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3. A REDE PÚBLICA DE LABORATÓRIOS DE FABRICAÇÃO DIGITAL DE SÃO PAULO – FAB LAB LIVRE SP

3.2. REGRAS PARA MONTAR UM FAB LAB

Embora o desenvolvimento internacional do modelo demonstre uma real emancipação de seus criadores, EYCHENNE e NEVES (2013) mostram que os laboratórios ainda são desenvolvidos sob a égide do CBA-MIT, seguindo

os mesmo princípios, entretanto, com “independência para adequar-se à realidade local” (p.12).

Visando a assegurar que o espírito que motivou a criação do primeiro laboratório fosse perpetrado, o CBA-MIT desenvolveu um conjunto de princípios, denominados Fab Charter, que deveriam ser respeitadas e replicadas em todos os laboratórios, sendo afixada em local de ampla visualização e no site do laboratório.

Para participar da rede é preciso contatar a CBA diretamente ou a associação nacional correspondente para a inclusão do nome do laboratório à lista e seguir os preceitos delimitados no Fab Chart (EYCHENNE e NEVES, 2013, p.14- 15), sendo:

 O que é um Fab Lab?

Fab Labs são uma rede global de laboratórios locais, permitindo a invenção e fornecendo acesso a ferramentas de fabricação digital.  O que contém um Fab Lab?

Fab Labs compartilham um inventário de máquinas e componentes em evolução que auxilia na capacidade básica de fazer (quase) qualquer coisa, permitindo também o

compartilhamento de projetos desenvolvidos ali pelas pessoas.

 O que fornece a rede Fab Lab?

Assistência operacional, educacional, técnica, financeira e logística, além do que está disponível dentro dos laboratórios.

 Quem pode usar um Fab Lab?

Fab Labs estão disponíveis como um recurso da comunidade, oferecendo acesso livre para os indivíduos, bem como o acesso programado para programas específicos.

 Quais são as suas responsabilidades?

Segurança: não ferir as pessoas ou danar as máquinas.

Operações: ajudar com a limpeza, manutenção e melhoria do laboratório.

Conhecimento: contribuir para a documentação e instrução.

 Quem é o dono das invenções realizadas dentro do Fab Lab?

Projetos e processos desenvolvidos no Fab Lab podem ser protegidos e vendidos. O inventor

escolhe a maneira como seu projeto será realizado, porém, a documentação do projeto contendo os processos e as técnicas envolvidas devem permanecer disponíveis para que outros usuários possam aprender com ela.

 Como as empresas podem utilizar um Fab Lab?

As atividades comerciais podem ser prototipadas e incubadas em um Fab Lab, mas não devem entrar em conflito com outros usos. Elas devem crescer além do laboratório e beneficiar os inventores, os próprios laboratórios que lhes deram suporte e as redes que contribuíram para o seu sucesso.

É importante ressaltar duas das premissas básicas que devem ser respeitadas por todos os membros da rede, acima de qualquer coisa. Em primeiro lugar, é obrigatório que, independentemente do perfil do laboratório, ele se mantenha aberto a comunidade ao menos uma vez por semana, nos chamados open days.

A importância dos dias abertos à comunidade se faz necessário para fomentar a busca por inovação e possibilitar que mais pessoas tenham acesso a cultura digital e, assim, o conceito de produção e desenvolvimento colaborativo que permeia os Fab Labs seja difundido na comunidade. Nos open days, o acesso será livre e sem qualquer custo, exceto o valor dos insumos necessários para execução do projeto.

Em segundo lugar, é preciso respeitar e contribuir com a produção de inovação dentro da rede e em caráter colaborativo, incentivando fortemente a disponibilização da documentação dos projetos desenvolvidos nas dependências dos Fab Labs, de maneira clara e detalhada, contendo os testes, erros e acertos para que essas tecnologias assegurassem a replicabilidade dessas tecnologias em quaisquer outros laboratórios da rede.

