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Capítulo 5 ANÁLISE E INTERPRETAÇÃO DOS DADOS

5.2 Análise dos aspectos visuais dos livros didáticos

5.2.2 Análise do livro didático: Projeto Pitanguá: Português

Fig. 20 - Capa do livro didático Projeto Pitanguá: Português

O livro didático Projeto Pitanguá: Português é uma obra coletiva concebida, desenvolvida e produzida pela editora Moderna. Ele faz parte da coleção Projeto Pitanguá e abrange diversas disciplinas. Conforme descrição do Guia do Livro Didático 2007:

A coleção tem estrutura uniforme. Cada um dos quatro volumes compõe-se de nove unidades que se alongam em torno de um tema, criando-lhe contextos, explorando relações e estendendo conhecimentos. Cada unidade se desenvolve em duas partes, feitas de seções e subseções maiores e menores, voltadas ao desenvolvimento dos processos de leitura-compreensão, produção textual e domínio-reflexão sobre a língua. [...] A temática é diversa e rica. [...] Os temas das unidades, provocativos alguns, atendem a interesses dos alunos, e de suas idades. Trazem, juntamente com a escolha de textos e de imagens, lições formadoras de valores a cada instante. (BRASIL, 2006c, p.214).

Quanto aos aspectos visuais o Guia traz somente que “trata-se de livros de boa qualidade, com diferentes recursos visuais” (Ibid., p.218), sem dar maiores especificações.

Análise visual

1ª. orientação: o texto principal deve estar impresso em preto e títulos e subtítulos devem apresentar-se numa estrutura hierarquizada, evidenciada por recursos gráficos.

Fig. 21 - Páginas 14 e 15 da 1ª. unidade do livro de Português

Esta primeira orientação também é observada nesta obra. A maioria dos textos está na cor preta sobre fundo branco, exceto alguns títulos e subtítulos coloridos. Em toda a unidade há apenas algumas ocasiões em que textos pequenos na cor preta estão sobre fundos de cor pastel, o que não ocasiona prejuízo da legibilidade.

Este livro, diferente do de Matemática, trabalha com seções e subseções e portanto com títulos e subtítulos. Os títulos das seções caem aleatoriamente no espaço da página: às vezes estão na parte superior, outras no meio e outras na parte inferior, o que White (2006, p.7) não recomenda pois “o alto da página precisa ser controlado, porque se torna parte de uma corrente visual”. Em relação ao destaque dado aos títulos, estes formam uma composição com um fundo retangular e uma ilustração e seu tamanho é apenas um pouco maior do que o restante do texto. Os subtítulos também são pequenos e discretos, na cor azul. White (Ibid.) diz que quem folheia deve conseguir entender do que se trata o conteúdo por meio do título e do subtítulo, que devem ser visíveis e informativos. A compreensão da estrutura hierárquica fica um pouco prejudicada, pois estes recursos visuais tornam-se discretos no conjunto da página, que possui muito texto.

As escolhas tipográficas também não auxiliam na apresentação de um conjunto interessante. Williams (2005, p.123) esclarece que a tipografia é o material básico de

qualquer página impressa e, na dinâmica da página, estabelecem-se relações que podem ser “concordantes, conflitantes ou contrastantes”. No caso das páginas analisadas há uma relação concordante, pois foram utilizadas fontes sem muita variação de estilo ou tamanho. A consequência é uma página harmoniosa, porém esta disposição tende a conferir um visual calmo, monótono ou formal demais.

2ª. orientação: a impressão não deve prejudicar a legibilidade no verso da página. É desejável que textos mais longos sejam apresentados de forma a não desencorajar a leitura, lançando-se mão de recursos de descanso visual.

Fig. 22 - Páginas 12 e 13 da 1ª. unidade do livro de Português

Em relação à impressão percebe-se que não prejudica a legibilidade do verso da página, o que indica o uso de um papel de boa qualidade.

Sobre a quantidade de texto nestas páginas, observa-se que é relativamente grande. A professora em sua entrevista comenta que às vezes os textos parecem amontoados e tornam a leitura cansativa. No caso deste livro, o próprio Guia do Livro Didático faz uma ressalva em relação à obra da 4ª. série dizendo que “a carga de conteúdos, [...], amplia-se nas séries finais e podem sobrecarregar o aluno no emaranhado de conceitos” (BRASIL, 2006c, p.218). Esta carga de conteúdos torna-se vísivel através da forma com que é apresentado nestas páginas: dois grandes blocos de texto. White (2006, p.13) afirma que “blocos de elementos curtos atraem mais [...] são menos ameaçadores”. Um dos fatores que leva a esta composição óbvia, que forma linhas indesejavelmente

compridas, é a imposição do formato grande pelo PNLD. Ao projetar livros para crianças, White recomenda:

Divida tudo em pedaços que caibam na boca: o intervalo de atenção deles é curto e mudar de foco depressa é algo que eles fazem o tempo todo. Unidades de uma só página são consideradas longas demais. (2006, p. 239).

