• Nenhum resultado encontrado

3. A REDE PÚBLICA DE LABORATÓRIOS DE FABRICAÇÃO DIGITAL DE SÃO PAULO – FAB LAB LIVRE SP

3.4. FAB LAB LIVRE SP

A rede de Fab Labs Livre SP atualmente é composta por 12 laboratórios espalhados pelas quatro zonas do município de São Paulo.

Atualmente a rede conta com quatro laboratórios de grande porte e oito laboratórios de pequeno porte, todos contendo o kit básico de maquinários necessários para a fabricação de digital, além de alguns maquinários de uso específico de cada laboratório, fruto de pesquisas qualitativas feitas pela Secretaria Municipal de Inovação e Tecnologia de São Paulo (SMIT).

Dentro do kit básico, os grandes laboratórios possuem maior número de computadores e algumas máquinas de grande porte, devido à capacidade de público e ao espaço disponível.

Embora os laboratórios públicos utilizem o nome fantasia de Fab Lab e atendam aos padrões prescritos pela Fab Foundation para a implantação de novos espaços e

participação na rede mundial de laboratórios, o poder público optou por não fazer parte desse grupo.

PINHEIRO (2017) explica que o principal motivo é o valor de US$ 5.000 para ingressar na rede. Além disso, os técnicos precisariam tirar uma série de certificados, que os habilitariam a orientar os usuários nos laboratórios e um conjunto de protocolos a serem cumpridos.

Considerando os baixos orçamentos e os entraves para se justificar esse tipo de gasto, a inserção de algum laboratório ou a sustentação dos existentes poderia inviabilizar-se.

Outro quesito seria o tempo. A validação dos certificados e o cumprimento dos cursos de base demandaria planejamento anterior à abertura dos laboratórios, o que pode não ter sido pensado.

Apesar do tempo que seria desprendido, diversos dos problemas encontrados e analisados no decorrer desse capítulo poderia ser solucionado através do conhecimento já consolidado pela rede da Fab Foundation.

Contudo utilizar uma marca indevidamente e sem a autorização pode não ser a melhor das soluções, outras formas de divulgação poderiam ter sido utilizadas

descartando o nome de entrada “Fab Lab”, o que resultaria em um investimento mais significativo em publicidade e divulgação. Principalmente se considerarmos a dispersão geográfica, a distância e as características individuais de cada área as quais foram inseridos.

Conforme nos mostra a figura 42, apenas três laboratórios estão locados na região central, enquanto os outros nove encontram-se espalhados por áreas periféricas do município.

Figura 42 - Mapa com a localização dos 12 laboratórios da rede Fab Lab Livre SP. Fonte: Desenvolvido pelo autor.

Para Adolfo Pinheiro,21 a seleção do local onde os laboratórios seriam implantados seguiu alguns critérios bem definidos e específicos alinhados aos objetivos que nortearam a ideia da rede.

Entretanto um dos grandes desafios para a implantação e execução dos laboratórios surgiu logo em 2014 quando se iniciou o projeto. A real ideia do tamanho da rede que conseguiria atender, de maneira satisfatória, uma cidade como São Paulo, sempre permeava as discussões, justamente pelas grandes distâncias que precisariam ser percorridas para se chegar a algum ponto e o tempo gasto para tal.

A ideia de fazer uma rede inicial com 12 laboratórios, apesar de ousada, se mostrou como a forma mais apropriada para levar a política de inclusão digital até áreas mais vulneráveis situadas nas franjas da cidade.

Segundo o prefeito à época da implantação da rede, Fernando Haddad, o objetivo do projeto era fomentar o empreendedorismo e a inovação, inclusive em áreas

21

Adolfo Pinheiro Fernandez é o coordenador da rede Fab Lab Livre SP dentro da Secretaria Municipal de Inovação e Tecnologia.

periféricas, dando oportunidades de desenvolvimento para despertar o perfil adormecido dessa população.

Para PINHEIRO (2017), ao levar a tecnologia de produção digital para áreas periféricas, é possível apresentar novas possibilidades e um novo universo repleto de oportunidades e descobertas.