De acordo com o professor da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo (FAUUSP) Dr. Paulo Eduardo Fonseca Campos (2017), coordenador do Laboratório da USP, no caso do FAB LAB SP é muito comum que o conhecimento produzido, por diversos motivos, não seja documentado de modo que possibilite o compartilhamento e a reprodução da tecnologia desenvolvida.

Esse tipo de comportamento muitas vezes pode enfraquecer o objetivo imanente da existência da rede, que tem como base o trabalho compartilhado, a reprodução e o aperfeiçoamento das soluções criadas.

Com a proposta de assegurar a eficiência do trabalho em rede, e a possibilidade de replicar tecnologias em qualquer laboratório, independentemente de sua localização geográfica, foi estabelecido um conjunto básico de máquinas (CNC) de nível profissional, porém com baixo custo agregado -- há casos em que algumas máquinas foram manufaturadas dentro dos próprios laboratórios –, visando a manter a padronização de processos que podem ser executados nesses espaços.

De acordo com NEVES (2013, p.140 – 144), o conjunto padrão de máquinas que precisam ser encontradas em todos os laboratórios são:

Máquina Modelo20 Descrição

Cortadora de Vinil Roland GX-24 ou Craft Robo Pro

Pode ser utilizada para customização de peças e impressão pequenos circuitos simples. Muito similar a uma impressora caseira, entretanto em vez de reservatórios de tinta, possui na cabeça de impressão uma fina lâmina de aço que a permite cortar materiais como papel, vinil, certos tecidos, adesivos de cobre e filmes tipo transfer. Cortadora a Laser Epilog Laser - Mini 24” x 12” 40W

Máquina de comando numérico que direciona com precisão um feixe de CO2 em eixos X e Y. A potência da máquina é expressa em Watts e define a espessura dos materiais a serem cortados e da velocidade que

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Os modelos são sugestões do CBA-MIT, sendo necessário considerar a comercialização ou não desses equipamentos no país que o Fab Lab será implantado.

a máquina é capaz de operar. Pode ser utilizada para gravar materiais como: madeira, metal, alumínio e pedra, ou para o corte de madeira, papel, papelão, acrílico, couro, entre outros.

NEVES (2013, p.140) relata que esta é uma das máquinas mais populares por ser de fácil manuseio para iniciantes e pelas suas travas de segurança que permitem o funcionamento do lazer apenas com a porta fechada. Fresadora de Precisão MDX-20 Roland

A máquina contém em sua cabeça uma fresa que se move nos eixos X, Y e Z, desbastando o material de acordo com o desenho que lhe foi enviado. Algumas são utilizadas apenas para desbastar o material, enquanto outras podem ser utilizadas para dar acabamento fino.

Fresadora de Grande Formato

Shop Bot Dotada de uma cabeça de corte mais poderosa, essa máquina é utilizada para a usinagem de materiais mais densos como madeira maciça ou composta, sendo utilizada para grandes superfícies de trabalho, geralmente de um a mais de dois metros.

Impressão 3D

Replicator 2 – Maker Bot

Geralmente, essa máquina é utilizada para impressão de moldes que exigem precisão ou modelos finais. NEVES (2013, p.142) relata que até o final de 2011, a impressora 3D não era parte da lista oficial da CBA-MIT devido a um comportamento reticente de Neil Gershenfeld quanto a elas utilizarem materiais com custo elevado e não adaptáveis ao uso coletivo.

Além do kit padrão de máquinas elencadas na tabela, diversos outros podem ser encontrados nos Fab Labs. A definição dos equipamentos além do conjunto básico deve ser definida de acordo com o perfil de cada laboratório e da demanda proveniente dos projetos que são desenvolvidos.

Além das máquinas por comando numérico, é possível encontrar, dentro de um Fab Lab, uma gama de componentes eletrônicos que vai desde microcontroladores, sensores e resistores de toda natureza, que serão utilizados no aprendizado de práticas de eletrônica, tanto para conhecer melhor os processos de fabricação digital, quanto para amparar os usuários no desenvolvimento de seus projetos.