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SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO E JUSTIFICATIVAS

3. REVISÃO DA LITERATURA

3.8. Alternativas para gestão dos Resíduos Orgânicos

3.8.2. Descentralização e valorização dos RSO através da compostagem

3.8.2.2. Compostagem coletiva ou comunitária

―Este método pode ser utilizado em condomínios de casas ou prédios, em um bairro, uma vila ou uma comunidade. Para o sucesso do modelo é necessário que um grupo tome a iniciativa e se dedique a mobilizar a comunidade para a construção coletiva do modelo.‖ (BRASIL, 2017, p. 49). Nesse modal há grande relevância da sensibilização da comunidade para a gestão dos RSO (BRASIL, 2017; 2019b; MAESTRI 2010; ABREU, 2013).

Maestri (2010) ressalta que para ocorrer o envolvimento comunitário é preciso criar condições de participação. ―O município precisa disponibilizar serviços e programas em que as pessoas possam dar uma destinação adequada aos resíduos, contribuindo, assim, para mudar hábitos cotidianos de uso e descarte dos materiais no lixo.‖ (MAESTRI, 2010, p. 50).

Abreu (2013) e CEPAGRO (2017) aludem que há maior êxito e envolvimento da sociedade quando as concepções de compostagem estão ligadas a iniciativas de agricultura urbana para uso do composto produzido. Cria-se nesse contexto uma dinâmica, em que a comunidade sente necessidade do composto para manter e expandir seus plantios e jardins, o que diminui as chances do processo ser desamparado (ABREU, 2013; BRASIL, 2017).

Sobre a participação comunitária na gestão dos resíduos orgânicos e as contribuições da descentralização na gestão Maestri (2010, p. 10) contribui referindo:

Dispor um sistema que propicie a participação comunitária na gestão dos resíduos orgânicos contribui para aprimorar a organização já estabelecida. A princípio o aterro sanitário é uma maneira mais fácil para se tratar do problema do lixo. No entanto, pela descentralização da coleta dos recicláveis e tratamento dos RSO, é possível envolver estabelecimentos, residências e prefeitura, onde todos podem ser beneficiados com o retorno proporcionado pela reciclagem local.

Uma das principais experiências exitosas no Brasil é a do Projeto ―Revolução dos Baldinhos‖ (PRB)16, no Bairro Monte Cristo (Comunidade Chico Mendes), em Florianópolis (SC) que teve início em outubro de 2008, a partir de mobilização comunitária, com o objetivo de resolver a incidência de ratos e casos de leptospirose (ABREU, 2013; FAPESC, 2017; BRASIL, 2017; 2019b). O recurso seguido no PRB fora ―retirar o alimento dos ratos‖, pois os RS dispostos nas ruas por cidadãos eram revirados por animais, e ao ficarem exposto atraíam roedores e outros vetores, focos de doenças (ABREU, 2013; FAPESC, 2017; BRASIL, 2017).

―A medida envolveu a sensibilização dos moradores, que pela educação ambiental passaram a separar os resíduos orgânicos e depositar em recipientes fechados – ―os baldinhos‖.‖ (FAPESC, 2017, p. 12). O PRB adota como tecnologia o método de Leiras Estáticas com Aeração Passiva (Método UFSC de Compostagem).

Os RSO separados nas residências são destinados aos PEV´s distribuídos nos logradouros da comunidade, coletados e encaminhados para o pátio de compostagem (ABREU, 2013; FAPESC, 2017). Nos PEV‘s pode haver até 03 bombonas, a maioria com capacidade para 50 litros de armazenamento de resíduos, até o momento da coleta (ABREU, 2013). Até 2014, PRB envolveu mais de 200 famílias, reciclando cerca de 12 toneladas por mês de RSO. (BRASIL, 2019b)17. ―Do composto produzido, parte é doada às famílias da

16 < https://cepagroagroecologia.wordpress.com/2018/03/10/revolucao-dos-baldinhos/ >. Acesso em 18/01/2018;

https://www.facebook.com/revbaldinhos/. Acesso em fevereiro de 2020.

17 Dados de relato dessa iniciativa, cadastrada na plataforma de Práticas de Educação Ambiental e Comunicação

comunidade, visando incentivar a agricultura urbana, e parte é comercializada para incrementar a renda dos jovens que compõem o grupo.‖ (BRASIL, 2019b, p.23).

Em sua pesquisa Abreu (2013) expôs informações muito relevantes sobre o PRB, verificando sua viabilidade e contribuição para a análise das práticas da agricultura urbana e construção de capital social da comunidade abrangida.

Para Abreu (2013, p. 144) ―as atividades realizadas pelo PRB, em sua maioria, desempenhadas pelo grupo comunitário, constroem laços fortes de confiança e reciprocidade, elementos fundamentais que evidenciam a construção de capital social no PRB‖. Esse mesmo autor alude ainda, que tais práticas estão galgadas na educação ambiental, estimulando o empoderamento, a valorização da comunidade, a participação social e as práticas de agricultura urbana, além de ter baixo custo, quando comparado ao do modelo público municipal. A FIG. 14 exibe fotos do PRB:

Figura 14: Compostagem comunitária; (PRB) em Florianópolis/SC. Em (a) entrega dos RSO em baldinhos à

agentes do PRB; (b) prática da compostagem; (c) PEV nas ruas e sua organização; (d) PEV bombona de 30 litros; (e) veículo com bombonas de RSO; (f) agentes do PRB em meio a práticas de agricultura urbana

Fonte: adaptada pelo autor de Marcos José de Abreu; slides de capacitação: Brasil/MMA (2018).

A pesquisa de Maestri (2010) discutiu a viabilidade da reciclagem de RSO com participação comunitária entre prefeitura, estabelecimentos e residências em Florianópolis, SC. ―O estudo demonstrou a viabilidade de criação de uma unidade de compostagem para reciclar os resíduos orgânicos produzidos na Bacia do Itacorubi até o ano de 2050, assim como para reciclar a produção do município com pelo menos quatro unidades.‖ (MAESTRI,

2010, p. 54). Maestri (2010) conclui em sua pesquisa a viabilidade do modelo com investimentos em ações de educação ambiental, apoio da prefeitura e do órgão municipal responsável pela gestão dos RS em disponibilizar área, estrutura e comprometimento com políticas públicas, assim como, o envolvimento de estabelecimentos alimentícios e da população em apartamentos e casas para a correta separação e destinação dos resíduos.

O ―Projeto Família Casca‖, que desenvolve a gestão local dos RSO, com a participação comunitária, no Bairro Córrego Grande em Florianópolis. Começou em 2004, por iniciativa de estudantes e professores do curso de agronomia da UFSC. O projeto é gerido por grupo de moradores e pela Fundação Municipal do Meio Ambiente (FLORAM). O projeto está situado em área do Parque Ecológico, e os funcionários realizam o manejo das leiras de compostagem (MAESTRI, 2010; FAPESC, 2017; ZAMBON, 2017).

Certamente diversas outras experiências exitosas são evidenciadas no País, sobretudo no estado de Santa Catarina, conforme apresentado nessa seção, onde há maior difusão dos sistemas descentralizados com a utilização do método UFSC de compostagem.