As pessoas que habitam em as áreas centrais costumam ter acesso regular e simplificado a esse tipo de tecnologia, seja dentro das instituições de ensino ou até mesmo em espaços privados para tais fins, como o Garagem Lab, situado na região da Barra Funda – zona Oeste de São Paulo.

Além disso, muitos dos moradores da periferia nem sempre conseguem se deslocar até as áreas centrais para ter acesso à tecnologia de ponta presente nos laboratórios.

Parte pela deficiência na área de mobilidade na cidade de São Paulo tornando o deslocamento do extremo da zona Leste até o extremo da zona Oeste ou Sul um processo moroso e complexo, explica o porquê de parte dessa população não ter conhecimento prévio do que pode ser feito com esse tipo de tecnologia, ocasionando uma seleção

natural da parcela da população que se sentiria apta a fazer uso dos espaços em si.

No período de 23 de março a 10 de abril de 2015, a até então Secretaria de Serviços (SES), por meio do edital de chamamento público Nº 001/SES/2015, iniciou o processo licitatório para a seleção de organizações, entidades ou associações sem fins lucrativos aptas e interessadas a se responsabilizarem pela implantação e gestão dos laboratórios de fabricação digital por um período de dois anos a partir da data de celebração do contrato.

Figura 43 - lotes 1 e 2 dos laboratórios previstos em edital. Fonte: SMIT/SP

Para facilitar o processo, os laboratórios foram divididos em dois lotes com seis laboratórios cada, sendo dois grandes laboratórios e quatro minilaboratórios em cada lote.

Após a análise e seleção, o Instituto de Tecnologia Social (ITS) foi o vencedor de ambos os lotes e ganhou o direito de gerir os 12 laboratórios da rede (figuras 43).

Luiz Otávio de Alencar Miranda22, um dos responsáveis pelo projeto dentro da ITS, afirma que a rede de Fab Labs vai ao encontro do campo de atuação do instituto, que tem como foco atuar com tecnologia social buscando trazer benefícios à população.

Figura 44 - Imagem de sala de computadores de um grande laboratório da rede Fab Lab Livre SP (Fab Lab Heliópolis) Fonte: Arquivo Pessoal

22

Luiz Otávio de Alencar Miranda chefe da rede Fab Lab Livre SP dentro da ITS, instituição que ganhou o direito de implantar e gerir os laboratórios, de acordo com os termos vigentes no edital de chamamento público 001/SES/2015

Figura 45 - Sala de prototipagem e fabricação digital do Fab Lab Livre SP - Heliópolis Fonte: Arquivo Pessoal

Entretanto, não havia nem por parte do ITS nem do poder público a experiência necessária para tal desafio. Eles não haviam gerenciado nem sequer um laboratório, e a rede tinha 12. Foi um desafio superado em conjunto.

Apesar da decisão de implantar 12 laboratórios, atender de maneira satisfatória os objetivos pensados para o projeto, os desafios encontrados também foram multiplicados pelo mesmo valor.

Segundo os relatos de Artur Vasconcelos23, houve diversos percalços pelo caminho, como encontrar formas de

23

Artur Vasconcelos foi supervisor técnico do projeto que começou a participar da equipe em setembro de 2015 trazendo seu conhecimento

especificar corretamente os produtos para que fossem comprados maquinários de boa qualidade e adequados às necessidades do laboratório, mas sem discriminar marcas.

Foram necessárias algumas adaptações elétricas dos espaços, que na sua maioria já estavam construídos, e a instalação das máquinas que devido ao tamanho de algumas delas precisaram ser desmontadas para que passassem na porta.

O termo de convênio entre o ITS e a SES -- atualmente os laboratórios são de reponsabilidade da Secretaria Municipal de Inovação e Tecnologia (SMIT), criada em 1º de janeiro de 2017, segundo o decreto n° 57.576 – foi firmado em 18 de agosto de 2015. Em 10 de setembro do mesmo ano, a prefeitura disponibilizou a primeira parte dos recursos destinados à contratação da equipe.

