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Análise de redação III – Maioridade penal

ANÁLISE DO CORPUS

3.4. Análise de redação III – Maioridade penal

Escola Beta: 8ª série G do Ensino Fundamental Maioridade penal

Acredita-se que os Adolescentes discutem sobre maioridade penal e sobre os seus pontos de vista o que já se pode acreditar que um adolescente em suma já se responsabiliza por todos os seus “atos”, e responde pela sua capacidade de entender o assunto de que esta sendo tratado.

Hoje em dia é fácil afirmar que os jovens de hoje já sabem muito bem o que é certo ou errado para si mesmo ou para os outros.

Segundo o jornal Hoje em Dia, os adolescentes começam a votar desde aos 16 anos, mas acredita-se que os filhos podem sim pagar pelo seus atos e que muitas vezes são os pais que acabam tendo que pagar pelo seus filhos.

K.R

Aspectos da função interpessoal

M od al iz ão

Advérbios Adjetivos Verbos

Alta afinidade Alta afinidade Alta afinidade

• Já (3X) • Hoje em dia • Muito • Bem • Desde • Sim • Muitas vezes • Fácil • Penal • De hoje • Certo • Errado • Mesmo • Saber • Poder • Ser (2X) • Responsabilizar-se • Responder • Começam a votar • Afirmar • Pagar (2X) Baixa afinidade • Acreditar (2X) • Estar sendo tratado • Poder acreditar • Acabam tendo • Discutem • Entender P ol id

ez Polidez positiva Polidez negativa Polidez indireta

• Acredita-se que os adolescentes discutem sobre maioridade penal e

• Segundo o jornal Hoje em

Dia, os adolescentes começam a votar desde aos 16 anos (Chave

158 sobre os seus pontos de

vista. (Modo convencionalmente indireto) de associação) • ... que já se pode acreditar que um adolescente em suma já se responsabiliza por todos os seus “atos”, (Modo convencionalmente indireto)

• ... acabam tendo que pagar

pelo Ø seus filhos. (Elipse)

• ... se pode acreditar ... e responde pela sua capacidade de entender o assunto de que esta sendo

tratado. (Modo

convencionalmente indireto)

• ... capacidade de entender o

assunto de que esta sendo tratado. (Modo vago)

• ... mas acredita-se que os filhos podem sim pagar pelo seus atos (Modo convencionalmente indireto)

• ... os adolescentes começam

a votar desde aos 16 anos (Hipergeneralização) • ... é fácil afirmar que os

jovens de hoje já sabem muito bem o que é certo ou errado para si mesmo ou para os outros. (Questionamento)

• ... se pode acreditar que um

adolescente em suma já se responsabiliza por todos os seus “atos”... (Hipergeneralização) • ... são os pais que

acabam tendo que pagar pelo seus filhos.

(Pessimismo)

• ... muitas vezes são os pais

que acabam tendo que pagar pelo seus filhos.

(Pressuposição) • ... sua capacidade de

entender (Nominalização)

• Hoje em dia é fácil afirmar

que os jovens de hoje (Tautologia) E th o s • ... um adolescente em suma já se responsabiliza por todos os seus “atos”,

• ... responde pela sua

capacidade de entender o assunto de que esta sendo tratado.

• ... os jovens de hoje já

sabem muito bem o que é certo ou errado para si mesmo ou para os outros.

• ... os adolescentes

começam a votar desde aos 16 anos

• ... os filhos podem sim

pagar pelo seus atos

• ... muitas vezes são os

pais que acabam tendo que pagar pelo seus filhos.

159 3.4.1. Modalização

Nos fragmentos do texto da aluna: ‘Hoje em dia é fácil’; ‘o que já se pode acreditar’; ‘já se responsabiliza por todos os seus atos’; ‘os jovens de hoje já sabem muito bem o que é certo ou errado para si mesmo ou para os outros’; ‘e que

muitas vezes são os pais que acabam tendo que pagar pelo seus filhos’; ‘os filhos

podem sim pagar pelo seus atos’;‘desde aos 16 anos’; as modalizações a partir de advérbios temporais e intensificadores indicam um enunciado assertivo em suas proposições, o que não causa dúvida quanto à crença da maioridade dos jovens e suas responsabilidades.

