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Capítulo 5 ANÁLISE E INTERPRETAÇÃO DOS DADOS

5.1 Análise dos dados coletados

Entrevista com a professora da classe

Categoria 1 - A escolha dos livros didáticos

Irene, a professora da classe da 4ª. série, começou falando que já participou de um processo de escolha de livros didáticos, mas não na escola atual, a Escola Estadual Pe. Lux. Ali ela trabalha há apenas dois anos e, quando chegou, o processo de escolha dos livros já estava concluído. Os livros utilizados no ano letivo de 2008 começaram a ser usados em 2007 e serão usados até 2009, totalizando três anos. A professora contou que, na metade do ano de 2009, haverá novamente a escolha dos livros didáticos.

Em relação aos aspectos que contam no momento da escolha, Irene enfatizou que o conteúdo é o mais importante. Comentou também que, a cada ano está vindo uma maior variedade de livros didáticos para o professor escolher, mas eles se orientam pelo guia enviado pelo MEC, onde os livros vêm separados e recebem estrelas. Um aspecto que fez questão de ressaltar é que às vezes vêm livros bem pobres em conteúdo na hora da escolha. Eu até considero alguns muito bons, mas tem alguns bem fracos de conteúdo.

Quando perguntada se o aspecto visual tem algum peso no momento da escolha, a professora responde que geralmente é mais o conteúdo da leitura e da escrita, tomando como base a série que estou trabalhando agora, que é a 4ª. série. Continuou comentando que talvez na 1ª. ou 2ª. série os professores prestem mais atenção à questão das imagens, mas ressaltou que o que interessa na 4ª. série é a abrangência do conteúdo. Relatou que, a cada ano tem melhorado a qualidade geral e o aspecto visual dos livros didáticos, que estão vindo mais coloridos e com ilustrações bem vivas.

Categoria 2 - O uso dos livros didáticos

Sobre o uso dos livros didáticos, Irene falou que todo dia trabalham com eles, mas em disciplinas diferentes, e que todo dia a gente usa o livro didático para a leitura. Eu uso bastante para a leitura porque tem textos muito bons. Salientou que usa também para interpretação de texto e atividades. São trabalhadas geralmente duas disciplinas por dia ou até três, quando não há aula de Artes ou Educação Física. Os alunos lidam com o livro didático todo dia, porém dificilmente o levam para casa. Segundo ela os motivos são vários: o peso dos livros, o fato de alguns estragarem mais facilmente, a quantidade insuficiente de livros para duas turmas (matutino e vespertino). A professora explicou que os alunos, às vezes, levam para fazer uma leitura ou atividade, porém ela não gosta que levem o livro para fazer os deveres em casa. Contou que geralmente é cansativo e os deveres são um problema na escola. Revelou que no conselho de classe houve um consenso na questão de que o dever de casa deve ser uma coisa mais light porque tem aqueles que fazem, mas é uma minoria, que faz bem feitinho. Tem muitos que fazem por fazer, deixam a desejar. Se você quer uma coisa bem feita outro dia tem que retornar para arrumar, fazer de novo... Desabafou que é mais a escola que tem que dar conta, ajuda em casa é pouca. Ela prefere trabalhar com o livro mais em sala de aula, onde pode orientar e ajudar: quando eu trabalho o livro em sala é mais cansativo, eles já estão cansados e o livro exige mais concentração. Irene enfatizou que não trabalha somente com o livro didático, que busca outras fontes também. Complementou dizendo tem muitos que criticam o uso do livro, mas de uns anos para cá vemos como melhoraram... e temos livros muito bons, na minha opinião. Sempre é uma coisa a mais, algo para somar.

Em relação à importância dos livros didáticos no cotidiano Irene falou que para o professor facilita bastante o uso do livro e para o aluno também, pois ele tem que desenvolver o hábito da leitura, tem que conviver com os livros. Explicou que os alunos gostam quando ela escreve a matéria, lêem e fazem atividade no quadro, pois recebem mais pronto e no livro eles tem que ler mais, tem que se concentrar mais, exige mais atenção. A professora continuou dizendo que o livro didático é melhor até para manter o hábito da leitura, pois assim as crianças tem que manusear mais os livros, tem que procurar. Com o início da utilização da sala de informática, a noção que os alunos tinham é que ganhariam tudo pronto. O fato é que, quando foram pesquisar, sentiram na pele que tem que ler, senão não acha nada. Comentou que uma outra professora que ajuda na sala de informática colocou para os

alunos que, lá no livro didático, na sala, é mais fácil do que pesquisar na internet. Irene adverte os alunos que às vezes o conteúdo lá no livro está bem mais resumido do que na internet. No livro o assunto está resumido e no computador tem que procurar em vários lugares. Segundo a professora, o livro didático favorece a compreensão dos conteúdos, ajuda os alunos a entender melhor o assunto, completa e complementa, tem um papel de intermediar a aprendizagem dos conteúdos.

