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Produto I Sistema de informações

20 Extensão para energia 1 unidade, extensão com ao menos metros Fonte: elaborado pelo autor dados da pesquisa (19).

5.3. Análise e discussão dos resultados gravimétricos e sistematização dos dados

A caracterização gravimétrica dos RSU é uma das principais ferramentas que auxiliam na gestão de resíduos em municípios, dada a sua importância na ciência das diversas composições dos resíduos que são gerados e dessa forma, a partir de análises e proposições, poderem auxiliar no desenvolvimento e na melhora da gestão e do gerenciamento dos RSU.

O estudo realizado em Igarapé, em 2019, permitiu diagnosticar o perfil de geração de RSU da população e no conhecimento das principais características e composições dos diversos resíduos produzidos nas 5 rotas propostas, assim como a porcentagem dos materiais existentes em sua constituição, o que contribuiu para o conhecimento das condições e proposição de gestão mais apropriada a cada categoria de resíduos, propiciando a viabilidade de maiores aproveitamentos. Esses fatores são fundamentais na determinação da alternativa tecnológica mais adequada em todas as etapas de manejo de RSU.

Nessa seção, buscou-se ainda comparar trabalhos anteriores na área de abrangência, em diferentes momentos, bem como correlacioná-los com as informações exibidas na revisão da literatura, visando à sistematização e à precisão de dados, com o intuito de comprovar a importância de ações voltadas para a melhoria nos sistemas de gestão de RSU em Igarapé, sobretudo melhorias na gestão dos resíduos constituídos por matéria orgânica.

Os resultados permitiram concluir que, seguindo o cenário nacional, as frações predominantes de RSU em Igarapé foram às constituídas por resíduos orgânicos compostáveis, representando em massa 53,5% da fração total. Os recicláveis secos, tais como, metais, plásticos, vidros, embalagens cartonadas, papel, papelão, dentre outros, representaram, ao final, 28,6% dos RSU e os rejeitos (não recicláveis) representaram 17,9% da fração total.

O comparativo entre as médias das frações das cinco rotas amostrais, por meio dos dados apresentados, indicou que, apesar de percentuais diferentes entre as rotas nos três grandes grupos (orgânicos, recicláveis e rejeitos), não houve evidências de diferenças que fizessem, por exemplo, os recicláveis secos ou os rejeitos proporcionarem maiores percentuais que a fração dos orgânicos.

Em síntese, a Rota (1) apresentou, ao final, 49,76% de RSO, 36,81% de recicláveis secos e 13,43% de rejeitos; a Rota (2) 48,20%, 34,50% e 17,30%; a Rota (3) 58,22%, 21,98% e 19,79%; a Rota (4) 52,41%, 26,01% e 21,58%; e a Rota (5) 59,66%, 24,97% e 15,37%

respectivamente. Portanto, em todas as rotas amostrais os RSO apresentaram ascendência, o que possibilitou a exposição de valores de convergência para todo o município.

Embora o estudo de 2019 tenha apresentado menores percentuais de RSO, quando comparados aos estudos de 2011 e 2013, a compilação dos dados revelou que os RSO estiveram acima dos 50% nos resultados finais, seguindo panorama nacional.

Conforme exposto na pesquisa, as características dos RSU variam segundo diversas condições, (socioeconômicas, hábitos da população, número de habitantes, situações culturais, geográficas e climáticas etc.). Além disso, observa-se que não só no Brasil e na América Latina, mas em todo o mundo, regiões de maior poder aquisitivo e maior grau instrucional possuem uma maior tendência de gerar mais recicláveis secos do que orgânicos, ao passo que em regiões mais vulneráveis e com extratos sociais mais baixos essa ordem inverte-se.

Ao analisar as rotas dos estudos de 2013 e 2019, que em grande parte absorveram as mesmas regionais, podem ser feitas algumas observações. A primeira, é que em todas as rotas amostrais, tanto no estudo realizado em 2019, quanto no de 2013, os RSO tiveram predomínio, variando de 48,20% a 64,8% da composição dos RSU, o que indica o alto potencial para a compostagem e a necessidade de desenvolver estratégias para a gestão desses resíduos. Ainda mais se somados aos grandes quantitativos de RS de podas, supressão de vegetação e demais RS verdes gerados dos serviços de limpeza urbana.

O estudo realizado em 2011 também apontou predominância dos RSO; todavia, devido à forma com que a caracterização fora realizada, não fora possível determinar ao certo o quão significativos foi, ao final, os percentuais dos RSO.