Quando a aluna utiliza os marcadores para expressar sua opinião, por meio dos argumentos apresentados, a alta afinidade é demonstrada com a utilização de advérbios de intensidade ‘muito’ e ‘sim’ e pela locução adverbial quantificativa ‘muitas vezes’. Acreditamos que esses advérbios e locução nos acenam para a opinião da autora e, provavelmente, por ser jovem, ela se coloca na posição semelhante à dos adolescentes, ou seja, sua opinião é sua vivência. Percebemos que isso lhe garante segurança para poder julgar com mérito e determinação sobre o assunto, tornando suas modalizações deônticas.

As modalizações com advérbios temporais são utilizadas para reforçar o argumento da aluna em relação à contemporaneidade do fato: ‘Hoje em dia’ e ‘já’. Esses adjuntos adverbiais nos passam uma ideia de marco de tempo nos enunciados, como se a aluna descobrisse que o conceito da sociedade sobre a maioridade penal é algo recente. Por outro lado, as marcas adverbiais surgem como um reforço da proposição. Quando introduz a preposição ‘desde’, esta passa a ter um valor adverbial por localizar o leitor sobre um fato. Entretanto, o intuito da autora não é apenas de informar, mas também de buscar empatia em sua opinião, visto que ela é categórica ao

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afirmar que: ‘os adolescentes começam a votar desde aos 16 anos’, o que não é uma verdade, visto que a obrigatoriedade só vigora a partir dos 18 anos.

O advérbio ‘sim’ é muito expressivo no texto. Aproxima-se até de uma marca de oralidade: ‘mas acredita-se que os filhos podem sim pagar pelo seus atos’. A assertiva enfatizada demonstra a intenção de persuasão sobre o fato e deixa transparecer uma adolescente de personalidade forte, que insiste em suas convicções.

Curioso também é o uso do par ‘muito bem’, marcas de intensidade que a autora coloca no seu texto para mostrar indignação ‘... é fácil afirmar que os jovens de hoje já sabem muito bem o que é certo ou errado’. Ou seja, o que ela quer transparecer é justamente o contrário: ‘as pessoas pensam assim, mas não é verdade, pois os adolescentes não sabem o que é certo ou errado’.

É importante esclarecer que a aluna é sempre vaga e incompleta em suas argumentações. Em todos os seus posicionamentos, ela procura deixar subliminar sua opinião, não se mostrando claramente partidária de qualquer posicionamento da sociedade sobre a maioridade penal. Isso pode ser percebido além dos advérbios. Os adjetivos deixam sua opinião à mercê do leitor, que provavelmente não conseguirá perceber evidências explícitas de uma argumentação consistente no texto.

Quando insere os adjetivos, a autora o faz no caso de ‘maioridade penal’ mais como uma informação que como uma argumentação. Já as marcas adjetivais ‘de

hoje’ e ‘mesmo’, assumem um valor redundante no texto, visto que estão se reportando,

respectivamente, à locução adverbial ‘Hoje em dia’ e ao pronome ‘si’.

É interessante ressaltar a maneira como a aluna mescla em seu texto os graus de afinidade, como o adjetivo predicativo ‘fácil’ para confirmar sua opinião sobre a facilidade de se provar a responsabilidade do jovem pelos conhecimentos que eles têm sobre o que é certo ou errado. Essa assertiva contribui para a alta afinidade e o

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comprometimento com suas proposições. Entretanto, esse adjetivo apresenta uma dualidade, pois pode representar uma opinião contrária da autora sobre a opinião das outras pessoas. Ou seja, os adultos pensam que ‘os jovens de hoje já sabem muito bem o que é certo ou errado para si mesmo ou para os outros’, mas a adolescente deixa implícito que os jovens não sabem, como se dissesse ‘é fácil para eles afirmarem porque eles não são jovens’. Quando a aluna discute o posicionamento dos jovens utiliza a alta afinidade e as bases dessas modalizações são construídas pela base subjetiva implícita.

Retomando as concepções sobre modalização de Bronckart (1999), encontramos no texto da estudante modalidades apreciativas nos enunciados constituídos por modalizações deônticas que estão apoiadas nos valores, nas opiniões e nas regras estabelecidas pela sociedade tanto dos jovens como dos adultos.