A princípio, foram contratadas seis pessoas para dar andamento ao processo de implantação dos laboratórios. Concomitantemente às obras, se iniciou a pesquisa de cursos que poderiam integrar a grade de ofertas dos laboratórios, além dos exigidos no plano de trabalho contido no edital.

acerca do modelo de Fab Lab e experiência na fabricação digital, inclusive

Figura 46 - Sala de impressão do Fab Lab heliópolis Fonte: Arquivo Pessoal

Dentre os 12 laboratórios que compõem a rede atual, quatro iniciaram suas atividades em outubro de 2015. Embora a inauguração do projeto tenha acontecido com o Fab Lab Cidade Tiradentes, os cursos de fabricação digital se iniciaram em novembro com uma equipe reduzida composta por dois líderes, dois chefes e dois técnicos.

A equipe total, que estava discriminada nos termos do edital e se encontra completa desde dezembro de 2015, é composta de dois chefes de laboratórios, que percorrem semanalmente cada um dos seis laboratórios contidos em cada um dos lotes, quatro líderes locados nos laboratórios de grande porte -- Fab Lab Chácara do Jockey, Fab Lab Galeria Olido, Fab Lab Cidade Tiradentes e Fab Lab Heliópolis -- 26

técnicos e 12 estagiários espalhados pelos laboratórios da rede.

Figura 47 - Impressora 3D padrão para os laboratórios da Rede Fab Lab Livre SP –Heliópolis Fonte: Arquivo Pessoal.

O quadro de colaboradores responsáveis pelos laboratórios esteve completa desde dezembro de 2015, com os 44 funcionários previstos. Entretanto, devido as obras, o prazo para chegada das máquinas e os treinamentos obrigatórios apenas quatro laboratórios iniciaram as

atividades em outubro de 2015. Os oito laboratórios restantes inauguraram em março de 2016 .

Segundo PINHEIRO (2017) e VASCONCELOS (2017), entre outros desafios encontrados no processo estavam o pouco conhecimento acerca do projeto, dificultando a escolha dos locais que seriam implantados e a dificuldade de mostrar para a população que a tecnologia presente nesses espaços poderia ser utilizada por todos.

Atualmente, conforme relata PINHEIRO (2017), há uma grande procura por parte dos responsáveis pelos CEUs para implantar um Fab Lab nesses espaços.

O que, segundo ele, faz todo sentido se se considerar que os laboratórios podem funcionar como centros de aprendizagem, complementando os conteúdos apresentados em sala de aula e trazendo a vivência prática, que é o foco do modelo (figuras 46 e 47).

Aos poucos e com muito esforço para sensibilizar a população, o projeto tem visto seus números crescerem. Diversos indicadores apontam para o projeto como um grande passo para fomentar a inovação e o empreendedorismo na cidade de São Paulo.

Como exemplo disso, tem-se o ranking Connected Smart Cities, pesquisa publicada em 2016 pela Urban Systems, empresa focada em desenvolver pesquisas de mercado e urbanas aplicadas.

A cidade de São Paulo figurou como a primeira na lista das mais inteligentes do Brasil, após a análise e classificação da grande massa de dados coletados em 11 indicadores principais.

Figura 48 - Indicadores analisados na pesquisa Connected Smart Cities, divulgada em 2016 pela Urban Systems. Fonte: Urban Systems, p. 9, 2016.

De acordo com o ranking, São Paulo ficou entre 10 primeiros colocados em nove dos 11 indicadores., Alcançou a primeira colocação em mobilidade e em inovação (figuras 48 e 49).

Figura 49 - Indicadores nos quais São Paulo alcançou uma das 10 primeiras posições com a colocação. Fonte: Urban Systems, 2016, p.42.

Na pesquisa realizada em 2015, o Rio de Janeiro havia conquistado o primeiro lugar devido às políticas de incentivo ao empreendedorismo e às startups de tecnologia.

Entretanto, São Paulo alcançou o primeiro lugar em 2016 graças ao grande número de patentes, ao alto montante financiado pelo CNPQ para pesquisas, às políticas integradas de inclusão digital do governo e à inauguração dos laboratórios do Fab Lab Livre SP, oferecendo cursos e introduzindo estudantes e a sociedade em geral na cultura da fabricação digital.

Com o amadurecimento da política em questão, fica o desafio de entender e averiguar os pontos positivos e as oportunidades de melhoria que esse equipamento inovador tem apresentado.