Além da forma como o texto está organizado visualmente, a escolha do tipo de letra também contribui para o aspecto da página. Sobre o tipo de letra Williams explica

Uma fonte suave, arejada, com bastante espaço entre as letras (entreletra) e entre as linhas (entrelinha) cria uma ‘cor’ e uma textura bastante suaves. Uma fonte em bold e sem serifa, pouco arejada, cria uma cor escura, com uma textura diferente. (2005, p. 166).

Observa-se que o emprego do negrito (bold) no texto destas páginas provoca essa cor escura. Isso se percebe em páginas com muita massa de texto e poucas ou nenhuma imagem. A monotonia do cinza não atrai os olhos, além de causar certa confusão, fazendo com que a página torne-se desinteressante, e não incentive a leitura. Para melhorar o aspecto destas páginas poderiam ser utilizados os chamados recursos de descanso visual, mencionados na orientação. Alguns artifícios poderiam ser usados como a diminuição da largura dos blocos de textos, o uso de boxes coloridos para organizar visualmente as atividades, ilustrações integradas ao texto, entre outros. As crianças percebem a questão do uso da cor para destacar elementos, como na fala de Luigi quando diz que a cor ajuda a organizar as atividades.

3ª. orientação: o texto e as ilustrações devem estar dispostos de forma organizada, dentro de uma unidade visual; o projeto gráfico deve estar integrado ao conteúdo e não meramente ilustrativo.

Fig. 23 - Páginas 6 e 7, início da 1ª. unidade do livro de Português

Na unidade analisada há pouca integração visual entre imagens e palavras. As ilustrações cumprem mais um papel decorativo e são pouco significativas. Em sua maioria apresentam-se em um tamanho pequeno e, às vezes, dão a impressão de estarem em determinado lugar somente para preencher algum espaço que não foi ocupado por um texto. White (2006) recomenda que se dê destaque a uma imagem significativa, tanto em tamanho, quanto em localização, a fim de construir um ponto focal na página. O objetivo do ponto focal é atrair a atenção do leitor e estimular a leitura através da integração entre texto e imagem.

Na Unidade 1, textos e imagens estão dispostos de forma organizada, equilibrada, porém Hendel (2006) afirma que “a linha que separa o desinteressante e o correto é muito fina”. O ritmo visual do texto é regular, as imagens pouco expressivas e sem ousadias, levando a página a ter uma aparência monótona, sem surpresas visuais. Como diz Carson (1995) algo pode ser legível, porém não significa que esteja comunicando, ou que esteja transmitindo alguma emoção.

Outro ponto neste livro são os diferentes estilos de ilustração apresentados, o que não contribui para sua unidade visual. Na Fig. 19 pode-se observar, pelo menos, três estilos de ilustração.

4ª. orientação: as ilustrações devem auxiliar na compreensão e enriquecer a leitura do texto, devendo reproduzir adequadamente a diversidade étnica da população brasileira, não expressando, induzindo ou reforçando preconceitos e estereótipos. Essas ilustrações devem ser adequadas à finalidade para as quais foram elaboradas e, dependendo do objetivo, devem ser

claras, precisas, de fácil compreensão, podendo, no entanto, também intrigar, problematizar, convidar a pensar, despertar a curiosidade.

Fig. 24 - Páginas 20 e 21 da 1ª. unidade do livro de Português

Segundo a professora, este livro tem poucas ilustrações e é o que eles menos gostam. Fala que as imagens não são chamativas, não atraem a atenção dos alunos. Como dito no item anterior, a maioria das ilustrações desta unidade tem a função mais de decorar do que auxiliar na compreensão do texto, como é o caso mostrado na Fig. 23. Em um mundo saturado de imagens, não é qualquer tipo de ilustração ou foto que desperta a curiosidade infantil. A localização e o tamanho das imagens no conjunto da página também não favorecem uma melhor integração com o texto. White (2006) sugere construir a página em torno de um ponto focal, dar um destaque significativo à imagem, para criar um impacto e desse modo capturar o leitor.

Em relação à representação da diversidade étnica, pode-se observar no detalhe da Fig. 24, uma predominância de ilustrações retratando crianças de pele clara e poucas negras, orientais ou de outra etnia. Ao se elaborar um livro didático deve-se ter em mente a diversidade cultural e evitar a todo custo a tendência à uniformidade.

Fig. 25 - Ilustrações que aparecem ao longo da 1ª. unidade57