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Análise do livro didático: Matemática do cotidiano & suas conexões

Capítulo 5 ANÁLISE E INTERPRETAÇÃO DOS DADOS

5.2 Análise dos aspectos visuais dos livros didáticos

5.2.1 Análise do livro didático: Matemática do cotidiano & suas conexões

Fig. 15 - Capa do livro didático Matemática do cotidiano & suas conexões

O livro Matemática do cotidiano & suas conexões, da editora FTD, tem como autores Antonio José Lopes Bigode e Joaquim Gimenez. Um breve resumo da organização interna do livro é descrito no Guia do Livro Didático 2007:

Cada livro é formado por nove unidades, que têm como eixo temas do cotidiano. Os conteúdos das unidades são desenvolvidos em seqüências de atividades, agrupadas por tópicos e intercaladas com textos informativos ou explicativos. As atividades são de diversos tipos, como desafios, jogos, pesquisas, exercícios de fixação e outros. Etiquetas marcam algumas das atividades: Em grupo, Experiência, Desafio, Pesquisa e Criatividade. Ao fim de cada unidade, temos as seções: Já sei fazer – com atividades para reconhecer, fixar e auto-avaliar os conteúdos; Calculando de cabeça – com situações de cálculo mental e de estimativas; e Revistinha da Matemática – com uma atividade lúdica; e as subseções: Construindo; Você sabia?; Vamos ler ou Dica de Leitura. [...] O livro da 4ª série contém um resumo dos conteúdos tratados e sugere que o aluno faça seu próprio resumo (BRASIL, 2006b, p.165).

Sobre o aspecto visual do livro há na seção Avaliando do Guia um texto falando que “a coleção apresenta, ainda, grande diversidade de representações matemáticas, pois a linguagem simbólica, desenhos, fotos, gráficos e tabelas estão presentes em toda a obra” (BRASIL, 2006b, p.169).

Análise visual

1ª. orientação: o texto principal deve estar impresso em preto e títulos e subtítulos devem apresentar-se numa estrutura hierarquizada, evidenciada por recursos gráficos.

Esta primeira orientação é observada nesta obra. Todos os textos estão na cor preta, a maioria sobre fundo branco e alguns sobre fundos de cores claras, porém sem prejudicar a legibilidade.

Os títulos aparecem sempre na parte superior da página, alinhados à esquerda, o que é recomendado por White (2006) pois são as áreas mais valorizadas da página dupla, onde as pessoas mais olham. Os títulos estão destacados por meio de um recurso gráfico, para hierarquizar a informação. Para Lupton (2006, p.94) a hierarquia “ajuda os leitores a localizarem-se no texto, sabendo onde entrar e sair e como selecionar algumas de suas ofertas”. Para auxiliar nesta hierarquia e diferenciar as seções são utilizadas cores: a seção de atividades tem títulos realçados com retângulos nas cores verde e amarelo (fig. 14), as seções Já sei fazer! tem títulos sobre retângulos laranjas e Calculando de cabeça utiliza retângulos roxos.

Já as páginas finais da unidade possuem um fundo verde claro e a última um fundo azul claro. Este recurso provoca uma quebra do ritmo visual por meio de um leve contraste de cor e tem como objetivo chamar a atenção do leitor para um conteúdo diferente, bem como ajudar a organizar as informações (WILLIAMS, 2005).

2ª. orientação: a impressão não deve prejudicar a legibilidade no verso da página. É desejável que textos mais longos sejam apresentados de forma a não desencorajar a leitura, lançando-se mão de recursos de descanso visual.

Fig. 17 - Páginas 16 e 17 da 1ª. unidade do livro de Matemática

Pode-se perceber que a impressão não prejudica a legibilidade do verso da página, o que indica o uso de um papel de boa qualidade.

Em relação aos textos, pode-se observar ao longo da unidade o uso de um tipo sem serifas, suave, de espessura fina (light), que dá leveza à página e contrasta com o colorido das imagens. Um recurso utilizado nestas páginas é o uso de boxes coloridos que servem para separar as atividades e dar uma quebra entre os textos, deixando-os mais leves, organizados e interessantes visualmente. White (2006) expõe que os boxes servem para destacar pontos importantes, dar coesão e personalidade e tornar a página mais viva e rica. Eles são utilizados também para dividir a página em elementos, pois “as pessoas são atraídas por tudo o que parece curto e fácil” (Ibid., p. 171).

3ª. orientação: o texto e as ilustrações devem estar dispostos de forma organizada, dentro de uma unidade visual; o projeto gráfico deve estar integrado ao conteúdo e não meramente ilustrativo.

Fig. 18 - Páginas 24 e 25 da 1ª. unidade do livro de Matemática. À direita, detalhe das ilustrações.

Pode-se observar nesta primeira unidade do livro, vários recursos gráficos como ilustrações, fotos e boxes coloridos que funcionam integrados ao texto, e contribuem para a compreensão do enunciado e do problema proposto. Deste modo podem auxiliar a aprendizagem infantil, já que nesta idade, como mesmo comentou a professora, eles são bastante visuais. Uma aluna, Raquel, observou que sem imagens não iria entender nada. As imagens procuram informar tanto quanto o texto e não são apenas decorativas. Estão de acordo com o que White afirma

As imagens são disparos rápidos sobre o cérebro e as emoções. Por outro lado, as palavras requerem tempo para serem lidas, absorvidas e compreendidas. São

duas linguagens distintas que se complementam para contar uma história de maneira mais poderosa (2006, p.83).

Uma questão interessante é que, mesmo o livro didático tendo sido ilustrado por vários profissionais, observa-se uma preocupação em seguir um estilo, a fim de propiciar uma unidade visual. Outro item que propicia uma unidade visual é o quadriculado que aparece nas margens externas das páginas, que remete aos cadernos usados em matemática. Williams (2005, p.48) explica que “para que todos os elementos da página tenham uma estética unificada, conectada e inter-relacionada, é preciso que haja ‘amarras’ visuais entre os elementos separados”. Neste caso, a repetição do fundo quadriculado e do estilo das ilustrações é um esforço consciente para unificar todos os elementos visuais.

4ª. orientação: as ilustrações devem auxiliar na compreensão e enriquecer a leitura do texto, devendo reproduzir adequadamente a diversidade étnica da população brasileira, não expressando, induzindo ou reforçando preconceitos e estereótipos. Essas ilustrações devem ser adequadas à finalidade para as quais foram elaboradas e, dependendo do objetivo, devem ser claras, precisas, de fácil compreensão, podendo, no entanto, também intrigar, problematizar, convidar a pensar, despertar a curiosidade.

Fig. 19 - Páginas 18 e 19 da 1ª. unidade do livro de Matemática.

White (2006, p.12) fala que “as imagens envolvem o observador por meio da emoção e da curiosidade”. Além disso, para as crianças a imagem auxilia a compreensão do conteúdo como revela a fala de Luigi: o desenho me ajuda a entender o que o texto está falando. Nestas páginas as ilustrações, além de despertar a curiosidade, tem por objetivo auxiliar a compreensão do conteúdo. A ilustração da esquerda mostra um menino e uma

menina em uma situação de diálogo – que dá uma pista para resolver a questão seguinte. A ilustração da direita, um labirinto, atrai a atenção em um primeiro instante, seja pela variedade de cores ou pela disposição assimétrica na página e convida o aluno a resolver o problema.

Quanto à diversidade étnica da população brasileira, as imagens mostram pessoas com várias características diferentes, como olhos orientais, pele negra e cabelos ruivos, fugindo do estereótipo da criança branca de cabelos loiros.