Há alguns verbos que contribuem para a alta afinidade no texto: ‘e

responde pela sua capacidade de entender’; ‘os jovens de hoje já sabem muito bem’; ‘um adolescente em suma já se responsabiliza por todos os seus “atos”’; ‘os

adolescentes começam a votar desde aos 16 anos’; ‘os filhos podem sim pagar pelo seus atos’; ‘é fácil’; ‘o que é certo ou errado’; ‘muitas vezes são os pais’. A utilização desses verbos, no tempo presente, deixa as afirmações mais próximas à realidade e permitem que as assertivas não sejam facilmente contestadas. Numa outra perspectiva, a nosso ver, a modalização nesse caso é objetiva com base subjetiva implícita, porque suas afirmações estão ocultas pelas comprovações do jornal e por conceitos difundidos na sociedade e não explícitas em opiniões da autora.

Porém, quando se trata da questão jurídica e social sobre a maioridade, há predominância também de baixa afinidade pelo grau de outras modalizações apresentadas, causando indícios que demonstram incertezas sobre os assuntos apresentados. Os recursos utilizados pela aluna para demonstrar essa baixa afinidade

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estão presentes nos verbos dos excertos: ‘Acredita-se que os Adolescentes discutem sobre maioridade penal’; ‘mas acredita-se que os filhos podem sim pagar pelo seus atos’; ‘o que já se pode acreditar’; ‘ os pais acabam tendo que pagar’; ‘adolescentes

discutem’; ‘o assunto de que está sendo tratado’. Com a utilização desses verbos, a

autora não tem certeza se os jovens estão cientes sobre os aspectos da maioridade penal e sobre suas responsabilidades. As modalidades que são construídas por esses verbos caracterizam-se por modalização objetiva com base subjetiva implícita, porque a voz da autora pode ser confundida com a voz universal ou de algumas pessoas, por isso não fica claro, nesse caso, se são suas opiniões.

O vocábulo ‘entender’ perde a sua característica verbal ao se tornar complemento do substantivo ‘capacidade’ que passou por uma nominalização. Isso reforça a nossa percepção de baixa afinidade, devido ao processo de conversão.

Numa outra vertente, o verbo ‘afirmar’, também no infinitivo, deixa vago o sujeito, mas introduz uma assertiva bastante categórica: ‘é fácil afirmar que os jovens de hoje já sabem’, constatando uma alta afinidade quanto à modalização do texto.

Ainda quando ela introduz a expressão ‘começa a votar’ está passando uma informação incorreta, mas é veemente em seu discurso, desejando que o leitor seja cúmplice da sua assertiva. Por isso, acreditamos que a locução seja também de alta afinidade.

Essas modalizações são conceituadas por Bronckart (1999) como pragmáticas, pois “contribuem para a explicitação de alguns aspectos da responsabilidade de uma entidade constitutiva do conteúdo temático (personagem, grupo, instituição, etc.) em relações às ações de que é o agente, e atribuem a esse agente intenções, razões (causas, restrições, etc.), ou ainda, “capacidade de ação”

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(BRONCKART, 1999, p. 332). Ainda, em sua concepção, essas modalizações, preferencialmente, surgem com auxiliares de modo, em sua forma estrita ou ampliada.

A hesitação para algumas proposições e asserção para outras permite-nos acreditar que o trabalho ideológico pode ter ocorrido por diferentes fatores sociais e contribuído, em alguns aspectos, para a representação da sua opinião sobre os debates que existem sobre maioridade e manifestação indeterminada em outros momentos.

Podemos inferir que, ao utilizar as locuções verbais e verbos auxiliares, a produtora possivelmente não quer indicar o seu grau de comprometimento com as hipóteses apresentadas, distanciando-se de suas conjeturas. A apreciação feita, por exemplo, pelo constituinte ‘Acredita-se’ inclui um marcador implícito de uma modalidade subjetiva que exprime certa hesitação.

A aluna ainda reforça seu argumento sobre a responsabilidade dos jovens, incorporando no seu discurso a voz do mundo, ao apresentar de forma lexicalizada o verbo ‘pagar’ em dois momentos do texto. Isso nos faz confirmar o que Fairclough (2001) expõe a respeito do trabalho ideológico que posiciona e molda os sujeitos sociais e controla a reprodução social. O autor afirma ainda que a baixa afinidade pode demonstrar falta de poder e não falta de convicção ou conhecimento sobre o assunto e essas afinidades dependem das relações de poder estabelecidas pelo contexto social. Queremos ressaltar que a modalização aqui pode ser um ponto de entrecruzamento no discurso e na significação da realidade representada nas relações sociais.