Sobre a relação entre as crianças e a leitura, a professora revelou que poucos tem o hábito de ler, e que isso afeta na hora de interpretar um texto, quando há muita dificuldade e é necessário a ajuda dela. Ela disse que os alunos acham que ler é um sacrifício e a maior dificuldade é a leitura. Frisou que a leitura exige concentração e que isto é difícil para as crianças hoje, pois eles querem ganhar tudo pronto, não querem mais pensar. Irene explica para eles que o texto muitas vezes precisa ser lido e relido, uma vez que nem sempre se entende de primeira. A professora faz leituras coletivas em voz alta e percebe que eles se distraem facilmente, principalmente quando já passou a vez de ler do aluno e ele acha que não precisa mais acompanhar. Comentou que essa falta de atenção e o pouco interesse pela leitura é um problema bem sério desta geração, e que antigamente era diferente, pois o acesso aos livros era difícil. Neste ponto lembrou de sua infância, de sua vida escolar no primário, em uma cidade muito pequena do interior, quando sua professora, a única que possuía livros, passava todo o conteúdo no quadro porque não havia livro de nenhum tipo para os alunos. A rotina consistia em copiar o texto do quadro para o caderno, para então ler e estudar. Irene revelou que naquela época a gente rendia bem mais do que nossos alunos hoje em sala de aula, onde cada um tem o seu livro. Relembra a ocasião em que sua professora levou um livro de literatura para a sala e foi uma festa e a cada dia havia um sorteio para saber quem levaria o livro para casa. Apontou a diferença para os dias atuais onde há muitas opções de divertimento ao alcance das crianças como a televisão, o computador, aparelhos de som que eles falam um monte de nomes, mas eu não sei nada daquilo...

Categoria 3 - O aspecto visual dos livros didáticos

Falando sobre o aspecto visual dos livros didáticos, Irene acredita que ele auxilia na compreensão do conteúdo pelos estudantes, uma vez que as crianças são bastante visuais e têm mais facilidade com as imagens do que com a escrita. Continuou dizendo que as

crianças conseguem ler bem a imagem do que o conteúdo mostra e parece que eles tem mais habilidade em ler a imagem do que a gente. Em relação ao visual dos textos, comentou que, em geral, os livros apresentam um corpo de letra grande, que facilita a leitura das crianças – que reclamam quando o corpo da letra é pequeno. Outro ponto que observou, além do corpo da letra pequeno, é o texto amontoado, com pouco espaço entre as linhas – fatores que tornam a leitura cansativa segundo sua opinião.

O livro didático mais interessante, no aspecto visual, segundo a professora Irene, é o de Geografia, que se diferencia dos outros por ser bem colorido, ter muitos mapas, seguido do de Ciências, que tem boas ilustrações. As características que lhe chamam atenção no livro Projeto Pitanguá: Geografia são a organização interna, com o conteúdo bem distribuído: os alunos gostam bastante.

Sobre o interesse dos alunos pelos livros didáticos a professora contou que o aspecto visual é importante para as crianças, que são atraídas e gostam de livros bem ilustrados. Citou como exemplo o livro Projeto Pitanguá: Português que é um livro com poucas ilustrações, e é o que eles menos gostam. As imagens não são muito claras, não são chamativas. Irene contou que o que chama a atenção de imediato dos alunos quando vão iniciar a leitura de um texto são as imagens. Primeiro é a figura e ali eles já fazem um comentário, o que está mostrando... e continuou dizendo se as imagens são claras você pode trabalhar um assunto ou um texto só em cima das imagens. Comentou também que nos livros didáticos aparecem imagens e textos retratando a diversidade de contextos, pessoas e culturas.

Grupo focal com alunos

Categoria 1 - O uso do livro didático

Para o início do grupo focal as crianças foram dispostas em círculo e os livros didáticos foram colocados em uma cadeira no centro da roda. Foi feita uma pequena apresentação pessoal e explicado o motivo delas estarem ali e sobre o que seria conversado.

Aos oito alunos da 4ª. série foi questionado sobre como usam os livros didáticos. Raquel contou que a professora entrega um livro para cada um, fica com um lá na frente, fala a página e a leitura. Joana disse que levam o livro didático para casa somente para fazer

deveres ou para estudar e Luigi acrescentou que raramente a gente leva para casa. Juliano contou que tem gente que esquece e não devolve e Natanael disse que sabem que precisam usar com cuidado os livros didáticos.

