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SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO E JUSTIFICATIVAS

3. REVISÃO DA LITERATURA

3.8. Alternativas para gestão dos Resíduos Orgânicos

3.8.2. Descentralização e valorização dos RSO através da compostagem

3.8.2.1. Compostagem residencial ou individual

A compostagem residencial é a forma de organização do processo de compostagem desenvolvido em residências, ou em pequenos espaços (BRASIL, 2019b). Há possibilidade da realização tanto por meio da compostagem termofílica em menor escala, da vermicompostagem e dentre outras possibilidades. ―O composto produzido geralmente é utilizado localmente, em hortas e jardins residenciais‖ (SIQUEIRA; ASSAD, 2015, p. 252).

De acordo com o Manual de Compostagem do MMA comumente esse método é empregado em residências que produzem um volume mínimo de 20 litros de RS por semana e que dispõem de uma área mínima de 4 m² (BRASIL, 2017). Para coleta e armazenamento, recomenda-se ter um recipiente com tampa de, geralmente no máximo, 3 litros na cozinha e outro recipiente de 20-25 litros, também com tampa, fora da casa ou em local de menor circulação (BRASIL, 2017).

A FIG. 12 demonstra tais atividades sendo realizadas pelo Método UFSC em escala domiciliar conforme orientações do Manual do MMA:

Figura 12: Compostagem em escala domiciliar. Em (a) o recipiente da cozinha recebe diariamente orgânicos;

(b) os orgânicos do recipiente menor são encaminhados para recipiente maior; (c) construção de leira termofílica, detalhes para arquitetura da leira; (d) e (e) abastecendo a leira; (f), (g), (h) e (i) cobertura da leira com sobras de limpezas de jardins, podas secas etc; (j) a leira em maturação e (k) composto pronto.

Fonte: elaborada pelo autor, acervo pessoal (2018; 2019).

Orientações do Manual do MMA refere que quando o recipiente menor completar seu volume, os RSO devem ser depositados no recipiente maior, até que esse esteja finalizado, e

então os RSO devem ser encaminhados para a compostagem. Em locais com produção de, no mínimo, 20 litros de resíduos por semana, a alimentação das leiras deve ser realizada somente uma vez por semana (BRASIL, 2017).

Apesar do enorme potencial da compostagem descentralizada em escala residencial notam-se barreiras a serem superadas com vista a impulsionar tais práticas: falta de incentivo do governo, falta de conhecimento, preconceito, cultura da não segregação dos RS, e dentre outros despontam como empecilhos.

Zago e Barros (2017, p. 178) corroboram com as menções acima citando que:

No Brasil, as ações do governo para estimular a adoção de compostagem doméstica ainda são fracas. Além disso, os modelos de composteiras ou de compostagem em pequena escala disponíveis no mercado são poucos e caros para a maioria das pessoas. Nesse sentido, as instituições públicas de ensino e/ou de pesquisa que já possuem um conhecimento acumulado face a experiências consolidadas podem e devem contribuir, especialmente pelo seu papel educacional, formador de opinião e difusor de tecnologias.

A compostagem em menor escala descentralizada, proporciona economia significativa nos custos de energia e de transporte de resíduos, bem como uma redução substancial das emissões, uma vez que os RS são reciclados adequadamente no local de sua geração (MARQUES; HOGLAND, 2002; ORDIF, 2016 apud ZAGO; BARROS, 2017).

Sobre as possibilidades de desenvolvimento da compostagem em caráter residencial e de formas de utilização do composto produzido, Vich et al. (2017, p. 50) mencionam que:

Aproximadamente 90% dos municípios brasileiros têm uma população de até 50.000 habitantes (IBGE, 2010), o que corresponde a 33% da população brasileira. Esses municípios, em grande parte, apresentam padrão de ocupação horizontal e habitações com disponibilidade de espaço intradomicílio, o que permite o uso de composteiras domésticas e o uso do composto produzido no próprio local, em jardins ou hortas. Há também regiões brasileiras de clima semiárido com solos pobres em matéria orgânica, onde o composto pode ser usado para a melhoria do solo. Além disso, existem áreas urbanas densamente habitadas, nas quais a prática de compostagem doméstica e o uso do composto em locais próximos, como praças e parques, podem, além de contribuir para o crescimento de plantas, reduzir o custo de transporte dos resíduos para aterros sanitários. Portanto, no Brasil, a adoção de programas de compostagem doméstica é uma alternativa atrativa.