3.4.2. Polidez

Em nossas pesquisas sobre a interação, refletimos sobre as condições materiais de produção e o valor dos enunciados mostrados pelo produtor, em que a

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comunicação verbal é um reflexo de relação social ou o meio para preservação das faces que submete a comunicação a regras.

Conforme indicamos, as pressões sociais são as que mais influenciam na estrutura do discurso, impondo aos interagentes — o autor, nesse caso — a adoção de sutilezas para conferir a aceitabilidade de suas argumentações.

Como exposto anteriormente, a polidez negativa ocorre, segundo a teoria de Brown e Levinson (1987, apud MARCOTULIO e SOUZA, 2007), quando são empregadas expressões que evitam imposições ao interlocutor, como o uso de evasivas. Isso pôde ser percebido em alguns momentos do texto da adolescente. Quando, por exemplo, ela adota a polidez negativa por meio do modo convencionalmente indireto, em que omite o sujeito e tenta se excluir da argumentação, como se fosse apenas uma observadora.

Podemos perceber nos textos em que a opinião do autor é expressa, que o emprego de certos procedimentos torna-se uma estratégia relevante, pois o enunciador sabe que uma manifestação direta de algum julgamento pode torná-lo vulnerável a opiniões contrárias. Por isso, é importante na composição o apagamento de certas marcas que o comprometem, o que é obtido com o uso de certos recursos de impessoalização como a indeterminação do sujeito, como pode ser observado nas passagens a seguir: ‘Acredita-se que os adolescentes discutem sobre maioridade penal e sobre os seus pontos de vista’; ‘... já se pode acreditar que um adolescente em suma já se responsabiliza por todos os seus “atos”’; ‘... se pode acreditar ... [que o adolescente] responde pela sua capacidade de entender o assunto de que esta sendo tratado; ‘... mas

acredita-se que os filhos podem sim pagar pelo seus atos’, em que a utilização do

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Ainda identificamos certos indícios que nos levam a inferir um meio de mitigar as imposições da autora e garantir a aceitação das suas asserções. Táticas atenuadoras, dentre as quais a nominalização, estão presentes no texto: ‘... sua capacidade de entender’ em vez de ‘capaz de entender’. Nesse âmbito, usando a nominalização, o utente exibe o enunciado ao interlocutor, não se enunciando ou anunciando um sujeito em ação. Dessa forma, acreditamos que a utilização dessas estratégias pode fornecer elementos que possibilitem delinear a imagem que a autora deseja construir, tanto de si quanto do tema desenvolvido no texto.

De certa maneira, um sutil pessimismo — mais um vestígio da polidez negativa — é percebido no excerto: ‘... são os pais que acabam tendo que pagar pelo seus filhos’, em que notamos certo tom desfavorável na declaração, mas também um matiz neutro no enunciado.

Encontramos ainda um questionamento subliminar na frase ‘... é fácil afirmar que os jovens de hoje já sabem muito bem o que é certo ou errado para si mesmo ou para os outros’, pois a autora deixa a questão para o leitor: “mas será que eles sabem?”

Outro aspecto que desperta nosso interesse é a possibilidade de analisar a polidez por meio de uma polidez indireta. Aqui, na indiretividade ou polidez indireta, a autora realiza um ato comunicativo de forma que não seja possível atribuir uma clara intenção para o ato. O autor age, nesse tipo de polidez, de forma indireta e distante, deixando o leitor à vontade na depreensão do argumento.

Constata-se um marco temporal vago e ambíguo quando encontramos o excerto ‘... capacidade de entender o assunto de que esta sendo tratado’. Não se pode afirmar que se trata certamente de uma discussão sobre o tópico da redação, em que a autora se inclui indiretamente, ou se ela quer abordar o fato de que os adolescentes não

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têm capacidade de entender a totalidade de ‘qualquer’ assunto que esteja em pauta numa discussão. A construção da locução por meio do gerúndio e particípio deixa uma interrogação se o fato se refere ao momento ou a um processo atemporal.

Do mesmo modo, o reforço por meio da tautologia é identificado em ‘Hoje em dia é fácil afirmar que os jovens de hoje’, em que a expressão adverbial ‘hoje em dia’ é equivalente à locução adjetiva ‘de hoje’. Apesar de uma qualificar o tempo e a outra designar os jovens, automaticamente essa colocação deixa o leitor interpretar ambas num período de tempo recente, o que enfatiza a argumentação.

