• Nenhum resultado encontrado

SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO E JUSTIFICATIVAS

3. REVISÃO DA LITERATURA

3.4. Panorama dos RSU no mundo

A gestão dos RSU é uma questão que afeta todas as pessoas ao redor do mundo. Nesse sentido, os RSO apresentam-se como um dos maiores desafios para grande parte dos países em desenvolvimento devido não só a sua composição, aspectos e impactos, mas aos modais de gestão e de gerenciamento comumente aos quais os mesmos são submetidos.

Simões et al. (2019) mencionam que até pouco mais de um século atrás, pequena relevância era dada à questão dos RS em termos mundial, e que considerando, os países desenvolvidos, sobretudo os europeus, ascenderam em progressos na temática nos últimos 25 anos; sendo notados que a motivação se deu por meio de políticas e legislações mais rígidas e avançadas, que incentivaram o desenvolvimento e a implementação de tecnologias de tratamento e proporcionaram melhora significativa na gestão dos RSU (SIMÕES et al., 2019).

Embora a situação geral da gestão dos RSU em caráter mundial ainda seja bastante complexa, sobretudo nas nações em desenvolvimento, a valorização dos RSO, que é tema central dessa pesquisa vem sendo adotada estrategicamente em políticas públicas em diversos países, sobretudo nas nações mais desenvolvidas. A United States Environmental Protection Agency (USEPA) refere que nos Estados Unidos a reciclagem dos RSO é de aproximadamente 9% (USEPA, 2016) ao passo que na União Européia esses valores alcançam até 17% (EUROSTAT, 2018). Trata-se de um novo ―paradigma‖ de gestão, mediante a segregação dos RS na fonte geradora e do aumento da reciclagem, em contraposição ao modelo hegemônico do aterramento de RS, reduzindo os impactos sobre o meio ambiente, economia e sobre a saúde pública.

Para Fehr (2016, p. 44) ―o problema vital nas nações em desenvolvimento, como o Brasil, reside na identificação de oportunidades e procedimentos para desviar esses resíduos dos aterros.‖ As cidades não possuem logística reversa programada para resíduos biodegradáveis. Eles são simplesmente aterrados (FEHR, 2016).

Os dados do The World Bank (2018)2 por meio de seus relatórios exibem informações globais sobre os RSU, coletados de diversos documentos publicados que, à luz da presente pesquisa, mostram um espectro geral acerca da temática. O desperdício desmedido, aliado à falta de gestão derivada de décadas de crescimento econômico, requer ação urgente em todos os níveis da sociedade. Em muitos municípios a gestão dos RSU afeta expressivamente seus

orçamentos. The World Bank (2018) refere que nos países de renda baixa, os custos de gestão de RS incluem, em média, 20% dos orçamentos municipais; já nos países de renda média, mais de 10% e cerca de 4% nos países de alta renda. A TAB. 4 exibe dados da geração per

capita, a quantidade de toneladas/dia e a geração de RS nas diferentes regiões, onde é possível

observar que o nível de desenvolvmento implica diretamente nos quantitativos de RS:

Tabela 4: Dados de geração de RS municipais por regiões no globo

Região Média per

capita Total toneladas/dia Fração de geração Africa Centro-Meridional 0,65 169.119 5% Ásia Oriental e Pacífico 0,95 738.958 21% Europa e Ásia Central 1,10 254.389 7% América Latina e Caribe 1,10 437.545 12% Oriente Médio e Africa Setentrional 1,10 173.545 6% Organização de Cooperação e de Des. Econômico (OCDE)3 2,20 1.566.286 44%

Ásia Meridional 0,45 192.410 5%

Fonte: adaptada de The World Bank (2012, p. 9).

The World Bank (2012) estimou em 1,3 bilhão de t/ano a produção global de RS. Dados do relatório de 2018 refere que os valores estimados eram de 2,01 bilhões t/RSU em 2016 (THE WORLD BANK, 2018). O leste da Ásia e do Pacífico e as regiões da Europa e Ásia Central eram responsáveis por 43% dos RS mundial, (TAB. 5, painel a), ao passo que regiões do Oriente Médio e Norte da África e a África Subsaariana produziam a menor quantidade, representando juntas 15% do desperdício do mundo. O leste da Ásia e o Pacífico geraram em termos absolutos, estimados em 468 milhões/t. em 2016, e o Oriente Médio e o norte da África 129 milhões/t. (TAB. 5, painel b) (THE WORLD BANK, 2018, p.18).

