• Nenhum resultado encontrado

SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO E JUSTIFICATIVAS

3. REVISÃO DA LITERATURA

3.8. Alternativas para gestão dos Resíduos Orgânicos

3.8.3. Outras possibilidades

3.8.3.1. Metanização de resíduos sólidos

A metanização também chama de biodigestão anaeróbia é um processo biológico de decomposição da matéria orgânica em digestores, sob a ação de determinadas populações microbianas. O processo ocorre na ausência do oxigênio, produzindo-se uma mistura metano (CH4) e de gás carbônico (CO2) chamada de biogás. Embora não seja objeto de análise da pesquisa é importante um olhar acerca dessa tecnologia visto que além do composto gera-se energia renovável, que, além de fonte de energia elétrica e térmica, pode ser utilizada como combustível veicular (BRASIL, 2019b). Barros (2012) reporta que alguns RS susceptíveis a

este tratamento são os RSU (fração putrescível dos resíduos domésticos e lodos de ETE), os agrícolas (culturas, dejeções animais), os industriais (de diversas origens: dos processos de transformação de carnes e do leite, destilarias, curtumes, de indústrias químicas, de celulose e fibras têxteis). O processo ocorre em 4 fases (semelhante aos processos que acontecem nos AS (BARROS, 2012). Que conforme aponta Chernicharo (2005, p. 152 ):

Hidrólise: consiste na hidrólise de materiais particulados complexos, polímeros, por meio da ação de exoenzimas excretadas pelas bactérias fermentativas hidrolítica. Os polímeros são transformados em materiais dissolvidos mais simples, moléculas menores, capazes de atravessar as paredes celulares desse grupo de bactéria.

Acidogênese: os subprodutos solúveis provenientes da hidrólise são metabolizados, por meio do metabolismo fermentativo no interior das células, pelas bactérias fermentativas acidogênicas. O processo gera produtos mais simples como, álcoois, cetonas, dióxido de carbono, hidrogênio e em maior quantidade ácidos orgânicos. Acetogênese: consiste na oxidação de ácidos orgânicos, como propionato e butirato, por bactérias sintróficas acetogências, em substratos (acetato, hidrogênio e dióxido de carbono) apropriados para os microrganismos metanogênicas.

Metanogênse: etapa final do processo anaeróbio de conversão dos compostos orgânicos em metano e dióxido de carbono, sendo responsáveis por esse processo dois grupos de arqueas metanogênicas. As metanogênicas acetocláticas usam acetato como fonte de carbono e energia, produzindo gás carbônico e metano, são microrganismos predominantes no processo e responsáveis por cerca de 60 a 70% de toda a produção de metano.

De acordo com o Plansab Brasil (2019b) as tecnologias úmidas são empregadas especialmente no setor de tratamento de esgoto e agrossilvopastoril. Para os RSU, determinadas tecnologias podem ser utilizadas no tratamento de RSO oriundos de coleta indiferenciada, devendo ser prevista uma estrutura de triagem prévia que retire os RS não orgânicos, impedindo a entrada de inertes no biodigestor. (BRASIL, 2019b). (FIG. 17)

Figura 17: Esquema da digestão anaeróbica

De Baere e Mattheeuws (2008) citam que a digestão anaeróbia é um processo bioquímico que na ausência de oxigênio, as bactérias decompõem a matéria orgânica para produzir biogás, onde a recuperação da energia renovável a partir de RSO é a vantagem mais relevante. Além disso, o sistema apresenta outras vantagens como eficiência no controle de odor potencial de ser utilizado em grandes centros urbanos, devido requer menor área de implantação quando comparado ao sistema de compostagem (DE BAERE; MATTHEEUWS, 2010).

Para o Brasil (2019b) a implantação das unidades de metanização de RS implica em condições para sua efetividade, como a coleta regular; um sistema de triagem para separação dos recicláveis e impróprios (vidros, madeira, fragmentos em geral); um sistema de biodigestão anaeróbica para a fração orgânica recuperada; a necessidade da disposição do material que não se enquadra como orgânico nem como reciclado, que pode ser direcionada a AS ou tratamento térmico, visando a geração de energia adicional; e por fim, uma unidade de pós-tratamento da matéria orgânica digerida visando a geração de um composto de qualidade (compostagem e refino) e o tratamento/utilização do efluente líquido.

3.8.3.2. Manejo de podas e galhadas

Segundo a NBR 10.004: 2004 os resíduos de poda podem ser classificados como classe IIA, que são aqueles considerados não perigosos podendo ter propriedades, tais como: biodegradabilidade, combustibilidade ou solubilidade em água (ABNT, 2004a). Para o Plansab (2019b) ―alguns tipos de resíduos orgânicos, como a celulose e a lignina, têm a característica de ser muito ricos em carbono e, desta forma, mais secos. Estes resíduos têm menor propensão a atrair vetores de doenças ou causar problemas ambientais quando armazenados ou processados ao ar livre‖ (BRASIL, 2019b, p. 15).

