab Lab Barcelona

O projeto atualmente tem 3 cidades na rede, Aarhus – Dinamarca; Londres, Inglaterra e Santander na Espanha, com mais de 25 projetos desenvolvidos ou em desenvolvimento nas áreas de mobilidade, análise de fluxo de veículos,

mapeamento de potencial de energia renovável, análise e monitoramento das questões ambientais, entre outras.

Em períodos onde os orçamentos estão cada vez mais enxutos, o compartilhamento de ideias e soluções se mostra viável para a produção de cidades mais eficientes e