Em se tratando de polidez indireta, a hipergeneralização está presente em ‘... os adolescentes começam a votar desde aos 16 anos’ e em ‘... se pode acreditar que um adolescente em suma já se responsabiliza por todos os seus “atos”...’. No primeiro caso, a agente informa que os adolescentes ‘começam a votar’ a partir dos 16 anos e não que têm esse direito e podem também não votar. No trecho seguinte, ela expõe que as pessoas acreditam que os jovens, a partir do momento que podem discutir sobre determinados assuntos, podem ser responsáveis pelos seus atos. Sabemos que isso não é um evento generalizado, pois há aqueles que não concordam com essa afirmação e muito menos acreditam no bom discernimento dos jovens.

Em dado momento da redação, encontramos uma chave de associação, em que a jovem dá uma pista para se confirmar a veracidade da sua proposição: ‘Segundo o jornal Hoje em Dia, os adolescentes começam a votar desde aos 16 anos’. Nesse segmento, ela procura uma corroboração para o fato exposto e deixa que o leitor infira que sua exposição não é infundada.

Outro modo de trabalhar a indiretividade no texto é por meio de elipses. Isso pode ser visto em: ‘... acabam tendo que pagar pelo Ø seus filhos’, pois, ao omitir o termo principal, a carga semântica passa para o complemento, levando a uma atribuição

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de valor emotivo ao vocábulo ‘filhos’. Essa é uma estratégia mental para o convencimento, ou seja, ao indeterminar o núcleo, a autora atrai a atenção do leitor para o fato de que não se está falando apenas sobre os ‘atos’ dos adolescentes, mas dos atos dos filhos das pessoas.

Nesse mesmo excerto, notamos uma pressuposição quando a aluna declara que ‘... muitas vezes são os pais que acabam tendo que pagar pelo seus filhos’. Não há nenhuma pista de como ela obtém essa informação, bem como se ela está se referindo às questões legais ou familiares. De qualquer modo, ela deduz que a consequência das ações dos adolescentes pode atingir os pais e coloca seu ponto de vista de forma veemente.

3.4.3. Ethos

Entendemos que as circunstâncias socioculturais contemporâneas são geralmente determinadas por uma hegemonia que impõe um sistema ideológico de interpretação de mundo, dificultando a expressão individual sobre os fatos que moldam a sociedade. Nessa esfera, a delineação de certos valores do indivíduo pode indicar o grau de poder presente nas relações sociais. Portanto, a concepção de um conceito sobre determinado assunto decorre não só do meio familiar, mas também da voz de outrem, de uma interferência midiática ou de uma ideologia social.

Assim sendo, detectamos outras vozes que não a da autora em algumas passagens do texto. Devido a seu discurso proferido de maneira implícita ou explícita, nos referimos à autora como um sujeito coletivo, visto que ela expressa seus pontos de vista ideológicos particulares como universais, definindo certos referenciais por reprodução social.

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Apesar de minimizar suas assertivas com modalizadores de indeterminação, a voz do mundo é claramente verificada nos remas expostos no texto. Ou seja, quando ela institui que ‘... um adolescente em suma já se responsabiliza por todos os seus “atos”’; ‘... responde pela sua capacidade de entender o assunto de que esta sendo tratado’; ‘... os jovens de hoje já sabem muito bem o que é certo ou errado para si mesmo ou para os outros’; ‘... os adolescentes começam a votar desde aos 16 anos’; ‘... os filhos podem sim pagar pelo seus atos’; ‘... muitas vezes são os pais que acabam tendo que pagar pelo seus filhos’, estabelece conceitos que podem ser considerados não em âmbito particular, por sua vivência ou testemunho, mas a partir de uma impressão popular que pode ter sido disseminada por domínios de poder como a mídia.

Notamos que sua argumentação é vaga e sua exposição é baseada em frases categóricas sem base empírica ou teórica. Notadamente, pela pouca idade e conhecimento de mundo, não é possível que a jovem tenha uma opinião formada e bem embasada para fundamentar suas colocações. Aspectos como a inconveniência social, os tratados que versam sobre a proteção da criança e do adolescente, o caráter educativo no seio familiar e na esfera política e tantos outros pormenores não são expostos em seu