Para isso, foi executada uma série de análises que permitem compreender melhor o funcionamento dos laboratórios tanto individualmente como em rede quanto ao cumprimento das metas, perfil de público, modelos de projetos desenvolvidos e os benefícios para o cidadão.

Para a estruturação das análises contidas nesse capítulo foram feitas entrevistas com gestores, técnicos de laboratórios e usuários em três dos 12 laboratórios (1/4 da

amostra total) para compreender a visão em diferentes níveis de relação com o equipamento.

Os laboratórios selecionados foram Centro Cultural São Paulo, devido à sua relevância no desenvolvimento de projetos e alto índice de visitação. Entre os minilaboratórios, este possui os números mais expressivos. Considerou-se, ainda, sua localização central e proximidade com universidades.

O outro laboratório analisado foi o CEU Heliópolis, por ser um grande laboratório em área de fragilidade social e de fácil acesso a moradores da área metropolitana, principalmente da região do ABC.

A avaliação e coleta de dados in loco se deu por meio de entrevista exploratória e observação não participante para compreender as relações, a dinâmica do espaço e o perfil de público nesses espaços.

Para tais fins, foram entrevistados seis técnicos, oito usuários, o responsável pelo projeto dentro da ITS, dois membros da equipe que implantou os laboratórios e o coordenador da política dentro da Prefeitura Municipal de São Paulo.

As entrevistas, com permissão para serem divulgadas nesta pesquisa, foram transcritas e podem ser lidas no anexo A dessa dissertação. As informações provenientes das entrevistas foram sistematizadas para a composição das análises qualitativas da política , e todas as identificações foram removidas e transformadas em números ou considerações durante o texto.

Somaram-se as análises qualitativas, a reposta de questionário estruturado com seis perguntas e 761 respondentes.

A análise qualitativa em questão é de responsabilidade da ITS e é utilizada como parâmetro para avaliação de questões relacionadas a oferta e infraestrutura dos laboratórios.

A pesquisa qualitativa citada anteriormente, os mapas, gráficos e indicadores analisados são frutos do processamento de dados de bases brutas da ITS, extraídas diretamente do sistema de gestão dos laboratórios, e quando possível associadas a ferramentas de geoprocessamento.

Embora a ITS e a SMIT tenham um acordo para produção mensal de relatórios e análises de indicadores, a pesquisa lançou mão desses recursos. Optou-se pela coleta

dos dados brutos diretamente do sistema gestor para melhor domínio das informações e das etapas de limpeza e classificação dos dados.

A extração da base diretamente do sistema de gestão resultou em um conjunto de tabelas, contendo 26 colunas e 16.052 linhas divididas entre dados de acesso e gerenciamento de projetos cadastrados nas diversas etapas.

Para facilitar a tratativa dessas informações para esta pesquisa, dividiu-se a base em dados de projeto, o que permitiu analisar a eficiência quanto ao desenvolvimento de produtos e incentivo ao empreendedorismo dentro desses espaços, dados de acesso para traçar o perfil dos usuários quanto a faixa etária, escolaridade, posição geográfica e proximidade dos laboratórios entre outros.

Por fim, uma terceira base com foco na análise de indicadores em relação ao cumprimento da meta foi extraída e analisada, desta vez com o compilado mês a mês por laboratório para confrontar o realizado com a meta proposta em edital.

Todas as análises contidas nos subcapítulos 4.2.1 até 4.2.5. consideram o período de 23 meses, tempo máximo de

vigência da política até o fechamento da pesquisa, ficando de fora apenas o 24° mês que constava do edital.

Devido à diferença, a lacuna existente entre o início das atividades entre os primeiros quatro laboratórios e os oito restantes, apresentadas anteriormente neste capítulo, alguns gráficos foram desenvolvidos contemplando a proporcionalidade da participação dos laboratórios na meta nos meses que antecederam o início em capacidade total da rede.

Por esse motivo, alguns gráficos têm suas analises iniciadas em março de 2016, pela necessidade de se criar um comparativo temporal e estatístico que contemplasse a rede funcionando com seus 12 laboratórios.