Sobre a importância dos livros didáticos para estudar e entender os assuntos, todos responderam ao mesmo tempo que ajuda e Joana salientou que ajuda bastante. Quando indagados para que serve o livro didático, as respostas foram abrangentes. Edgar disse para poder educar os alunos, Luigi para a gente aprender e Natalie que toda escola tem que ter.

Em relação aos livros e à leitura, Joaquim e Natanael revelaram ter livros didáticos antigos em casa e a maioria disse ter algum livro de literatura em casa. Quando perguntados se gostavam de ler, responderam em uníssono: sim. Porém, aos poucos, apareceram respostas individuais como a de Raquel que lê às vezes, de Joana que diz ler bastante e já saber até de cor e de Natalie que diz ler toda noite e já leu todos os livros que tem. As meninas comentaram que gostam de ler revistas e Joaquim disse que raramente lê jornal ou revista. Edgar falou que tudo o que leu achou legal e Joaquim disse não lembrar do que leu - ao serem perguntados sobre algum livro que acharam interessante.

Categoria 2 - O aspecto visual dos livros didáticos

Sobre as percepções dos alunos em relação ao aspecto visual dos livros didáticos Natalie disse achar bonitos e Raquel imediatamente respondeu que não acha bonito não. Juliano e Joaquim falaram que acham interessante o livro de Matemática e Raquel desta vez concordou com os colegas. Joana revelou que também acha o livro de Matemática bonito - adoro Matemática - bem como Edgar, que gosta dos livros de Matemática, de Geografia e de Ciências. Edgar comentou também que gosta do livro de História porque as cores são fortes e os desenhos são bonitos. Em determinado momento várias crianças quiseram pegar o livro de Matemática e começaram uma disputa. Uma criança o abraçou e outras repetiram o gesto. Luigi gosta do livro de Ciências porque tem as páginas desenhadas, em função dos desenhos do corpo humano que são bem desenhados e as cores bonitas. Falou também que é bem organizado e citou como exemplo: o que é de um texto tem uma cor, o que é de outro tem outra e, às vezes, tem desenho no meio. A cor ajuda a organizar as atividades. Natanael concordou que o livro de Ciências é bem organizado e que, se fosse tudo de uma cor, poderia confundir. Luigi atentou para o fato de que às vezes

a capa conta alguma coisa sobre o livro, mas a gente também não pode julgar o livro pela capa. Natalie completou dizendo que a capa pode ter alguma coisa a ver, mas não é o que explica dentro.

Em relação às palavras e especificamente ao tamanho das letras que os livros didáticos apresentam, Raquel e Natanael disseram que são muito pequenas, do que Natalie discordou e falou que para ela estava bom. Luigi comparou com a letra do caderno e disse que no livro a letra é maior: Depende do texto. Alguns tem partes maiores e menores. Quando é maior ajuda a ler. Edgar afirmou que letra miudinha não entende e Natanael contou que uma vez não entendeu a letra porque era pequena e tirou 8. Vários falaram que acham que tem muito texto por página, principalmente o livro de Português.

Sobre as imagens que aparecem nos livros didáticos, Natanael disse que são bonitas, principalmente nos livros de Ciências e Geografia, mas tem livros que os desenhos são ruins. Contaram que no livro de Português tem reproduções de pinturas, no que Raquel disse Portinari eu já estou cansada de ver e lembraram que no livro de História também tem. Perguntadas se as imagens ajudam a entender um texto, a maioria falou, ao mesmo tempo, que ajuda a entender. Luigi afirmou que o desenho me ajuda a entender o que o texto está falando. A gente lê o título e vê o desenho. Falaram que o livro de Matemática tem mais desenhos. Raquel falou que sem imagens não iria entender nada e Joana concordou que realmente seria difícil entender.

Quanto ao livro didático preferido para estudar Joana, Raquel, Natalie, Joaquim e Juliano disseram gostar mais do de Matemática por razões como porque a gente aprende mais sobre contas e porque a gente precisa na vida, se quisermos ser alguma coisa. Luigi e Edgar disseram preferir o de Geografia: o primeiro por gostar de estudar os planetas e o segundo por gostar de mapas. Natanael disse preferir Ciências porque explica o corpo do ser humano. Nos depoimentos pôde-se constatar que o livro didático de Português não é citado entre os mais interessantes visualmente, nem entre os preferidos para estudar.

Por fim, em alguns momentos durante a atividade, muitas crianças falavam ao mesmo tempo, empolgadas. Esse foi um dos motivos da escolha da técnica do grupo focal - para que as crianças não se sentissem intimidadas. As crianças se mostraram à vontade, umas mais falantes, outras mais tímidas, porém ao longo da atividade todas tiveram a oportunidade de falar e expôr sua opinião.