Tabela 5: Dados de geração de RS por região

a. Porcentagem de RS gerados por região b. Quantidade de RS gerados por região

Região Em % Milhões de toneladas por ano

Oriente Médio e Norte da África 6% 129

África Subsaariana 9% 174

América Latina e Caribe 11% 231

América do Norte 14% 289

Sul da Ásia 17% 334

Europa e Ásia Central 20% 392 Ásia Oriental e Pacífico 23% 468 Fonte: adaptada de The World Bank (2018, p. 19-20), dados ajustados para 2016.

―Embora eles concebam 16% da população mundial, os países de alta renda geram 34%, ou 683 milhões de toneladas, dos RS mundiais.‖ (THE WORLD BANK, 2018, p. 20). O GRAF. 2 a seguir, apresenta a partilha e a quantidade de RS gerados por nível de renda:

Gráfico 2: Partilha de RS gerados e quantidade de RS gerados por nível de renda

Fonte: adaptado de The World (2018, p. 21) dados ajustados de 2016.

The World Bank (2018) reproduz que a América do Norte, com a maior taxa de urbanização em 82%, gera 2,21 kg per capita/dia, enquanto a África Subsaariana gera 0,46 kg per capita/dia, a uma taxa de urbanização de 38%. Os países de baixa renda representam 9% da população mundial e geram apenas 5% dos RS global, ou 93 milhões de toneladas.

Para The World Bank (2018) uma vez que se espere que a geração de RS aumente com o desenvolvimento econômico e o crescimento populacional, prevê-se que regiões de países de baixa e média renda, possam vir a sentir aumento significativo na produção de RS. Regiões da África Subsaariana e do Sul da Ásia podem triplicar e dobrar a produção de RS, respectivamente, nas próximas três décadas. Espera-se que nações de renda mais alta, como América do Norte, Europa e Ásia Central, vejam os níveis mais graduais (GRAF. 3):

Gráfico 3: Geração projetada de RS por região

Fonte: adaptado de The World Bank (2018).

Em termos mundiais no que concerne a composição dos RSU, dados do The World Bank (2012) citam que em nações menos desenvolvidos socioeconomicamente há maior

porcentagem de RSO, quando comparada com a de nações mais desenvolvidas (GRAF. 4). De modo geral, tais panoramas também podem ser particularizados para a análise da escala regional e local (municípios, regiões, bairros, etc.). Dentro de uma mesma cidade, por exemplo, ao serem analisadas composições de RSU entre diferentes regiões, bairros, comunidades, podem ocorrer diferenças substanciais na composição dos RSU.

Gráfico 4: Estimativa da composição gravimétrica dos RSU em diferentes regiões (%)

Fonte: elaborado pelo autor, dados adaptados de The World Bank (2012) e PLANARES (2012).

Em análise ao GRAF. 4 constata-se que em todo mundo a composição dos RSU não é constante, mas em geral nota-se que a fração dos RSO é majoritária, exceto na OCDE. Essa diferença possivelmente se dá em razão pelos fatores mencionados acima e, também de políticas públicas mais claras e incisivas, com normativas que buscam uma maior sustentabilidade nos sistemas de gestão de RSU.

Os dados do The World Bank (2018) demonstram que em países de baixa e média renda os RSO representam mais de 50% dos RSU e nos países de alta renda, a quantidade de orgânicos é comparável em termos absolutos, mas, devido à maior quantidade de RS de embalagens e outros não orgânicos, a fração de RSO é menor.

O GRAF. 4 expõe ainda que além dos RSO, os recicláveis compõem uma fração substancial de fluxos de RS especialmente de papéis e plásticos em diferentes regiões do mundo, dentre as quais também está o Brasil conforme dados adaptados do PLANARES (2012). À medida que os países elevam o nível de renda, a quantidade de recicláveis no fluxo de RS aumenta, sobretudo de papel, e mais de um terço dos RS nos países de alta renda é recuperado por meio da reciclagem e da compostagem (THE WORLD BANK, 2018).