Apesar do predomínio de orgânicos em todas as rotas, as Rotas (1) e (2) do estudo realizado em 2019 apresentaram maiores percentuais de recicláveis: Rota 1 (RSO: 49,76%; REC: 36,81%) e Rota 2 (RSO: 48,20%; REC 34,50%). Ao analisar os dados isoladamente, pode-se aludir que os maiores percentuais de recicláveis evidenciados, em relação às demais rotas, se justificariam pelo fato de a Rota 2 ter percorrido a área central e comercial do município, além de ter sido a rota que percorreu por regiões com residências com perfil socioeconômico mais elevado, o que poderia influenciar a dinâmica de geração de RS. Além disso, a Rota (1) percorreu áreas ainda próximas à região central, onde também há muitos comércios, como também regiões de condomínios de perfil socioeconômico mais elevado. Nesse sentido, verifica-se na Rota (1) 12,77% de papel/papelão e na Rota (2), 4,20%. Os

somatórios dos resíduos plásticos nessas rotas representaram, respectivamente, 13,52% e 19,76%. A Rota (2), também abrangeu áreas com características rurais tais como Batatal, o que também influencia a dinâmica de geração e disposição de resíduos para a coleta, sobretudo dos RSO verdes e de alimentos, que muitas vezes são utilizados em propriedades rurais para alimentação de animais e outros fins.

Embora sejam aparentemente razoáveis tais considerações, as avaliações acima não podem ser pautadas apenas considerando tais prismas, daí a importância da sistematização de dados e a comparação com estudos anteriores na área de abrangência, uma vez que esses estudos, quando realizados de forma sistematizada, permitem um diagnóstico mais real do perfil de geração de resíduos. Nesse sentido, foi possível verificar que em 2013 as Rotas (1) e (2) apresentaram respectivamente 53,6% e 61,9% de RSO e 26,80% e 29,80% de recicláveis. Em 2013, a Rota (4) superou a Rota (1) em termos percentuais de recicláveis, em contraposição ao estudo de 2019, que apontou as Rotas (1)e (2) com maiores percentuais de recicláveis, mostrando, dessa forma, os dados devem ser analisados com cautela e serem avaliados a luz das diversas informações exibidas na revisão da literatura.

Em 2019 as Rotas (3) e (5) foram as que exibiram os maiores percentuais de RSO (58,22% e 59,66%, respectivamente), o que também ocorreu no estudo realizado em 2013, apesar de terem sido obtidos percentuais distintos (64,1% e 64,8%, respectivamente). Um fato que poderia justificar esses números seriam as características populacionais, atreladas a fatores socioeconômicos das áreas de abrangência, uma vez que a Rota (5) percorreu diversos bairros periféricos e com extratos socioeconômicos mais diversificados, tais como: Resplendor, Jardim das Roseiras, Ouro Preto, Cidade Nova, Novo Horizonte, dentre outros. Um fator que também pode ter contribuído é que os Bairros Resplendor e Ouro Preto possuem conjuntos habitacionais do Programa Minha Casa Minha Vida, com significativo número de moradores com perfis socioeconômicos mais baixos.

No entanto, os fatores acima sozinhos não podem ser considerados unicamente como os responsáveis pelos altos percentuais de RSO. Um fato que pode colaborar com a análise fora os percentuais da área de abrangência da Rota (3), que embora exibam bairros com padrão socioeconômico médio a alto, mostraram-se com elevados percentuais de orgânicos nas gravimetrias de ambos os anos (64,1% e 58,22%), o que confirma, mais uma vez, que há diferentes fatores que influenciam essa dinâmica, como situações culturais, populacionais, geográficas, hábitos, costumes, sazonalidade, etc.

No estudo realizado em 2019, a Rota (4) apresentou 52,41% de RSO e os maiores percentuais de rejeitos (21,58%). Os maiores percentuais de rejeitos na Rota (4) também se repetiram no estudo de 2013 com 23,50%. A maior parte dos rejeitos evidenciados no estudo foi proveniente de resíduos caracterizados como biológicos oriundos de banheiro, em especial fraldas descartáveis. Em âmbito geral, os RS biológicos (rejeitos) estiveram bastantes presentes na composição dos RSU, chegando até ultrapassar 11% da composição total da Rota (2) do estudo realizado em 2019 e de 19,80% da Rota 4 no estudo de 2013.

Em ordem de grandeza, considerando as 3 maiores frações (orgânicos, recicláveis e rejeitos), os resultados gerais das gravimetrias de Igarapé mostraram-se parecidos com os expostos na revisão da literatura. Conforme exposto o MMA (2019), apresentou estimativas dos planos estaduais de RS de Pernambuco (2010), Rio Grande do Norte (2012) e Santa Catarina (2014), estimando que 50% dos RSU são RSO, 28% recicláveis e cerca de 22% rejeitos. Dados do PLANARES (2012) apontaram 51,4% de RSO, 31,9% de recicláveis e 16,7% de rejeitos. Dados de Minas Gerais, por meio do Plano de Resíduos da RMBH e Colar Metropolitano (2013) exibiram que 53% dos RSU seriam RSO, 30% recicláveis e os outros 17% seriam considerados como rejeito. Na TAB. 31, tem-se a síntese dos resultados apresentados nas gravimetrias em face de sua gestão de RSU.