Em ambientes com restrições de espaço, ou com pouca geração de resíduos, ou mesmo por interesse na prática, há outras opções, como a vermicompostagem (utilizando minhocas para o tratamento e a reciclagem dos orgânicos). Esse método é realizado em estruturas

apropriadas para atuação das minhocas na decomposição dos orgânicos, chamadas minhocários. Detalhes na (FIG. 13).

De acordo com Brasil (2019b) nesse método há total praticidade demandando de pouco espaço podendo ser realizado por pessoas nas mais diversas faixas etárias. Há possibilidades de fazer minhocários caseiros, com baldes e tampas, ou ainda comprá-los prontos em sites especializados, em diversos tamanhos. Apesar do fácil manuseio, o minhocário requer alguns cuidados, por se tratar de um ambiente controlado com presença de seres vivos (BRASIL, 2019b). ―O desequilíbrio nas condições de umidade ou temperatura (excesso de calor ou de frio), por exemplo, pode matar as minhocas ou mesmo levá-las a fugir‖ (BRASIL, 2019b, p. 13). Na vermicompostagem um aspecto a ser considerado são as restrições de alimentos. Resíduos contendo restos de carne, alimentos cítricos, alimentos cozidos ou com muito sal podem ser prejudiciais às minhocas se colocados em grandes quantidades (BRASIL, 2019b).

Figura 13: Vermicompostagem. Em (a), (b) e (c) alguns dos diferentes modelos de composteiras; (a) caixas

adaptadas de 45 litros cada; (b) composteira plástica convencional, detalhe para cobertura dos alimentos com serragem; (c) composteira Humi, detalhe para pés elevados com rodinhas; (d) inserindo substratos; (e) detalhe substratos com minhocas californianas; (f) e (g) inserindo sobras de alimentos na composteira; (h) biofertilizante gerado da degradação dos alimentos/digestão das minhocas; (i) composto sólido pronto para utilização

Fonte: elaborada pelo autor, acervo pessoal (2019); Secretaria Municipal de Meio Ambiente de Igarapé (2018).

Acerca do balanço de massa e inventário do ciclo de vida da compostagem doméstica, Andersen et al. (2011) mencionam que o processo de compostagem está ocorrendo em vários formatos e com esquemas operacionais diversificados, o que é um dos motivos da escassez de

estudos científicos nessa área. Para esse autor a compostagem doméstica não deve ser vista como uma alternativa de tratamento para todos os resíduos orgânicos de uma região, mas sim como uma solução suplementar. (ANDERSEN et al., 2011). Zago e Barros (2017) mencionam que embora os estímulos da compostagem doméstica e comunitária descentralizadas tenham um custo bem menor para o município, reduzindo a coleta e o transporte dos resíduos, deve-se considerar a necessidade de gastos permanentes com campanhas educativas e apoio financeiro e técnico às iniciativas que surgirem.

De acordo com o Plansab, Brasil (2019b) uma experiência de sucesso no País que envolveu a vermicompostagem se deu no município de São Paulo no ano de 2014 por meio do ―Projeto Composta São Paulo‖ que possuía dentre seus objetivos: ―desenvolver metodologias e estratégias de replicabilidade; levantar informações pertinentes à construção de uma política pública que estimulasse a prática da compostagem doméstica na cidade de São Paulo; e criar um movimento social por uma cidade mais sustentável‖ (BRASIL, 2019b, p. 22).

Dados do Plansab, Brasil (2019b) refere que as residências contempladas receberam composteira e seus moradores participaram de oficinas de compostagem e plantio, bem como a integração em comunidade de troca de conhecimento e experiências. Essa comunidade se mantém ativa até hoje e vem fomentando a adesão de novos composteiros em São Paulo e por todo o país, o que demonstra o caráter multiplicador dessa iniciativa (BRASIL, 2019b). Dados do projeto inferem que dos cerca de 10.000 inscritos, 2.006 domicílios foram contemplados, impactando cerca de 7.000 moradores.