A ONU Meio Ambiente (2018, p. 6) cita que na América Latina e no Caribe, ―os resíduos orgânicos são os mais gerados e os menos geridos‖. A falta de tratamento provoca a geração de gases de efeito estufa (GEE) e a produção de lixiviados, reduzindo a qualidade dos RS recicláveis; portanto, a separação na fonte e a coleta diferenciada de secos e orgânicos e o seu tratamento devem ser incentivados (ONU MEIO AMBIENTE, 2018).

A European Community (2014) refere que na União Europeia (UE) são observados muitos países que melhoraram a gestão de RS, com sistemas em formatos que preconizam a prevenção, a reutilização, a maximização da reciclagem, e de outras formas de valorização, sendo a eliminação por meio de aterros e da incineração considerada como últimos recursos; nesse sentido, nota-se que a busca pela universalização do serviço de coleta seletiva (recicláveis e orgânicos) começaram sendo galgadas progressivamente, por meio de metas exequíveis e em formatos muitas das vezes em programas-piloto.

Para Plansab, Brasil (2019c, p.13) ―a política de RS da UE visa estabelecer a transição para uma economia circular em que os materiais e os recursos sejam mantidos na economia durante o maior tempo possível e o descarte de resíduos em aterros seja o menor possível (meta de 10% em 2035)‖. Dados do Plansab mencionam que de 2008 a 2016 os percentuais de reciclagem de RSU aumentaram de 37% para 46% na UE (BRASIL, 2019c). No GRAF. 5, observa-se a redução da disposição final em AS e aumento de outras tecnologias:

Gráfico 5: Tipo de tratamento de resíduos urbanos na União Europeia, em quilos por habitante.

Fonte: adaptado Eurostat (2018).

O Plansab, Brasil (2019c, p.13) cita ainda que tais progressos são ―evidentes em países como Bélgica, Dinamarca, Luxemburgo, Países Baixos e Suécia, que dispõem menos de 10%

dos RS gerados em AS, quando a média da UE é de 25% dos RS dispostos em AS‖. As tecnologias de reciclagem e compostagem conceberam juntas, 45% do tratamento de RS em 2016 em relação à sua geração (BRASIL, 2019c).

Dos Estados-membros da União Europeia (UE), a Alemanha é considerada um dos países mais eficientes no tratamento de RSU. Desde junho de 2005 proibiu a remessa de RSD sem tratamento e industriais para os aterros. De acordo com a Eurostat (2011) 63% de todos os RSU foram reciclados na Alemanha (46% por reciclagem e 17% por compostagem), contra uma média continental de 25%.4

Dados extraídos de The World Bank (2018) referem que San Francisco nos Estados Unidos em 2002 anunciou uma visão de enviar lixo zero para AS até 2020, sendo a primeira cidade a implementar lei sobre o uso ou gestão de RS específicos. Fora proibido o uso de isopor e espuma de poliestireno na alimentação (2006), reciclagem obrigatória exigida para entulho de construção (2007), proibiu sacolas plásticas em drogarias e supermercados (2009). Além disso, aprovou uma lei exigindo que todos os residentes e turistas façam compostagem de resíduos alimentares (MCCLELLAN 2017) e que também proibiu a venda de garrafas plásticas de água em 2014 (EPA 2017).

Em consulta a documentos e relatórios que citam a gestão de RS em San Francisco

(EPA, 2017; THE WORLD BANK, 2018; STANLEY, 2015; ECONOMIST

INTELLIGENCE UNIT, 2011; PLATT; GOLDSTEIN; COKER, 2014), devido sua importância mundial, esboçam que a chave para o sucesso é a busca pela prevenção e pela segregação na fonte, sobretudo dos orgânicos para compostagem, que conforme exposto, se dá por meio de normativas claras e abrangentes desenvolvidas para a esfera local.