Tabela 31: Resumo dos dados evidenciados no estudo

Dados Igarapé (2015) Bicas (2015) Igarapé (2018)

Estimativa de população (IBGE) 39.045 hab 29.162 hab 42.246hab Estimativa de geração de RSU coletados 620,3 t/mês 570 t/mês 645,65 t/mês Estimativa de geração de resíduos diária 20,67 t/dia 19,0 t/dia 22,32 t/dia Geração per capita (kg/h/dia) 0,53 kg/hab/dia 0,65 kg/hab/dia 0,53 kg/hab/dia Percentual de atendimento de coleta domiciliar 98% 81% 100% Resíduos orgânicos compostáveis 58,4% 59,4% 53,51% Resíduos recicláveis secos 25,4% 23,2% 28,6% Rejeitos (não recicláveis) 16,2% 17,4% 17,89% Total de RSU disposto em aterro sanitário 7.083,63 t/ano 4.197,77 t/ano 7.747,81 t/ano Estimativa média destinada mensalmente 590,3 t/mês 349,81 t/mês 645,65 t/mês Estimativa média destinada diária - ano 19,68 t/dia 11,66 t/dia 21,52 t/dia Estimativa de RSO geral (%) gravimétrico - mês 359,6 t/mês 338,8 t/mês 345,42 t/mês Estimativa de RSO geral (%) gravimétrico - dia 11,99 t/dia 11,29 t/dia 11,51 t/dia Resíduos orgânicos triados nas unidades Não há

compostagem

225 t/mês 7,5 t/dia

Não há compostagem Estimativa de RSO destinados para aterro sanitário 359,6 t/mês 113,8 t/mês 374,48 t/mês Total de recicláveis geral 160 t/mês 131,1 t/mês 208,75 t/mês Total de recicláveis triados (média mês) 30 t/mês 106 t/mês 24,09 t/mês Total de recicláveis destinados para aterro 130 t/mês 25 t/mês 184,66 t/mês Rejeito (o que deveria ser direcionado) 100 t/mês 106 t/mês 115,57 t/mês Fonte: Tassinari (2016) adaptada para 2019.

O estudo teve ainda como objetivo apresentar o peso específico dos RSU entre as rotas amostrais. Conforme exposto, o peso específico é o peso dos resíduos em função do volume por eles ocupados. Esse parâmetro quantitativo reflete a densidade dos resíduos, sendo de fundamental importância para o dimensionamento de equipamentos e instalações. Pode-se, por meio do conhecimento desse parâmetro, prever a quantidade de resíduos dispostos em aterro, o que possibilita melhorias nos métodos de tratamento e no destino final dos mesmos.

Os resultados obtidos mostraram-se parecidos ao de valores médios encontrados na literatura nacional (120 a 250 kg/m³) para resíduos domiciliares, certificando que, à medida que a produção dos resíduos vai se sofisticando, sua densidade solta média diminui, dado o aumento na quantidade de embalagens e volumosos e a diminuição de orgânicos, o que assemelha ao padrão de países mais desenvolvidos. Isto posto, a Rota (1) apresentou o menor peso específico (203,5 kg/m³) e a Rota (2), maior (228,5 kg/m³). A Rota (3) 218,5 kg/m³, a Rota (4) 222 kg/m³ e a Rota (5) 215,5 kg/m³. A média entre as 5 rotas foi 217,60 kg/m³.

Outra projeção apresentada no estudo fora a estimativa de geração per capita de resíduos, que é uma informação fundamental para subsidiar o planejamento de todo o sistema de gestão e de gerenciamento de resíduos, possibilitando projetar as quantidades de resíduos a coletar e a dispor e, até mesmo, as dimensões de veículos coletores. Os resultados evidenciam são gerados cerca de 0,52 kg/hab./dia, considerando o horizonte de estudo (2015-2018). Embora esses valores, sejam limitados, conforme apresentado, está próximo dos valores

descritos por Monteiro et al. (2001), que relataram geração per capita de 0,50 e 0,80 kg/hab./dia para municípios com característica de médio porte, com população entre

30.000 e 500.000 habitantes, como é o caso de Igarapé.

Embora a gravimetria tenha apresentado valores distintos entre as rotas e estudos anteriores, observa-se um panorama com predomínio para os RSO, seguidos dos recicláveis e dos rejeitos. Os resultados certificam a importância da sistematização de dados e a replicação de novos estudos para a instituição de uma série histórica para embasar estratégias e ações em programas de gestão dos RS do município, com base em um banco de dados.

Em última análise, os resultados gravimétricos expostos certificam que ações efetivas devem ser direcionadas pelo Poder Público para melhorias na gestão dos RSU como um todo no município, mas, sobretudo, dando enfoque na gestão da fração orgânica. A compostagem sendo vista a luz da descentralização, adotando o Método UFSC e da vermicompostagem possuem potencial de modificar os panoramas evidenciados em Igarapé.