Os RSO originários de podas, de supressão de vegetação, capinas, etc. podem ter utilidades das mais diversificadas nas cidades, podendo ser destinadas como insumo para processamento de composto orgânico por meio, sobretudo da compostagem, plantio, incremento de forração em áreas de mata diretamente sobre o solo, fonte de energia, e outros. Entretanto, mesmo sendo caracterizados como não perigosos, a disposição deste tipo de RS em lixões ou aterros pode provocar problemas ambientais significativos, haja vista sua homogeneização, causando impactos sobre a qualidade do ar, do solo e da água.

Em Igarapé os RS de podas em geral sempre tiveram como forma de disposição o aterramento, havendo perda do potencial e valorização que poderiam ser viabilizados para compostagem. O Projeto Recicla Mais Igarapé prevê a aquisição de um triturador de podas que buscará absorver parte desses RS e seu encaminhamento para compostagem; além disso, visualiza-se ainda a viabilidade doar para interessados e propriedades rurais existentes tais RS triturados para disposição de poda direta no solo em regiões de mata, cinturões verdes etc.

De acordo com Meira (2010, p. 20) ―não há estimativa da geração diária de resíduos de poda urbana para os municípios do Brasil, mas se sabe que a maioria deles é destinada a terrenos baldios, lixões ou utilizados como lenha.‖ E complementa ainda que: ―Em alguns casos, eles são encaminhados para serviços de compostagem; contudo, essas são ações isoladas e desarticuladas, nem sempre suficientes para dar uma destinação adequada a todos os resíduos da arborização‖ (MEIRA, 2010, p. 20-21). Para Cortez (2011) a conjuntura acerca dos RS de podas deve considerar a reintegração aos atinentes ciclos biogeoquímicos (pela obtenção composto pela compostagem), a reutilização (artesanatos, arte ou bancos de jardins) ou seu aproveitamento energético (lenha, carvão vegetal, briquete, ou in natura como combustivel) (...).

Sobre a compostagem de RS verdes, Zago e Barros (2017) expõem o caso da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), que possui em seus três campus em Belo Horizonte amplas áreas de vegetações com espécies e portes dos mais variados, sendo o

campus da Pampulha o maior deles, (~340 ha), distribuídos entre espaços de gramados,

jardins e vegetação florestal. O Museu de História Natural e Jardim Botânico é menos significativo, (~74 ha) em sua maioria cobertos por vegetação nativa; além disso, no centro da cidade, se encontram o campus Saúde e unidades isoladas, que possuem pequenos espaços gramados e poucas áreas arborizadas (ZAGO; BARROS, 2017) (FIG. 18):

Figura 18: Compostagem na UFMG. Em (a)Coleta de folhas no campus Pampulha, para montagem das leiras; (b)montagem e reviramento das leiras de compostagem

A TAB. 13 apresenta os quantitativos, em volume, de RS verdes gerados no campus da Pampulha levantados na primeira etapa do projeto.

Tabela 13: Resíduos Verdes do campus da Pampulha (fino, bruto e lenha/galhada), UFMG.

Ano

Tipo de material

Total Fino Bruto Lenha e Galhada

Volume % Volume % Volume %

2002 1622 23 2356 33 3216 44 7194 2003 3924 45 1596 18 3241 37 8761 2004 3788 52 678 9 2853 39 7319 2005 3226 40 1900 24 2935 36 8061 Média 3140 - 1632,5 - 3061,3 - 31335

Fonte: Barros, Silva e Miranda (s/d) extraído de Zago e Barros (2017, p. 172)

Zago e Barros (2017) citam que a produção de composto orgânico na Fundação Zoobotânica (FZB-BH), no Jardim Botânico ocorre por meio da decomposição de RSO oriundos de diferentes fontes (podas de grama, folhas secas, restos vegetais, de capina e poda de jardinagem e limpeza, sobras de alimentos dos animais, de hortaliças e frutas, além de esterco dos animais herbívoros) havendo a necessidade do emprego de trator para empilhamento de RS e reviramento das leiras quando há o aumento de temperatura no processo. Sobre as características, os autores referem que para o beneficiamento de todo o insumo no local foi criada a unidade de compostagem, com um pátio de chão compactado e batido com área de 1.900 m² e um galpão de 44 m² com os equipamentos para a realização do processo (PBH, s/d).

Acerca de algumas das experiências verificáveis no País, Plansab, Brasil (2019b) destacam atividades em Florianópolis (SC) por meio do Projeto Família Casca, onde podas e galhadas servem de insumos em minhocários e leiras de compostagem respectivamente. Em Brasília (DF) podas e galhadas servem de cobertura de canteiro em horta comunitária, já no Jardim Botânico de Florianópolis (SC), esses materiais são utilizados para agricultura urbana.

Em última análise, provavelmente, outras iniciativas descentralizadas de manejo de podas e de compostagem existem em diversas partes do País, todavia como são pouco divulgadas, muita das vezes não há maiores informações legítimas para sua quantificação e qualificação.

4. METODOLOGIA