Jucá et al. (2014) realizaram importante contribuição acerca da gestão de RSU em diferentes regiões do mundo (Brasil, Europa, Estados Unidos e Japão), mencionando dentre diversas outras situações, que com respeito às alternativas para o tratamento dos RSU, os estudos nos diferentes locais/regiões mostraram diferenças entre o desenvolvimento tecnológico e os modelos de gestão, quando comparados ao Brasil, e que tais diferenças se devem a fatores, tais como, a consolidação de políticas públicas, os investimentos realizados no setor, os aspectos econômicos, sociais e ambientais de cada país.

4 Dados extraídos de: https://www12.senado.leg.br/emdiscussao/edicoes/residuos-solidos/mundo-rumo-a-4-

No intuito de ilustrar casos bem sucedidos da compostagem na gestão dos RSO, Junior, Barros e Zago (2017) analisaram a situação de Adelaide (Austrália), Nairóbi (Quênia), Nova Iorque (Estados Unidos), Porto (Portugal), São Paulo (Brasil) em comparação com a compostagem realizada em Belo Horizonte, onde foram constatados que os fatores de sucesso nessas regiões se dão, sobretudo por meio de programas, projetos e normativas em desviar RS de aterramento, onde atitudes assertivas foram tomadas para melhorar a gestão dos RS, sendo a compostagem ponto diferencial do sistema. Ao analisar a pesquisa observa-se que embora ocorram outros fatores a descentralização na gestão dos RSO é a chave para o sucesso da compostagem, com a diversificação de sistemas e formatos de gestão.

Em relação à disposição de RS no mundo,The World Bank (2018) reporta ainda que quase 40% são descartados em AS, cerca de 19% são reciclados e compostados e 11% são incinerados. Embora 33% dos RS ainda sejam despejados a céu aberto (GRAF. 6).

Gráfico 6: Tratamento e disposição global de RS

Fonte: adaptado de The World Bank (2018) dados de 2016.

Acerca do descarte em locais abertos, este é feito geralmente em países de baixa renda. Nesses países, cerca de 93% são queimados ou despejados em estradas, terrenos abertos ou cursos d‘água etc., enquanto nos países de alta renda apenas 2% dos RS são assim descartados (THE WORLD BANK, 2018). Dados do mesmo relatório demonstram ainda que apenas 3% dos RS são depositados em AS em países de baixa renda, em países de renda média alta, essa taxa corresponde a 54%. Os países mais ricos tendem a priorizar a recuperação de materiais por meio da reciclagem e compostagem. Nos países de alta renda, 29% dos RS são reciclados e 6% compostados. Nesses países a incineração também é mais comum (22%), sobretudo em países e territórios de alta capacidade e com restrição de terra (TAB. 6).

Tabela 6: Método de disposição de RS por renda e região a. Por Nível de Renda

Nível Despejo

Aberto

Digestão Anaeróbia

Aterro

Sanitário Incineração Compostagem Reciclagem

Alta renda 2% - 39% 22% 6% 29%

Renda média alta 30% - 54% 10% 2% 4% Renda baixa média 66% - 18% - 10% 6% Baixa renda 93% - 3% - 0,3% 3,7%

b. Por Região

América do Norte - - 54,3% 12% 0,4% 33,3 Sul da Ásia 75% - 4% x 16,0% 5% Oriente Médio e Norte da

África 52,7%

-

34% <1% 4,0% 9% Europa e Ásia Central 25,6% - 25,9% 17,8% 10,7% 20% África Subsaariana 69% - 24% - <1% 6,6% América Latina e Caribe 26,8% - 68,5% - <1% 4,5% Ásia Oriental e Pacífico 18% - 46% 24% 2% 9% Fonte: adaptada de The World Bank (2018), dados de 2016.

Em última análise, embora sejam notados avanços em diversas partes do mundo acerca da gestão dos RSU, sobretudo em regiões mais desenvolvidas, o panorama ainda é bastante complexo, sendo evidenciados que geralmente os países em desenvolvimento ainda ―patinam‖ rumo a uma gestão de RSU mais eficiente e que galguem a universalização dos serviços de saneamento eestratégias que anteveem a não geração, redução, reutilização e a reciclagem. Nesse sentido, para progressos, municípios em todo o mundo, devem considerar a proibição progressiva da disposição de RSU em aterros, sobretudo dos RSO, haja vista sua composição e aspectos e impactos decorrentes da falta de manejo adequado dessa fração.